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a.h

Saturday, August 05, 2006

Ilha Sable


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A ilha Sable vista do espaço (imagem obtida em Abril de 1994).

A Ilha Sable, ou Sable Island, é uma pequena ilha arenosa (daí o nome, derivado do francês sable, ou seja areia) com apenas 34 km² (3400 ha) de superfície e uma forma de crescente com cerca de 42 km de comprimento por 1,5 km de largura máxima. A altitude máxima não ultrapassa os 30 m. A ilha está situada no Oceano Atlântico Noroeste, a cerca de 180 km ao largo da costa sueste da província canadiana da Nova Scotia, nas coordenadas geográficas 44º 00' e 60º 00' W (43° 55.9'N, 60° 01.3W no extremo oeste e 43°57.5'N, 59° 46.9'W no farol do extremo leste da ilha). O pronto mais próximo no continente é o Cabo Canso (Nova Escócia), sito 160 km para noroeste.

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A ilha Sable não deve ser confundida com Cape Sable Island, uma povoação do sudoeste da Nova Escócia.

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Tabela de conteúdo

1 Geografia
1.1 Origem
1.2 Clima
1.3 Fauna e flora
2 História
2.1 Descobrimento e povoamento
2.2 Utilização da ilha
3 Outras informações
4 Bibliografia
5 Ligações externas

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Geografia
A ilha Sable é um longo cordão dunar assumindo a sua característica forma de crescente em resultado da constante migração das areias empurradas pelos ventos e palas correntes marinhas. Dos 42 km de comprimento que o cordão hoje tem, apenas 38 km correspondem a dunas relativamente fixas, sendo o restante composto por bancos de areia, geralmente emersos, sitos nos extremos da ilha.

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Origem
A ilha está situada
[1] numa zona pouco profunda da plataforma continental, a cerca de 40 km do seu bordo, constituindo o extremo sul dos Grandes Bancos da Terra Nova. A sua forma e geologia, verdadeiramente incomuns para uma ilha oceânica, resultam da singularidade da sua génese: a ilha tem origem na presença sobre o bordo de uma plataforma continental pouco profunda de grande quantidade de areia e cascalho rolado, produto das enormes massas de material que foram arrastadas até àquela zona pela bordo dos glaciares que cobriram o continente norte-americano durante a última glaciação. Nesse contexto, o cordão dunar da ilha Sable tem a mesma natureza e origem de idênticas formações que se estendem ao longo da costa norte-americana, talvez as mais conhecidas das quais sejam Long Island, no extremo da qual se situa Manhattan e boa parte da cidade de New York, e a península de Cape Cod em Massachusetts.

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Outro factor que contribui para a existência desta ilha oceânica de areia é a pouca profundidade do mar numa zona tão afastada da costa. Tal anomalia, resultado do prolongamento da plataforma continental até muito longe da costa, dá também origem aos Grandes Bancos e permite a exploração de hidrocarbonetos nos fundos contíguos à ilha (o bem conhecido e controverso Sable Offshore Energy Project). Esse prolongamento da crosta continental sob o oceano é também resultado da última idade do gelo: o peso dos glaciares levou ao afundamento eustático da massa continental, não se verificando um reequilibro suficientemente rápido para acompanhar a subida do nível do mar que resultou da fusão dos gelos. Em resultado, uma parte importante do bordo continental ficou submersa, criando a grande plataforma dos Grandes Bancos da Terra Nova e da Nova Escócia.

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A ilha emerge de um vasto conjunto de bancos de areia, em constante mudança face à força das vagas e correntes, tornando a zona muito perigosa para a navegação. Tal abundância de areia, em conjugação com as correntes e com a grande agitação marítima típica do Atlântico Noroeste naquelas latitudes, explicam a mutabilidade das costas da ilha e a sua persistência. A forma da ilha, e as suas dimensões, estão constantemente a ser reajustadas pelas correntes e pelas tempestades.

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Clima
A ilha situa-se a sotavento da grande massa continental canadiana na zona de confluência entre a
corrente fria do Labrador e a corrente do Golfo, enquadramento que gera temperaturas fortemente contrastantes entre o ar e água. Deste contraste térmico resultam frequentes e persistentes nevoeiros, situação típica da região oceânica dos Grandes Bancos.

