interceptor

Novas mensagens, análises etc. irão se concentrar a partir de agora em interceptor.
O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Saturday, December 16, 2006

RÚSSIA VAI REPASSAR TECNOLOGIA ESPACIAL PARA O BRASIL

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A Rússia fechou um acordo na quinta-feira para fornecer ao Brasil combustível para foguetes e tecnologia espacial como parte de um esforço mais amplo para estreitar os laços políticos entre os dois países e aumentar o comércio de produtos como aeronaves e carne. Duas das principais economias emergentes do mundo, Rússia e Brasil pretendem impulsionar o comércio bilateral para 10 bilhões de dólares até 2010, a partir dos 4 bilhões de dólares atuais. O acordo de quinta-feira deve ajudar o Brasil a lançar satélites no espaço com segurança, depois da explosão na base de lançamento de Alcântara, no Maranhão, que matou 21 pessoas, em 2004. O Brasil também está próximo de um acordo para comprar helicópteros russos, disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O país também pretende que a Rússia retire seu veto à compra de carnes congeladas de alguns dos principais Estados agrícolas brasileiros, suspensas há um ano após o surgimento de focos de febre aftosa no país.

Porto Alegre, 16 de dezembro de 2006 - Videversus nº 609

Thursday, December 14, 2006

GRUPO ESPANHOL VAI INVESTIR 930 MILHÕES DE DÓLARES EM FÁBRICA DE CELULOSE NO URUGUAI

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A fábrica de celulose que o grupo espanhol Ence vai instalar no Uruguai representará um investimento de 930 milhões (US$ 1,25 bilhão) e terá uma capacidade de produção de um milhão de toneladas ao ano, o dobro do previsto inicialmente. Segundo comunicado da empresa à Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV) da Espanha, a localização escolhida, a margem leste do Rio da Prata, no departamento de Colônia, "permite uma maior eficiência industrial e logística" e conta com o consentimento das administrações uruguaia e argentina. O presidente da Ence, Juan Luis Arregui, revelou na noite de terça-feira em Buenos Aires a localização da nova fábrica após reunir-se com o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, e o chefe do Gabinete, Alberto Fernández. A Ence tinha planejado construir a fábrica em Fray Bentos, às margens do rio Uruguai, em frente à cidade argentina de Gualeguaychú, mas a localização inicial foi duramente criticada pelas autoridades de Buenos Aires, o que levou a empresa espanhola a buscar um novo lugar.

Porto Alegre, 14 de dezembro de 2006 - Videversus nº 608

OdeC e a China

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Olavo de Carvalho e a China: erro de avaliação [sobre http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=3789]
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Cartas do www.midiasemmascara.com.br
enviada em 07/10/2005.
Fui várias vezes a China, e conheço seu interior, bem como suas principais cidades. Me admirou muito o texto de Olavo Carvalho, normalmente o missivista é brilhante. Mas sobre a China traz somente ódio, rancor, nenhum bom senso e inteligência que lhe é peculiar. Sugiro que OC vá a China, estude o país, conheça o planejamento central. A China cresce porque copiou os EUA nas áreas de desenvolvimento...como abrir todo país, iniciar do negativo com 1.3 bilhões de famintos que o comunismo criou ? Somente a economia de mercado conseguiu produzir riquezas no mundo e a China não é diferente. Em 25 anos pós-Mao a China já incorporou 250 milhões de pessoas no mercado. Incorpora 30 milhões ao ano, um país ao ano. Ficariam 3.000 anos pobres se abrissem o país com 1.3 bilhões de famintos....em 30 anos poderá haver democracia plena. Deng Xiaoping pensou em tudo durante seu tempo atrás das grades.....
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Paulo Sato

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Muito à propósito:

