interceptor

Novas mensagens, análises etc. irão se concentrar a partir de agora em interceptor.
O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Tuesday, August 19, 2008

¿Por qué no te callas, Wallerstein?

A al-Qaeda perde força após os ataques de 11 de setembro e os EUA intensificam suas ações na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Com isto, as ameaças terroristas nos EUA diminuem. A liderança dos EUA entre os estados sunitas continua, não apenas devido à pressão ao Irã.

Mas, como dizem não existe almoço grátis...

As diversas operações militares americanas no Oriente Médio têm tido um enorme custo para o Pentágono. Claro que o tipo de análise tendenciosa a la Immanuel Wallerstein de que “os EUA não são uma superpotência” ou “estão em rota de decadência” (ignorando de que se não são uma ‘superpotência’ não tem ‘o que decair’...) não corresponde a uma correta avaliação estratégica: quanto mais operações se distribuem no globo, menor o estoque e capacidade logística para outras tantas operações.

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Números

As Brigadas-Time de Combate (BCT, na sigla em inglês) americanas variam entre as 2.500 a 4.500 soldados, incluindo sua estrutura de apoio (tanques, humvees etc). Isto pode variar de acordo com o terreno. Enquanto que no Iraque bastam infantaria e tanques, no Afeganistão dada a irregularidade do relevo, os helicópteros são essenciais. As unidades atuais têm prazo de vigência para mais de quatro anos. São unidades leves capazes de se deslocar rapidamente para missões de paz ou contra-insurgência. Estas forças modulares são preparadas para a luta auto-suficiente frente ao oponente com armamento convencional. Esta padronização avança rapidamente no Iraque.

Em 2004 havia 33 brigadas convencionais e hoje, 42 do tipo modular descrito (BCT). A idéia é substituir completamente as tropas no Iraque até 2010, para um total de 547.000 soldados. Sim, vocês leram direito, mais de meio milhão de soldados no Iraque. Provavelmente, o desemprego nos EUA irá reduzir... Serão 48 BCTs, mais 28 de reserva.

As tropas atuais estão voltando de um ano de atividade (pouco mais de 15 meses se contabilizarmos seu treino a partir de janeiro de 2007). O Pentágono disponibilizará, gradativamente, uma BCT de reserva a cada cinco anos. Enquanto isto, as “unidades pesadas” ainda continuarão a ser utilizadas.

Já os marines têm atuação diferenciada, estão habilitados para combates pesados, centrados na atuação de regimentos de infantaria. Como não são pensados para atuar isoladamente, precisam de elementos de apoio para equivaler funcionalmente a uma BCT. Normalmente, marines trabalham com oito regimentos e mais três de reserva. Sua expansão, apoiada por estrutura de apoio, está prevista para 2011.

Não se incluem nesta consideração, as forças especiais. Atualmente, o Comando de Operações Especiais (SOC, na sigla em inglês) são os mais ocupados. Apesar de extremamente versáteis, sua substituição é bastante complicada, dada sua natureza de elite.

Hoje, Washington dispõe de 50 BCTs ativos e 31 de reserva. Mas, como as reservas não são automaticamente incorporadas, convém considerar que cada cinco BCTs (em preparo) equivalem a uma realmente disponível. Na prática, são 56 BCTs de pronta disposição.

O custo de adaptação envolve três brigadas convencionais para cada BCT. Isto representa um custo imenso. E estas brigadas modificadas passarão de 15 para 45 no Iraque.

Para se ter uma idéia da importância do cenário iraquiano, esta reestruturação não se aplicará à Coréia do Sul; na Alemanha há duas BCTs permanentemente instaladas, cujo retorno está previsto para 2012 a 2013; na Bósnia e Kosovo há menos de uma estacionada; no Japão, os batalhões de marines podem variar de um para dois; devido ao contexto regional, leia-se Coréia do Norte, as tropas deverão aumentar de Okinawa a Guam.

Resumindo, 45 BCTs para o Iraque, 7,5 para o Afeganistão e umas seis para o resto (exclusive, a Alemanha). Qualquer anúncio de redução de tropas no Iraque não parece corresponder à realidade, mas sim um rearranjo global. Cabe lembrar que forças mais pesadas já são disponibilizadas pela Otan, que não entrou nesta avaliação. Falamos apenas das forças, exclusivamente, americanas.

A dinâmica das operações no Iraque não irá arrefecer. Pelo contrário, tudo indica seu recrudescimento. Exceto, se alguém for tolo suficiente para achar que a Casa Branca joga ao sabor dos ventos da opinião de Wallersteins da vida...

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A presença mundial americana não será reduzida, apenas passará por rearranjos.

