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Novas mensagens, análises etc. irão se concentrar a partir de agora em interceptor.
O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Wednesday, October 19, 2005

Katrina e ambientalistas

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Os aliados Verdes do Katrina

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Rio, 18/set/05 – Em análise recente sobre os acontecimentos causados pelo furacão Katrina na região de Nova Orleans [1] , este Alerta mencionou a escabrosa “colaboração” de algumas ONGs ambientalistas americanas com a tragédia ao realizarem, em passado recente, campanhas sistemáticas contra a construção e até mesmo o reparo de diques de contenção na bacia do rio Mississipi e outros.
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Dados mais específicos dessa “colaboração” apareceram no artigo magistral de John Berlau, apropriadamente intitulado “Verdes versus Diques: a destrutiva filosofia de gerenciamento hídrico” publicado dia 8 passado no National Review Online. [2]
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Berlau inicia apontando o dedo para o Sierra Club, a poderosa e influente ONG ambientalista americana, revelando que, em seu portal, a ONG se gaba da campanha para manter a bacia do rio Atchafalaya, contíguo ao do rio Mississipi, “úmido e selvagem”:
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Essas palavras podem parecer especialmente inadequadas após o rompimento dos diques que causaram os trágicos eventos em Nova Orleans semana passada. Mas ‘úmido e selvagem’ tem um significado ainda maior à luz desses eventos, assim como o grupo ao usar a frase. O Sierra Club foi um dos vários grupos ambientalistas que demandou judicialmente o Corpo de Engenheiros do Exército para interromper, em 1996, o projeto para elevar e reforçar os diques do rio Mississipi.
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O Corpo de Engenheiros planejou o melhoramento de 480 quilômetros de diques ao longo do rio nos Estados da Luisiana, Mississipi e Arkansas. Isso era necessário, como afirmou um porta-voz do Corpo de Engenheiros ao jornal The Advocate, porque ‘uma falha poderia causar conseqüências catastróficas na nos estados de Luisiana e Mississipi que levariam décadas para serem reparadas, se vierem a acontecer de fato.
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A ação ajuizada pelos grupos ambientalistas na Corte Distrital de Nova Orleans reclamava que o Corpo de Engenheiros não havia considerado “o impacto [das obras] nas florestas das regiões pantanosas”. A ação dizia que “As florestas de regiões pantanosas têm que ser protegidas e restauradas para que o urso preto da Luisiana sobreviva como espécie e se queremos, de fato, garantir um apoio contínuo para a base populacional de toda a reprodução de aves do baixo Mississipi.
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A ação foi impetrada em 1997 e o Corpo de Engenheiros concordou em suspender algumas obras enquanto desenvolvia um estudo adicional de impacto ambiental. Contudo, é difícil assegurar se esse atraso afetou diretamente os diques que se romperam em Nova Orleans.
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Mais adiante, o artigo ataca a postura da Fundação Charles Stewart Mott – a C.S. Mott Foundation, que irrigou os cofres de muitas ONGs no Brasil para a campanha contra a hidrovia Paraguai-Paraná:
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A esquerdista Fundação Charles Stewart Mott, ao descrever a doação que deu para a Environmental Defense [ex-EDF, Environmental Defense Fund, outra que participou ativamente contra a implantação da Paraguai-Paraná, ed.], condenou “os numerosos diques e canais construídos ao longo do rio Mississipi” porque “tais estruturas desintegram os fluxos naturais dos sedimentos do rio Mississipi.
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Alguns outros grupos foram mais além da simples oposição à construção ou reparo dos diques. Em uma reunião realizada em 2002 no Corpo de Engenheiros sobre a situação do rio Mississipi, um representante da Audubon [Audubon Society, outra fundação “filantrópica” bastante generosa com ONGs ambientalistas, ed] chegou mesmo a recomendar que fossem observadas as oportunidades para rebaixar ou remover os diques do rio.
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Quase todos os projetos para o controle de enchentes – mesmo os menores – são submetidos a uma variedade de exigências sobre seus efeitos em pântanos, espécies ameaçadas e outras preocupações ambientais. Esses estudos podem ser bastante custosos e provocam atrasos de anos nos projetos. Na década de 1990, por exemplo, a Agência de Proteção Ambiental (no governo Clinton) exigiu um rigoroso estudo de impacto ambiental para o reparo de alguns diques que se romperam no rio Colorado durante as cheias de 1993. [050918a]
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[1]"O Katrina: da lei natural à “lei da selva”", Alerta Científico e Ambiental, Rio, 5/set/05]
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Monday, October 17, 2005

