interceptor

Novas mensagens, análises etc. irão se concentrar a partir de agora em interceptor.
O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Saturday, November 13, 2010

Mudança de ventos


Pequim se diz favorável à entrada de indianos no Conselho de Segurança da ONU; ideia foi apoiada por Obama.
Chineses dizem que é necessário haver uma reforma "razoável e necessária" do principal organismo da entidade.
China faz gesto conciliador para rival Índia. Folha de São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2010. 


Se a China flerta com a Índia, país com o qual já disputou o controle da Caxemira (inclusive cedendo uma porção territorial ao Paquistão) e acusou a Índia de desestabilizar a região do Tibet ao fornecer asilo político ao dalai é porque, realmente, as coisas mudaram por lá. Provavelmente com vistas ao isolamento de grupos políticos separatistas (na Caxemira) e muçulmanos que talvez tenham ligações com o talebã. Apesar de toda rivalidade alegada entre China e EUA no plano militar por alguns analistas, que chegam a falar em uma "nova guerra fria", o que é verdadeiramente exagero, em termos de segurança global parece haver uma confluência clara entre as grandes potências. Talvez os separatistas uigures no Sinkiang sejam um dos motivadores disto. Pequim deve ter boas razões para temer um recrudescimento de um movimento que possa apelar ao terrorista fundamentalista islâmico em seu oeste.
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Proprietário de imóvel ocioso em SP pagará mais IPTU


Especialistas consideram a regulamentação da lei um avanço para aliviar o déficit habitacional de São Paulo e frear a especulação imobiliária. Só na região central são 5 milhões de metros quadrados ocupados por imóveis ociosos.
Proprietário de imóvel ocioso em SP pagará mais IPTU

Isto não vai "frear a especulação imobiliária", mas, na melhor das hipóteses, competir com a incorporação imobiliária reduzindo seu preço. No entanto, se o foco são os pobres, sinceramente, a medida é pífia, pois quem poderá pagar por imóveis ociosos que são, na maioria das vezes, propriedades de alto valor na cidade, os pobres, necessitados de habitações? Não, isto serve mesmo é para que a prefeitura engorde seu orçamento, isto sim.



Muito boa e didática a entrevista, mas discordo da questão do Bolsa Família. Isto não pode ser visto apenas em termos de percentuais adquiridos a um grupo, supostamente, despossuído. O aumento do salário mínimo e a renda que deveriam ocorrer com redução de custos é que deve ser a meta. As bolsas de fomento aos pobres devem atrasar este processo para canalizar recursos aos que, muitas vezes, não precisam. Reconheço que é um chute, mas creio que o programa está inflacionado mesmo. Uma auditoria seria necessária para se saber se o aumento do número de beneficiários do programa se justifica. Já, quanto aos outros comentários, perfeito, assim como o agronegócio sustentou o Governo Lula com o aumento de exportações e captações de reservas externas, agora a indústria está sendo sacrificada para captação de investimentos externos que valorizam nossa moeda. Não sou contra as bolsas de valores, mas se pautar basicamente nisto como o fizeram ambos governos - FHC e Lula - não tem sustentabilidade no longo prazo.
E a solução futura apontada por nossos nacionalistas não irá além do mais rasteiro desenvolvimentismo cepalino, como sabemos.

Descontrole do gasto estatal é a origem do desequilíbrio econômico, diz economista
www1.folha.uol.com.br
Um dos maiores críticos do gasto público no Brasil, o economista Raul Velloso diz que o país está se tornando o "rei do alto consumo", mas sem poupança para sustentar essa trajetória.
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Thursday, November 11, 2010

Histórias do pântano



Parece loucura, mas os nicaragüenses se basearam num mapa do google (não georreferenciado) para mudar a fronteira com o vizinho meridional, a Costa Rica, a revelia de qualquer acordo: http://www.economist.com/node/17463483?story_id=17463483. Esta era a versão que eu sabia e, pela The Economist, a correta. O representante nicaraguense na OEA, Denis Moncada (ou seria Mancada?) inverteu os fatos: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,oea-da-ultimato-para-costa-rica-e-nicaragua,637735,0.htm
Tudo começou porque o governo nicaragüense resolveu dragar um trecho pantanoso do Rio San Juan que delimita parte da fronteira dos dois países fincando acampamento no território costa-riquenho. E a justificativa foi um mapa de internet. Isto, em plena campanha na assembléia nacional pela reeleição de Ortega (sandinista, aliado de Chávez) que já atropelou a constituição do país, inclusive imprimindo uma versão falsificada da mesma!
Quem duvida é louco, este deve ser mais um caso latino americano com a marca da pata do caudilho venezuelano.
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Wednesday, November 10, 2010

Subúrbios, uma crítica


Sobre:

Urban Legends

Why suburbs, not cities, are the answer.

