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O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Friday, September 19, 2008

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço

Rússia condena 'ingerência externa' na Bolívia

MOSCOU (AFP) — A Rússia qualificou nesta quarta-feira de "inaceitável" qualquer tentativa de "ingerência externa" no conflito na Bolívia, e afirmou que a integridade territorial do país andino tem que ser protegida.

"Consideramos inaceitáveis as tentativas de ameaçar a integridade territorial da Bolívia, assim como qualquer forma de ingerência externa nos assuntos deste país latino-americano soberano", declarou o ministério russo das Relações Exteriores em comunicado.

"Condenamos as ações levando à desestabilização da ordem constitucional e à divisão da sociedade boliviana, que afetam a unidade e a integridade do país", prosseguiu a chancelaria neste comunicado.

Pelo menos 18 pessoas morreram e cerca de cem ficaram feridas quinta-feira passada em confrontos entre partidários do presidente boliviano Evo Morales e militantes da oposição no departamento de Pando (norte), na fronteira com o Brasil.

A Rússia reforçou sua cooperação militar com a Venezuela, aliada da Bolívia. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse no dia 11 de setembro que apoiará grupos armados na Bolívia se seu amigo Evo Morales "for assassinado ou derrubado" por um golpe de Estado.

http://afp.google.com/article/ALeqM5g6ppMRPNzFkNqrx564bsaDYDRN0A

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Eh eh eh, o embaixador americano não pode externar apoio aos separatistas bolivianos, mas as FFAA russas podem apoiar os separatistas russos em território georgiano e matar 1.400 georgianos num só dia!

China e Rússia - 2


Khabarovsk Bridge across the Amur used to be the longest in Imperial Russia and Eurasia.)





Derretendo o permafrost*


Na fronteira sino-russa, o clima predominante parece amalgamar as relações políticas.

Para Pequim, a Rússia sempre foi um aventureiro recém-chegado querendo pleitear o território a leste dos Urais com alguns séculos de atraso. Os esforços russos naqueles confins vêm desde sua reivindicação de territórios no Pacífico durante o início do século XVIII. Enquanto os chineses se opunham ao colonialismo europeu, os russos avançavam sobre porções chinesas no nordeste. Este oportunismo permitiu a anexação da atual província de Amur da China Qing em 1858, cuja fronteira foi estabelecida pelo Tratado de Aigun.

Tratados como este, enfraqueceram a soberania chinesa. A Rússia teve como trunfo a construção da ferrovia Transiberiana no início do século XX, cujo objetivo era a contenção das aspirações coloniais japonesas. O relacionamento entre os dois países melhorou logo após o final da II Guerra Mundial devido à consolidação de Mao Tse-Tung. Stalin, no entanto, tentou forçar a invasão da Coréia do Sul a partir do norte, mas não enviou tropas, apenas armas para a China e quando terminou a guerra, os russos ainda cobraram a fatura de Pequim por seus serviços prestados.

Depois disto, as relações sino-soviéticas se deterioraram. Como estratégia da Guerra Fria, a Rússia se aliou a Índia e o Vietnã do Norte, rivais de longa data dos chineses. A partir de então, o oportunismo foi dos americanos ao se aproximarem da China, o que ajudou ainda mais em seu distanciamento em relação à Moscou. EUA e China apoiaram o Paquistão nas guerras indo-paquistanesas (o que levou a aproximação da Índia à URSS). Cerca de 60.000 uigures – uma minoria muçulmana que os chineses ainda temem por suas aspirações separatistas – escaparam pela fronteira soviética em 1962. Em 1965, o setor energético chinês amadureceu ao ponto de dispensar o petróleo soviético. E Washington fez vistas grossas aos horrores do comunismo chinês ou do Khmer Vermelho no Camboja (aliado chinês e opositor dos insurgentes vietcongs apoiados pelos soviéticos). No cômputo geral, apesar da vitória de Moscou sobre Washington na questão do Vietnã, a Rússia também ganhara um inimigo tão implacável no leste quanto o que já tinha no oeste.

Mas, o evento seminal se deu na separação sino-soviética em uma série de conflitos militares no verão de 1969 na província de Amur. Hoje, China e Rússia são qualquer coisa, exceto sócios naturais. Quando seus interesses econômicos parecem ser complementares, a geografia revela suas fragilidades. Sem mercado consumidor na fronteira, tampouco infra-estrutura significativa, os papéis de produtor e consumidor de recursos têm papel análogo a OPEP com os EUA – de permanente desconfiança que isto sugere.

Estrategicamente, os dois tendem a nadar em raias separadas, em formar associações distintas, ainda que compartilhem regiões limítrofes. Tais regiões, nas quais um estado tende a avançar sobre o outro são zonas de tensão permanentes, cujas posições mudam e fluem com “marés geopolíticas”. O que historicamente se decide facilmente quando um dos estados é forte e o outro fraco não ocorre no caso: ambos os estados são fortes. Atualmente, China e Rússia estão se tornando, mutuamente, fortes com grandes chances de virem a se confrontar em regiões nas quais suas hegemonias se sobrepõem.