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A influência da corrente do Golfo faz com que seja frequente durante o inverno registarem-se em Sable as temperaturas do ar mais altas do Canadá. Em geral as temperaturas de inverno oscilam entre os + 5º C e os - 5º C, com um mínimo registado de - 13º C. Durante o verão, as temperaturas máximas chegam aos 25º C.

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O Atlântico Noroeste é frequentemente atravessado pelas grandes tempestades de inverno, que, dada a ausência de relevo que abrigue, provocam vendavais de grande intensidade. São frequentes os ventos rijos e gelados de nordeste (os nor'easters), associados às baixas pressões que emergem do continente norte-americano, com velocidades em geral superiores a 100 km/h e rajadas que chegam aos 150 km/h. No final do verão e no outono a ilha é por vezes atingida pelos restos dos furacões do Atlântico, que provocam grandes ventanias e intensa precipitação.

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Durante o inverno os ventos dominantes são de noroeste, soprando com velocidades médias da ordem dos 35 km/h (aprox. 20 nós), rodando durante o verão para sudoeste, reduzindo-se a sua velocidade média para cerca de 15 km/h (10 nós).

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Assim, o clima de Sable não é tão extremo como a sua latitude poderia fazer suspeitar, já que o oceano, e em particular a proximidade da corrente do Golfo, exerce sobre ele um poderosos efeito moderador.

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Fauna e flora
A ilha é na realidade uma sucessão de dunas baixas parcialmente recobertas por pastos de
gramíneas resistentes ao sal e por outra vegetação rasteira. A zona vegetada corresponde a cerca de 40% da área da iha, sendo a restante ocupada por extensões arenosas, praias e lagoas, já que a abundância da precipitação e a baixa evaporação, resultante das temperaturas moderadas e da saturação do ar, permitem a formação de múltiplas pequenas lagoas de água doce nas zonas mais deprimidas do cordão dunar.

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A vegetação é dominada pelas herbáceas, não existindo árvores (apesar de diversas tentativas de arborizar a ilha para ajudar a fixar as dunas), sendo modelada pelo pastoreio dos cavalos existentes na ilha e pela mobilidade das areias. As comunidades de arbustos são comuns, mantendo uma grande diversidade florística. Estão recenseadas na ilha mais de 175 espécies vegetais, entre as quais 6 espécies de orquídea selvagem.

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Na ilha existem cerca de 250 cavalos ferais, resultantes, ao que parece, de cavalos confiscados aos acadianos durante a sua expulsão do Canadá e deixados na ilha por um mercador de Boston, Thomas Hancock (tio do político norte-americano John Hancock), que nunca regressou para os recolher, originando assim, depois de 300 anos de isolamento, a actual raça dos greenhorses de Sable.

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No passado, a população de cavalos era mantida sob controle através da sua captura para uso nas minas de Cape Breton ou para venda ou abate. Nas últimas décadas os cavalos não têm sido perturbados, mas o governo federal canadense, em alguns invernos mais rigorosos, já teve que mandar lançar de avião feno para evitar que os cavalos morressem de fome. Esta prática deixou de se fazer, numa tentativa de deixar os factores naturais controlar a população de cavalos, já que estes têm um profundo impacto sobre a vegetação e as restantes espécies que usam a ilha, havendo ecólogos que advogam o seu extermínio para devolver a ilha às suas condições naturais.

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Para além de numerosas aves marinhas, que incluem o garajau comum e o garajau rosado (uma espécie ameaçada de extinção), a ilha têm populações residente de rolas do Árctico e de Passerculus sandwichensis princeps (conhecidos por Ipswich sparrows, uma subespécie que apenas nidifica na ilha). Mais de 330 espécies de aves já foram recenseadas na ilha.

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As praias da ilha e os bancos de areia adjacentes são habitados por colónias de focas comuns e de focas cinzentas, que têm ali um dos seus territórios de reprodução mais protegidos. Também os leões marinhos da espécie Odobenus rosmarus, frequentam os mares e praias da ilha.

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Foram identificadas mais de 600 espécies de invertebrados, incluindo alguns endemismos. Nas lagoas da ilha existe uma espécie endémica de esponja de água doce (Heteromeyenia macouni) de grande raridade.