Lembre-se, uma águia não tem somente garras poderosas. Sua visão é seu maior trunfo.

Gritem “festa” na janela do tempo...*

Monday, August 18, 2008

Por trás da micro-análise do Caucáso, um exercício de sofismas



Em Por trás da miniguerra no Cáucaso, o xadrez geopolítico de Immanuel Wallerstein, uma série de meias-verdades e um verdadeiro “contorcionismo teórico” camuflado como “didática” serão analisados agora, nas notas de rodapé que se seguem:

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Parece que os Estados Unidos se enganaram redondamente quando imaginaram ter alguma espécie de privilégio de superpotência em sua partida contra a Rússia[1]

O mundo testemunhou nesta semana uma miniguerra no Cáucaso, e a retórica tem sido intensa, embora em grande medida irrelevante. A geopolítica é uma série de gigantescas partidas de xadrez disputadas entre dois jogadores, nas quais estes buscam posições de vantagem. Nessas partidas, é crucial conhecer as regras vigentes que regem os lances. Os cavalos não podem andar na diagonal. Entre 1945 e 1989, a partida principal de xadrez era disputada entre os Estados Unidos e a União Soviética. Ela se chamava a Guerra Fria, e as regras básicas do jogo eram conhecidas metaforicamente como "Yalta". A regra mais importante dizia respeito a uma linha que dividia a Europa em duas zonas de influência. Essa linha foi chamada por Winston Churchill de "Cortina de Ferro" e se estendia de Stettin a Trieste. A regra dizia que, não importasse quanta turbulência fosse instigada na Europa pelos peões, não haveria guerra de fato entre os Estados Unidos e a União Soviética. Ao final de cada instância de turbulência, as peças voltariam a suas posições originais. Essa regra foi respeitada cuidadosamente até a queda dos comunismos, em 1989, marcada mais notadamente pela destruição do Muro de Berlim. É inteiramente verdade, como todos observaram na época, que as regras de Yalta foram anuladas em 1989 e que a partida disputada entre os Estados Unidos e (desde 1991) a Rússia mudou de maneira radical. O maior problema desde então é que os Estados Unidos não compreenderam direito as novas regras do jogo. Eles se proclamaram, e foram proclamados por muitos outros, a única superpotência mundial. Em termos de regras de xadrez, isso foi interpretado como significando que os Estados Unidos tinham liberdade para movimentar-se pelo tabuleiro de xadrez como bem entendessem e, especialmente, para transferir antigos peões soviéticos para sua esfera de influência. Sob Clinton, e mais notadamente ainda sob George W. Bush, os Estados Unidos passaram a jogar a partida dessa maneira. Só havia um problema nisso: os Estados Unidos não eram a única superpotência mundial -nem sequer eram uma superpotência.[2]


Mais jogadores

O fim da Guerra Fria significou que os Estados Unidos foram rebaixados. De uma das duas superpotências, passaram a ser um Estado forte em meio a uma distribuição realmente multilateral do poder real em um sistema inter-Estados. Muitos países grandes passaram a poder disputar suas próprias partidas de xadrez sem precisarem informar as duas antigas superpotências de seus lances. E começaram a fazê-lo. Duas decisões geopolíticas de importância maior foram tomadas nos anos Clinton. Primeiro, os Estados Unidos fizeram pressão grande e mais ou menos bem-sucedida para que os antigos satélites soviéticos ingressassem na Otan [a aliança militar ocidental]. Esses países estavam ansiosos por entrar, apesar de os países-chave da Europa Ocidental -Alemanha e França- relutarem um pouco em seguir esse caminho. Eles viam a manobra dos EUA como tendo o objetivo, em parte, de limitar sua recém-adquirida liberdade de ação geopolítica. A segunda decisão-chave dos Estados Unidos foi tornar-se jogador ativo nos realinhamentos de fronteiras dentro da antiga República Federal da Iugoslávia. Isso culminou na decisão de autorizar a secessão de facto de Kosovo da Sérvia e implementá-la com suas tropas. A Rússia, mesmo sob Boris Ieltsin, ficou bastante insatisfeita com essas duas ações dos Estados Unidos. Mas a desorganização política e econômica da Rússia durante os anos Ieltsin era tão grande que o máximo que ela pôde fazer foi queixar-se, em voz bastante fraca, é mister acrescentar. A chegada ao poder de George W. Bush e Vladimir Putin foi mais ou menos simultânea. Bush decidiu levar a tática da superpotência única (ou seja, os Estados Unidos podem movimentar suas peças da maneira como decidem por conta própria) muito mais longe do que fizera Clinton.[3]


