A matéria abaixo, de um ponto de vista próprio africano não deixa dúvidas, para alavancar o desenvolvimento continental, o grande capital é de suma importância. Isto serve para aqueles que acreditam apenas na geração espontânea (sem inversões externas e ação estatal), como "autênticas formas" de desenvolvimento.
Morrem na praia os nacional-desenvolvimentistas que vêem com eterna desconfiança as ações globais e os ultra-liberais que acham que a privatização, por si só, é suficiente para geração e criação de riquezas. A chave está na gerência, como afirma José Chichava faltou experiência para aqueles que não sabiam gerir empresas na economia de mercado, além de escassez de crédito para as mesmas.
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INVESTIMENTO - Mega-projectos têm efeito multiplicador - ponto de vista do economista José Chichava, contrariando correntes de opinião negativistas em relação a este tipo de empreendimento
Os mega-projectos têm efeito dinamizador na atracção investimento estrangeiro e transferência deknow how, através do contacto directo com as pequenas e médias empresas nacionais prestadoras de serviços complementares àquelas indústrias. O economista José Chichava, quem defendeu esta posição defende que os mega-projectos foram a única opção que o Governo tinha para promover a imagem de Moçambique além fronteiras, no período pós guerra.
Maputo, Sexta-Feira, 11 de Dezembro de 2009
NotíciasO antigo ministro da Administração Estatal fez este pronunciamento numa cerimónia alusiva à passagem do 20º aniversários da graduação dos primeiros economistas pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM), ocasião na qual apresentou uma breve retrospectiva da economia moçambicana nos últimos 25 anos.
Contrariando aquilo que tem sido a tendência geral da crítica nacional em relação aos grandes projectos, José Chichava argumentou que o facto deste tipo empreendimentos concentrar-se apenas na sua actividade principal isso abre oportunidade de negócios para as demais empresas.
Assim, as empresas moçambicanas, ainda de acordo com José Chichava, vão a pouco e pouco aperfeiçoando a sua capacidade de prestação de serviços de melhor qualidade.
“Se formos a ver a nível do Parque Industrial de Beleluane, muitas empresas foram criadas para servirem à Mozal. A vantagem disso é que estes empresários vão ganhando tarimba sobre a prestação de um serviço com um nível de qualidade aceite internacionalmente”, referiu.
Para José Chichava nas áreas onde os mega-projectos são implantados funcionam como elementos catalizadores do desenvolvimento, tendo voltado a citar como exemplo as empresas que se instalaram à volta da Mozal.
Outro exemplo é o acordo recentemente assinado entre o Corredor do Norte e a Vale para a construção de um ramal ferroviário ligando a carbonífera de Moatize, em Nete a linha de Nacala para o transporte de carvão mineral.
Chichava antevê um desenvolvimento das comunidades que serão atravessadas pela ferrovia. “A minha opinião é que qualquer mega-projecto é benéfíco para o país, dependendo da forma como o Governo gere a política sobre este tipo de empreendimentos”.
“Quantos empregos foram criados com o funcionamento da Mozal; quantos empregos estão a ser criados em Tete pela Vale e Riversdale, ainda que na fase de construção. Se formos a Moma temos a mesma situação”.
APOSTAR NA AGRO-INDÚSTRIA
Maputo, Sexta-Feira, 11 de Dezembro de 2009
NotíciasApesar do optimismo manifestado, o antigo ministro da Administração Estatal entende que Moçambique precisa de apostar ainda mais no desenvolvimento da agro-industrial.
Reconheceu que durante muito tempo a agricultura esteve praticamente adormecida, tendo em conta a falta de condições de segurança por causa da guerra que provocou o êxodo rural.
O primeiro incentivo de que carece a agricultura são as infra-estruturas de apoio à produção como estradas e pontes e rede de distribuição de electricidade. A estrada vai abrir caminho para os camponeses poderem transportar os seus excedentes para os potenciais mercados.
É que caso não consigam vender os camponeses tenderão a reduzir a sua capacidade de produção, porque não têm nem capacidade de armazenamento nem mercado para a colocação dos produtos.