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História
Descobrimento e povoamento
A ilha Sable terá sido descoberta pelo navegador português
João Álvares Fagundes que à cabeça de uma expedição destinada a reconhecer os Grandes Bancos e a costa fronteira, explorou aquela região nos anos de 15201521, embora existam numerosos relatos conflitantes sobre a primazia da descoberta.

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Por estar situada numa zona de baixios, nevoeiros e tempestades frequentes, muito próximo da rota de grande círculo (ortodrómica) que liga as costas orientais da América do Norte ao noroeste europeu, e portanto numa zona do oceano muito navegada, a ilha Sable rapidamente se converteu num dos maiores cemitérios de navios do Mundo, com mais de 500 naufrágios registados e pelo menos 300 restos de navios nas suas costas e bancos adjacentes. Pelo menos um milhar de pessoas perderam a vida nas costas da ilha.

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Para além de ocasionais náufragos e de um grupo de prisioneiros franceses abandonados na ilha durante alguns anos (a maior parte morreu de fome e doença), a ilha permaneceu desabitada durante até que, dada a frequência dos naufrágios, por volta de 1790 o governo britânico mandou instalar um farol na ilha, com uma estação de socorro a náufragos. Com esta instalação foi criado o primeiro estabelecimento permanente na ilha.

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A partir de meados do século XIX a ilha passou a ter dois faróis, um em cada extremo da ilha, com as respectivas guarnições e suas famílias, situação que se manteve até à sua automatização em finais da década de 1970. A partir de 1864 passaram a ser feitas observações meteorológicas na ilha, levando à instalação de um complemento de pessoal técnico e de observadores, que ainda se mantém presente.

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Também nos anos de 1920 a Companhia Marconi de radiotransmissão instalou uma estação de escuta e repetidora na ilha, mantendo nela um grupo de trabalhadores e seus familiares. A estação foi extinta e o serviço de telecomunicações costeiras automatizado.

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O interesse pela ilha, e o seu valor como local de conservação da natureza fizeram com que ela obtivesse um estatuto especial na organização territorial do Canadá. Apesar de pertencer à Província da Nova Escócia, a constituição canadense atribui ao governo federal particulares responsabilidades na ilha, as quais são exercidas pela Guarda Costeira e pelos Departamentos Canadenses do Ambiente e das Pescas e Oceanos.

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A presença na vizinhança de uma importante área de exploração petrolífera e de gás natural, ligados por um oleoduto a terra, levou ao reforço da vigilância sobre a ilha e o mar circundante, competindo essa tarefa à Guarda Costeira.

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Em matérias administrativas, apesar de situado a mais de 300 km de distância, a ilha Sable é considerada parte do município de Halifax, na Nova Escócia, e do respectivo círculo eleitoral.

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Utilização da ilha
A ilha Sable é uma reserva natural com acesso restrito, sendo os seus únicos habitantes os faroleiros e pessoal da Guarda Costeira canadiana e os observadores meteorológicos e cientistas empenhados em estudos atmosféricos ou de ecologia, biologia ou geologia da ilha e das águas circundantes.

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A visita à ilha é condicionada desde 1801, sendo necessária autorização prévia da Guarda Costeira do Canadá. Por ano a ilha recebe apenas entre 50 a 100 visitantes (sem contar visitas em serviço). O único alojamento existente é a estação meteorológica.

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A ilha tem sido utilizada como plataforma privilegiada para estudos de climatologia, meteorologia e de dispersão atmosférica de poluentes. Para este último fim, o facto da ilha se situar a sotavento do continente norte-americano permite a colheita de aerossóis e de gases transportados do continente, permitindo estudos de dispersão e de química atmosférica. Existe na ilha uma importante estação meteorológica e climatológica, denominada Sable Island Station, que é administrada pelo Meteorological Service of Canada (Environment Canada) e operada em permanência por equipes de observadores e cientistas.

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A ilha também é utilizada como local de reabastecimento de emergência para helicópteros em rota entre o continente as plataformas petrolíferas existentes na zona. Também pode ser usada para apoio a helicópteros que executem operações de busca e salvamento a sul dos Grandes Bancos. Para tal existem dois heliportos e reservatórios de combustível. A ilha é também o ponto de evacuação dos trabalhadores do Sable Offshore Energy Project em caso de fogo ou outra emergência.

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Outras informações
Em
1901, o governo federal do Canadá plantou mais de 80 000 árvores na ilha numa tentativa de estabilizar o solo. Todas as árvores plantadas, com excepção de um pinheiro existente desde há 40 anos junto da estação meteorológica, morreram.

