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O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Saturday, June 14, 2008

A paz que vem do subsolo

Oil
and Trouble


by Bill
O'Reilly

A paz que vem do subsolo





A Conferencia Inter-religiosa na Arábia Saudita, dia 4 mostrou quão dividido é o mundo islâmico atual. Acusações dos xiitas do Irã e Hezbollah contra os sunitas de “fingirem hostilidade aos EUA” estão entre algumas de suas manifestações. Pois, há que considerar que a rivalidade entre sunitas e xiitas força os primeiros a um alinhamento com os EUA – através da possibilidade de defesa militar mesmo – contra a centralização e força dos segundos no governo iraniano. Internamente, os lideres religiosos sunitas na Arábia Saudita consideram a al-Qaeda uma ameaça nem tanto por razoes teológicas, mas pelo “internacionalismo” do agrupamento religioso que põe em cheque a estabilidade regional dessas lideranças. No meio disto tudo, o dinheiro saudita é o meio de comprar a união religiosa entre os conservadores sunitas, o que faz com que se reduza sua oposição ao “ecumenismo islâmico” de Riyadh. Um complicador adicional reside no Irã que não tem se beneficiado da alta do petróleo como os sauditas restando aos aiatolás o reforço ao financiamento de atividades xiitas no Líbano e da insuflação do Hezbollah.

Se há temor de uma guerra também há o desejo de que a situação favorável do petróleo dure com os US$ 130,00 por barril. Os sauditas sabem que isto não é permanente, só não sabem por quanto tempo ficarão lucrando assim. Se a situação de tensão com o Irã parece insustentável para manter tamanha lucratividade, as tensões têm que ser urgentemente afastadas, nem que seja com uma retórica diplomática religiosa unionista.

O aparente paradoxo dos sauditas reside na manutenção de seu alinhamento defensivo com os EUA ao mesmo tempo em que promovem uma união islâmica. A política saudita parece, portanto, ambígua. Internamente, buscam acalmar os ânimos conservadores antixiitas e contrários ao líder religioso Rafsanjani do Irã e, externamente, apóiam os grupos opositores do Hezbollah. Enquanto o Irã não desafiar os interesses de Riyadh com os lucros do petróleo, o que levaria a acionar o “gatilho yankee”, pode se deixar o país dos aiatolás em “banho-maria”.

Entre os planos de pacificação da região estão o envio de recursos à Síria e ao Líbano. Juntamente, com a Turquia, a Arábia Saudita busca uma estabilidade regional. Os sauditas também encorajam acordos entre israelenses e palestinos – o que pode, indiretamente, favorecer Damasco –, assim como há suspeitas de que estejam exercendo pressão sobre o Hamas. Não há nenhum interesse saudita no desequilíbrio e instabilidade entre Síria e Hezbollah com Israel.

Mas, sua estratégia pacificadora não reside apenas na manutenção de forças estabelecidas: cabe evitar ou eliminar que outras surjam... Os sauditas não querem ver o aumento de poder xiita no Iraque e marginalização dos sunitas no país. Assim como também não é bem vindo, o aumento da hegemonia da al-Qaeda entre os iraquianos. A partir de 2003 com exceção da região curda, o Iraque perdeu muito dinheiro devido à redução da exploração petrolífera e neste ponto é que entra a influencia e apoio saudita. Este súbito interesse pacificador saudita para assegurar a estabilidade regional implica em um reposicionamento em relação à política externa americana, o controle dos seus conservadores religiosos sunitas e uma relação de dissuasão com os xiitas iranianos.

Neste contexto de “diálogo inter-religioso”, cujos interesses por certo não são teológicos, é que tem que se entender a visita do presidente egípcio, Hosni Mubarak a Arábia Saudita na semana que passou. E não é de hoje que o Hamas tem no Sinai uma base de operações logísticas para ataques a Israel... Recentemente, dois egípcios, dois palestinos e um beduíno foram presos por carregarem artefatos militares pelo deserto e, após ser encontrado um esconderijo de mísseis terra-ar no Sinai, Mubarak sinalizou com seu interesse nos acordos de paz entre israelenses e palestinos. Cabe a ele evitar que o radicalismo do Hamas não se estenda ao Egito e permaneça retido na Faixa de Gaza. Com certeza, egípcios e sauditas têm muito a discutir.

Não se trata de um novo alvorecer no Oriente Médio, mas se as negociações de paz através do dialogo inter-religioso não tem suficiente poder, o óleo sim. Se uma paz duradoura e desejável não é possível, ao menos uma maior estabilidade pode durar tanto quanto verter o dinheiro do subsolo.

