“A guerra de guerrilhas já é parte da história”, “a guerrilha está fora de lugar”, “e os senhores das Farc devem saber uma coisa: que se converteram em uma desculpa do império (os Estados Unidos) para ameaçar a todos nós”, disse o caudilho Hugo Chávez recentemente. “No dia em que houver paz na Colômbia acabou a desculpa do império...” ainda asseverou.
Não é de estranhar esta mudança repentina na retórica do presidente venezuelano?
Um detalhe importante escapou nas declarações: ao comentar sobre o atual presidente americano, George W. Bush disse que “ficará ainda mais perigoso”.
Nada é de graça.
Em 17 de junho passado, o Departamento do Tesouro americano acusou Ghazi Nasr al-Din, um diplomata venezuelano e presidente de um centro islâmico xiita baseado em Caracas, de fornecer ajuda econômica ao Hezbollah. Outra acusação feita pelos EUA recai sobre duas agências de viagem venezuelanas sob controle de Fawzi Kanan e outros dois venezuelanos.
As acusações sobre as ligações Chávez-Hezbollah não são novas, mas agora existe seu aproveitamento em cima do enfraquecimento do caudilho: inflação em alta, desabastecimento de alimentos, queda da popularidade etc. Segundo Patricia Poleo, repórter venezuelana sediada nos EUA, não só o Hezbollah e al-Qaeda, mas outros movimentos árabes têm cinco acampamentos na Venezuela de onde podem lançar ataques contra os EUA.
Este tipo de informação é suficiente para ativar o Dispositivo Automático de Entrada (D.A.E.) que permite o ataque externo com direito à invasão. A corrupção endêmica no país latino-americano alia-se a presença do narcotráfico, fatores suficientes para ameaçar a segurança interna dos EUA. Desde que Chávez assumiu o poder no país, ele tem sido a principal porta de entrada para imigrantes ilegais do Oriente. E a estreita relação de Caracas com Teerã torna esta situação não só possível como bastante provável.
Mas, nem tudo que é prometido pelos governos é viável. O anúncio da criação de um banco comum, por exemplo, não tem passado da mera retórica. Não apenas falta dinheiro a ambos, como tecnologia e, sobretudo, a articulação de mercado para seu lançamento.
Os dois países se resumem as exportações de petróleo, o que indica quão pouco tem a trocar. Exceto, por um passe relaxado da imigração e campos de treinamento na selva venezuelana que interessa aos iranianos. Da parte de Chávez, como existe ainda o risco de alguma oposição das forças armadas ao seu governo, a formação de milícias que ofertariam apoio na hora necessária tem grande importância.
Aí reside o interesse maior para Chávez, maior ainda que ameaçar os EUA é deter meios de se manter no poder, caso queiram chutá-lo para fora.