Vem aí o tsunami da classe média chinesa

Os empresários que enxergam a China apenas como uma ameaça provavelmente estão alheios ao tamanho do mercado consumidor que vem se formando naquele país – a partir do crescimento da classe média. Um recente estudo da consultoria McKinsey aponta que o percentual de população pobre na China passará de 77,3%, em 2005, para 9,7% em 2025. "É uma sociedade que vem se desenvolvendo com muita rapidez. A China já até ultrapassou o Japão em termos de investimentos em tecnologia", aponta Thomaz Machado, presidente da consultoria China Invest.
Segundo Machado, uma aliança Brasil-China poderia trazer mais resultados do que o Mercosul ou a Alca, até porque os dois países possuem economias complementares. "A China tem uma população ávida por comida, tem muito dinheiro, mas tem falta de energia e problemas de poluição. O Brasil pode fornecer soluções para esses problemas. É um casamento perfeito".
O levantamento da McKinsey também assinala que o número de famílias de classe média ou superior saltará de 43 milhões, em 2005, para 337 milhões em 2025. "Essa evolução não acontece apenas pelo aumento populacional, mas pelo crescimento do poder de compra da população, junto com o desenvolvimento do país", destaca Machado. No entanto, ele afirma que a desigualdade social continuará existindo. Uma pequena parcela da população chinesa está em melhores posições de aproveitar as oportunidades que surgem no país – logo, tende a se tornar mais rica do que o resto dos chineses. "Mesmo assim, os pobres serão pobres com melhores condições de vida", sustenta Machado. (Guilherme Damo)
Link relacionado:ChinaInvest

Newsletter diária n.º 853 - 08/12/2006 http://www.amanha.com.br/

Augusto Pinochet, Getúlio Vargas & Cia.






___ Cândido Prunes*

O ex-ditador chileno recém falecido, Augusto Pinochet, cometeu um único erro. Tivesse ele no decorrer de seu longo mandato promovido a estatização do Chile, hoje não estaria sendo discretamente velado em Santiago. Como se sabe, Pinochet é acusado de ter sido direta ou indiretamente conivente com a tortura, a perseguição política e o assassinato de opositores. Mas tudo isso seria perdoável se ele tivesse mantido a previdência social quebrada nas mãos do governo; se ele tivesse inchado a máquina pública e distribuído cargos a mãos-cheias para os políticos; se ele tivesse feito campanhas publicitárias cínicas, tipo “o cobre é nosso”; ou se tivesse elogiado (ou visitado) ditadores socialistas, como Fidel, Mao, Pol-Pot e tantos outros que vicejaram em seu tempo. Mesmo cometendo rigorosamente todos os crimes de que vinha sendo acusado, tivesse seu governo um cunho estatizante, hoje as autoridades chilenas estariam correndo para emprestar o nome do falecido ditador a ruas, praças, hospitais, colégios e até mesmo alguma importante fundação.

Fenômeno contrário se deu no Brasil. O Sr. Getúlio Vargas foi uma espécie de Augusto Pinochet não-militar. Governou o País com o Congresso fechado. Perseguiu implacavelmente a oposição. Foi conivente com a tortura. Censurou jornais (em alguns casos foi muito além: simplesmente os destruiu fisicamente). Proibiu a publicação de livros. Assassinou os inimigos do regime. Impôs o exílio para intelectuais, militares e políticos que não concordavam com os rumos do governo. Acobertou crimes de familiares. Foi simpatizante dos piores regimes totalitários (a Alemanha, de Hitler e a Itália, de Mussolini). Tolerou a corrupção, que chegou até às ante-salas do poder. Todos os crimes e vícios que são apontados contra o famigerado General Pinochet, foram cometidos em maior ou menor escala por Getúlio Vargas e/ou seus asseclas.

A diferença entre o tratamento benigno que hoje se dispensa no Brasil ao ditador tupiniquim e no Chile ao ditador andino reside na agenda econômica. Graças à estatização, ao engessamento das relações trabalhistas, à regulamentação da economia, ao “aparelhamento” da administração pública, enfim, tudo aquilo que hoje atrasa o Brasil, não há cidade que não tenha uma avenida com o nome “Getúlio Vargas”. Para não falar nos milhares de bustos e placas da famosa “carta testamento”. Já no Chile, ainda que nos últimos anos experimente uma onda sem precedentes de progresso econômico graças às reformas do período Pinochet, dificilmente o atual governo dará o nome do ex-ditador a uma mísera ruela, ou mesmo a um beco.

