A rica complexidade da realidade:
O CS da ONU pode sofrer modificações nos próximos anos. Espera-se para 2010, a substituição da França e do Reino Unido pela U.E., juntamente à China, EEUU e Rússia. África do Sul, Brasil, Índia e Japão também poderão vir a ser membros permanentes do CS.
As alianças militares se ampliarão, como se vê atualmente a Otan rumo ao leste (europeu). Por parte da Rússia, através da CEI, com a incorporação da Bielorrússia. Como contrapeso a este gigante, as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central (do Cazaquistão ao Afeganistão) procuraram reforçar “alguma” aliança (o que as une é o tacão russo em sentido oposto). Outra interessante aliança que funciona como filial americana neste rimland continental é a do Sudeste Asiático que vai do Paquistão à Oceania (leia-se Austrália e Nova Zelândia), contumazes aliados americanos cercando a expansão russa ao sul. Problemas (aos ocidentais) formam-se com a evolução da Liga Árabe (não “tão árabe” ao englobar o Irã) que concentrarão os maiores esforços ocidentais, sobretudo americanos, mais do que da Otan. Pois, esta estará suficientemente tomada pela oposição russa na Europa. O que, em outras palavras, pode significar um certo isolamento de Washington. A Organização da Unidade Africana (OUA) continuará uma mera quimera, como tem sido o maior celeiro de guerras civis no globo. Falar em “globalismo” neste cenário é coisa para quem abusa na cachaça... No “Novo Mundo”, o continente americano, temos a união indelével entre Canadá e EEUU, mas com o “acorde dissonante” do México oscilando entre a atração econômica do norte e os “compromissos” políticos com seu atrasado centro-sul (Chiapas, p.ex.). E a América Central continuará sendo assediada por Washington. A “sala de treino” em “stand-by” permanece na América do Sul, com um Brasil periclitante nas relações externas, mas com o tacão de possíveis sanções americanas contra estados-pária da Argentina, Bolívia e Venezuela. A China permanece, como sempre foi, contida em si mesma, um universo à parte que ainda terá que se definir melhor neste cenário global do ponto de vista político.
ONU
Seis países sul-americanos, três centro-americanos, dois norte-americanos, dez países asiáticos, a Rússia, a U.E. e outros europeus não-membros, 17 africanos apóiam a organização, financeira, logística e militarmente. Chega a ser hilário pensar que é de “cima para baixo” que ocorre a influência. Arrisco-me a dizer que é, justamente, pelo contrário, através desta miríade de estados que tentam alcançar uma coordenação e organicidade, a razão da maior inoperância da ONU: tem muito chefe pra pouco índio.
Nos anos 90 tivemos 16 ações com tropas da ONU para intervir em casos de desastres naturais. Como sabemos, não são “tropas independentes”, mas mantidas através de contribuições dos países que a sustentam. Onde está o “globalismo”? Ninguém obriga ninguém a integrar a ONU. Trata-se de uma ação calculada para otimizar ações ao redor do mundo, inclusive por estados concorrentes em influência e hegemonia global.
Só mesmo quem não entende absolutamente nada de logística e estratégia mundial para pretender que haja uma sinergia tamanha que coloque um pequeno grupo de “meta-capitalistas” (what shit is this?!) contra os interesses de dezenas de países e centenas de elites oligárquicas e suas burocracias.
No mesmo período, se contarmos as intervenções para conter atividades guerrilheiras e/ou terroristas foram 21, ou seja, superando com vantagem os danos causados por forças naturais. Isto, antes de 2001, o que significa que esta discrepância tende a aumentar, com maior número de esforços conjuntos para deter este estado de anarquia. Bem que podíamos ter um pouquinho de “globalismo”... Digo, ordem.
Também tivemos 14 operações das tropas no período no papel de “forças de paz” ou ocupação, termo muito mais direto e sincero, como é do meu gosto. Ou seja, se pensarmos em ações militares, no conjunto são mais que o dobro das destinadas a driblar os efeitos das forças naturais.
Vejamos agora as pobres nações ameaçadas em sua perda de soberania...
Já na aurora deste Bravo Novo Mundo do século XXI, as nações na lista de “capazes de desenvolver” mísseis balísticos, armas nucleares ou bacteriológicas, químicas etc. são Argentina, Brasil, Canadá, EEUU, Rússia, Japão, China, as Coréias, Indonésia, Austrália, Índia, Paquistão, Irã, Iraque (antes de 2003), Síria, Israel, Arábia Saudita, Egito, Líbia, África do Sul e o conjunto da U.E.