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A ilha Sable é mencionada no livro "The Perfect Storm" e uma visão ficcionada da ilha aparece no filme do mesmo nome.

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Bibliografia
"Sable Island Shipwrecks: Disaster and Survival at the North Atlantic Graveyard" by Lyall Campbell, Nimbus pub.,
ISBN 1551090961, December 2001
" Ethos of Voice in the Journal of James Rainstorpe Morris from the Sable Island Humane Station, 1801-1802", by Rosalee Stilwell,
ISBN 0773476636, Edwin Mellen Press, January 2001
"Sable Island", by Bruce Armstrong,
ISBN 0385131135, Doubleday, July 1981
"Wild Horses of Sable Island", by Zoe Lucas,
ISBN 0919872735, Firefly Books Ltd., August 1992
"Wild and Beautiful Sable Island", Pat Keough et al.,
ISBN 096925573X, Green Publishing,September 1993
"Sable Island Journals 1801-1804", by James Rainstorpe Morris,
ISBN 0968924506
"A Dune Adrift: The Strange Origins and Curious History of Sable Island", by Marq de Villiers and Sheila Hirtle,
ISBN 0771026420, McClelland & Stewart, August 2004


Ligações externas
A Ilha Sable no Google DigitalGlobe.
Sable Island Green Horse Society (em inglês).
Sable Island Preservation Trust (em inglês).
Sable Island: A Story of Survival (em inglês).

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Retirado de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_Sable"

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Interessantíssima a posição ambientalista de "matar todos os cavalos selvagens" da ilha para reestabelecer sua conformação original. O que não parecem saber os ditos "ecologistas" é que uma nova adaptação ecológica dos eqüinos a este ambiente foi criada. A Natureza não é algo essencialmente intacto, sem transformações. A adaptação destes animais revela uma interessantíssima, neste caso positiva, adaptação natural das espécies que deveria ser estudada e não extinta por razões puramente ideológicas, como querem os militantes verdes.

a.h

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Monday, July 31, 2006

A insustentável sustentabilidade do ambientalista

Anselmo Heidrich

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Um conceito bastante vago, adotado pelos ambientalistas, é o de “superpopulação”. Vago por que o que é super? Algo demais? O Japão tem uma população próxima a de Bangladesh e não apresenta problemas como este país. Pelo contrário, os japoneses são muito bem providos em suas necessidades e a tecnologia nipônica, igualmente bem adaptada ao seu meio.[1]

Isto confunde muito os leitores, mesmo os com critérios liberais-econômicos, pois quando a população é tratada como mero recurso se esquece que é formada por gente, de pessoas. Esta visão torpe os aproxima dos próprios opositores desenvolvimentistas que costumam louvar as benesses do controle de natalidade como se fosse uma panacéia, o que é na verdade uma Caixa de Pandora. Separar o joio do trigo faz bem. O que ocorreu na China é um bom exemplo disto. O controle (coerção) estatal em que cada casal possa ter apenas um filho levou à preferência por homens, sobretudo na zona rural (melhores como “burros de carga”). Como conseqüência, nos anos 80 para cada 100 mulheres havia 118 homens. Sombrio... Hoje em dia, o estado chinês tenta driblar esta tendência, inclusive coibir o infanticídio feminino, não revelando o sexo em exames pré-natais.

Uma proposta liberal, por seu turno, permite o consciente planejamento familiar que só pode merecer desaprovação mediante algum dogma religioso. Enquanto que o controle de natalidade parte de premissas socialistas e totalitárias, o planejamento familiar parte do liberalismo, decidido e escolhido pelos próprios progenitores e que tem como subproduto desejável, não ter que recorrer ao aborto. Digo isto, pois o argumento liberal-econômico não pode prescindir de outro, liberal-moral em que o próprio agente de interesse, o ser humano, não seja um mero recurso, mas fim em si mesmo, i.e., dotado de meios necessários para atingir seu próprio bem-estar. E qual é o maior bem-estar se não aquele condizente ao princípio de liberdade?