Essa constatação não se faz para justificar violação aos direitos humanos. Muito menos assassinato ou perseguição a opositores políticos. Ao contrário, ela é feita para demonstrar o tratamento cínico que os socialistas dispensam a seus ditadores. Por exemplo, se alguém interromper a lua-de-mel do arquiteto Oscar Niemeyer e lhe perguntar sua opinião sobre Pinochet, ele só terá críticas. Entretanto, para Vargas, ele será capaz de elogios, seguindo seu contemporâneo e correligionário Luiz Carlos Prestes, que mesmo preso e torturado pelo Estado Novo, em nome de interesses políticos terminou aliado do ditador.

Nem se argumente que a escala de assassinatos, torturas e corrupção no Chile de Pinochet foi muito maior do que no Brasil da Era Vargas (ou no do regime militar de 1964). Se for para fazer comparações, a Cuba de Fidel, a China de Mao e as demais ditaduras socialistas do século XXI apresentaram um rol de atrocidades incomparavelmente maior que o do Chile. Os crimes cometidos no varejo pelas ditaduras consideradas de direita não servem para absolver os crimes praticados no atacado pelas ditaduras de esquerda.

Aqueles que justamente criticam o governo do General Pinochet pela violência e a corrupção deveriam aproveitar a ocasião e dispensar o mesmo tratamento aos tiranos locais que, ainda por cima, cercearam as liberdades econômicas causando um quarto de século de estagnação.