Friday, June 13, 2008

Leprechauns e paranóicos



Parece que não só os leprechauns têm exagerado no uísque e na Guiness, os teóricos da conspiração devem ter esvaziados os canecos antes...



A Irlanda votou ontem plebiscito que decide a aprovação do Tratado de Lisboa sobre as políticas econômicas de Bruxelas, assim como o aborto e a eutanásia.

Meu ponto aqui não é o tratado em si, mas sim as análises que o vêem como uma ameaça à soberania nacional, no caso a irlandesa.

Eu já visitei aquele pequeno país de cabo a rabo e o que mais vi nas estradas depois do asfalto recém colocado foi uma placa padrão que dizia “obra construída com recursos da União Européia”. Só ingênuos para não compreenderem como um país atrasado e pobre, atolado no lodo do tradicionalismo, pôde demonstrar tamanha pujança econômica atual.

Claro que eles fizeram suas reformas econômicas, sem dúvida! Mas, de onde se acha que vieram os recursos que estas reformas visaram atrair?

Só mesmo uma brutal ingenuidade para sustentar a crença de que este tipo de legislação mais liberal e permissiva à atração do capital se configura numa espécie de “autoritarismo europeu”. Só a completa ignorância para desconsiderar que a Irlanda utilizou um expediente de “guerra fiscal” à escala do estado-nação. O que prova que não existe uma submissão que os paranóicos querem enxergar num suposto “governo mundial”.

Se hoje em dia os ganhos econômicos de se integrar à União Européia parecem “arquievidentes”, nem sempre foi assim. À época de sua implantação, o empreendimento europeu era incerto e, só mesmo com a economia em frangalhos para se requerer a constituição de uma organização supranacional em detrimento do velho e seguro porto do nacionalismo. Mas, assim como não se pode levar o bônus sem carregar o ônus, não se pode ver o céu sem morrer...

Porém, acordos subentendem a aceitação de suas partes e, no caso, a U.E. não exerce “autoritarismo” algum, não porque Bruxelas não o deseje, mas simplesmente, porque não dispõe desta força. Querer nunca foi sinônimo de poder... A U.E. é tão “autoritária” que as lideranças dinamarquesas tiveram que fazer dois plebiscitos nos anos 90 porque no primeiro, o Tratado de Maastricht fora rejeitado pelos cidadãos dinamarqueses. A U.E. é tão “autoritária” que os espanhóis riram quando Copenhague quis proibir as touradas ou os bancos europeus quiseram que seus funcionários na Espanha deixassem a sesta e se adequassem ao padrão de seus horários. Evidente que não passaram tais determinações e a Espanha segue como uma das mais bem sucedidas economias européias. Aliás, ouso dizer que foi o país que melhor entendeu e se inseriu na globalização econômica mundial sem abdicar de suas particularidades culturais.

Não é tão simples assim o modus operandi da organização, nem “de cima para baixo” como vaticinam nossos “teóricos do globalismo”.

E arrisco a dizer que se fosse uma condição para sua permanência, acatar esta determinação de Bruxelas, Dublin se submeteria. Afinal, entre a realidade do atual “Tigre Celta” e o que passaram os irlandeses retratados por um “As Filhas de Ryan”, os cidadãos daquele país não devem ter dúvidas em optar pela primeira.

Porém, tal hipótese de um “jogo de soma zero político” sequer se configura. O que me impressiona não é o fato de que paranóicos descartem a realidade para fazer valer suas teorias conspiratórias. O que realmente me impressiona é que mesmo após os casos em que uma determinação de fora é rejeitada, provando que a U.E. não exerce a influência de que é acusada e, muito menos, uma suposta autoridade, mesmo assim se busca a confirmação de “autoritarismo!” Ora, qual autoritarismo se ela não é obedecida? Os dados são esfregados na ara do observador e, mesmo assim, a realidade não só é rejeitada como se tenta encaixa-la em uma hipótese ad hoc. Impressionante!

“Ideologias fast-food”, respostas rápidas e assimiláveis caem bem para aqueles que não têm compromisso com a refutação. Para esses é inadmissível que normas jurídicas do “superestado europeu” possam ser acatadas através de um plebiscito. Os teóricos do globalismo, na verdade, parecem não querer admitir que algo possa ser, democraticamente, aceito e implementado. Talvez, porque a democracia lhes pareça uma inconveniência...