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Por Fabiana Futema, da Folha Online
No domingo, Londres quase que se torna um filme de Glauber Rocha: "A cidade vai virar campo e o campo vai virar cidade". Na verdade, foram mais de 400 mil pessoas, de todas as partes rurais da Grã-Bretanha, inundando as ruas do centro, numa das maiores passeatas vistas por Londres desde os tempos da sra. Thatcher. Os manifestantes não tinham o objetivo único de protestar contra qualquer medida tomada contra a tradicional caça à raposa, embora este tema tenha praticamente seqüestrado a passeata. As comunidades rurais vieram à cidade para mostrar algo básico: elas existem e nem só a cavalo e de casaco vermelho, cercado de cachorrinhos correndo atrás de uma raposa, vive o campesinato. E essa simples palavra – campesinato – empresta um cunho altamente social ao evento. Não, não eram caipiras descalços fumando cigarro de palha e dizendo, ao menor pretexto, "Eta, mundo véio sem portêra!" O campo britânico, na verdade, sempre foi, até há bem pouco – um século, digamos – o coração secreto, e não tão secreto assim, do país. Cidade era onde se trabalhava, se administrava o império e se ganhava dinheiro. Campo era onde se vivia. Peguem a moda – masculina, é claro – britânica: o cordurói, o Harris Tweed, as botinhas Wellington… Peguem aquela fantasia que cismaram que Sherlock Holmes usava o tempo todo: o deer stalker. É uniforme para se caçar veado e gazela. Ou simplesmente adotar, quando no campo. Não ocorreria a uma pessoa de bom senso usá-la na cidade, em Baker Street.
O protesto foi muito além da raposinha. Eu gostei de ver os camponeses. Abastados, remediados e pobretões. Cada um com seu problema. As rendas que caem. A praga da febre aftosa. O problema habitacional. Os transportes precários, a escassez de ônibus. Os pubs, correios e postos de gasolinas que fecham. A lojinha da esquina, cada vez mais rara.
Sou urbano até a medula. Muito verde me dá náuseas. Mas sei que esta ilha nasceu e depende do campo. Eu posso não ir a ele, mas gosto de vê-lo em fotos e programas de TV ou, como agora, no centro de Londres.
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O setor de etanol do Brasil está experimentando um “boom” sem precedentes, e registrou investimentos recordes do setor privado. Além do consumo interno do álcool extraído da cana-de-açúcar, vem aumentando a demanda de países como Estados Unidos, Suécia e Japão. E o resto da América Latina e Caribe procuram seguir o modelo brasileiro de produção de etanol, por causa dos altos preços do petróleo no mercado internacional.
Durante um discurso realizado no Rio de Janeiro este mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a Organização de Países Exploradores de Petróleo (OPEC) em breve teria que admitir o Brasil em suas filas, porque o País planeja ser o “principal exportador” de bio-combustível.
O etanol brasileiro já corresponde a um terço da produção mundial, mas isto não coloca o Brasil em uma posição de país que possa atender à demanda global de etanol. O país sul-americano também é o maior dependente mundial de etanol, com 20% de sua frota de veículos com motores a álcool. No mundo, esse combustível vegetal é usado como aditivo à gasolina, numa proporção média de 2,6%.
O etanol tem várias vantagens: é mais limpo e renovável, ajudando a reduzir a emissão de carbono ao mesmo tempo em que conserva as reservas de combustíveis fósseis. É barato quando produzido numa usina administrada de maneira eficiente, com um custo de menos de um dólar por galão. É versatilidade – pode substituir a gasolina inteiramente em carros com motores bi-combustível, ou ser misturado à gasolina em menores proporções em motores convencionais. O álcool também tem altos níveis de octanagem e, no ano que vem, na famosa corrida das 500 Milhas de Indianápolis, os carros correrão com etanol em seus tanques.
O Brasil estima investir, até 2010, cerca US$ 10 bilhões no aprimoramento da produção de etanol à base de cana-de-açúcar, ampliando a capacidade com 90 novas usinas. No mesmo período, a indústria brasileira planeja duplicar a exportação de etanol, para 5 bilhões de litros por ano.
A Petrobras pretende investir US$ 225 milhões na construção de um duto de etanol que ligará o Estado de Goiás a São Paulo, em 2008. No início de junho, o Banco Japonês de Cooperação Internacional (JBIC, na sigla em inglês) disse que investirá US$ 570 milhões em projetos de “agro-energia” desenvolvidos por fundações brasileiras, incluindo o plano da Petrobras de alavancar a exportação de etanol. A gigante norte americana Cargill comprou sua primeira usina de etanol no Brasil em junho, e a expectativa é de que gastará US$ 44 milhões para dobrar sua produção até 2008. A Royal Dutch/Shell, que normalmente exporta petróleo do Brasil, começou a exportar etanol em junho, e embarcará, ainda este ano, cerca de 150 milhões de litros de álcool brasileiro para os Estados Unidos, disse um porta-voz da companhia. Segundo a Unica, as exportações do Brasil provavelmente alcançarão este ano os 2,4 bilhões de litros, sendo que 800 milhões de litros tem como destino os EUA.
América Latina
Os programas brasileiros são cada dia mais populares em toda a região. A produção de etanol da Colômbia teve início em 2005, com investimentos de US$ 100 milhões. O país sul-americano pretende misturar o etanol à gasolina para evitar o esgotamento de suas reservas de petróleo.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou em 2005 que seu país investirá nos próximos cinco anos cerca de US$ 900 milhões em usinas para a produção de etanol, e usará o bio-combustível na substituição dos aditivos da gasolina. Chávez planeja aumentar sua produção para 25 mil barris por dia, até 2010.
O Peru já mistura o etanol à sua gasolina, e também tem planos de produzir 25 mil barris de etanol por dia. Suas pretensões são abastecer seu mercado e o mercado da Califórnia. O Equador também já considera seu próprio plano para o etanol.
Na América Central, que importou mais de US$ 5 bilhões em óleo e combustível no ano passado, uma crescente indústria de etanol poderia reduzir os altos custos da região com energia e impulsionar as exportações. Arnaldo Vieira de Carvalho, um diretor de investimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que ajuda governos da América Central a desenvolver um estudo de viabilidade de um projeto regional de etanol, diz que a região parece ter potencial para uma importante expansão no setor alcooleiro. O BID ainda não financia projetos de etanol na região, mas está pronto para fazê-lo conforme os estudos avançarem.
Um estudo publicado em 2005 pela Comissão Econômica para América Latina (Cepal) prevê que, mesmo sem investimentos significativos, a América Central pode produzir etanol suficiente para adicionar 10% de álcool à sua gasolina. Segundo o relatório, o programa não necessitaria de subsídios do governo, e um análise de preço mostra que teria economizado US$ 187 milhões para a região em 2003.
Guatemala, Costa Rica e El Salvador já têm algumas fábrica de processamento de etanol, e Carvalho disse que esses países também avaliam a possibilidade de misturar 10% de etanol em sua gasolina, a partir de 2007. Na República Dominicana, a belga Alcogroup disse recentemente que construirá uma usina de etanol e os agricultores dominicanos estão negociando com outros investidores.
A região tem a vantagem de estar próxima do mercado norte-americano e também a de seu etanol não estar sujeito à tarifa de US$ 0,54 por galão que limita o Brasil na exportação de seu produto para os Estados Unidos. Assim, uma empresa brasileira está estudando investir no desenvolvimento de etanol na Jamaica enquanto o governo brasileiro pretende ajudar a Guatemala e o Haiti a dar a partida no etanol.
Paralelamente, o governo cubano entrou em contato com algumas empresas privadas para pedir apoio na construção da infra-estrutura necessária para sua produção, enquanto o México está apostando na cana-de-açúcar e no milho, com a construção de novas usinas.
http://www.americaeconomia.com/PLT_WRITE-PAGE~SessionId~~Language~4~Modality~0~Section~1~Content~25843~NamePage~EnergiaArti~DateView~~Style~-1.htm
Ainda há diferenças em relação ao texto aprovado pela Câmara dos Deputados, mas os dois projetos têm em comum mais incentivos para produção de energia sem uso do petróleo (são créditos fiscais para produção de etanol e incentivos às montadoras para maior oferta de veículos híbridos).
A Câmara exige que as refinarias produzam 5 milhões de galões de combustíveis com fontes renováveis (principalmente etanol derivado do milho), e o projeto do Senado fala em 8 milhões de galões anuais. Também há incentivo para projetos de usinas termoelétricas com base em carvão, mas com uso de tecnologia de gaseificação para reduzir a poluição. O Senado aprovou o projeto por 85 votos a 12.
As principais diferenças entre os dois projetos de lei são relativas à exploração de petróleo em reservas ambientais no Alasca (a Câmara é favorável) e à proteção contra ações judiciais para fabricantes de um aditivo para gasolina que pode contaminar o ambiente. Grupos ambientais dizem que o produto MTBE contaminou fontes de água potável no país.
O Senado acabou aceitando a postura da Câmara em relação a limites de emissão de poluentes. Os dois projetos determinam que haja uma redução voluntária de emissões e não obrigatória. Os EUA não aderiram ao protocolo de Kyoto para redução de emissões por considerar que as medidas aumentariam os custos para empresas e poderiam prejudicar a atividade econômica. O presidente George Bush já pediu várias vezes ao Congresso que envie uma lei para sanção até agosto, e o líder do governo no Senado, Bill Frist, disse ontem que o projeto é "um passo à frente na política energética nacional".
As dificuldades na ocupação do Iraque e a crescente demanda por petróleo na China e na Índia têm mantido os preços em alta há mais de três anos. Recentemente, Bush disse que será necessário voltar a investir em energia nuclear, o que os EUA têm evitado desde meados dos anos 70. O projeto de lei cria créditos fiscais para energia produzida por fonte nuclear, com teto de US$ 125 milhões nos próximos 8 anos, e permite empréstimos para financiamento de novos projetos.
A relutância dos EUA em estimular o uso de energias alternativas nas últimas décadas está resultando, ironicamente, em problemas para as próprias companhias americanas. A Ford e a General Motors, por exemplo, vêm perdendo mercado de veículos nos últimos anos por concentrar sua produção em grandes caminhonetes com alto consumo de gasolina. Embora esse tipo de carro faça sucesso entre os consumidores, a escalada do preço da gasolina está estimulando a procura por veículos com menor consumo e maior eficiência.
Os EUA viram com surpresa a formação de listas de espera de consumidores para dois modelos de carros com alimentação híbrida, o Prius (híbrido de energia elétrica e gasolina), da Toyota, e o Escape, da Ford. Os EUA ainda não têm carros com motor "flex power" como no Brasil, nos quais o uso de gasolina é alternado com o de etanol. Mas a perspectiva é que o uso desse produto cresça, inicialmente em misturas com a gasolina.
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Fas est et ab hoste doceri
Ovídio