interceptor

Novas mensagens, análises etc. irão se concentrar a partir de agora em interceptor.
O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Friday, December 21, 2007

Que venha Godzilla!




Apesar do Japão e EUA terem sofrido um “contratempo” na II Guerra Mundial, as duas nações têm um histórico de boas relações. Dentre outras razões, o Japão serviu como cabeça-de-ponte para Washington bloquear o livre-acesso soviético ao Pacífico. Hoje, no entanto, com a entrada de novos jogadores na disputa estratégica global, esta “tradição” tem esfriado... Em Geopolitical Diary: Japan's Plans for Godzilla, Mothra and the Russian Bear se evidencia a tomada de dianteira de Tokyo em seu próprio sistema de defesa, já que os EUA não têm feito o suficiente para assegura-la na Ásia Oriental. As restrições impostas com o fim da II GM tornaram o Japão dependente militarmente, mas com ameaças diretas como o sistema de mísseis balísticos da Coréia do Norte, a marinha chinesa e o crescente poderio russo sobre o Pacífico Norte, os japoneses se tornaram um dos principais alvos regionais.


Me surpreendi ao perceber que sua maior preocupação é com a Rússia, pois acostumei-me a pensar que Moscou estivesse com os olhos fixos no Ocidente, particularmente na Europa, ou no Oriente Médio. Por meses, o Kremlin voltara-se contra o desenvolvimento de mísseis antibalísticos pelos EUA em sua periferia. Como conseqüência, o Japão requer um sistema próprio na segurança nacional.


Em 1998, os norte-coreanos testaram um míssil balístico sobre o Japão. Guardadas as devidas proporções territoriais, imagine algo como a Bolívia lançar um projétil desses sobre o nosso território detonando-o no Atlântico. É disto que se trata. E em 2006, Pyongyang lançou um novo dispositivo nuclear, de modo similar ao que fez o Paquistão no Deserto de Thar. Mas, diferentemente da pronta resposta indiana em sua fronteira paquistanesa, o Japão não tinha o que mostrar. Agora caminha para isto...


Muito embora seja de difícil concretização, a hipótese de fusão entre o poder econômico sul-coreano com o poder bélico norte-coreano relegaria o Japão, claramente, a uma condição periférica no extremo oriente. E isto significa ter que acatar com uma ou outra imposição. E por maior que seja a atual proeminência russa, a China deslancha como superpotência ascendente. Diferente de seu, territorialmente, introspectivo passado militar, Pequim adota hoje uma clara diretriz marítima aliada ao seu natural domínio terrestre.


A lembrança da guerra com a Rússia em 1904-05 marcou o Japão como única potência não européia a derrotar, até então, um país daquele continente. De lá para cá, a supremacia ocidental voltou a reinar, sem que a Rússia firme um acordo de paz com a potência asiática. Mas, por mais que o Kremlin tente assegurar, sobremaneira, uma série de objetivos geopolíticos com a atuação de Putin, seu país figura na tela do radar japonês...

Thursday, December 20, 2007

Homem do ano


Engraçado essa do Putin afirmar que os EUA desestabilizam outros países. Não se trata de uma posição visceral minha do contrário, mas negar a força desestabilizadora da Rússia contra países de seu entorno (crise das armas nucleares com a Ucrânia, o caso da infiltração de russos e chechenos na Geórgia, a guerra da Chechenia etc.) é que é dose.
Mas, tenho que admitir: esse nêgo é muito bom em introjetar dúvidas nos iranianos sobre o relatório da CIA que fala que o Irã não tem um programa nuclear bélico como sendo uma mera dissimulação para proceder a um ataque. Se Washington, segundo ele, usa essa tática, Putin por sua vez lança desconfiança entre a capital americana e Teerã ao acordo sobre o Iraque. O cara é xarope mesmo, mas consegue se enfiar entre dois negociadores e dizer "eu digo a verdade" ocultando outras tantas.
Gostei da conclusão da Stratfor de que se os EUA ficam amarrados com o Golfo Pérsico, Moscou tem as mãos livres para operar nas suas fronteiras. Mas, por outro lado se "gostei" não quer dizer que "botei fé". É um tanto otimista, demais... Aquelas fronteiras não são simples centenas de quilômetros com um México da vida. É uma mixórdia de mundos, crenças, fé, fanatismo onde o desejo maior não é migrar para um país desenvolvido atravessando o deserto, mas sim se separar e tomar o que os russos acham seu maior capital, o território. E por ironia do destino, por mais que os iranianos digam que nem estão aí pro armamento bélico, os russos não entregam combustível nuclear pros caras agora? Putin é mesmo um mestre da cizânia.


