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Novas mensagens, análises etc. irão se concentrar a partir de agora em interceptor.
O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Saturday, March 27, 2010

Thursday, March 25, 2010

Mitomania eurasiática



As observações ao artigo abaixo estão no fim deste post.
a.h


A Idéia Eurasiana*
. Dugin
O que é hoje o Eurasianismo? Que tipos de conceitos de Eurásia existem? — Sete sentidos da palavra Eurasianismo — A evolução da noção de Eurasianismo
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Mudanças no significado original de Eurasianismo
Diferentes termos perdem seu significado original ao longo dos anos, apesar de seu uso cotidiano. Noções tão fundamentais quanto socialismo, capitalismo, democracia, fascismo mudaram profundamente. Na verdade, eles se tornaram banais.
Os termos “Eurasianismo” e “Eurásia” possuem também certas inseguranças por serem novos, eles pertencem a uma nova linguagem política e contexto intelectual cuja criação está apenas no início.
A idéia eurasiana reflete um processo dinâmico muito ativo. Seu significado tem se tornado mais claro ao longo da História, mas necessita de desenvolvimento adicional.
Eurasianismo como uma luta filosófica
A idéia eurasiana representa uma revisão fundamental da história política, ideológica, étnica e religiosa da humanidade, e oferece um novo sistema de classificação e de categorias que suplantará os clichês estabelecidos. A teoria eurasiana se formou em duas etapas — um período de formação do eurasianismo clássico no início do século XX por intelectuais emigrantes (Trubeckoy, Savickiy, Alekseev, Suvchinckiy, Iljin, Bromberg, Hara-Davan etc.) seguido pelos trabalhos históricos de Leonid Gumilev e, finalmente, a constituição do neo-eurasianismo (a partir da segunda metade da década de 1980).
Rumo ao neo-eurasianismo
A teoria eurasiana clássica pertence indubitavelmente ao passado e pode ser corretamente classificada como parte das ideologias do século XX. O eurasianismo clássico pode ter passado, mas o neo-eurasianismo lhe proporcionou um segundo nascimento, um novo sentido, escala e significado. Quando a idéia eurasiana emergiu das cinzas, tornou-se menos óbvia, mas já revelou seu potencial oculto.
Por meio do neo-eurasianismo, toda a teoria eurasiana ganhou uma nova dimensão. Não podemos ignorar hoje o grande período histórico do neo-eurasianismo e devemos tentar compreendê-lo em seu contexto. A seguir, descreveremos os vários aspectos deste conceito.
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Eurasianismo como uma tendência global
A Globalização como a estrutura principal da história moderna
Em sentido amplo, a idéia eurasiana e até mesmo a Eurásia enquanto conceito não correspondem estritamente às fronteiras geográficas do continente eurasiano. A idéia eurasiana é uma estratégia de escala global que reconhece a objetividade da globalização e o fim dos “estados-nações”  (Etats-Nations), mas ao mesmo tempo oferece um cenário de globalização que não implica em um mundo unipolar ou em um governo global unificado. Em vez disso, ela oferece várias zonas globais (pólos). A idéia eurasiana é uma alternativa ou versão multipolar da globalização, mas a globalização é no presente o processo mundial mais fundamental decidindo o vetor principal da história moderna.
Paradigma da globalização — o paradigma do Atlantismo
O estado-nação hodierno está sendo transformado em um estado global; estamos diante da constituição de sistemas de governo planetário no interior de um único sistema econômico-administrativo. É um erro acreditar que todas as nações, classes sociais e modelos econômicos devem repentinamente começar a cooperar nas bases desta nova lógica planetária. A globalização é um fenômeno unidimensional e unilateral que tenta universalizar o ponto de vista ocidental (anglo-saxão, americano) de como melhor gerenciar a história humana. É a unificação em um só sistema (frequentemente associada à supressão e à violência) de diferentes estruturas nacionais, sócio-políticas, étnicas e religiosas. É uma tendência histórica da Europa ocidental que alcançou seu auge através do domínio dos Estados Unidos da América.
A globalização é a imposição de um paradigma atlantista. A globalização enquanto atlantismo busca evitar esta definição de todas as formas. Os proponentes da globalização argumentam que quando não houver mais alternativa ao atlantismo, ele cessará de existir. O filósofo político americano F. Fukuyama escreveu sobre o “fim da História”, que significa na verdade o fim da história geopolítica e  do conflito entre atlantismo e eurasianismo. Isto significa a arquitetura de um novo sistema mundial sem nenhuma oposição e com um único pólo — o pólo do atlantismo. Podemos também nos referir a esta arquitetura como Nova Ordem Mundial. O modelo de oposição entre dois pólos (Leste-Oeste, Norte-Sul) se transforma no modelo de centro-periferia (centro — Ocidente, “norte rico”; periferia — sul).  Esta variante de arquitetura mundial está em desacordo completo com o conceito de eurasianismo.