* Vice-Presidente do Instituto Liberal
http://www.institutoliberal.org.br/

Santiago, Havana, Paris e Florianópolis



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SANTIAGO SEGUNDO LITTÍN


Santiago do Chile - A cidade é feia, pobre e suja. Pelos buracos e lixo acumulado nas amplas avenidas, adivinha-se uma capital que um dia foi próspera e cujos habitantes desfrutaram, em passado pouco distante, um alto nível de vida. Cidadãos pobremente vestidos, em seus ternos ainda restam farrapos de dignidade - e nada mais triste do que ver um homem cheio de remendos, mas elegantemente vestido, estendendo a mão súplice para pedir alguns centavos. Lojas vazias, de vazias e tristes vitrines, restaurantes entregues às moscas, garçons olhando para nada. Mal o sol se põe sobre o Pacífico, a capital escurece e os raros privilegiados da tirania se escondem em suas tocas, temerosos da fome e da justa violência dos deserdados. Mesmo durante o dia, nota-se tensão e medo nos rostos e gestos, como se alguém que agora circula livremente pelas ruas, no momento seguinte, sabe Deus lá por que razões, pudesse estar algemado nos porões da ditadura. Um exército parece ter postos suas patas sobre a cidade. Estou em Santiago do Chile. Do Chile de Pinochet.O poder do tirano é onipresente. Em um país privilegiado pelos deuses, que por sua geografia se permite quatro estações simultâneas, mar e montanha, deserto e neve, os tentáculos da ditadura envolvem o território todo, manifestando-se principalmente na capital. Raríssimas bancas de jornais exibem apenas a imprensa laudatória ao regime. Jornais de oposição, nem em sonhos. A imprensa internacional está banida do país e só pode ser adquirida em hotéis de luxo, onde o cidadão comum só pode entrar se estiver disposto a sérios interrogatórios pela polícia do regime ao sair, mesmo que saia sem jornal algum. As raríssimas livrarias, de paupérrimas estantes, exibem não mais que literatura técnica e alguma ficção de escritores coniventes com a ditadura.
Miséria, lixo, decadência, medo, opressão, silêncio, desconfiança: estes são os odores que todo visitante, isento de quaisquer preconceitos ideológicos, respira em um rápido giro por Santiago. Mas as cidades são como árvores, quem quiser destruí-las terá de cortar-lhes as raízes. Estão vivas as raízes de Santiago. Que um dia será Salvador. Salvador Allende.
Terminasse eu aqui esta crônica, sem ajuntar sequer uma linha a mais, conquistaria platéias e simpatias, sem falar em tribunas, lugar ao sol e quem sabe até mesmo uma sinecura num órgão público qualquer. Acontece que estaria mentindo, transmitindo, é verdade, uma mentira que todos gostam de ouvir. Como não gosto de mentir, renuncio a eventuais simpatias e passo a contar o que vi.
Para quem está acostumado a bater pernas pelas ruas de cidades como Porto Alegre ou São Paulo, Santiago exerce um poderoso impacto pela conservação e limpeza de suas ruas e passeios. Nas capitais brasileiras, há muito resignei-me a enfrentar ruas sujas e esburacadas, sem falar no lixo cotidiano nelas jogado por transeuntes sem noção alguma de cidadania, meros habitantes, nefastos usuários da cidade. Passear pelas margens do Mapocho - rio que atravessa um aglomerado de cinco milhões de almas - respirar milagre, suas águas preservam a limpidez com que descem da Cordilheira. Para quem sofre a Beira-Mar Norte de Florianópolis - já nem falo do riacho Ipiranga ou Tietê - o Mapocho mais parece miragem de viajante perturbado pela travessia dos Andes.
Pelo Paseo de la Ahumada, rua Estado, Huérfanos, uma fauna humana e bem vestida (insisto em dizê-la humana, pois os transeuntes das ruas centrais do Rio ou São Paulo, sem ir mais longe, mais parecem animais machucados na luta pela vida) que há muito não se vê nas metrópoles da América Latina. Antes de Santiago, estive em Buenos Aires e a outrora elegante Florida, hoje, proporções à parte, mais parece rua Direita ou Nossa Senhora de Copacabana. Deixada de lado a agressão idiota - mas não perigosa - de cambistas à cata de divisas fortes, senti no centro de Santiago sensação que brasileiro algum pode hoje sentir em nossas capitais: a sensação de segurança. As ruas da capital chilena têm um ar de praça; nela vi velhos, jovens e crianças sentados, degustando sorvetes e o espetáculo da rua em si, tanto à tarde como à noite, sem preocupação alguma com assaltos ou violência gratuita. Para mim, que já penso duas vezes quando em Porto Alegre ao atravessar a Borges e a Praça XV para freqüentar o Chalé à noite, Santiago me fez evocar a Praça da Alfândega dos anos 60, quando filosofávamos madrugada adentro preocupados com a enteléquia aristotélica ou o ser em Sartre, jamais com punhais ou revólveres.
Outra surpresa, e das melhores, os quiosques de jornais e revistas. Penso que tais quiosques são uma excelente amostragem da cultura e liberdade de expressão de um país, neles podemos auscultar que tipo de informação consomem os cidadãos e, ao mesmo tempo, que qualidade ou quantidade de informação não proíbe o Estado de ser consumida. Pois bem: nesta Santiago que imaginava cidade sitiada e sob censura, vi nas bancas uma profusão e diversidade de jornais que sequer encontrei em Paris ou Madri. Jornais em cirílico do Leste europeu, imprensa de toda Europa, Escandinávia, Alemanha, França, Itália, Espanha, Estados Unidos, América Latina, Brasil. Sabendo como esta imprensa toda é gentil a Pinochet, o espanto do turista vira perplexidade. E mais: jornais chilenos malhando, em primeira página, a ditadura. Ocorre-me evocar os quiosques tristes e monocórdios que vi em cidades do Leste europeu, mas nem preciso ir tão longe. Nenhuma banca do Rio ou São Paulo, neste Brasil 88, me oferece tal quantidade e diversidade de informação.