Um modo mais inteligente de se conceituar “superpopulação” não é por seus números absolutos, mas por sua distribuição. Uma das maneiras consiste em distinguir o que é zona urbana de rural. Mas, cuidado! Mesmo aí tem maracutaia! Ocorre que muitas vezes se chama algo de “urbano” pela simples conveniência de criar mais municípios e com isto, ampliar a rede de dependência dos governos estaduais na geração de empregos públicos e seus subprodutos indesejáveis como clientelismo, fisiologismo, nepotismo etc. Esta “mania” não é exclusividade nossa, mas também de outros países latino-americanos que definem “cidade” como um amontoado de favelas e submoradias semi-rurais sem infra-estrutura básica.[2] No Brasil do IBGE somos 80% urbanos, mais que nos EUA! Com este recurso quantitativista, professores ensinam aos alunos que já temos nossas “cidades globais”, simplesmente por que estão conectadas ao mercado mundial e têm filiais de multinacionais. É compadre... Analise o que seu filho anda estudando por aí.

O vício de citar números sem a menor consideração sobre as premissas de seus levantamentos tem respaldo entre ambientalistas e nacionalistas-estatistas. Refiro-me aqui aos “nacionalistas” que louvam o subsolo e deploram os “macacos pelados” que o pisam. A matriz teórica de ambos é a mesma, não passa de um desprezo e ignorância sobre o capital cultural e uma apologia à “mãe natureza” tão somente.

Um exemplo caro aos dois consiste no senso comum sobre a economia restrita a extração de matérias-primas, a mera retirada de recursos do subsolo. Em um passe de mágica, de verdadeiro fetichismo econômico, tomamos o extrativismo como cabeça de ponte da geração de riqueza. O que é problema vira “solução econômica” já que tudo não passa de uma questão de “conservação de recursos”. Esta chaga, a de não beneficiar nossos produtos, enviando-os em estado bruto decorre de outra: quanto mais beneficiado o produto, mais imposto se paga.

O que pode haver de “sustentável” no simples extrativismo? Nada. Portanto, nada mais conveniente a ambientalistas tomarem extrativismo como sinônimo de economia capitalista aplicada à natureza. Sua visão de “sustentabilidade”, econômica e ambiental, a primeira de ciclo curto e a segunda de uma utopia de produtores de subsistência não passam de uma distorção.

Exemplos desta tática deturpadora como a tradicional poluição de mercúrio nos rios, embora já exista métodos de evitá-la, são recorrentes. Assim, explorar pedras preciosas e semi-preciosas na Amazônia não deveria ser um problema enquanto tal. Tais mistificadores criam um “problema”, enquanto se trata de uma situação que já tem soluções.

A ignorância é mimetizadora. Vocês já devem ter ouvido ambientalistas e “nacionalistas” defenderem, paranoicamente, nossas riquezas naturais, especialmente as amazônicas. E ainda com a seqüência de que nossa dívida externa não passa de um expediente para tomá-la de nós, sendo este o objetivo último de los gringos! Quanto às riquezas inexploradas na Amazônia brasileira, bem sei eu que são potencialmente enormes, mas dentro do que se conhece, é exagero supor que dêem para pagar a dívida externa. Mesmo por que, quanto mais se explora, mais cai o valor da matéria-prima, ao passo que os juros da dívida têm efeito inverso. Se o fossem, seria estúpida uma proposta de penhora da Amazônia, uma vez que as possibilidades de ganhos futuras com a sintetização de seus produtos seriam ainda maiores. Pior vai ser quando propuserem o mesmo para pagamento da dívida pública gerada pela gastança estatal, cujo financiamento é mais caro que o da dívida externa.

Mas, diriam nossos “defensores geológicos”, “o país perde com o contrabando, com a biopirataria, com as privatizações”... E continuaremos assim, enquanto existir a atual obstrução burocrática e carga tributária que incidem sobre os empreendimentos, sem contar que privatização não tem nada a ver com contrabando. Isto é sofisma de nacional-desenvolvimentista de outrora reciclado pelo ambientalista de hoje. É a atual legislação que atrapalha. Ao invés da sede por “mais legislação”, temos que desenvolver facilidades na legislação. Seria mais conveniente se perguntar por que as reservas indígenas de muitas regiões já exploram seus recursos e de forma altamente predatória, senão pelo fato de que com um estado hipertrofiado e inepto como o nosso, a própria sociedade cria suas regras e métodos. Contrabando e ilegalidade não são causa, mas conseqüência em um sistema político e econômico, este sim, insustentável.