BY JOEL KOTKIN



Não endosso simplismos urbanistas. Se as cidades são palco de diversos problemas, negá-las em seus benefícios apoiando (implicitamente), uma dispersão induzida pelo estado não é solução, embora isto não esteja explícito no texto em questão. Não é porque sou um apreciador das baixas densidades que acho que o mundo globalizado possa prescindir dos nucleamentos urbanos. Pelo contrário... Quem vive em periferias urbanas como eu, não passa de um parasita do sistema. No entanto, não creio que todos nós devamos buscar um modelo mais racional de vida urbana em áreas mais adensadas, porque existindo o centro existe a periferia. A própria definição de um é contrapartida do outro, mas endosso sim o ponto de vista de que quem onera mais o tesouro (residindo em áreas mais afastadas que demandam infra-estrutura) tenha que pagar (proporcionalmente) mais. É mercado. Se eu quero o canto do sabiá em minha varanda, isto deve ser tratado como uma commodity de luxo pela qual tenho que pagar.

“And many of the world's largest advanced cities are nestled in relatively declining economies -- London, Los Angeles, New York, Tokyo. All suffer growing income inequality and outward migration of middle-class families. Even in the best of circumstances, the new age of the megacity might well be an era of unparalleled human congestion and gross inequality.”

Sinceramente, este argumento me soa tolo. O congestionamento é uma externalidade que demanda inovações, sem as quais a economia como um todo estagnaria. E as desigualdades internas na cidade não são um problema de fato (são problemas de percepção...), na medida em que o estrato inferior vive, muitas vezes, melhor do que o estrato médio de regiões rurais atrasadas. O problema (de percepção) é que damos valor exagerado à desigualdade que no fundo é apenas diferença porque há gente enriquecendo, enquanto que deveríamos ver sim a capacidade de reprodução social dos mais pobres: como estão? Melhores ou piores que tempos atrás? Se atualmente vivem em curva ascendente de riqueza, então não é um problema de fato.
Eu discordo também deste argumento:

“Arts and culture generally do not fuel economic growth by themselves; rather, economic growth tends to create the preconditions for their development.”