E isto ao mesmo tempo em que posa de aliado de Washington! Baita jogo! É de tirar o chapéu para esse safado. Interessante a cara-de-pau total do neoczar: Geórgia e Ucrânia não podem vir a integrar a OTAN porque ameçaria a soberania russa. Ora, o sujeito deixou explícito que enxerga o território dos vizinhos como seu! Não fez nenhuma misancene, fala mesmo como um imperador de estepes, óleo e mísseis.
E como bem sugere o analista, nada de falar de Kosovo e seus muçulmanos, apenas defende os "irmãos eslavos" da Sérvia contra uma "ameaça ocidental". Mas, é aí mesmo que ele terá que provar força e se mostrar como mais que um blefador. No mais, precisaríamos de marketing assim por aqui...

Espaço Schengen



A União Européia ampliou o seu espaço de circulação interno de 15 para 24 países. 400 milhões de pessoas serão beneficiadas para viajar sem passaporte pela Europa. O melhor disso tudo é que leis de trânsito e procedimentos serão padronizados... O que deve ser levado em conta como importante, especialmente para países que não adotam sistemas eficazes.

Sou amplamente favorável à estas regras advindas da globalização, não entendo o fenômeno como uma mera fusão de mercados, mas liberdade de fluxos em um amplo sentido. Acostumado a viajar de carro por nosso país e no exterior, este Acordo de Schengen vem como uma luva para quem busca traçar seu próprio roteiro e não se prender ao itinerário do turismo padrão.

A livre circulação de pessoas era um dos objetivos do Tratado de Roma em 1957 e que foi concretizada no referido acordo em 1985, mas só entrou em vigor dez anos depois.

O Sistema de Informação Schengen (SIS) também será unificado, permitindo a busca de pessoas desaparecidas, furtos etc. Imagine tal avanço jurídico em nossa terra sob os auspícios de uma Alca? Padrões de segurança canadenses para nossas estradas que são verdadeiros portais de cemitério...

Wednesday, December 19, 2007

Terra e dinheiro vs. Fundamentalismos


Os EUA estão intermediando um novo processo de paz entre judeus e palestinos, mas desta vez com a concessão de uma linha de crédito aos segundos. Trata-se de uma ação conjunta entre governo e setor privado americanos que corresponde a US$ 400 milhões ao desenvolvimento da sociedade palestina.


Pragmaticamente se subentende que não há paz possível sem um setor privado forte. No curto prazo são 150 projetos, entre eles, planos de moradia. Isto vai de encontro ao que defende o economista peruano Hernando de Soto em seu excelente O Mistério do Capital, no qual argumenta que só depois de instituída e assegurada a propriedade privada, ela pode deixar de ser um "capital morto" e tornar-se um ativo. A maior garantia ao fluxo de capital mundial reside na propriedade imobiliária e é por aí que deve começar o plano de estruturação para o estado palestino.


O atual acordo visa um público-alvo de jovens em centros de treinamento esportivos e de desenvolvimento de habilidades técnicas, que é uma continuação de outro, anterior voltado para pequenas empresas palestinas no valor de US$ 228 milhões.


Não se pode fazer muito mais. As tentativas de convivência mútua já expiraram. Não há "dono legítimo" como sustenta ambos os lados. Os judeus nunca abandonaram aquela terra de todo. Se houve erro histórico, este foi da Inglaterra, a detentora imperial daquelas terras e da recém-criada ONU à época. Caso as migrações tivessem ocorrido de modo espontâneo, o imbróglio não teria ocorrido daquela forma. Foi um caso de indução ao conflito e agora não adianta reclamar sobre leite derramado. O mesmo se refere ao Tibet ou ao sudoeste dos EUA. São águas passadas. Uma solução ideal estaria na laicização do Estado de Israel e nos casamentos multiétnicos. Mas, de boas intenções há um lugar que está cheio...


A ação britânica também não teve uma tendenciosidade benigna para com os judeus. Não foi o caso... Os britânicos reprimiram duramente ambos grupos, judeus e palestinos. Lembre-mos que foram os próprios judeus que os expulsaram, pondo dois prédios abaixo lotados com oficiais de Sua Majestade.


Não podia dar certo...


Eu realmente não entendo religiões, nem mística... como a dos triângulos. Os amorosos, p.ex., só dão certo em literatura degenerada baiana. Assim também na política, como foi o caso da imigração judaica vs. nacionalismo árabe vs. administração britânica. Culpa? Um estado sempre tem alguma... À época parecia razoável, mas na lógica imperial ninguém tinha relações com tribos. Até hoje é assim... Foi um erro por certo, mas difícil de imaginar onde chegaria.