Há uma alternativa à Globalização Unipolar
Atualmente, a Nova Ordem Mundial é nada mais do que um projeto, um plano, ou uma tendência. É muito grave, mas não fatal. Os adeptos da globalização negam qualquer alternativa para o futuro, mas vemos hoje um fenômeno anti-globalista em larga escala, e a idéia eurasiana coordena de um modo construtivo todos os oponentes da globalização unipolar. Mais ainda, oferece a idéia concorrente de globalização multipolar (ou alter-globalização).
Eurasianismo como pluriverso
O eurasianismo rejeita o modelo mundial de centro-periferia. Em vez disso, a idéia eurasiana defende que o planeta consiste de uma constelação de espaços vivos parcialmente autônomos e abertos uns aos outros. Estas áreas não são as dos estados-nacionais, mas as de uma coalizão de Estados, reorganizados em federações continentais ou “impérios democráticos” com um largo grau de auto-governo interno. Cada uma destas áreas é multipolar, incluindo um complicado sistema de fatores administrativos, religiosos, culturais, e étnicos.
Em um sentido global, o eurasianismo está aberto a todos, independente do lugar de nascimento, residência, cidadania e nacionalidade. O eurasianismo providencia a oportunidade de escolha de um futuro diferente do clichê do atlantismo e um sistema de valor para toda a humanidade. O eurasianismo não se limita à busca do passado ou à preservação do presente status quo, mas luta pelo futuro, reconhecendo que a estrutura atual do mundo precisa de mudanças radicais, que as sociedades industriais e estados-nacionais exauriram todos os seus recursos. A idéia eurasiana não vê a criação de um governo mundial fundamento nos valores liberal-democráticos como o único caminho para a humanidade. Em seu sentido mais fundamental, o eurasianismo se define no século XXI pela adesão à alter-globalização, sinônimo de um mundo multipolar.
O atlantismo não é universal
O eurasianismo rejeita por completo o universalismo do atlantismo e do americanismo. A configuração da Europa ocidental e da América possuem elementos muito atraentes, que podem ser adotados e prezados, mas em sua totalidade  é meramente um sistema cultural que tem o direito de existir em seu próprio contexto histórico, ao lado de outros sistemas culturais e civilizacionais.
A idéia eurasiana protege não apenas os sistemas de valores anti-atlantistas, mas a diversidade das estruturas de valor. É um tipo de “poliverso” que providencia espaços vitais a todos, incluindo os Estados Unidos e o atlantismo ao lado de outras civilizações, pois o eurasianismo também defende as civilizações da África, de ambos os continentes americanos, e da área do Pacífico paralela à Terra Mãe eurasiana.
A idéia eurasiana promove uma idéia revolucionária global
A idéia eurasiana, numa escala global, é um conceito revolucionário que clama por uma nova base de entendimento mútuo e cooperação entre um grande conglomerado de poderes distintos: os Estados, nações, culturas, e religiões que rejeitam a versão atlantista da globalização.
Se analisarmos as declarações e afirmações de vários políticos, filósofos e intelectuais veremos que a maioria deles é adepta (alguns inconscientemente) da idéia eurasiana.
Se pensarmos em todos estes que discordam do “fim da História”, nossos ânimos se elevam, e torna-se mais realista o fracasso da visão estratégica americana de segurança coletiva para o século XXI, ligada à constituição de um mundo unipolar.
O eurasianismo é a soma dos obstáculos naturais, artificiais, objetivos e subjetivos no caminho da globalização unipolar; oferece uma oposição construtiva e positiva ao globalismo em vez de simples negação.
Estes obstáculos, no entanto, permanecem descoordenados, e os proponentes do atlantismo estão aptos a administrá-los. Mas, se estes obstáculos puderem de alguma maneira ser integrados em uma força unificada, a possibilidade de vitória se tornará maior.
Eurasianismo enquanto Velho Mundo (Velho continente)
O Novo Mundo é uma parte do antigo Velho Mundo, ou um sentido mais especifico e estrito de eurasianismo aplicável ao que chamamos de Velho Mundo. O conceito de Velho Mundo (tradicionalmente aplicado à Europa) pode ser considerado em um contexto muito mais amplo. É um super-espaço multi-civilizacional, habitado por nações, estados, culturas, etnicidades e religiões ligadas umas às outras histórica e geograficamente por um destino dialético. O Velho Mundo é um produto orgânico da história humana.
O Velho Mundo é frequentemente colocado em oposição ao Novo Mundo, o continente americano descoberto pelos europeus e transformado em base para uma civilização artificial, no qual os projetos europeus de modernismo foram criados. O Novo mundo foi construído a partir de ideologias humanamente produzidas como uma civilização de puro modernismo.