Soja e desmatamento

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IPEA: soja não invadiu a Amazônia
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Rio, 11/jan/05 – O Instituto Socioambiental, ONG que foi dirigida por anos pelo atual Secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, por muitos considerado como a “eminência verde” do ministério, preparava-se para divulgar os resultados de um milionário estudo sobre a suposta vinculação entre o cultivo de soja e o desmatamento de florestas “virgens” quando foi surpreendido com um outro estudo, desta feita, do insuspeito Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), negando de forma consistente a suposição. O estudo da ONG ficou eclipsado e seria interessante saber-se quem o financiou, uma vez que se baseia em sobrevôos para fotografar e filmar 21 locais em Mato Grosso, com áreas acima de 1.300 hectares, que foram desmatados em 2003.
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Gervásio Castro de Rezende, um dos autores do documento do Ipea, explica que o texto preparado tem o objetivo de demonstrar que, ao contrário dos ataques dos ambientalistas, o rápido crescimento da soja no País não está se dando à custa do desmatamento do cerrado e da floresta amazônica. "Nosso trabalho desafia essa facilidade com que se falam as coisas no Brasil. É fácil demonizar a soja, mas três anos não seriam suficientes para todo esse protesto de desmatamento. Isso é ignorância", sustenta o pesquisador. O estudo não exclui a possibilidade do uso de áreas virgens, mas em "escala modesta", que não justifica o forte crescimento da cultura nos últimos anos.
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O estudo do Ipea mostra que o crescimento da área plantada de soja teve uma explosão nos últimos três anos agrícolas (2001/2002, 2002/2003 e 2003/2004), com expansão média anual de 13,8%, se baseia na conversão de "pastagens degradadas" e que, além disso, sugere que as áreas virgens de cerrado ou da floresta amazônica disponíveis não possuem a infra-estrutura necessária uma atividade como a soja. "O mesmo problema não ocorre com regiões ocupadas com pecuária, já que essas últimas tendem a ser muito mais bem situadas do ponto de vista logístico".
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Rezende cita dados do último censo agrícola do IBGE, referente a 1995/96, para mostrar que a área de lavoura da Região Centro-Oeste é de 6 milhões de hectares, muito inferior aos 73 milhões hectares de área de pastagem. Os pecuaristas arrendam área para os agricultores, que, segundo ele, já encontram solo preparado para o plantio. O avanço se dá basicamente na microrregião denominada "Nortão do Mato Grosso", alvo de intensas denúncias de ONGs. "O nortão e o Vale do Araguaia foram desmatados na década de 70, durante o regime militar. O governo queria ocupar a Amazônia e a pecuária cresceu à custa dos subsídios oficiais. No município de Querência, não havia até pouco tempo nenhum produtor de soja, eram só pecuaristas. Agora há uma espécie de simbiose entre lavoura e pecuária. Mas quando a soja chegou não havia mais vegetação nativa. Aquela região é uma área onde há muitos interesses e pouca pesquisa séria", diz Rezende.
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Muito interessante é a seção 6 do documento do Ipea, intitulado “A soja é amiga ou inimiga da Floresta Amazônica”, cujos principais trechos reproduzimos abaixo:
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Essa discussão a respeito da maneira como a agricultura conseguiu expandir a área cultivada no Brasil no período recente leva-nos a considerar criticamente o grande receio existente no Brasil de que a expansão de soja venha, eventualmente, a ameaçar a própria floresta amazônica.
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É com base nesse receio que tem havido tanta resistência contra a melhoria de infra-estrutura de acesso a áreas envolvendo a floresta amazônica e outras regiões sensíveis do ponto de vista ambiental. Tal é o caso, especialmente, do asfaltamento da BR-163. [...] A razão básica para não se temer o asfaltamento dessa rodovia é que, muito ao contrário do que se pensa, a viabilização da soja nessa região permitirá que a política de preservação ambiental se torne mais eficiente na consecução de seus objetivos.
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Com efeito, a viabilização econômica da produção de soja nessa região, graças à redução do custo de transporte, causará um aumento no preço da terra, tornando assim antieconômicas as atuais atividades predominantes na região, e que são responsáveis pelo atual uso predatório da floresta:
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a) a agricultura itinerante, de baixo nível tecnológico e usuária do fogo para abertura de área;
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b) a extração irracional de madeira; e
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c) a atividade pecuária de baixo nível técnico e destruidora dos recursos naturais.
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Note-se que esse resultado dependerá de que o governo intensifique a política de “regularização fundiária”, de maneira a se poder definir com precisão os direitos de propriedade da terra. Como se sabe, na ausência de titulação bem definida dos direitos de propriedade, o preço da terra simplesmente não refletirá essa superioridade da produção de soja e, portanto, esse mecanismo seletivo, via mercado, simplesmente não operaria. De qualquer maneira, pode-se esperar que, com a perspectiva de uso da terra na produção de soja, haverá maior incentivo para essa regularização fundiária e melhor definição dos direitos de propriedade da terra, já que a produção de soja é inviável sem definição clara dos direitos de propriedade da terra. Em contraposição ao caso da soja, atividades como agricultura itinerante em pequena escala e na base de fogo, extração predatória de madeira e pastagens de baixa produtividade não fomentam essa busca da titulação das terras, e nem são inviabilizadas por custo de transporte alto. Assim, é uma grande ilusão achar que, ao não se asfaltar a BR-163, está-se preservando a floresta amazônica.
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[...] Ao se procurar impedir o asfaltamento da BR-163, devido ao receio da expansão da soja, tudo o que se está conseguindo é, de fato, continuar viabilizando o atual uso predatório da terra, deixando de valer-se, essa política ambiental, de um importante aliado.
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