Livrarias imensas, bem sortidas, onde não faltam livros de Fidel Castro ou Garcia Márquez, o mais ferrenho adversário de Pinochet e, curiosamente, defensor incondicional do ditador cubano. Tampouco faltam nas prateleiras obras de José Donoso ou Isabel Allende, isso para citar apenas dois opositores do regime chileno já conhecidos do leitor brasileiro. O que é no mínimo insólito em uma ditadura.
Nas vitrines e gôndolas das mercearias, víveres e bebidas do mundo todo, desde arenques do Báltico a foie gras trufado, dos mais diversos uísques da Escócia a vinhos alemães, franceses, italianos, espanhóis. E chilenos, naturalmente. Preços? Abordáveis. Para se ter uma idéia, pode-se comprar um scotch - com a certeza de que não são da reserva Stroessner - a partir de dez dólares, ou seja, o preço de um Natu Nobilis hoje. Que mais não seja, qual intelectual de esquerda não gostaria de viver em uma sociedade onde uma dose de um bom escocês custa, em bares, um dólar? Conheço não poucos exilados traumatizados com a democrática França de Mitterrand, onde um gole de uísque só é viável a partir dos cinco dólares. Piadas à parte, a farta oferta de tais produtos evidencia uma sociedade habituada a comer bem e com requinte, afinal comerciante algum seria insano a ponto de importar iguarias para turista ver.
Contava eu estas e outra coisas a uma moça ilhoa e bem-nascida, cidadã da Santa e Bela Catarina, dessas que julgam ser todo empresário um canalha, mas que jamais recusam uma cobertura facilitada por um pai empresário, dessas que jamais subiram o morro do Mocotó mas estão preocupadas com a colheita do café na Nicarágua, em suma, falava eu com um espécime típico da raça que chamo de os Novos Cafeicultores, e a objeção - a primeira objeção - caiu como um raio:
- E a miséria? Aposto que não foste visitar os bairros pobres, a periferia de Santiago.
Tinha razão em parte a jovem cafeicultora. Não visitei os bairros pobres de Santiago, afinal se troco as margens do Atlântico pelas do Pacífico, não será para ver miséria que conto meus parcos dólares. Não tenho a psicologia do francês médio, por exemplo, que mal chega ao Brasil, quer visitar favelas. Este comportamento, a meu ver doentio, parece-me ser vício de europeu inculto e de consciência pesada, que insiste em ver a miséria do Terceiro Mundo que explora, para depois contribuir com avos de seu bem-estar para guerrilhas suicidas. Se junto meus trocados para visitar um país, quero receber o que de melhor esse país tem a me oferecer. Nos anos que vivi em Paris, descia certa vez de Montmartre e enveredei pelas ruelas da Goutte d'Or, encrave árabe e paupérrimo que se alastra na cidade como mancha de óleo. Senti-me, de repente, em um território miserável para o qual jamais teria pensado em viajar, que mais não seja não será minha indignação ou revolta que resolverá o problema árabe na França. Dei meia volta, enfurnei-me na primeira boca de metrô e só voltei à superfície na Rive Gauche, a margem que mais me fascina do Sena. Não, não vi a miséria de Santiago. Mas consolei a cafeicultora: podes estar certa de que miséria existe, pois miséria está presente em qualquer metrópole do mundo.
Ela sorriu por dentro, parecia dizer: que bom que existe miséria em Santiago. O que me deixou um tanto perplexo, eu sorriria intimamente se soubesse que não existe miséria em lugar algum do mundo, independentemente de regimes políticos ou ideológicos. Ela, por sua vez, admitia a veracidade de meu relato. Ajuntei que a inflação era de seis por cento. Quando digo isto a um brasileiro, a reação normal é: "seis por cento ao mês?" Acontece que é seis por cento ao ano. Isto é sonho que, brasileiros, já nem ousamos sonhar. Se eu passar a alguém os preços de um restaurante que visitei em Santiago no mês passado, e se este alguém visitar o Chile no ano que vem, é provável que os preços continuem os mesmos ou, no máximo, tenham variado em torno de uns dez por cento a mais. Cá entre nós, não conseguimos recomendar para amanhã um restaurante no qual comemos ontem. Caiu, então, fulminante, a segunda objeção:
- Sim. Mas que preço pagaram os chilenos por este bem-estar?
Houve, no Chile, um assalto marxista e armado ao Estado e negá-lo é paranóia. Deste confronto resultaram, segundo alguns, dez mil mortes. Segundo outros, quarenta mil*. De qualquer forma, um preço infinitamente inferior ao preço pago pelos russos a Josiph Vissarionovitch Djugatchivili - que oscila entre vinte e sessenta milhões de cadáveres - para dar no que deu: uma confederação forçada de países pobres, alguns vivendo a nível de fome, como a Romênia e a Albânia. Bem mais barato que o preço pago pelos cambojanos a Pol Pot: dois milhões e meio de mortos, em um país de cinco milhões de habitantes, e disto não mais se fala. Sem falar que os que ficaram se jogam ao mar em jangadas, enfrentando tempestades, tubarões e piratas, ou já esquecemos os boatpeople? Sem falar nos que matou Castro - número que nenhum Garcia Márquez aventa - para instalar no Caribe seu gulag tropical. Em Cuba também há farta escolha de bebidas e gêneros alimentícios. Mas só o turista pode comprá-los, e com dólar. O cidadão cubano fica chupando no dedo. Nas praias, cheias de peixe, não há atividade pesqueira alguma, pois quem tem barco vai pra Miami.