Isto contradiz o que aprendi sobre a evolução cultural e social. Se pensarmos em termos de Renascimento, p.ex., não dá para imaginar primeiro um crescimento econômico independente da criação artística e científica. Até onde sei, se trata de um processo de alimentação contínua e recíproca.
Dizer que Frankfurt tem uma taxa de desemprego menor que Berlim é uma meia verdade quando avaliamos o conjunto da obra, de que Berlim atrai migrantes que sofrem com o desemprego em outras cidades, inclusive Frankfurt. Falta ao artigo uma análise de rede de cidades ao invés de tratar as cidades como “universos em si” independentes umas das outras.
Outra coisa que me espantou neste texto é tratar os custos de vida, com moradia e transporte nas grandes cidades como maiores e, portanto, “injustos” para a “classe trabalhadora”. Ora, isto é mercado que se ajusta! É uma maneira de se regular o acesso. Se há mais demanda, óbvio que o custo deve aumentar. Isto deveria ser elogiado como mecanismo de freio (ou, ao menos, de dissuasão) e não como “problema”. A impressão que passa (e acho que é este o intuito) é de que o autor deve endossar um planejamento que obrigue a dispersão habitacional para, artificialmente, baixar custos de moradia sendo que alguém vai, inevitavelmente, pagar por eles. De um modo autoritário, isto reeditaria o velho planejamento urbanístico que, por sua vez, é gerador de outras graves distorções. Analogamente, o autor frisa custos ambientais maiores das grandes cidades relevando os custos de vida em áreas dispersas. Como eu disse, eu prefiro morar afastado, mas tenho consciência de que isto deve ser pago em termos proporcionais. Querer que uma opção individual como a minha sirva de modelo é apostar na igualdade e uniformidade de opções que vai em sentido contrário da própria escolha da população. Meu argumento pode parecer simplista e não fundamentado, mas pelo menos tenho consciência do mesmo e não estabeleço cortes analíticos ao privilegiar critérios de padrões de moradia esquecendo-me da complexidade do todo que envolve mais que um espaço intra-urbano contra outro, Centro VS. Periferia.
Dizer que as grandes cidades têm favelas e que estas estão em crescimento é como criticar um padrão de moradia melhor do que a área de origem sem citar esta, mas comparando o primeiro com outros padrões superiores. Isto é, o autor critica um tipo de (sub)moradia com moradias melhores sem lembrar que os moradores das primeiras tinham, em sua origem, condições piores. Outro dado, que podemos obter da obra de Hernando de Soto é que o que chamamos costumeiramente de “favelas”, mas que apresentam diversos padrões ao redor do globo é um sintoma de dificuldade de acesso a propriedade e não, um lócus deficiente por natureza devido ao crescimento demográfico tão somente. Neste sentido, Joel Kotkin envereda por uma análise quantitativa sem levar na devida conta suas causas (qualitativas). Veja bem... Segundo o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), 60% das moradias de Florianópolis, a capital de um estado, não possui escritura pública. Isto é, são “favelas” na definição hodierna, não constituindo propriedades legais, mas apenas terrenos de posse com edificações/construções ilegais em cima. Ora, isto não quer dizer que sejam, de todo, moradias ruins, mas sim, moradias sem aporte legal. A causa está no marco institucional e a conseqüência, esta sim, é que os efeitos/externalidades provocados se aproximam/igualam a das chamadas favelas precárias em termos de poluição e danos causados ao meio ambiente natural e social. Trata-se de uma perversão político-administrativa e não de simples localização como sugere o autor.
Isto é um disparate:

“With the exception of Los Angeles, New York, and Tokyo, most cities of 10 million or more are relatively poor, with a low standard of living and little strategic influence.”

“Relativamente pobre” em relação a quem ou o quê? Que absurdo! São muito mais ricas que a imensa maioria e, claro, que se pegarmos a média, talvez sejam mais pobres do que cidades médias que dependem fundamentalmente desses centros geradores de riqueza, que são as grandes cidades. Reitero, é um grave equívoco tomarmos as cidades isoladamente sem avaliarmos o conceito de rede de cidades. Muitos dos negócios situados em vales-isso, vales-aquilo (referência ao Vale do Silício e outros clusters pelo autor) têm escritórios que os administram justamente em centros urbanos de maior aporte onde os negócios e concepções, designs são feitos e elaborados gerando a economia bilionária. Não podemos simplesmente privilegiar um setor, o de alta tecnologia esquecendo todo o resto para concluir que as mega-cidades não são seus lócus privilegiados.
Não pretendo cair no extremo oposto do artigo, colocando as grandes cidades como “mais importantes”, mas a análise fragmentada do artigo tem que ser denunciada como portadora de grave viés.
Mas há sim um ponto positivo no texto, a violência e insegurança urbana (que são ataques contra a propriedade, aí o problema) geradas nas grandes cidades. Talvez este seja o verdadeiro indutor de uma dispersão urbana ainda, precariamente, avaliado. Em que pese ser verdade, as periferias renovadas, os subúrbios ainda se conectam com os centros dos quais mantêm relações criando “novas centralidades” e reproduzindo modelos urbanos em outras áreas. No entanto, chamar estas áreas de “zonas rurais” é outro equívoco... “Rural” se prende à atividade agrícola e os “novos centros” ou subúrbios, clusters etc. têm atividades nitidamente urbanas. O próprio agronegócio, p.ex., não é “rural” no sentido literal.
Se o modelo dos países desenvolvidos calcado na centralidade tradicional de grandes cidades não deve pautar o desenvolvimento de países em desenvolvimento (como quer o autor), a simples dispersão induzida pelo estado também não é nenhuma solução, mas o prelúdio de diversos outros problemas, uma vez que a moradia urbana, seja em grandes, médias ou pequenas cidades não for resolvida, isto é, liberada das amarras estatais que criam privilégios através do ônus de suas burocracias.
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