Regras próprias

Para começar, em 2001 Bush retirou o país do Tratado de Mísseis Antibalísticos firmado por EUA e União Soviética em 1972. Em seguida, anunciou que os Estados Unidos não ratificariam dois tratados novos assinados durante o governo Clinton: o Tratado de Proibição Total de Testes, de 1996, e as modificações acordadas no tratado de desarmamento nuclear SALT 2. Então Bush anunciou que os Estados Unidos iriam adiante com seu Sistema Nacional de Defesa Antimísseis. E, em 2003, Bush invadiu o Iraque. Como parte dessa iniciativa, os Estados Unidos buscaram e obtiveram o direito de construir bases militares e o direito de sobrevoar repúblicas centro-asiáticas que antes faziam parte da União Soviética. Além disso, os EUA promoveram a construção de dutos para o escoamento do petróleo e gás natural da Ásia Central e do Cáucaso, passando ao largo da Rússia. E, finalmente, os Estados Unidos fecharam um acordo com a Polônia e a República Tcheca para instalar uma defesa antimísseis, ostensivamente para proteção contra mísseis iranianos. A Rússia, porém, viu essas instalações como sendo voltadas contra ela. Putin decidiu reagir com muito mais eficácia que Ieltsin. Sendo um jogador prudente, porém, ele primeiro se movimentou para fortalecer sua base doméstica, restaurando a força da autoridade central e revigorando as Forças Armadas russas. Nesse momento, as marés da economia mundial mudaram, e, de uma hora para outra, a Rússia tornou-se a rica e poderosa controladora não apenas da produção petrolífera, mas também do gás natural tão necessário aos países da Europa Ocidental.[4]


Adversário fortalecido

Então Putin começou a agir. Ele criou relacionamentos com a China, selados em tratados. Manteve relações estreitas com o Irã. Começou a expulsar os Estados Unidos de suas bases na Ásia Central. E assumiu uma atitude firme contra a ampliação da Otan para duas zonas-chave: a Ucrânia e a Geórgia. A fragmentação da União Soviética levara ao surgimento de movimentos secessionistas étnicos em muitas antigas repúblicas, incluindo a Geórgia. Quando, em 1990, a Geórgia procurou pôr fim ao status autônomo de suas zonas étnicas não-georgianas, estas imediatamente se declararam Estados independentes. Não foram reconhecidas por nenhum país, mas a Rússia garantiu sua autonomia de fato. Os fatores mais imediatos a incentivar o desencadeamento da miniguerra atual foram dois. Em fevereiro, Kosovo formalmente converteu sua autonomia de fato em independência de direito. Sua iniciativa foi apoiada e reconhecida pelos Estados Unidos e muitos países da Europa ocidental. A Rússia avisou, na época, que a lógica dessa iniciativa se aplicaria igualmente a secessões de fato ocorridas nas antigas repúblicas soviéticas. Na Geórgia, a Rússia imediatamente e pela primeira vez reconheceu a independência de direito da Ossétia do Sul, em resposta direta à de Kosovo. E, na reunião da Otan de abril deste ano, os Estados Unidos propuseram que Geórgia e Ucrânia fossem recebidas num chamado Plano de Ação para Ingresso (na Otan). A Alemanha, a França e o Reino Unido se opuseram, dizendo que isso provocaria a Rússia.[5]


Jogada desesperada

O presidente neoliberal e fortemente pró-americano da Geórgia, Mikhail Saakashvili, se desesperou. Ele via a reafirmação da autoridade georgiana na Ossétia do Sul (e também na Abkházia) como perspectiva cada vez mais distante, de maneira permanente. Assim, escolheu um momento de desatenção da Rússia (Putin estava nas Olimpíadas, o presidente Dmitri Medvedev, de férias) para invadir a Ossétia do Sul. As insignificantes forças militares da Ossétia do Sul desabaram completamente, é claro. Saakashvili imaginava que forçaria os Estados Unidos (e também a Alemanha e a França) a sair em seu apoio. Em vez disso, houve uma reação militar russa imediata, superando o pequeno Exército georgiano de forma avassaladora. O que Saakashvili recebeu de George W. Bush foi retórica. Afinal, o que Bush podia fazer? Os Estados Unidos não são uma superpotência. Suas Forças Armadas estão inteiramente tomadas por duas guerras que estão perdendo no Oriente Médio. E, o mais importante de tudo, os Estados Unidos precisam da Rússia muito mais do que a Rússia precisa deles. O chanceler russo, Sergei Lavrov, em artigo no "Financial Times", fez questão de observar que a Rússia é "parceira do Ocidente com relação ao Oriente Médio, Irã e Coréia do Norte". Quanto à Europa ocidental, a Rússia, essencialmente, controla seu suprimento de gás. Não foi por acaso que foi o presidente Nicolas Sarkozy, da França, e não Condoleezza Rice, quem negociou a trégua entre Geórgia e Rússia. A trégua contém duas concessões essenciais da Geórgia. Esta se comprometeu a não mais recorrer à força na Ossétia do Sul. E o acordo não faz referência à integridade territorial georgiana. Assim, a Rússia emergiu muito mais forte que antes. Saakashvili apostou tudo o que tinha e agora esta geopoliticamente falido. E, como nota de rodapé irônica, a Geórgia, uma das últimas aliadas nos EUA na coalizão no Iraque, retirou seus 2.000 soldados desse país. Esses soldados vinham exercendo um papel crucial nas áreas xiitas e agora terão que ser substituídos por soldados dos EUA, que, para isso, terão que ser retirados de outras áreas. Quando se joga xadrez geopolítico, é aconselhável conhecer as regras, para não
ser derrubado pela jogada do rival.[6]