- Justificas então tais mortes? - quis saber a moça - referindo-se, é claro, aos mortos do Chile, já que tornou-se tácito, para os fanáticos contemporâneos, que é lícito fazer correr sangue de certas pessoas e criminoso o de outras. Em suma, para usar dois conceitos que não me agradam, porque multívocos, é perfeitamente permissível fazer jorrar sangue da assim chamada direita e constitui sacrilégio, quase tabu, sangrar a assim chamada esquerda. Não justifico morte alguma, a humanidade tem pelo menos uns três mil anos de experiência histórica, milênios suficiente, parece-me, para concluirmos que não é matando que se chega a erigir a cidade humana.- Cristaldices! - jogou-me na cara minha cafeicultora, digo, interlocutora. Pode ser. Chamo então um cineasta exilado que voltou clandestinamente ao Chile, em depoimento tomado por Gabriel Garcia Márquez, intitulado A Aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile, já traduzido ao brasileiro por Eric Nepomuceno e encontradiço em qualquer livraria. No capítulo significativamente intitulado "Primeira desilusão: o esplendor da cidade", depõe Littín:
- Eu atravessei o salão quase deserto seguindo o carregador que recebeu minha bagagem na saída, e ali sofri o primeiro impacto do regresso. Não notava em nenhuma parte a militarização que esperava, nem o menor traço de miséria. (...) Não encontrava em nenhuma parte o aparato armado que eu tinha imaginado, sobretudo naquela época, com o estado de sítio. Tudo no aeroporto era limpo e luminoso, com anúncios em cores alegres e lojas grandes e bem sortidas de artigos importados, e não havia à vista nenhum guarda para dar informação a um viajante extraviado. Os táxis que esperavam lá fora não eram os decrépitos de antes, e sim modelos japoneses recentes, todos iguais e ordenados.
Mais adiante:
- Na medida em que chegávamos perto da cidade, o júbilo com lágrimas que eu tinha previsto para o regresso ia sendo substituído por um sentimento de incerteza. Na verdade o acesso ao antigo aeroporto de Los Cerrillos era uma estrada antiga, através de cortiços operários e quarteirões pobres, que sofreram uma repressão sangrenta durante o golpe militar. O acesso ao atual aeroporto internacional, em compensação, é uma auto-estrada iluminada como nos países mais desenvolvidos do mundo, e isto era um mau princípio para alguém como eu, que não só estava convencido da maldade da ditadura, como necessitava ver seus fracassos na rua, na vida diária, nos hábitos das pessoas, para filmá-los e divulgá-los pelo mundo. Mas a cada metro que avançávamos, o desassossego original ia se transformando numa franca desilusão. Elena (militante da esquerda chilena que acompanha Littín) me confessou mais tarde que ela também, ainda que estivesse estado no Chile várias vezes em épocas recentes, tinha padecido o mesmo desconcerto.
Coragem, leitor de esquerda. Adelante! Leiamos Littín, só mais um pouquinho:- Não era para menos. Santiago, ao contrário do que contavam no exílio, aparecia como uma cidade radiante, com seus veneráveis monumentos iluminados e muita ordem e limpeza nas ruas. Os instrumentos de repressão eram menos visíveis do que em Paris ou Nova York. A interminável Alameda Bernardo O'Higgins abria-se frente a nossos olhos como uma corrente de luz, vinda lá da histórica Estação Central, construída pelo mesmo Gustavo Eiffel que fez a torre de Paris. Até as putinhas sonolentas na calçada oposta eram menos indigentes e tristes do que em outros tempos. De repente, do mesmo lado em que eu viajava, apareceu o Palácio de La Moneda, como um fantasma indesejado. Na última vez que eu o tinha visto, era uma carcaça coberta de cinzas. Agora, restaurado e outra vez em uso, parecia uma mansão de sonho ao fundo de um jardim francês.
Fico por aqui. Se o leitor ainda alimenta dúvidas, que visite o Chile, preferentemente após ter deambulado por Havana. O homem só conhece comparando. Para finalizar, apenas mais uma observação, não minha, mas de Littín, que talvez elucide a prosperidade atual de seu país.
- Uma das primeiras medidas que ele (Allende) tomou no governo foi a nacionalização das minas. Uma das primeiras medidas de Pinochet foi privatizá-las outra vez, como fez com todos os cemitérios, os trens, os portos e até o recolhimento do lixo.
O que esclarece, a meu ver, o fascínio das ruas de Santiago.
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* Este artigo foi publicado em Joinville, em A Notícia, 27.11.88. E em Porto Alegre, no RS, 10.12.88. Os números de mortes citados eram as estimativas de então. Hoje considera-se que o total de mortes ao longo da ditadura de Pinochet foi em torno de três mil.
- Enviado por Janer @ 10:36 AM

Terça-feira, Dezembro 12, 2006
http://cristaldo.blogspot.com/


Tuesday, December 12, 2006

Tratamento de esgotos e mercado


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Tratamento de efluentes: uma oportunidade de negócio

Esgoto, uma oportunidade de investimento
Quem disse que esgoto não vale nada? Para a Construtora Tedesco, de Porto Alegre, o esgoto é uma oportunidade de negócios. Atenta ao crescente investimento em infra-estrutura ambiental, a empresa fechou uma parceria com a Puritech Projetos e Equipamentos de Defesa Ambiental, especializada no tratamento de esgotos sanitários e industriais. A companhia paulista disponibilizará sua experiência técnica para a construção de futuras Estações de Tratamentos de Efluentes (ETE´s) no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. "Os recentes acontecimentos no Rio dos Sinos mostram a importância de evitar o impacto ambiental e projetar empreendimentos com responsabilidade", destaca Pedro Tedesco Silber, diretor da construtora. Recentemente, o descarte inadequado de resíduos químicos arrasou a fauna em uma faixa de 200 quilômetros do Rio dos Sinos, no interior no Rio Grande do Sul.
Silber acredita que há um mercado muito grande para novos negócios na área ambiental, pois todas as empresas que passam pela certificação ISO 14000 são obrigadas a fazer o tratamento de efluentes. "Toda companhia é responsável pelo dejeto que ela gera", relata. Victor Jaworski, diretor da Pluritech, sustenta a idéia de que o mercado de tratamento de esgotos ainda tem muito a crescer. Segundo ele, 70% do esgoto é coletado no Brasil – mas apenas 8% desse total é tratado.
Para tratar o esgoto, a Puritech utiliza bactérias naturais que se alimentam dos resíduos. Como resultado da operação, resta água, gás carbônico e sais minerais. "Essa água pode ser reutilizada em outros processos", informa Jaworski. Segundo ele, o índice de purificação fica entre 95% e 97% do total do esgoto. "O restante é um lodo que também é utilizável no processo de endurecimento da indústria cerâmica", afirma. O sistema já despertou o interesse de alguns investidores na capital gaúcha e, segundo Silber, os primeiros empreendimentos serão realizados em 2007. "É um sistema que interessa tanto o poder público quanto a iniciativa privada", ressalta Silber. (Guilherme Damo)
Links relacionados:Construtora TedescoPuritech


http://amanha.terra.com.br/ - Newsletter diária n.º 855 - 12/12/2006

"Ilha de calor" em Atlanta

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Urban Heat Island: Atlanta, Georgia