Sustentabilidade deveria ser encarada como viabilidade de longo prazo, coincidindo necessidades de mercado com reprodução ambiental. Uma prova disto pode ser encontrada na atividade madeireira legalizada. Justamente, a idéia de se aproveitar o reflorestamento ou mesmo o simples florestamento (introdução de florestas onde não havia vegetação superior) para evitar o desmatamento irracional de uma biodiversidade amazônica, potencialmente mais lucrativa com fármacos entre outros. Creio na sensatez de equilibrar a idéia de economia de mercado com o ambientalismo cético e de resultados. Neste sentido, sou realmente fã do eucalipto, esta “planta high tech” que se adapta a ambientes áridos. Ele possui alelopatia, i.e., ele puxa água quando não tem, quando não há, ele sobrevive com pouca.

Portanto, nem tudo que é natural é necessariamente melhor. Mesmo por que o que é chamado de “natural” faz parte de uma evolução induzida na maioria dos casos e, muitas vezes, superada tecnologicamente. O mesmo princípio que norteou avanços de outrora que, hoje é defendido pelos ambientalistas é o que move as inovações hoje contestadas e rejeitadas in limine. Um exemplo que nossos ambientalistas ludditas desconhecem é que os produtos orgânicos têm alto risco. Vocês já imaginaram qual o grau de contaminação ao consumir um produto que utilize como insumo, bosta de cavalo? Que tal uma invasão de bactérias como tempero?

Que fique bem entendido, não sou contra a comercialização dos orgânicos, desde que estes atendam normas de segurança alimentar. Não sou contra a priori por que acho que é um mercado interessante, mais uma alternativa de consumo. Vê-los, por outro lado, como uma “redenção alimentar” é ingenuidade.[3]

Em um tempo em que o produtor não era penalizado por melhorar sua produção, as técnicas de aprimoramento produtivo já eram testadas e introduzidas. Na Inglaterra, as cercas vivas constituem tradição para os entre propriedades agrícolas e, muitas vezes, entre cultivos dentro de cada uma. Além da beleza cênica proporcionada, o que é um fator a mais para incremento do turismo rural, elas mantêm uma pequena fauna local que ataca insetos que poderiam se tornar pragas, contém deslizamentos de terra e minimizam a erosão. Se deixassem tudo “ao natural” a própria eficiência agrícola e preservação ambiental seriam menores, bem como, daí sim, a destruição se alastraria.[4]

Não há contradição intrínseca entre produção e conservação. É uma simples verdade e o resto que se diz por aí é pura mistificação. Para produzir no longo prazo é necessário conservar, com vistas ao mercado. Mas, ambientalistas são personagens sui generis que condenam o aquecimento global, cada vez mais contestado teoricamente, o buraco na camada de ozônio, que em alguns anos tem diminuído ou, simplesmente, sumido sem refletir minimamente quando compram mochilas e óculos de plástico com detalhes emborrachados para suas trilhas, nem quando sonham com um Land Rover no merchandising de uma revista Terra. Para muitos desses seres urbanos por excelência, não há nenhuma aparente contradição nisto tudo. Usar botinas e comer pão integral é legal, mas ter que trabalhar em banco, usar terno, não. Tudo se resume a uma questão de estilo. Para eles, “ser ambientalmente correto” se resume a ignorar os avanços tecnológicos, desdenhar a compreensão da economia e filosofia clássicas, enquanto que usar trancinhas rastafari parece adequado e suficiente.

[1] Se pudermos objetar a caça à baleia, isto não significa o mesmo para seu excelente programa de reciclagem de resíduos domésticos, por exemplo. Cabe diferenciar um caso de outro...

[2] Quem dá a dica sobre o que seria a real urbanização brasileira segundo critérios aceitos comumente no mundo é José Eli da Veiga em seu Cidades Imaginárias.

[3] Para compreender melhor a situação vale acessar este link da agência nacional de biossegurança: www.anbio.org.br/mentiras_verdades.pdf

[4] Exemplos de falta completa de planejamento (por parte do produtor) e inadaptação ambiental existem “às toneladas”. Um caso que me ocorre agora é o do café no Vale do Paraíba, entre Rio de Janeiro e São Paulo, introduzido em vertentes íngremes que poderia ser evitado com a simples técnica de plantio em curvas de nível ou terraceamento.

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