Em termos, especificamente, de potencial atômico temos, HOJE, EEUU, Rússia, China, França, Reino Unido, ou seja, o CS da ONU. Soa, portanto, ridículo pensarmos em “globalismo” contra esses países, quando são, justamente, TODOS eles os mais poderosos e que, justamente por isso, são os que sofrem mais ameaças. Não se têm bônus sem ônus... Mas, calma, não lamentemos que a democracia mundial avança e, com ela, a “democratização do medo”. Eh eh, pare agora agora, já já temos a entrada do Irã e as Coréias neste seleto clube. Em 2010, Egito e África do Sul; em 2050, Cazaquistão, Japão, Taiwan, Turquia, o restante da U.E., Noruega, Ucrânia e, ufa! Pensei que até agora seríamos os eternos “excluídos”, BRASILSILSILSIL! (Mas, não será completo sem a narração do Galvão Bueno...)
Porém, como toda alegria dura pouco, tão logo entremos no clube seremos acompanhados por “eles”. Sim, nuestros hermanos también! Argentina. Óbvio que não nos deixariam sós nesta.
Com a escassez de fontes energéticas tradicionais, a energia nuclear será cada vez mais usual e só sendo muito Poliana para crer que não se utilizará esta tecnologia com outros fins. Porém, quando uma vantagem se socializa, o diferencial passa a ser mais procurado. Uma nova modalidade ameaça terrorista consistirá em ataques eletrônicos por hackers aos países, seus sistemas financeiro, programação televisiva, tráfego aéreo etc.
Será o fim das forças convencionais? Claro que não.
Porém, se hoje, um soldado americano, tem um elevado custo de treinamento e é física e emocionalmente falível. Estes “detalhes” terão que sofrer alterações. Para as próximas décadas, a projeção é de um cibersoldado. Rifles terão miras direcionadas pela retina do próprio soldado com sensores instalados no visor do capacete; sua localização (dia e noite) terá margem de erro de um metro; câmeras instaladas no capacete trarão o cenário do front às bases; algumas armas portáteis poderão ter suas miras ajustadas a distância, pela base, quando o soldado for incapacitado de enxergar o alvo com precisão; binóculos conectados a satélites terão informações repassadas por estes.
Como a economia americana talvez precise de muito mais mexicanos do que já se faz hoje em dia, outros auxiliares ao cibersoldado estão sendo projetados, robôs. 100% subordinados... Eh eh. 24h de trabalho, com baixo custo de produção e zero de treinamento. Estupros, saques, processos, exposição da mídia? Esqueça! Basta cuidar para que não haja curto-circuito.
Calor ou frio extremos não serão problemas. Aquecimento global, Godzilla, pode mandar tudo junto, que o Tio Sam tem alguns segredos na sua caixinha de surpresas... Gelo, fogo, armas químicas, bacteriológicas, nucleares, no worries!
“Robôs-insetos” como espiões: já existem protótipos. Beleza... Entre outras utilidades, detecção de minas, armas de fogo e segurança geral.
Oh! "Pobres EEUU e sua tradição judaico-cristã, tão ameaçados pelos “poderes globalistas”! Oh!" Haja cachaça na Virgínia!
Cenários em 2050:
1. Nova Guerra Fria entre China e EEUU. Este com aliados na Coréia, Japão e Paquistão. Talvez, a Índia também. U.E. e Rússia, como aliados chineses. Eu acho pouco provável tal configuração;
2. China e EEUU como poderes aliados, INDISCUTIVELMENTE, dominantes;
3. Outros cenários mais fragmentados podem ser aludidos futuramente...
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Ou o simplismo dos ignóbeis:
"Globalismo não é simples abertura de mercados: é introdução de regulamentações em escala mundial que transferem a soberania das nações para organismos internacionais."
Vocês escolhem.
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* Fontes:
1. Ian Pearson, Atlas of the Future, New York: Macmillan, 1998.
2. International Institute for Strategic Studies (IISS), The Military Balance 1996-97, London: IISS, 1997.
3. Press reports.
4. Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), Yearbook, New York and Oxford: Oxford University Press, various dates.
* Fontes:
1. Ian Pearson, Atlas of the Future, New York: Macmillan, 1998.
2. International Institute for Strategic Studies (IISS), The Military Balance 1996-97, London: IISS, 1997.
3. Press reports.
4. Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), Yearbook, New York and Oxford: Oxford University Press, various dates.