IMMANUEL WALLERSTEIN, pesquisador sênior na Universidade Yale, é autor de "O Declínio do Poder Americano"[7]





[1] Quem pensa assim realmente na cúpula dirigente em Washington? É um engano, tosco, tomar a retórica política por verdade. Se fosse assim não haveria ações de contenção, como ora vemos com a Otan.

[2] “Potência militar” se torna um país quando apresenta notável desproporção de forças superior aos seus oponentes. “Superpotência” é quando sua capacidade de destruição afeta o globo inteiro, o que é, evidentemente, o caso dos EUA. Já, quando há mais de uma superpotência, suas ações têm que levar em conta a mútua capacidade de destruição reduzindo assim, sobremaneira, seus movimentos no “xadrez geopolítico global”.

[3] Interessante a observação das ações unilaterais dos EUA, quando precisamente vários estados ex-socialistas anseiam por entrar em sua esfera de influência através de acordos de defesa. Se fosse assim tão ruim, como então há (porque não se trata do passado), o desejo explícito de vários paises da Europa Oriental e do Oriente Médio (no Cáucaso) em integrar o guarda-chuvas da Otan? A Guerra Fria acabou, justamente, devido a pressão americana na corrida armamentista sob governo de Ronald Reagan. Enquanto que o orçamento militar se restringia a meros 6% de seu PIB, a URSS teve que dispensar cerca de ¼ do seu para mal acompanhá-los. Dizer que os EUA saíram “enfraquecidos” ao final do período do Pós-Guerra é, no mínimo, tolo. Enquanto que a ONU fragorosamente fracassou na Iugoslávia, a Otan sob presidência americana é que, finalmente, pos fim ao conflito.

[4] E, justamente, por isso tenta de todas as formas (como o pretexto de salvaguardar etnias russas na Geórgia) interferir na construção do oleoduto georgiano. O que não passa do mais bruto imperialismo. Os EUA, neste caso específico, não fizeram senão um acordo comercial. E de mais a mais, a riqueza pautada em produtos minerais é que tem base frágil. Assim como “as marés da economia mundial mudaram”, o mesmo pode acontecer novamente tão logo outras regiões venham a se estabilizar na oferta de combustíveis para exportação.

[5] Sim, é verdade que a lógica do apoio ao Kosovo foi utilizada como justificativa pela Rússia. Nada a objetar. Mas, cabe lembrar que a lógica de dura retaliação aplicada pela própria Rússia à província separatista da Chechenia não foi respeitada quando a Geórgia fez a mesmíssima coisa em seu território reprimindo os movimentos separatistas na Abkhazia e Ossétia do Sul. Claro que para Wallerstein é conveniente lembrar apenas um dos dados do movimento de seu xadrez geopolítico...

[6] “Papel crucial” das forças georgianas no Iraque? Ridículo. Só o numero de soldados americanos mortos na guerra supera os 3.000. E mais de 130.000 ainda estão em ação no país. Se o “chanceler russo, Sergei Lavrov (...) fez questão de observar que a Rússia é ‘parceira do Ocidente com relação ao Oriente Médio, Irã e Coréia do Norte’”, como então Putin “criou relacionamentos com a China, selados em tratados. Manteve relações estreitas com o Irã. Começou a expulsar os Estados Unidos de suas bases na Ásia Central”? Parece que o professor esqueceu as próprias palavras proferidas no início do artigo. Não só a mentira tem pernas curtas, como o sofisma também.

[7] O “pesquisador sênior na Universidade Yale” não passa de mais um pobre tolo antiamericanista com pretensões a clone intelectual de 5ª categoria de Noam Chomsky.