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O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Saturday, August 01, 2009

Rússia vs. Geografia



Sobre o artigo The Geopolitics of Russia: Permanent Struggle aqui vai uma pequena análise e resumo:


Sempre achei interessante esta "teoria do estado-tampão", ela é tão exata e matemática para uma realidade humana que dá para desconfiar que não seja tão exata e lógica assim. Mas, o site dá a dica quando diz que os militares russos necessitavam de uma grande rede de inteligência e informação para sobreviverem sob constante ameaça.

E essa avaliação de que a Rússia sempre teve que fazer um 'malabarismo' entre Ocidente e Oriente, eu tenho uma dúvida: parece uma análise "muito geográfica", calcada quase que exclusivamente no mapa. Se Moscou já foi chamada de a "Terceira Roma", ela não parecia "estar entre", mas ser um dos pólos que exercia pressão. Claro que tudo é relativo, mas a análise parece justificar as ações da Rússia ao longo da história como reação, só reação.

Outro dado interessante é que sempre que se fala em população, o que costumamos ler por aí foca em seu tamanho ou, na melhor das hipóteses, na densidade e o texto também avalia sua distribuição e os problemas decorrentes do armazenamento de alimentos.

Quanto a tendência à desintegração de seu império, hoje 'federação', está ok. Mas, sempre que leio o adjetivo 'natural' me indago até que ponto isto representa uma via de sentido único? Afinal, com toda a tendência ao secessionismo, a Rússia angariou vastas terras e perdendo um pouco aqui e ali, conseguiu se manter unida a maior parte do tempo. Outro exemplo do que digo, sobre esta "determinação natural" é sua necessidade de expansão a oeste pela planície polonesa para se defender de possíveis ataques, "o ataque é a melhor defesa". O que faz sentido para mim é que como não há forte desenvolvimento econômico e tecnológico ao longo de sua história, o "destino manifesto" do país é se expandir mesmo.

Se a manutenção do império dificulta a exploração racional ao longo de seu vasto território é um dilema, eu não entendi a passagem, pois me parece que a melhor maneira de manter o império é desenvolvendo-o economicamente. O que o texto sugere é uma oposição entre economia e geopolítica, como se esta dependesse do subdesenvolvimento regional-periférico para continuar centralizando o império. Pode fazer sentido, mas se permite a analogia (guardadas as devidas proporções) fácil e limitada, uma Espanha rica se mantém unida mais facilmente do que poderia querer uma Iugoslávia (que não conseguiu) pobre.

Gostei da analogia com um centro duro protegido pelo frio do norte e pelos Urais. O império aí funcionaria como uma infecção que combatida pelos glóbulos brancos que tentam destruí-lo, sempre recua para depois, novamente, se disseminar ao longo do corpo-território.

Para um texto que inicia acusando o caráter 'indefensável' do território russo admite, no entanto, a dificuldade dos russos serem atacados hoje pela vastidão siberiana. Aí estaria uma (imensa) área segura e de difícil ocupação.

O leste da Ásia Central (Cazaquistão), com três meses de neve, colocado como empecilho e razão(!) principal dos japoneses terem preferido atacar os EUA na II Guerra Mundial foi algo que me chamou atenção. "Principal razão"... Sempre é algo forte suficiente para objetar, mas não deixa de ser uma tese interessante.

Diferente é o caso quando se fica no reino das possibilidades, condicionamentos etc. O Cáucaso, os mares Negro e Cáspio que ajudaram na manutenção do império, onde a geografia não atuou contra a Rússia, mas a favor dela. Já, não se pode dizer o mesmo da fronteira com o Afeganistão, onde começa o problema de sua estabilidade, com um deserto difícil de domar povoado por diversas tribos que, como se sabe, sempre foram marcadas por sua irredutibilidade, ao passo que a fronteira com a Turquia e o Irã divididas por montanhas facilitaram seu domínio.

Mas, achei muito bom mesmo, a consideração de que o principal ponto fraco (ou área frágil) está a oeste, na fronteira com o centro europeu. Enquanto os russos chegam nos Cárpatos, eles têm uma certa segurança criando um estado-tampão na Moldávia (ou Bessarábia), mas com risco ainda de uma investida de além da Romênia. E não é a toa, nem anacrônico dizer isto, haja vista, as recentes expansões de "guarda-chuvas" da OTAN.

O irônico disto tudo é que justamente a estratégia de contenção consiste na criação de tampões que sugam os recursos do estado russo. Ou seja, apesar de terem que sempre lutar contra a entropia geopolítica se fortalecendo mais e mais, acabam com isto semeando sua própria decadência.

