All this and oil too
The Economist
God may indeed be Brazilian after all
WHEN Francisco Suares, a Portuguese explorer, wrote home to his brother in Lisbon about Brazil's natural bounty in 1596, he declared himself "ashamed to write it, fearing that I shall not be believed." And so it remains today. Brazil's forests are bigger than anywhere else's. Its soil is so fertile that some trees grow to full maturity quicker than people do. Beneath the soil lie huge mineral deposits that are raw material for China's double-digit growth. Brazil is already on its way to becoming an alternative-energy superpower. And as if to prove a popular saying that "God is Brazilian", it now seems that there are billions more barrels of oil than previously thought lying beneath deep waters off the country's coastline.
Just how many billions is unclear, but Petrobras, Brazil's state-controlled oil company, announced earlier this month that it reckons the Tupi oilfield contains between 5 billion and 8 billion barrels. That may not quite yet put Brazil in the same league as Venezuela and Saudi Arabia, as Dilma Rousseff, President Luiz Inácio Lula da Silva's chief of staff who also chairs Petrobras's board, excitedly proclaimed. But the higher estimate would make the Tupi field alone equal to all of Norway's reserves. It contains light crude, which is less expensive to refine and therefore worth more. And there may be other big deposits to be found nearby.
José Sergio Gabrielli, Petrobras's chief executive, refuses to speculate about how big an oil power Brazil might become. But he does concede that there is the potential for many more discoveries on the scale of Tupi—which itself is the world's second-biggest strike in 20 years, after Kazakhstan's 12 billion-barrel Kashagan field, discovered in 2000.
Most of Brazil's oil comes from the Campos basin, in the waters off Rio de Janeiro. It is typically found at depths of 1,000-2,000 metres below the seabed. Below that lies a huge layer of salt, at some points more than a mile thick. This stretches both north and south to the hitherto less prolific basins of Espirito Santo and Santos. It is below the salt, in the Santos basin, that Petrobras discovered Tupi. The company has also found "sub-salt" oil in Espirito Santo, although it has not yet assessed the scale of this. Mr Gabrielli believes that the two basins have yielded relatively little oil to date not because it is not there, but because it lies deeper underground, below the salt.
Tupi's oil will be hard to extract. Petrobras is a world leader in deep-water oil production, but Tupi is farther down than any of its existing fields. Drilling through the salt layer and the hard rock beneath brings further technical difficulties. The first test-well alone cost $240m. Moreover, there is a shortage of skilled labour and equipment throughout the oil industry at the moment—although Mr Gabrielli says Petrobras can transfer staff and resources from other projects if necessary.
Despite these caveats, it is reasonable to assume that Brazil's economy and currency will get a boost when the oil starts flowing, it is hoped, in 2010. The discovery might also tip the balance of power in South America further in Brazil's favour. Already self-sufficient in oil, Brazil is now likely to become a significant exporter. That may reduce the clout of Venezuela's oil-rich president, Hugo Chávez, in the region. As if to underline this, Petrobras announced on November 13th that it was pulling out of a joint venture in Venezuela.
Brazil's drive towards oil self-sufficiency follows the opening up of the industry to foreign investment in the 1990s, when the government also floated some 40% of Petrobras's shares on the stockmarket. Britain's BG Group has a 25% stake in the Tupi field, and Portugal's Galp Energia holds 10%.
The government followed up the announcement of the Tupi field by withdrawing neighbouring blocks from an auction of exploration rights due later this month. That might signal rising petro-nationalism. But it also looked prudent, since those blocks may be worth much more as more becomes known about Tupi.
Amid the euphoria, which included an instant leap of 26% in Petrobras's share price, came suspicion about the timing of the announcement. Less than a week after it was made, the company announced a poor set of results, with operating profit down 22% compared with the same quarter last year.
Petrobras has also faced mounting difficulties in supplying natural gas to thermal power plants, especially since its fields in Bolivia were quasi-nationalised last year. Some see the Tupi announcement as an attempt to distract attention from this. "It is like throwing a second ball onto a football pitch when the game is going against you," says Alexandre Marinis of Mosaico, a political consultancy.
Electricity rationing under the previous government in 2001-2 helped Lula to win office. One solution now would be to raise the price of gas, but officials are worried that this would feed into inflation, and jeopardise the scope for further cuts in interest rates. Mario Pereira, an energy consultant, reckons that the risk of electricity shortages should wane after 2008, if Petrobras completes a planned liquefied natural-gas terminal on time.