À diferença com os EUA é que este país não enfrenta um desafiante similar em seu continente. O Canadá é, de fato, integrado aos EUA. Bases da Otan se encontram no Ártico. A fronteira com o México é formada por um deserto e o 2º estado mais rico da união – o Texas. E o Texas? Ora, ninguém mexe com o Texas! Isto favorece aos EUA se concentrarem em projetos externos. A geografia favorece seu expansionismo... Para que se sintam ameaçados, uma aliança continental equivalente em poderio militar precisaria ser capaz de oferecer oposição à altura. Mantida a tendência histórica da oposição entre China e Rússia, os EUA não têm muito que se esforçar para manter seu atual status.

21 de julho passado, o Ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov russo assinou a retirada russa de cerca de 108 km2 do território de Amur. Apesar das dificuldades encontradas na partilha de terras fronteiriças, a primeira coisa a fazer entre estados que buscam uma aliança é parar de se tratar como inimigos. Neste quesito, a Rússia agiu bem cedendo o território tomado da China.

Mas, há muitas razões para duvidar da sustentabilidade desse desenvolvimento. Algumas áreas em litígio podem ser consideradas estrategicamente irrelevantes e sua rendição não ser suficiente para inspirar confiança. A integração econômica regional ainda é difícil por razões diversas, entre as quais as de ordem infra-estrutural. A desigualdade demográfica inspira um senso paranóico entre os russos. Há sete chineses para cada russo e a desigualdade econômica entre os ‘sócios’ é de três para um. Isto é difícil de contornar se não se quiser se admitir haver um líder regional em uma provável união. Mas, o mais importante é que não há nenhum substituto a altura para a China como o mercado americano. Por outro lado, compartilhar a Ásia Central é virtualmente impossível por que não há como dividir os recursos que são importantes para ambos, bem como seus alvos estratégicos.

É difícil crer que o sacrifício de seu território pelos russos irá superar em atração os vínculos que formam a China moderna. Se a Rússia pretende mesmo alguma aliança terá que ir muito além.




* Adaptação de China and Russia’s Geographic Divide. By Peter Zeihan, www.stratfor.com, July 22, 2008. Leia também China e Rússia – 1.

Monday, September 15, 2008

Lenda Urbana


Anselmo Heidrich[*]

Em Inchaço da Capital[1], Oswaldo Furlan fala em nome dos moradores da Bacia do Itacorubi, importante bairro de Florianópolis. Sua indignação tem razões legítimas. Argumenta que o caos urbano está relacionado à saturação viária, escassez hídrica e energética e déficit sanitário. No entanto, sua análise é equivocada.

A culpa pela atual conjuntura, no seu modo de ver, não poderia deixar de ser outra. Atribui aos “especuladores imobiliários” a responsabilidade última por tudo que acontece. Mas, uma dúvida me ocorre... Quem faz o bairro crescer sem planejamento e controle?

Com uma população de 45.000 habitantes e outros 45.000 cidadãos que, diariamente, circulam no bairro[2], o Itacorubi tem intensa utilização de seu ambiente para as necessidades urbanas. A construção civil e os serviços imobiliários correspondem a uma parcela dos agentes que o incrementam. Portanto, descontextualizar a análise serve se não para fins políticos, para qualquer coisa que não a correta descrição do que realmente ocorre neste espaço particular.

Na rede hidrográfica da microbacia do Rio Itacorubi se encontram afluentes assoreados e poluídos que resulta de uma ocupação sem rede de esgotos, mas com fossas sépticas. Quem constrói fossas e não se preocupa em conectar seus esgotos domésticos a rede de esgotamento sanitário quando existente?

No Itacorubi, mais de 62% das quadras são localizadas em áreas irregulares e 32% estão em declividade acima de 16%, quase 30% em áreas a menos de 30 metros dos leitos fluviais etc. Por fim, apenas 37% estão situados em áreas adequadas do ponto de vista urbano.

O que isto significa? Que cabe a ocupação irregular do solo, a maior parcela de adensamento e ocupação urbana neste espaço em particular.

Portanto, se devemos “suspender” algum tipo de causa de degeneração ambiental, não deve ser justamente contra quem já tem todas as medidas jurídicas previamente tomadas antes da construção. Se a lei atualmente em vigor é insuficiente ou defasada, ela deve ser objeto de retificação via Câmara de Vereadores e não, por lobbistas da “participação popular” que, sob a desculpa de representarem a “sociedade civil” falam em nome da imensa maioria da população que depende da economia de serviços e seu mercado.

Aplicar multas às construções irregulares, sim. Lei para todos significa regularizar a propriedade, mas não punir aqueles que procuram se adequar e se esforçam para pagar todos seus tributos e ônus que lhe são, constantemente, infligidos.

No meu dicionário, responsabilizar um setor e, justamente, aquele que trabalha legalmente por todo um processo acumulativo de irregularidades é, no mínimo, desinformação, mito ou mais uma “lenda urbana” que de nada serve à construção da cidadania.


[1] Artigo publicado no Diário Catarinense de 05 de julho de 2008.

[2] PINTO; STEFFENS; OLIVEIRA. Análise Físico-Ambiental Urbana da
Microbacia do Rio Itacorubi, Florianópolis – SC, visando o uso de Software SIG
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UFSC/UDESC: Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 3011-3018.
<http://marte.dpi.inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2006/11.14.14.29/doc/3011-3018.pdf>, acessado em 15 de setembro de 2008.


[*] Professor de Geografia e mestrando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo.