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O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Friday, January 11, 2008

Aracruz confirma US$ 3,5 bi para novas fábricas no RS e na Bahia

A Aracruz confirmou nesta sexta-feira que começou a investir US$ 3,5 bilhões, quase R$ 7 bilhões no RS e na Bahia, no decorrer dos próximos cinco anos, para expandir suas florestas e produzir celulose. Em Guaíba, a produção pulará de 430 mil toneladas/ano para 1,8 milhão de toneladas/ano a partir de 2010.
No ano passado, a empresa produziu 3,1 milhões de toneladas em todas as suas fábricas. CLIQUE AQUI para examinar em detalhes os principais dados do balanço da Aracruz.
Porto Alegre, fim de semana, 12 e 13 de janeiro de 2008

Tuesday, January 08, 2008

Lula, o "venezuelano"

[Com meus comentários e seleção de mapas em vermelho.]


08 de janeiro de 2008

Brasil não é uma ditadura -nem mesmo uma protoditadura (como a Venezuela)-, mas uma democracia formal parasitada por um regime neopopulista manipulador, em que um grupo privado que ascendeu ao poder pelo voto, com base na alta popularidade de seu líder, tenta permanecer no poder sem violar abertamente a legalidade democrática, mas pervertendo a política e degenerando as instituições para manipular a opinião pública e as leis a seu favor.

Por Augusto de Franco (*)

São os bolsões de pobreza que garantem a eleição de populistas. Lula quer acabar com a pobreza? Não, o que quer é mantê-la.


Em vermelho, as regiões de menor IDH no país (http://www.brazzilbrief.com/viewtopic.php?t=8436).


SE NOSSO IDH fosse mais próximo de 0,9 (em vez de 0,8), Lula jamais governaria o Brasil. Quem garante seus votos e liderança é a pobreza. É por isso que Lula não ganha eleição para prefeito de São Bernardo. É por isso que não ganha para governador de São Paulo nem de qualquer Estado do Sul (talvez com exceção do Paraná, que só é governado pelo chavista Requião por concentrar a maior pobreza da região).


E a correspondente distribuição do Bolsa-Família (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1199222-EI6578,00.html).


São os bolsões de pobreza que garantem a eleição de populistas. Lula quer acabar com a pobreza? Não, o que quer é mantê-la, transformando as populações pobres em beneficiárias passivas e permanentes dos programas assistenciais. Ele gosta, sim, do povo, mas como massa informe de pré-cidadãos Estado-dependentes.


Façam uma análise dos levantamentos existentes, resultantes da aplicação de vários indicadores de desenvolvimento. A votação de Lula aumenta nos lugares em que esses indicadores (inclusive o IDH) diminuem. Isso não pode ser por acaso, pode? Só acontece porque Lula é um "venezuelano". Em Caracas, nosso presidente viveria feliz como pinto no lixo.

O PIB da Venezuela vem crescendo a taxas próximas de 10% nos últimos anos. Apesar disso, a Venezuela tem muitos pobres. Seu IDH é 0,784 (72º lugar no ranking mundial). Com o dinheiro do petróleo, Lula poderia fazer um super "bolsa-esmola" para economista-áulico nenhum botar defeito.

A noção de democracia de Lula casa perfeitamente com o regime político venezuelano. Lá, não vigora mais essa besteira de rotatividade (ou alternância) democrática. Autorizado, como Chávez, por uma "lei habilitante" (muito melhor do que medida provisória), Lula poderia criar, numa penada, não uma, mas meia dúzia de TVs governamentais. Poderia tirar a Globo do ar e empastelar a revista "Veja".

E, sobretudo, poderia continuar no poder indefinidamente, convocando plebiscitos e referendos para dizer que não está fazendo nada mais do que obedecer à vontade da maioria.

No dia 20/4/2005, Lula discursou em um congresso de trabalhadores: "É importante saber o que nós éramos há três anos e o que nós somos agora... O que aconteceu no Brasil... o que aconteceu no Equador, o que aconteceu na Venezuela, que foi já um pouco mais para frente (sic), e o que pode acontecer na evolução política de outros países do continente...".

No dia 29/9/2005, em outro discurso, este no Palácio do Planalto, disparou: "Eu não sei se a América Latina teve um presidente com as experiências democráticas colocadas em prática na Venezuela. Um presidente que ganha as eleições, faz uma Constituição e propõe um referendo para ele mesmo; faz um referendo e ganha as eleições outra vez. Ninguém pode acusar aquele país de não ter democracia. Poder-se-ia até dizer que tem excesso".

No dia 7/6/2007, numa entrevista a esta Folha, na embaixada do Brasil em Berlim, Lula disse: "O fato de ele (Chávez) não renovar a concessão (da RCTV) é tão democrático quanto dar. Não sei por que a diferença entre dois atos democráticos".

E no dia 14/11/2007, em outra entrevista, no Itamaraty, ele reafirmou: "Podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa. Inventem uma coisa para criticar. Agora, por falta de democracia na Venezuela, não é".

Seria preciso dizer mais? Muita atenção, porém: Lula é um "venezuelano" que quer, mas não pode se comportar como Chávez. Se tentasse "chavecar" por aqui, o problema estaria resolvido. Nossa sociedade, bem mais complexa, rejeitaria de pronto o tiranete. Lula é o Chávez possível nas condições do Brasil.

Dizendo de outro modo, o Brasil não é uma ditadura -nem mesmo uma protoditadura (como a Venezuela)-, mas uma democracia formal parasitada por um regime neopopulista manipulador, em que um grupo privado que ascendeu ao poder pelo voto, com base na alta popularidade de seu líder, tenta permanecer no poder sem violar abertamente a legalidade democrática, mas pervertendo a política e degenerando as instituições para manipular a opinião pública e as leis a seu favor.

Não ter entendido a natureza desse governo e o caráter do seu líder foi a desgraça das nossas oposições.

Até Fernando Henrique, o mais lúcido dos oposicionistas partidários, alimentou a estranha crença de que "o conteúdo simbólico da sua liderança (de Lula) é um patrimônio do país que não deve ser destruído". Pois é. Não destruíram mesmo. Preservaram, blindando Lula, infelizmente, contra a democracia.


(*) AUGUSTO DE FRANCO , 57, analista político, é autor, entre outras obras, de "Alfabetização Democrática". Foi membro do comitê executivo do Conselho da Comunidade Solidária durante o governo FHC (1995-2002).





E o resultado lógico de nossa "democracia plebiscitária e redistributiva" (http://www.duplipensar.net/diario/passado/2006_10_01_registro.html).

Monday, January 07, 2008

A ganância dos irlandeses


07/01/2008

John Murray Brown*


Há vinte anos, se podia contar nos dedos de uma das mãos quais eram os irlandeses autenticamente ricos. Hoje em dia, existem tantos ricos que nem mesmo os profissionais que administram fortunas conseguem acompanhar. O país tem tido um desempenho incrível.


Uma das conseqüências disso é que agora os irlandeses estão vendo a si próprios de uma forma diferente. A imagem de católicos humildes, mas poéticos vivendo à sombra dos empolados e esnobes protestantes ingleses não tem mais sentido para nenhum dos lados, nem mesmo como caricatura. O país de "santos e eruditos" mostrou na década passada que tem vocação também para os negócios.


Os irlandeses ganharam dinheiro em gerações anteriores, mas eles geralmente precisavam sair da Irlanda para isso. Os Conselhos de Administração de empresas nos Estados Unidos estão cheios de nomes irlandeses. Na Inglaterra também, várias das maiores empresas são dirigidas por irlandeses de primeira ou segunda geração, tais como Terry Leahy da Tesco ou Niall FitzGerald, ex-presidente da Unilever. Mas a próspera economia reverteu o fluxo de imigrantes e permitiu que esta geração de homens e mulheres irlandeses explorasse em casa seus talentos de empreendedores.


Quando a economia decolou no início da década de 1990, estava bem situado quem estivesse nos setores de imóveis e construção. O aumento dos empregos e a elevação das rendas, associado a custos muito baixos para empréstimos, ao mesmo tempo em que a Irlanda se preparava para aderir ao euro, incentivou a demanda por moradias e imóveis comerciais, pressionando alta ainda maior nos preços. No campo, os controles de planejamento eram mínimos, estimulando uma onda de pequenos projetos de construção, enquanto proprietários agrícolas com terra perto das grandes cidades tornaram-se instantaneamente milionários, e as cadeias familiares de varejo tiveram uma drástica alta em seu valor, com a chegada das grandes varejistas britânicas. Mas quem mais ganhou foram os construtores e empreiteiros que tiveram a visão de adquirir grandes bancos imobiliários antes que os preços disparassem em 1994.


Alguns críticos comparam os magnatas imobiliários da Irlanda aos oligarcas russos. Segundo uma estimativa, seis ou sete empresários possuem quase todos os imóveis comerciais em Dublin. Uma concentração como essa na propriedade provavelmente foi vista pela última vez nos dias antes da independência irlandesa. Naqueles dias a terra na Irlanda valia uma fração do que valia na Inglaterra, mas hoje em dia tem preços superiores, apesar de uma densidade populacional bem menor na Irlanda. Durante os anos de grande crescimento, os produtores agrícolas foram muito bem compensados, pois o governo deu continuidade aos programas de rodovias e infra-estrutura financiados pela União Européia. E em áreas próximas a Dublin e outras cidades, os preços da terra foram inflados, pois os conselhos municipais competiam para atrair empregos e empresas.


Essa base doméstica de imóveis valiosos lançou uma nova geração de investidores imobiliários irlandeses em direção ao mercado internacional, particularmente na antiga capital do império, Londres. Hoje, poucos negócios imobiliários em Londres são feitos sem alguma presença irlandesa. Conta-se que metade da Bond Street é irlandesa agora.


Não é de se surpreender que a emergência dos novos ricos da Irlanda não seja em geral bem-vinda. Embora a Irlanda moderna jamais tenha tido um forte movimento trabalhista ou um eixo nítido esquerda-direita em sua política, existe um pendor de igualdade social e nivelação de classes na auto-imagem nacional que não está completamente à vontade com uma grande classe endinheirada.


Mas desde que a maioria dos eleitores irlandeses continue a se beneficiar do sucesso do país, haverá pouca hostilidade orquestrada em relação aos magnatas. Os irlandeses parecem ter um apego emocional à propriedade e mais visceralmente à terra, uma atitude que alguns dizem ser um legado direto do colonialismo britânico.


"Nós temos sido pobres há tanto tempo, que qualquer forma de desenvolvimento... é bem-vinda. Não existe disposição da parte da opinião pública de ser muito crítica," diz Garret FitzGerald, primeiro-ministro na década de 1980 para o partido conservador Fine Gael. E as pessoas comuns estão se beneficiando, pelo menos da prosperidade no setor imobiliário: a proporção de riqueza nacional associada à propriedade residencial é de 74% contra a média européia de 57%. Isso está refletido na taxa de 77% de irlandeses que são donos de seus imóveis, em comparação com 71% no Reino Unido, 56% na França e apenas 43% na Alemanha.


A demanda por moradias também registra um ritmo muito mais acelerado, com 88 mil novas casas construídas em 2006, em comparação com 155 mil na Inglaterra e País de Gales, uma área como 13 vezes mais pessoas. Em 2004, a revista The Economist classificou a qualidade de vida na Irlanda como a melhor do mundo, dizendo que a Irlanda "combina os elementos mais desejáveis do novo, tais como baixo desemprego e liberdades políticas, com a preservação de certos elementos acolhedores do antigo, tais como estabilidade familiar e vida em comunidade."


Os partidos mais de esquerda, como o Trabalhista e o Sinn Fein, queixam-se do aumento das desigualdades de renda e do fato de a infra-estrutura social não se ter equiparado à riqueza privada, mas nenhum dos dois partidos tem tido bom desempenho nos últimos anos. E embora a desigualdade tenha crescido e ainda exista uma grande quantidade de pobres, que podem ser vistos nas ruas das grandes cidades, não se ouvem protestos. Uma das razões disso é que o modelo econômico e social da Irlanda sempre foi mais próximo do laissez-faire dos Estados Unidos que da Europa continental ("mais para Boston que para Berlim").


Um grupo que muitas vezes desdenha dos novos ricos da Irlanda é a venha elite irlandesa, formada principalmente por importantes funcionários públicos de Dublin, advogados, jornalistas e artistas. Segundo David McWilliams, o comentarista econômico irlandês, esse grupo está retomando o interesse pelo idioma irlandês e mandando seus filhos para escolas celtas de Dublin, onde o aprendizado é em irlandês, como forma de se diferenciar dos presunçosos recém-chegados.


Garret FitzGerald acredita que a rapidez e a escala da mudança econômica não têm paralelo em nenhum outro lugar da Europa. Entre alguns cidadãos existe, inevitavelmente, uma sensação de desorientação frente às mudanças sociais - incluindo a chegada de imigrantes em massa (10% da população atual nasceu no exterior). Além disso, a instituição que persistiu em se distanciar da adoção do "hipercapitalismo" pela Irlanda - a Igreja Católica - está mais fraca e mais marginalizada que nunca, graças em parte aos escândalos de pedofilia.


A desorientação no tigre pós-Celta foi resumida por muitos na construção de uma alta torre de aço na rua O'Connell em Dublin para marcar o milênio. Para alguns, o monumento é apenas um mastro de bandeira sem bandeira. Mas para outros, o marco - construído no lugar da antiga Coluna de Nelson, explodida pelo IRA em 1966 - traz uma mensagem provocativa a respeito da nova Irlanda, com sua nova riqueza podendo finalmente escapar da sombra de seu vizinho.


No século 19, e grande parte do século 20, os irlandeses foram à Grã-Bretanha para construir canais, estradas e outra infra-estrutura. Hoje, os empreiteiros irlandeses adquirem bens de grande importância na cidade de Londres e em outras partes da capital. Uma das conseqüências dessas mudanças no status relativo, assinala FitzGerald, é que pode ser mais difícil de se conseguir a reunificação da ilha - um projeto ainda de interesse da nacionalista Irlanda. "O norte é muito mais pobre. Eles não poderiam se dar ao luxo de se unir a nós e nós não temos como subsidiá-los," ele diz.


Ao mesmo tempo, as relações entre a Irlanda e a Grã-Bretanha, e particularmente entre os irlandeses e os ingleses, provavelmente jamais tenham sido tão boas. Enquanto os irlandeses cada vez mais olham para além da Grã-Bretanha, eles se tornaram menos irascíveis a respeito do relacionamento com seu gigante, mas em geral insensível vizinho. "O complexo de inferioridade irlandês desapareceu e o complexo de superioridade britânico se enfraqueceu," diz FitzGerald. Claro, ele acrescenta, as relações jamais serão realmente iguais e os britânicos continuam a ter uma considerável influência cultural sobre a Irlanda - a televisão britânica, por exemplo, está em toda parte. "Não se pode ter igualdade entre quatro metros e 60 metros. Mas certamente existe menos desigualdade."


O clássico ensaio de Roy Foster sobre as relações culturais anglo-irlandesas no período vitoriano recebeu o título "Marginal Men and Micks on the Make" (livremente, "Homens marginais e irlandeses tentando tirar vantagem"), descrevendo os irlandeses que se deram bem na Grã-Bretanha naquela época. Mas em seu livro mais recente sobre a Irlanda moderna, "Luck & the Irish" ("Sorte e os irlandeses"), ele descreve como a nova fartura transformou a imagem que a Irlanda tinha de si mesma. "A Irlanda é como a terceira república francesa," ele disse recentemente. "Temos a corrupção irresponsável. Temos a instabilidade política. Há uma enxurrada de dinheiro em volta e um grande momento de vigor cultural... É uma combinação interessante e de certa forma, dado o histórico da Irlanda, sem dúvida alguma libertadora."



*John Murray Brown é correspondente do The Financial Times na Irlanda

Tradução: Claudia Dall'Antonia