That may be a big if. Lula and Ms Rousseff, a former Trotskyist who is sometimes touted as a potential presidential candidate for the ruling Workers' Party, were keen to associate the government with Petrobras's strike. But the oil may not start flowing until after the next presidential election in 2010. Energy may be an electoral headache rather than a boon for the government, if not for the country.
Source: The Economist
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Revista Veja
O governo anuncia que a Petrobras achou muito petróleo à profundidade de quase um Everest abaixo da superfície
Ronaldo França
Geraldo Falcão/divulgação
Plataforma de exploração: nova área pode conter mais da metade das reservas do país
Com o petróleo custando quase 100 dólares o barril, a busca pelo combustível fóssil está levando as empresas a abrir fronteiras antes apenas sonhadas. Uma delas é o Ártico, cujas reservas estão mapeadas e até assinaladas com bandeiras por países cobiçosos das riquezas de suas entranhas geladas. Na semana passada, o mundo soube que a Petrobras conseguiu extrair petróleo de uma profundidade de 7.000 metros, algo tão descomunal que equivaleria quase ao Monte Everest abaixo da linha d'água – e em mar alto. A empresa petrolífera brasileira foi a primeira a dominar a tecnologia de prospecção em profundidade – 2.000 metros – e agora caminha para ser líder mundial também em superprofundidade arrancando petróleo de depósitos lacrados a sete chaves pela natureza. "Existem poucos lugares no mundo em que se consegue extrair petróleo de águas profundas. O Brasil é um deles e, por isso, tem sorte. Como só a Petrobras desenvolveu a competência para extrair desse tipo de reserva, os brasileiros merecem colher os benefícios disso", disse o geólogo Colin J. Campbell, Ph.D. da Universidade de Oxford e um dos maiores especialistas em petróleo do mundo, ao repórter Victor De Martino, de VEJA.
O que brotou das profundezas, por enquanto, são amostras de petróleo de alta qualidade vindas de poços de teste de uma área de prospecção conhecida como Tupi, localizada a 180 quilômetros da costa perto da Bacia de Santos, no litoral paulista. Mas para os experimentados geólogos da Petrobras é indício suficiente para comemorar. "Essa descoberta muda o país de patamar no mercado internacional. Provavelmente teremos de reavaliar e até ampliar nosso plano de investimentos", diz Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras. Para chegar ao petróleo, as sondas da empresa furaram enormes camadas de rocha e atravessaram uma gigantesca barreira subterrânea formada de sal. Por isso se diz que o óleo foi achado no pré-sal. As pesquisas na região continuam e, dentro de dois anos, será conhecida a real extensão dos depósitos. Depois disso, serão necessários mais quatro anos para que o petróleo pré-sal brasileiro possa ser bombeado em volume comercial a um custo competitivo. Isso é um ponto vital. Mesmo com o barril a 100 dólares, será preciso ainda muito aprimoramento tecnológico para extraí-lo de 7.000 metros de modo competitivo. Quando a profundidade de exploração duplica, por exemplo, de 2.000 para 4.000 metros, o custo da operação triplica. Mas os especialistas são unânimes em dizer que, ainda assim, vale muito a pena. O primeiro poço dessa profundidade custou à Petrobras 240 milhões de dólares e levou um ano para ser concluído. O custo caiu para 60 milhões e o prazo de conclusão para dois meses. Podem cair mais. Além disso, os custos são rateados com as sócias da Petrobras naquela área, a inglesa BG Group (25%) e a portuguesa Galp Energia (10%).
Jamil Bittar/Reuters
Plataforma de exploração: nova área pode conter mais da metade das reservas do país
A área de Tupi abrigaria reservas de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de petróleo. Isso mudaria a posição do Brasil no mercado mundial de importador a exportador. Parece um volume estrondoso. Mas o mundo é sedento por petróleo, e ao ritmo atual de consumo global de 86 milhões de barris por dia toda a reserva de Tupi seria consumida em apenas três meses. A grande aposta de todos é que exista petróleo naquela rocha abaixo da camada de sal não apenas em Tupi, mas em toda a região que vai da costa de Santa Catarina à costa do Espírito Santo. Se Tupi for apenas uma amostra das riquezas dessa enorme região, então haverá motivos para o otimismo típico e legítimo que domina os governantes quando se encontra petróleo – mesmo que seja o mais pálido sinal dele. "Modificamos o paradigma geológico do país. É uma descoberta que terá importância para todas as gerações do Brasil", disse a ministra Dilma Rousseff.
Mas pode-se tomar o todo pela parte? Se tem petróleo fino brotando dos poços na área de Tupi, haverá em toda aquela região? É uma aposta. Nesse cenário positivo, a região estaria produzindo daqui a seis ou sete anos mais de 70 bilhões de barris. Isso levaria o Brasil da 24ª posição entre os países produtores para o nono lugar, à frente da Nigéria e dos Estados Unidos. É preciso ir devagar com o andor. A história mostra que nesse ramo nem sempre tudo sai conforme o figurino. Em 1978, a British Petroleum, então com um contrato de risco com o governo Geisel, anunciou ter encontrado petróleo na Bacia de Santos em rocha pré-sal, a 5.000 metros de profundidade... Será o mesmo petróleo que se anuncia agora? Melhor que não.
A exploração de um campo de petróleo obedece a um árduo cronograma que pode levar até dez anos entre a prospecção e o óleo jorrando na plataforma. Para que se possa contabilizar cada barril de petróleo debaixo do solo como reservas provadas – o que muda a posição do país no ranking dos produtores – é necessário percorrer as seguintes etapas:
• A perfuração exploratória, quando se obtêm informações sobre a estrutura geral do poço. No caso de Tupi, essa descoberta foi feita em 2005.
• A avaliação do volume de petróleo recuperável. Ou seja, quanto daquele poço é possível ser extraído de acordo com as características gerais do óleo encontrado. É nessa fase que se encontra a Petrobras agora. E é devido a esse grau de incerteza que a empresa informou que pode haver ali entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris, uma diferença considerável.
• A elaboração do plano de desenvolvimento, a partir do qual as reservas começam a se tornar mais palpáveis.
É aí que se sabe quanto vai custar a operação, o nível de produção, a pressão com que o petróleo pode jorrar e tudo mais que sinaliza a viabilidade econômica do poço. Essa fase ainda demora pelo menos dois anos.
A descoberta veio acompanhada de um travo um tanto amargo de regresso a um tempo em que a mão do estado era dominadora na economia. A começar por uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética, que ocorreu nas dependências da Petrobras. Embora seja estatal, ela é apenas mais uma das empresas do setor. O presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, explicou que somente ali havia as condições para a apresentação dos gráficos, filmes e todo o material produzido em três dimensões que comprovam a extensão da descoberta. O mal-estar no mercado também ocorreu quando se anunciou que o CNPE retiraria da próxima rodada de licitações de áreas de exploração de petróleo os blocos vizinhos do campo de Tupi. Estão habilitadas 66 empresas, entre as quais investidores pesos-pesados como a Vale do Rio Doce e a OGX, do empresário Eike Batista. "Problemas como esse criam uma expectativa desfavorável dos investidores em relação ao Brasil", diz o advogado Paulo Valois, especialista em energia e infra-estrutura. Essa questão deverá se resolver ao cabo de uma guerra de interpretações das regras. Mas a briga para participar de prospecção na área contígua a Tupi é mais um sinal de que ali tem mesmo petróleo explorável. Seria bom para todos.
O SIGNIFICADO DAS RESERVAS
O petróleo espalha-se de forma desigual pelo subsolo do planeta. Vem daí apenas parte da dificuldade de
estabelecer ao certo a quantidade disponível em cada campo que se descobre. Tanto é assim que a informação mais segura que se pode alcançar, como por exemplo o total de petróleo garantido para exploração no mundo, tem apenas 90% de certeza. São as chamadas reservas provadas. É com base nessa informação que se fazem os planejamentos energéticos e se pode deduzir por quanto tempo a humanidade ainda poderá aplacar sua sede por combustíveis fósseis.
A reserva que se descobriu agora estava há bilhões de anos intocada abaixo da camada de rochas salinas que começou a se formar no momento em que a África e a América se separaram. Ao contrário do que aconteceu em outros locais do litoral brasileiro, naquele ponto não houve um deslocamento de placas que abrisse brechas pelas quais o petróleo pudesse subir a níveis mais próximos da superfície. Nos próximos anos será possível confirmar sua real extensão.
Jaime Gimenez Jr
São Paulo SP Brasil