Os atuais acordos promovidos pelos EUA são uma boa iniciativa, pois solução ideal não é mais possível. Em sua constituição, a idéia de um estado bi-nacional para palestinos e judeus já é tosca. Estado é estado uno. Redundâncias à parte, isto por si só já expõe a falácia geopolítica que levaria a guerra. E o mais forte venceu quatro vezes. Em uma delas de modo exemplar até hoje. Se formos julgar, não por critérios morais, mas dando à César o que é dele, Israel ganhou e merece ter seu quinhão de terra árida. Caso encerrado. Os palestinos remanescentes, no entanto, precisam ser reintegrados à economia israelense, mas assim como os judeus devem colocar seus ídolos em stand-by. Templo deve ficar de fora do business e não o contrário. Rabinos e imãs em banho-maria já.


Antes de 1947, judeus e palestinos visitavam-se, íam às mesmas festas, assim como católicos, protestantes e umbandistas no Brasil. Ninguém lembra de seu deus quando está embebedando-se ou tomando suco de laranja quando dança. Para eles, naquele momento, havia um conceito mais flexível do que "deus queria". O equívoco foi gerado quando o estado mancomunou-se com a religião. Religião de estado foi no que se tornou o judaísmo naquelas plagas e seu contraditório, a religião em busca de um estado pelos palestinos. Enquanto a propriedade não for critério individual, pessoal, mas ligado a uma etnia, não haverá paz.

Se fores um palestino e tiver água embaixo do solo que assenta tua casa, serás enxotado. Isto está além de qualquer fé: é subsistência, básica. A questão é geopolítica, onde a religião é mero expediente para uma desigualdade jurídica. Resolva-se isto, mate-se todo terrorista e a paz vinga. Terrorista merece morte rápida e asséptica, sem ressentimentos... E que se dividam os frutos do trabalho segundo critérios racionais, no sentido weberiano, isto é, não tradicionais. E ajudaria muito algum mix interétnico.


Nesta altura do campeonato querer julgar "quem estava certo" e "quem estava errado" de nada adianta. Sem vitimização, o erro foi mútuo. As primeiras levas de judeus foram rechaçadas. A reação seria lógica. Agora, não se pode culpar os palestinos nem os judeus, mas está fora de cogitação perdoar Hamas i tutti quanti. Eles merecem mísseis na cabeça. Os árabes locais têm que ter grana. Grana, consumo corrompe and I like it!


A Jordânia há muito chutou os palestinos; o Egito também. Razões de Estado... A mesma lógica egoísta move indivíduos, mas tem que haver uma inserção básica no mercado. Com o apartheid étnico e palestinos tratados como zulus em bantustões temos apenas máquinas de reproduzir criminosos, tais quais favelas brasileiras.


Aqui em Florianópolis, nosso prefeito quis deslocar uma famosa favela para nosso bairro. Nossa associação foi terminantemente contra: nem aqui nem lugar nenhum. Dissipação, i.e., misturando o grupo se aprende costumes novos e a troca surge. Quando jovens de diferentes religiões namoram, costumam afrontar seus pais e um salutar conflitos de gerações indica a mudança vindoura. Nada como blasfemar um pouquinho...


Canto da sereia - 2

Diz Reinaldo Azevedo em seu blog da Veja nesta quarta-feira:

(...)

O Banco Mundial resolveu empregar um critério de arredondamento — mesmo para a medição do PIB PPP, que é mais generoso com os países emergentes — que se usava antigamente nas escolas quando as notas eram dadas por números. Tudo o que estiver abaixo de meio ponto, eles arredondam para baixo; o que estiver acima, para cima. Assim, vejam só: segundo esse critério, o Brasil detém 2,88% do PIB mundial. Puxaram o número para cima: ficamos com 3%. O Reino Unido detém 3,46%: puxaram para baixo: ficou com 3% também.
Eu não quero que vocês acreditem em mim. Quero que vocês acreditem nos números. A tabela está aqui, com os países agrupados por regiões. O PIB PPP é a terceira coluna. Vejam lá: Brasil: 2,88%; Reino Unido: 3,46%; França: 3,39%; Rússia: 3,09%; Itália: 2,96%. DE FATO, O BRASIL ESTÁ EM 10º LUGAR. Mas isso não é tudo: caiu uma posição.
Vejam só: em 2005, o PIB mundial, diz o Bird, foi de US$ 55 trilhões. Se o Brasil tem 2,88% desse valor, estamos falando de US$ 1,584 trilhão. Se fosse 3%, US$ 1,65 trilhão, o que implicaria produzir US$ 66 bilhões a mais. Se o Reino Unido detém 3,46 dos US$ 55 trilhões, seu PIB PPP é de US$ 1,903 trilhão. Para que o Brasil realmente estivesse em pé de igualdade com este país, teria de produzir US$ 319 bilhões a mais, um crescimento no PIB de imodestíssimos 20%. Ademais, quando se trata de verificar o PIB per capita, saibam que o Brasil está abaixo da média da América Latina e da média mundial.No mais, estou feliz como todo mundo, é claro (mais informações aqui).