Mas, quando se fala em 'decadência' sempre é bom lembrar que mesmo tendo se reduzido territorialmente após o fim do comunismo, a Rússia retornou ao seu tamanho do século XVII, como atesta o próprio artigo. Ou seja, em termos históricos, mais ficou estável do que perdeu, territorialmente falando.

O enorme gasto para manter seu território colocou a Rússia em desvantagem frente a seus competidores ocidentais e asiáticos. E, claro, a competição armamentista com os EUA sufocou sua capacidade de desenvolvimento deslocando importantes recursos para este setor, vital para sua manutenção como império.

A perda de toda Europa Oriental como área de influência exclusiva, a Ásia Central e o Cáucaso são provas inegáveis da vitória do capitalismo ocidental. A sorte do país é não ter como vizinho uma China aventureira e expansionista, afinal este país já tem problemas internos suficientes.

Parece difícil uma maior fragilização do cenário russo, mas como assevera o texto, a história tem lá suas mudanças dramáticas e agora, com a expansão da Otan sobre o Cáucaso e Europa, o sentido de auto-defesa russa se aguça mais ainda. Se compararmos a Rússia com o Irã ou China ou EUA, seus objetivos estratégicos não têm sido alcançados: não está segura no Cáucaso; perdeu influência na Ucrânia, Moldávia, Ásia Central; bem como amarga o recolhimento da linha de segurança nos Cárpatos e para aquém do Báltico, o que lhes é inaceitável, assim como a neutralidade da Bielo-Rússia; também não obtiveram um porto livre de bloqueios ocidentais. Estes são alguns pontos que seus vizinhos periféricos vêem como altamente desejáveis.

Mas, penso que do outro ponto de vista, também não interessa uma grande fragilidade interna russa que lhes possa causar convulsões internas que podem se refletir em uma política externa mais agressiva, como se viu claramente no caso da Geórgia ou antes ainda, na Chechenia.

Apesar de algumas dúvidas que o texto me sugeriu, o texto encerra com chave de ouro ao realçar o enfrentamento dos problemas internos russos, assim como a manutenção de seu heartland ser um problema mais geográfico que ideológico. Realmente, um excelente texto.

Monday, July 27, 2009

A mega-bolsa

Interessante que, com relação ao artigo "Amazônia: Londres promove 'desenvolvimento evitado'"[1] se diga que:

“Nenhum desses países pode resolver sozinho o problema do desmatamento, pois, frequentemente, ele é causado pela demanda de países desenvolvidos por óleo de palma, carne e soja. O ponto aqui é que todos nós - o mundo todo - estamos juntos nisso e é por isso que, juntos, precisamos garantir que todas as medidas necessárias [para conter o desmatamento] sejam empregadas. (...)”

Mas, se proponha como alternativa o mercado de créditos de carbono. Em uma realidade nacional na qual já nos habituamos à diversos tipos de “bolsas” (bolsa isto, bolsa aquilo), nada “melhor” do que esta mega-bolsa-global. Por favor, não me entenda mal, por vezes carrego na ironia.

Comentando com amigos interessados no tema, dizíamos que uma das melhores formas de desenvolver a região amazônica (assim como várias outras) e que pressiona menos o ambiente e seus ecossistemas consiste na própria urbanização. E este é um ponto particularmente interessante, na medida em que os ambientalistas mais utópicos e, por conseqüência, menos pragmáticos vêem na urbanização não uma das soluções, mas sim o símbolo de decadência e caos.

Ora, a urbanização implica em menores densidades no meio rural e menor dependência direta de culturas extensivas predatórias. Se me permite utilizar a própria terminologia deles, o que é mais sustentável é justamente a modernização tecnológica, tão “limpa” quanto possível, mas que não prescinda da indústria e exportação, bem como produção destinada ao mercado interno. Isto é bem melhor do que qualquer “esmola global”.



[1] Acessado em 27 de julho de 2009.

Sunday, July 26, 2009

Mexico's drug gangs: Taking on the unholy family | The Economist


Mexico's drug gangs: Taking on the unholy family | The Economist

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O Egito é estável?


O país de Mubarak apresenta dados econômicos declinantes, o que favorece os movimentos de fundamentalistas islâmicos. A matéria também observa o grande percentual de jovens que aumenta em 3% a.a. o número de aptos a trabalhar. Mas, me lembro de Kaplan em "Os Confins da Terra" que ao entrevistar uma autoridade militar egípcia ouviu que "o problema não são os pobres, mas os 'menos pobres'" referindo-se à classe média universitária, intelectual e sindicalizada que não ascendeu ao poder.


a.h