Os Estados Unidos são a mais bem sucedida criação da “sociedade perfeita”, formada por intelectuais da Inglaterra, Irlanda e França, enquanto os países da América Central e do Sul permaneciam colônias do Velho Mundo. A Alemanha e a Europa Oriental foram menos influenciadas pela concepção de “sociedade perfeita”.
Nos termos de Oswald Spengler, o dualismo entre o Velho e o Novo Mundo pode ser resumido nas seguintes oposições: cultura-civilização, orgânico-artificial, histórico-técnico.
O Novo Mundo como Messias
Como um produto histórico da evolução da Europa Ocidental, o Novo Mundo muito cedo se conscientizou de seu destino “messiânico”, em que os ideais liberal-democráticos do Iluminismo foram combinados com as idéias escatológicas de seitas protestantes radicais. Esta foi a teoria do Destino Manifesto, que se tornou o novo símbolo de crença para gerações de americanos. De acordo com esta teoria, a civilização americana suplantou todas as culturas e civilizações do Velho Mundo e em sua forma presente é obrigatória para todas as nações do planeta.
Com o tempo, esta teoria confrontou diretamente não apenas as culturas do Oriente e da Ásia, mas entrou em conflito com a Europa, que pareceu aos americanos arcaica e repleta de preconceitos e tradições antiquadas.
Por sua vez, o Novo Mundo se afastou da herança do Velho Mundo. Imediatamente após a II GM, o Novo Mundo se tornou líder indisputável na própria Europa e “critério de veracidade” para os outros. Isto inspirou uma onda correspondente de domínio americano e, paralelamente, o início de um movimento que buscava libertação geopolítica do controle político brutal, transoceânico, estratégico e econômico do “Irmão mais velho”.
A integração do continente eurasiano
No século XX, a Europa se tornou consciente de sua identidade comum e, passo a passo, começou a se mover rumo à integração de todas suas nações em uma união capaz de garantir soberania completa, segurança e liberdade para si mesma e para todos os seus membros.
A criação da União Européia foi o mais importante auxílio à restauração do status da Europa como potência mundial ao lado dos Estados Unidos da América. Esta foi a resposta do Velho Mundo ao desafio do Novo Mundo.
Se considerarmos a aliança entre USA e Europa Ocidental como o vetor atlantista do desenvolvimento europeu, a integração européia sob a égide dos países continentais (Alemanha, França) pode ser chamada de eurasianismo europeu. Isto se torna ainda mais óbvio se levarmos em consideração a idéia de que a Europa vai do Oceano Atlântico aos Urais (S. de Goll) ou até Vladivostok. Em outras palavras, a integração do Velho Mundo inclui o vasto território da Federação Russa.
Desse modo, o eurasianismo neste contexto pode ser definido como um projeto de integração estratégica, geopolítica e econômica do norte do continente eurasiano, considerado o berço da história européia e a matriz de suas nações.
Paralela à Turquia, a Rússia (assim como os ancestrais dos europeus) está historicamente ligada à nações turcas, mongóis e caucasianas. A Rússia dá à integração européia uma dimensão eurasiana tanto no sentido geográfico quanto no simbólico (identificação do eurasianismo com o continentalismo).
Durante os últimos séculos, a idéia da integração européia tem sido proposta pelas facções revolucionárias das elites européias. Em tempos antigos, tentativas similares foram feitas por Alexandre o Grande (integração do continente eurasiano) e Genghis Khan (fundador do maior império da história).
Eurásia como três grandes espaços vitais, integrados ao longo do meridiano
Três cinturões eurasianos (zonas meridianas).
O vetor horizontal de integração é seguido por um vetor vertical.
Os planos eurasianos para o futuro supõem a divisão do planeta em quatro cinturões geográficos verticais (zonas meridianas) de Norte a Sul.
Ambos os continentes americanos formarão o espaço comum orientado e controlado pelos EUA dentro dos moldes da doutrina Monroe. Esta é a zona meridiana atlântica.
Em adição à zona acima, três outras estão planejadas. Elas são as seguintes:
· Euro – África, com a União Européia em seu centro;
· A zona Rússia-Ásia Central;
· Zona do Pacífico.
No interior destas zonas terá lugar a divisão regional do trabalho e a criação de áreas de desenvolvimento e corredores de crescimento.
Estes cinturões (zonas meridianas) contrabalançam uns aos outros, e todos juntos contrabalançam a zona meridiana atlântica. No futuro, estes cordões podem ser a fundação sobre a qual se erguerá um mundo multipolar: o número de pólos será maior do que dois; entretanto, o número será muito menor do que o de estados-nações atuais. O modelo eurasiano propõe quatro pólos.
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Grandes espaços