High-resolutionImages:
True-color (960 kB JPEG)
Temperature (1.1 MB JPEG)
Urbanization does more than just transform ecosystems, it also changes fundamental variables that influence weather and climate, such as land surface temperature, surface roughness, and evaporation. For many years scientists have documented the changes in land surface temperature that result when natural or agricultural vegetation is replaced with parking lots, streets, buildings. Urban areas can be up to 8 degrees warmer than surrounding suburban or natural landscapes. This urban heat island affects not only the amount of energy a city needs to keep its residents cool and comfortable, but it also appears to influence where and how much it rains in the vicinity.
This pair of Landsat satellite images provides two views of urban Atlanta, Georgia, on September 28, 2000; the urban core is in the center of the images. The top image is a photo-like view of the area, where trees and other vegetation are green, roads and dense development appear cement-gray, and bare ground appears tan or brown. The bottom image is a land surface temperature map, in which cooler temperatures are yellow and hotter temperatures are red. Because vegetation cools the surface through evaporation of water, the most densely vegetated areas (darkest green in top image) are the coolest areas (palest yellow in bottom image). Where development is densest, the land surface temperature is near 30 degrees Celsius (86 degrees Fahrenheit).
Scientists suspect that the urban heat island effect may be one of the factors behind several studies showing that cities influence rainfall in their surrounding area. The heating of the surface and the overlying air creates instability in the atmosphere that encourages air to rise. As it rises, it cools, and water vapor condenses into rain that falls downwind of the city. Since the launch of the Tropical Rainfall Measuring Mission satellite—a joint NASA-Japanese mission—, observations of rainfall in the Studies of regional rainfall patterns in the U.S. Southeast have shown that rainfall downwind of major urban areas can be as much as 20 percent greater than it is upwind areas. To learn more about how the urban heat island and other city traits such as pollution and topography may be influencing rainfall, please read the feature story Urban Rain.
NASA images by Marit Jentoft-Nilsen, based on Landsat-7 data.



http://earthobservatory.nasa.gov/Newsroom/NewImages/images.php3?img_id=17489

Monday, December 11, 2006

Energia: Brasil, Japão

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Mais empregos no Brasil. De modo sustentável econômica e ambientalmente...

11 de dezembro de 2006 - 09:14
Japão pode usar álcool brasileiro a partir de 2010

Por poluir menos, de acordo com o Protocolo de Kyoto, o Japão deve passar a importar 3 bilhões
de litros de álcool por ano da Petrobras daqui a quatro anos
EFE
TÓQUIO - Algumas centrais de energia elétrica do Japão começarão a utilizar o álcool produzido pela Petrobras a partir de 2010, informa a imprensa japonesa nesta segunda-feira.
O Japão produz atualmente dois terços da eletricidade que consome em estações térmicas operadas com combustíveis fósseis como carvão, petróleo ou gás natural, e, embora o álcool seja mais caro a curto prazo, seu uso é necessário para reduzir a poluição, segundo o jornal Nihon Keizai.
A Petrobras trabalhará com a importadora japonesa Mitsui para enviar 3 bilhões de litros por ano ao Japão, segundo o jornal, que menciona a Tokyo Electric Power como uma das empresas interessadas em usar o álcool em suas centrais.
O álcool é considerado uma substância livre de dióxido de carbono pelo Protocolo de Kyoto (sobre o reaquecimento atmosférico), já que o cultivo de cana-de-açúcar absorve os gases causadores do calor.
O Brasil, o primeiro produtor mundial de álcool, planeja duplicar sua produção do combustível a 30 bilhões de litros até 2014, segundo a mesma fonte.

http://www.estadao.com.br/ultimas/economia/noticias/2006/dez/11/65.htm