Tuesday, December 18, 2007

Canto da sereia

O PIB PPC (Poder de Paridade de Compra), 1 REAL = 1 DÓLAR, dá uma noção melhorada da economia nacional. Mas...

É o mesmo estratagema utilizado pelo Regime Militar brasileiro nos anos 70 ao divulgar o Brasil como 8ª economia mundial, sem dar relevo à renda per capita, que é, afinal de contas, o PIB per capita.

Esta diferença é de suma importância, pois costumamos nos esquecer do brutal tamanho de nossa população e nos encantamos facilmente com o canto da sereia dos números isolados de seu contexto social. Afinal, somos a 5ª maior população mundial e nosso PIB, grande em termos absolutos, em termos relativos ainda é anão.

Outrossim, a renda per capita que já é um índice mais depurado é apenas uma média. Algo "ideal" para os socialistas, caso verdadeiro, pois dá o valor por habitante ao ano como se todos ganhassem o mesmo. Se eu como duas galinhas por mês, o fulano nenhuma, nós comemos cada um, uma em média. A média é necessária como aproximação, mas ainda assim insuficiente para se ter uma noção da riqueza enquanto circulação do capital.

Depois ainda poderíamos aventar a renda per capita PPC, mais realista. E ainda o índice de Gini que mede a desigualdade. Veja que os países mais desiguais são os que não tiveram suas "revoluções liberais" e ainda sofrem com suas heranças mercantilistas de seus períodos coloniais. Notadamente a África está no topo do mapa da desigualdade e o Brasil , vez por outra , próximo dos piores países do mundo em desigualdade (já chegou a ser o 3º mais desigual).

Mais: temos o IDH, índice mais depurado. Este sim um índice mais apropriado que faz uma média envolvendo educação, saúde e renda. Não obstante, trata apenas de efeitos econômicos e não revela as causas. Indico para o tratamento destas o Índice de Liberdade Econômica (ILE) do Heritage Foundation que avalia o grau de liberdade econômica. Os países com melhores cotações neste índice estão entre os mais desenvolvidos do mundo.

Bem, se trata ede uma boa notícia, muito embora tão ufanista quanto dizer que o Brasil é o 2º em atração de investimentos estrangeiros, deixando de lado a face relativa do mesmo, i.e., por habitante no que o Peru tem mais que o Brasil...

Sunday, December 16, 2007

Estratégia contra os curdos

Segundo a BBC, os turcos atacaram os curdos do PKK (Partido Trabalhista Curdo) no norte do Iraque com o apoio dos EUA. A questão que me chama a atenção é que o Curdistão também tem o apoio dos EUA, bem como de outro países como o Canadá para a exploração de petróleo. Do que se deduz então, que o ataque aos curdos em questão favorece outros, provavelmente de partidos rivais. Ainda mais se levarmos em consideração que o PKK é um partido com idéias socialistas, a opção por outras vertentes fica mais fácil de entender.


Mas, para além das ideologias, há que se considerar que o PKK desestabilizava a fronteira norte do Iraque, ao adotar uma política claramente sececcionista no território turco (os curdos na região também se espalham pela Turquia). O norte do Iraque que é ocupado pelas forças americanas também se constitui numa de suas poucas áreas de maior estabilidade, bem como o fato de que a Turquia é aliada da OTAN. Neste sentido, apoiar a Turquia numa ação menor e mais rápida significa também dissipar o temor de um ataque maciço que poderia unir curdos contra invasores por terra. E, conseqüentemente, favorecer conflitos em cascata com sunitas ao sul, ansiosos por meter a mão no óleo dos curdos.


Portanto, nunca é demais lembrar que o que acontece naqueles pagos pode prescindir dos efeitos de uma guerra religiosa, como aventam analistas dominados pela idéia de 'guerras santas'. Se ao grosso da população esta idéia pode parecer sedutora, seus generais têm ambições menos etéreas e muito mais estratégicas.