As zonas meridianas no projeto eurasiano consistem de vários “grandes espaços” ou “impérios democráticos”. Cada um deles possui liberdade relativa e independência mas está estrategicamente integrado em uma zona meridiana correspondente.
Os grandes espaços correspondem às fronteiras das civilizações e incluem vários estados-nações ou união de Estados.
A União Européia e o grande espaço árabe, que integra a África do norte e trans-saariana e o Oriente Médio, formam a Euro – África.
A zona Rússia-Ásia Central é formada por três grandes espaços que às vezes se imbricam. O primeiro é a Federação Russa ao lado de diversos países da CEI [Comunidade dos Estados Independentes] – membros da União Eurasiana. O segundo é o grande espaço do Islã continental (Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão). Os países asiáticos da CEI interseccionam esta zona.
O terceiro grande espaço é o Hindustão, que é um setor civilizacional autônomo.
A zona meridiana do Pacífico é determinada por um condomínio de dois grandes espaços (China e Japão)  e também inclui Indonésia, Malásia, as Filipinas, e Austrália (alguns pesquisadores a associam com a zona meridiana americana). Esta região geopolítica é um grande mosaico e pode ser diferenciada por diversos critérios.
A zona meridiana americana consiste nos grandes espaços da América do Norte, Central e canadense-americano.
Importância da quarta zona
O modelo de mundo baseado em zonas meridianas é aceito pela maior parte dos geopolíticos americanos, que buscam a criação de uma Nova Ordem Mundial e a globalização unipolar. Entretanto, a existência do espaço meridiano da Rússia-Ásia Central é um grande obstáculo: a presença ou ausência deste cinturão muda radicalmente a figura geopolítica do mundo.
Os futurólogos atlantistas dividem o mundo nas três zonas que se seguem:
· Pólo americano, com a União Européia como sua periferia próxima (Euro – África como um dependente) e
· as regiões asiáticas e do Pacífico como sua periferia distante.
· Rússia e Ásia Central são fracionados, mas sem que se constituam numa zona meridiana independente, o mundo se torna unipolar.
Esta última zona meridiana contrabalança a pressão americana e providencia às zonas européia e do pacífico a capacidade de agir como pólos civilizacionais auto-centrados.
O equilíbrio multipolar real, e a independência dos cinturões meridianos, grandes espaços, e estado-nações depende do sucesso da criação de uma quarta zona. Mais ainda, não é suficiente ser pólo em modelo bipolar do mundo: o rápido progresso dos Estados Unidos da América só pode ser contrabalançado por uma sinergia das três zonas meridianas.
O projeto eurasiano propõe o super projeto desta quarta zona em um nível estratégico geopolítico.
Eurasianismo como integração russo-centro asiática
Eixo Moscou-Teerã
Quarta zona meridiana — integração russo-asiática. A questão central deste processo é a implementação de um eixo Moscou-Teerã. O processo interno depende do sucesso do estabelecimento de uma parceria de médio e longo prazo com o Irã. A união dos potenciais econômico, militar e político de Rússia e Irã aumentará o processo de integração da zona, tornando-a irreversível e autônoma.
O eixo Moscou-Teerã será a base para uma integração posterior. Tanto Moscou quanto o Irã são potências auto-suficientes, aptas a criar seu próprio modelo organizacional para a região.
O plano eurasiano para o Afeganistão e o Paquistão
O vetor de integração com o Irã tem importância vital para que a Rússia ganhe acesso a portos de águas quentes e também para a reorganização político-religiosa da Ásia Central (países asiáticos da CEI, Afeganistão e Paquistão). Uma cooperação próxima com o Irã implica na transformação da área afegão-paquistanesa em uma confederação islâmica livre, leal tanto a Moscou quanto ao Irã. A razão desta necessidade é que os Estados independentes de Afeganistão e Paquistão continuarão a ser fonte de desestabilização, ameaçando os países vizinhos. A luta geopolítica providenciará a capacidade para implementar uma nova federação central-asiática e transformar esta região complicada em uma área de cooperação e prosperidade.
Eixo Moscou-Deli
A cooperação russo-indiana é o segundo mais importante eixo meridiano de integração no continente eurasiano e em seus sistemas de segurança coletiva. Moscou terá um papel importante, diminuindo as tensões entre Deli e Islamabad (Kashmir). O plano eurasiano para a Índia, patrocinado por Moscou, é a criação de uma federação que refletirá a diversidade da sociedade indiana com suas numerosas minorias étnicas e religiosas, incluindo sikhs e muçulmanos.
Moscou-Ankara
O principal parceiro regional no processo de integração da Ásia Central é a Turquia. A idéia eurasiana está se tornando popular por lá atualmente devido ao entrelaçamento das tendências ocidentais e orientais. A Turquia reconhece suas diferenças civilizacionais com a União Européia, seus interesses e objetivos regionais, a ameaça da globalização, e a posterior perda de soberania.
É imperativo para a Turquia estabelecer uma parceria estratégica com a Federação Russa e o Irã. A Turquia só será capaz de manter suas tradições dentro do modelo multipolar de mundo. Certas facções da sociedade turca entendem esta situação — de elites políticas e socialistas a religiosas e militares. Assim, o eixo Moscou – Ankara pode se tornar uma realidade geopolítica apesar do longo período de hostilidade mútua.
Cáucuso
O Cáucuso é a região mais problemática para a integração eurasiana dado seu mosaico de culturas e etnias que facilmente leva a tensões entre as nações. Esta é uma das principais armas usadas por aqueles que buscam parar o processo de integração do continente eurasiano. A região do Cáucuso é habitada por nações que pertencem a diferentes Estados e áreas civilizacionais. A região deve ser um polígono de testes de diferentes métodos de cooperação entre os povos, pois o que for bem sucedido ali poderá sê-lo ao longo do continente eurasiano. A solução eurasiana para este processo jaz não na criação de Estados étnicos ou estritamente associados a uma só nação, mas no desenvolvimento de uma federação flexível fundamentada nas diferenças étnicas e culturais no interior de um contexto estratégico comum da zona meridiana.
O resultado deste plano é um sistema de um semi-eixo entre Moscou e os centros do Cáucuso (Moscou-Baku, Moscou-Erevan, Moscou-Tbilisi, Moscou-Mahachkala, Moscou-Grozni etc.) e entre os centros do Cáucusos e os aliados da Rússia no interior do projeto eurasiano (Baku-Ankara, Erevan-Teerã etc.).
O plano eurasiano para a Ásia Central
A Ásia Central deve se mover rumo à integração com a Federação Russa em um bloco unido, estratégico e econômico no interior da estrutura de união eurasiana, a sucessora da CEI. A principal função dessa área específica é a reaproximação da Rússia com os países do Islã continental (Irã, Paquistão, Afeganistão).
Desde o início, o setor da Ásia Central deve possuir vários vetores de integração. Um plano tornará a Federação Russa o principal parceiro (similaridades de cultura, interesses econômicos e energéticos, uma estratégia comum de sistema de segurança). O plano alternativo é colocar o foco em semelhanças étnicas e religiosas: mundos turcos, iranianos e islâmicos.
Integração eurasiana de territórios pós-soviéticos
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União Eurasiana
Um significado mais específico de eurasianismo, parcialmente similar às definições dos intelectuais eurasianos dos anos 1920-30, está associado ao processo de integração dos territórios pós-soviéticos.
Diferentes formas similares de integração podem ser vistas na história: dos hunos e outros impérios nômades (mongóis, turcos, e indo-europeus) ao império de Gênghis Khan e seus sucessores. Uma integração mais recente foi liderada pelo império russo dos Romanov e, mais tarde, pela URSS. Hoje, a união eurasiana dá continuidade a estas tradições de pensamento de integração por meio de um modelo ideológico único que leva em consideração procedimentos democráticos, respeito aos direitos das nações, e dá atenção às características culturais, linguísticas e étnicas de todos os membros da união.
Eurasianismo é a filosofia de integração do território pós-soviético em uma base democrática, não-violenta, e voluntária, sem dominação de nenhum dos grupos étnicos ou religiosos.
Astana, Dushanbe, e Bishkek como as forças principais da integração
Diferentes repúblicas asiáticas da CEI ameaçam de maneira desigual o processo de integração pós-soviética. O mais ativo aliado da integração é o Cazaquistão. O presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, é um aliado firme da idéia eurasiana. O Quirguistão e o Tadjiquistão igualmente dão suporte ao processo de integração, apesar de sua adesão ser menos tangível em comparação com a do Cazaquistão.
Tashkent e Ashabad
O Uzbequistão e especialmente o Turcomenistão se opõe ao processo de integração, buscando conquistar o máximo de resultados positivos de sua recém adquirida soberania nacional. Entretanto, em breve, devido ao crescimento dos índices de globalização, ambos os Estados enfrentarão um dilema: perder a soberania e se dissolver no mundo unificado global com a dominação dos valores liberais americanos ou preservar sua identidade religiosa e cultural no contexto de uma União Eurasiana. Em nossa opinião, uma comparação imparcial destas duas opções levará à segunda delas, continuidade natural de ambos os países e de suas histórias.
Os Estados trans-caucasianos
A Armênia continua gravitando rumo à União Eurasiana e considera a Federação Russa um firme aliado e conciliador que ajuda a administrar as relações com seus vizinhos muçulmanos. É notável que Teerã prefira estabelecer uma parceria com os etnicamente próximos armênios. Este fato nos permite considerar dois semi-eixos, Moscou-Erevan e Erevan-Teerã, como pré-requisitos positivos da integração.
Baku permanece neutro, mas esta situação mudará drasticamente com o contínuo movimento de Ankara rumo ao eurasianismo (que imediatamente afetará o Azerbaijão). A análise do sistema cultural do Azerbaijão mostra que este Estado é mais próximo da Federação Russa pós-soviética e das repúblicas pós-soviéticas do Cáucuso e da Ásia Central do que do religioso Irã e até mesmo da moderada Turquia.
A Geórgia é o problema chave da região. O mosaico característico do Estado georgiano é a causa de sérios problemas para a construção de um novo estado nacional que é fortemente rejeitado por suas minorias étnicas: Abkhazia, Ossétia do sul, Adjaria,etc. Além disso, o Estado georgiano não tem nenhum parceiro forte na região e é forçado a buscar parceria com os EUA e a OTAN para contrabalançar a influência russa. A solução deste problema se encontra na cultura ortodoxa da Geórgia, com suas características e tradições eurasianas.
Ucrânia e Belarus — países eslavos da CEI
Para o sucesso da criação da união eurasiana é suficiente a conquista do apoio do Cazaquistão e da Ucrânia. O triângulo geopolítico Moscou-Astana-Kiev é um modelo capaz de garantir a estabilidade da união eurasiana, o que torna a negociação com Kiev urgentes como nunca. A Rússia e a Ucrânia possuem muito em comum: similaridades culturais, religiosas, linguísticas e étnicas. Estes aspectos precisam ser enfatizados, pois desde o início da recente soberania da Ucrânia, a russo fobia e a desintegração têm sido promovidas.
Muitos países da UE podem influenciar positivamente o governo ucraniano, pois eles estão interessados na harmonia política da Europa Oriental. A cooperação de Moscou e Kiev vai mostrar as atitudes pan-européias de ambos os países eslavos.
Os fatores acima mencionados estão presentes em Belarus, onde as intenções de integração são muito mais evidentes. Entretanto, o status estratégico e econômico de Belarus é menos importante para Moscou do que aqueles de Kiev e Astana. Mais ainda, a dominação de um eixo Moscou-Minsk prejudicará a integração com a Ucrânia e o Cazaquistão, o que faz com que a integração com Belarus deva fluir sem nenhum incidente repentino — ao lado de outros vetores do processo de integração eurasiana.
Eurasianismo como Weltanschauung
A última definição de eurasianismo caracteriza uma Weltanschauung específica: uma filosofia política que combina tradição, modernidade, e até elementos do pós-modernismo. Esta filosofia tem como sua prioridade uma sociedade tradicional; reconhece o imperativo da técnica e da modernização social (sem separá-la da cultural tradicional); e luta pela adaptação de seu programa ideológico à sociedade de informação e pós-industrial que é chamada de pós-modernismo.
O Pós modernismo formalmente remove as contraposições entre a tradição e o modernismo, despojando-os e tornando-os iguais. O pós-modernismo eurasiano, pelo contrário, promove a aliança de tradição e modernismo como um impulso construtivo, otimista e energético orientado à criação e ao crescimento.
A filosofia eurasiana não nega as realidades descobertas pelo Iluminismo: a religião, a nação, o império, a cultura etc. Ao mesmo tempo, as melhores aquisições do modernismo são usadas amplamente: os avanços tecnológicos e econômicos, as garantias sociais, a liberdade de trabalho. Os extremos se encontram, dissolvendo-se em uma teoria harmônica e original, inspirando um pensamento refrescante e soluções novas para os eternos problemas encarados pelos povos ao longo da História.
O eurasianismo é uma filosofia aberta
O eurasianismo é uma filosofia aberta, não-dogmática, que pode ser enriquecida com novos conteúdos: religião, as descobertas etnológicas e sociológicas, geopolítica, economia, geografia nacional, a pesquisa política e estratégica etc. Mais ainda, a filosofia eurasiana oferece soluções originais em contextos linguísticos e culturais específicos: o eurasianismo russo não será o mesmo das versões francesa, alemã ou iraniana. No entanto, a estrutura principal da filosofia permanecerá invariável.
Os princípios do Eurasianismo
Os princípios básicos do eurasianismo são os seguintes:
· diferencialismo, o pluralismo de sistemas de valores contra a convencional dominação obrigatória de uma dada ideologia (a democracia liberal americana em primeiro e mais importante lugar);
· tradição contra a supressão de culturas, dogmas e descobertas das sociedades tradicionais;
· os direitos das nações contra os “bilhões de ouro” e a hegemonia neocolonial do “norte rico”; 
· as etnias como valores e sujeitos da história contra a despersonalização das nações, aprisionadas em construções sociais artificiais;
· justiça social e solidariedade humana contra a exploração e humilhação do homem pelo homem.
* Texto traduzido e revisado por André Luiz.
http://encontronacionalevoliano.com.br/?p=48


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Os modelinhos acima são uma revisão das panregiões de Karl Haushofer, antes que eu me esqueça... O general traído pelos nazistas que apregoava a criação de grandes áreas de influência que detivessem um equilíbrio entre Alemanha e Rússia. 
Não é possível que a utopia acima se concretize sem uma participação hegemônica da Rússia no Hemisfério Oriental. Mas, o que quer a Rússia?





O plano russo


A princípio parece que a Rússia objetiva reestabelecer as fronteiras do espaço soviético conquistando rapidamente o que acabou de perder. Não é essa a questão... A estratégia russa opera com seus vizinhos de quatro formas basicamente:

·                          Os países que a Rússia pretende reestabelecer plenamente sua influência são: Bielorrússia, Geórgia, Ucrânia e Cazaquistão. Ao mesmo tempo em que seus territórios servem para proteger a Rússia da Ásia e da Europa (Central), também lhes dão acesso ao Mar Negro e Cáspio, essenciais para a sua navegação marítima. Eles também são elos importantes de ligação com o coração industrial e agrícola nacional. Até agora, com exceção da Geórgia que está ocupada militarmente, eles já foram cooptados. Provavelmente, neste ano de 2010, a Rússia centrará esforços sobre esses países.
·                          Após os quatro primeiros países, prioritários, há outros seis com os quais se deseja uma maior aproximação. Não que sejam essenciais para sua geopolítica, mas se o Ocidente se aproximar deles ficará muito próximo da zona de segurança russa. São Lituânia, Letônia, Estônia, Azerbaidjão, Turcomenistão e Uzbequistão. Alguns estrategistas russos ainda entendem que, particularmente, a Estônia deveria ser enquadrada no primeiro grupo devido a sua proximidade ao importante porto de São Petersburgo. Tão logo, o primeiro grupo esteja todo fechado, a atenção se intensificará sobre este.
·                          O terceiro grupo é composto por países sem grande importância política, econômica ou geográfica, mas que devido a suas instabilidades podem se tornar alvos fáceis de competidores internacionais. São Armênia, a Moldávia, o Quirguistão e o Tadjiquistão. O ponto positivo para Moscou é que devido a sua instabilidade também se tornam fáceis de serem cooptados.
·                          O outro grupo de países não se refere às nações do extinto espaço soviético, mas países que a Rússia acha que poderá influenciar no futuro: Alemanha, França, Polônia e Turquia. Por mais difícil que isto possa ser não dá para estabelecer uma estratégia eurasiática de longo prazo sem considerá-los. São poderes regionais e, porventura, futuramente globais que colocarão severos óbices à expansão hegemônica russa. Lembrando que todos são membros da OTAN e apresentam uma relação complexa com os EUA. Portanto, apenas a distração conjuntural dos EUA com o mundo islâmico não será suficiente para que a Rússia obtenha alguma vantagem nestas futuras negociações e não os transforme em seus inimigos.

E também não haverá mundo multipolar sem expansão do mercado, sem dinheiro e mercadorias. Do contrário, tudo que restará serão ideologias tão consistentes quanto o vento. O que ocorre de fato é a expansão de uma estrutura sobre outra. Nada de clubinhos de amiguinhos. 
A nova seita dos evolianos e duginotes é muito perspicaz para apontar falhas na segurança american e suas implicações externas. Mas, quando se trata de utilizar o mesmo tirocínio para seus times, não. São como aqueles comentaristas cariocas de futebol, totalmente entusiastas que mais torcem do que vêem qualquer coisa.
Meu deus, como unificar uma EURÁSIA?! Se nem uma parte da Europa conseguem direito, se nem um Obama consegue fazer o que quer em um país?! Se nem um Lula consegue comandar direito um país centralizado e com oposição apática?! Se nem um Chávez consegue governar sem oposição em seu pé?!
Mais um sonho de virgem.


Cidades e Redes

Apesar dos processos de urbanização dependerem de tendências de longo prazo, acho que ainda são uma incógnita... A reestruturação urbana de NYC, p.ex., visou uma centralização e não, horizontalidade como vinha sendo a tônica dos anos 70. Quanto ao predomínio de mega-cidades como padrão mundial, acho que não, pois elas são pólos que dependem de uma rede de distribuição, uma rede urbana para viabilizarem seus produtos e esta é, essencialmente, formada pelas cidades de porte médio. 


A centralização em cidades grandes dos emergentes tem muito a ver com a menor oferta desses produtos em outros tipos de cidades (menores). Daí, seu fluxo contínuo... E, de mais a mais, a comunicação (tecnologia, informação) mais acessível hoje em dia exime que um cidadão de cidade média, nos países economicamente avançados seja obrigado a migrar para uma cidade maior.

Wednesday, March 24, 2010

Tolice igualitária

Sobre a matéria abaixo, igualdade no sentido que imaginam, ou supõem, seria uma castração ao desenvolvimento. A desigualdade limitadora é aquela que tem uma ampla base de miséria homogênea, ou seja, uma grande massa de pobres igualitários. O que os analistas da ONU querem apontar/criticar é o gap entre ricos e mais pobres, não querendo dizer que esses 'pobres' sejam miseráveis. E isto é uma enorme tolice, pois esta diferença, desde que o estrato exterior tenha como se reproduzir e acumular algo passa a se incentivar a mudar, a se mover socialmente. 

Ou é isto ou é uma igualdade de comunas populares maoístas, aí a perfeita igualdade na miséria.

Cidades Sem Fim





Acho uma excelente notícia. Ao contrário dos que preferem cidades densas, eu gosto das baixas densidades. Na verdade, este rururbano aproxima a população noutra escala. Só que para funcionar bem depende de trem. Como este vai funcionar, se público ou privado é que é outra questão. Mas, numa coisa eu concordo com os críticos do modelo: quem mora mais distante do centro, encarecendo a infra-estrutura tem que pagar mais pela mesma (seja através de pedágios, impostos etc.). 

Eu pagaria pela mesma.





Relatório da ONU mostra aparecimento de "cidades sem fim"

23 de março de 2010 • 14h30 • atualizado às 14h35
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4335323-EI294,00-Relatorio+da+ONU+mostra+aparecimento+de+cidades+sem+fim.html


Um novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) identifica um fenômeno, chamado de "cidades sem fim", como um dos que mais devem influenciar a vida das pessoas nos próximos 50 anos.
De acordo com a análise, publicada nesta terça pelo jornal britânico The Guardian, as grandes cidades estão se fundindo em "mega-regiões", que podem se estender por centenas de quilômetros e ter mais de 100 milhões de moradores.

O relatório aponta que o fenômeno ocorre porque as cidades estão se expandindo para além de seus limites e se fundindo em aglomerados ligados física e economicamente. Para a ONU, o crescimento, apesar de impulsionar a economia, eleva as desigualdades sociais.

Segundo o relatório, apresentado no Fórum Urbano Mundial, no Rio de Janeiro, o maior exemplo deste fenômeno ocorre na região de Hong Kong-Shenhzen-Guangzhou, na China, onde vivem cerca de 120 milhões de pessoas. Outras "mega-regiões" foram identificadas no Japão e no Brasil ou ainda estão em formação na Índia e na África.

Na região de Nagoya-Osaka-Kyoto-Kobe, no Japão, a expectativa é de que a população chegue a 60 milhões de pessoas até 2015, de acordo com o relatório da ONU.

No Brasil, a região da qual fazem parte Rio de Janeiro e São Paulo, no Sudeste do País, abriga hoje aproximadamente 43 milhões de pessoas.