“Se o camponês tem um mercado aonde pode vender os seus produtos e a um preço aceitável, ele fica incentivado. Ao invés de produzir apenas para o auto-sustento ele vai se esforçar um pouco mais porque sabe que vai ganhar algum dinheiro. Isto significa que ele vai passar a fornecer matéria-prima à indústria e desta vai receber bens para o dia a dia, incluindo utensílios agrícolas”, referiu José Chichava.
Entende que devido aos métodos de produção rudimentares, os rendimentos por hectare continuam baixos. No arroz, por exemplo os rendimentos estão abaixo de dois hectares, para isso o país tem que investir na educação de qualidade.
“É triste o que temos vindo a assistir ultimamente, nomeadamente o facto de termos muitos graduados sem emprego devido, provavelmente à sua baixa qualidade de formação. A solução passa pela adequação dos currículos à agenda nacional de desenvolvimento. As estratégias de desenvolvimento devem ser feitas de maneira multi-sectorial. Quando os da Agricultura estão a pensar no seu sector têm de convidar outros sectores como Obras Públicas, Transportes e Académicos e investigadores que fazem parte da cadeia”.
Ainda falando da agricultura José Chichava considerou que embora Moçambique esteja já a investir no ensino técnico precisa de dar passo decisivos e acrescenta: se 40 porcento das escolas de ensino geral que temos em Moçambique fossem escolas de ensino técnico seria muito bom. Sabe-se que a implantação de uma escola de ensino representa custos devido à sua exigência de equipamento de laboratório, mas é preciso investir.
Hoje Moçambique dispõe de institutos superiores politécnicos, mas tais instituições precisam de serem alimentadas por escolas de nível básico e médio nas diversas áreas como por exemplo carpinteiros, alfaiates ou sapateiros. “Não podemos desenvolver o meio rural sem termos pessoal formado nestas áreas”.
José Chichava é da opinião de que os graduados das universidades públicas e privadas deviam fazer estágio nas zonas rurais, particularmente numa altura em que a tónica de desenvolvimento está no distrito.
ESTADO CONTINUA FRACO
Maputo, Sexta-Feira, 11 de Dezembro de 2009
Notícias“Não fomos felizes no fortalecimento do estado, nos últimos 25 anos”, refere o economista José Chichava, apontando como uma das razões do enfraquecimento a “fuga” de quadros.
Segundo ajuntou, entre as medidas que contribuiu para desincentivar a permanência de quadros do Estado foi a retirada de um subsídio técnico que era pago em dólares, por se temer que a sua manutenção poderia provocar alguns problemas ao país. Mais tarde eliminou-se a possibilidade de os funcionários poderem alienar as viaturas do Estado.
É assim que, segundo José Chichava, há um grupo de pessoas que abandona o Estado preferindo trabalhar para algumas organizações internacionais. O vazio teve que ser fechado pelo envolvimento de técnicos que nunca tinham acompanhado as discussões, o que de certa maneira colocou o país numa situação desvantajosa no processo negocial com a comunidade internacional, incluindo o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.
“Para mim este é um primeiro ponto de enfraquecimento do Estado, porque o mais correcto seria que os indivíduos mais experientes e que conheciam os dossiers fossem eles a continuar com as negociações”.
“Quando Moçambique começou a negociar com as instituições da Bretton Woods (Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional) era notória uma certa capacidade de negociação, uma capacidade que infelizmente viria a sofrer um revés com a saída dos quadros”, disse José Chichava, indicando que a Comissão Nacional do Plano, o Ministério das Finanças e o Banco de Moçambique foram vítimas de tal saída.
Neste momento, ainda de acordo com o académico, temos um estado que não ajuda a acelerar o desenvolvimento, por causa da dificuldade de facilitação dos procedimentos para o negócio.
EMPRESAS PRIVATIZADAS A GENTE SEM EXPERIÊNCIA
Maputo, Sexta-Feira, 11 de Dezembro de 2009
NotíciasEntretanto, uma vez membro da Bretton Woods, Moçambique enveredou pela privatização das empresas do Estado a favor de pessoas que se por um lado não tinham qualquer experiência de Gestão empresarial, por outro não tinham capacidade financeira nem sequer para pagar ao Estado o valor da compra das empresas.
Isso aconteceu porque segundo José Chichava, quando Moçambique optou pele economia de mercado não teve tempo suficiente para orientar os cidadãos em relação aos caminhos que deviam tomar perante esta nova realidade.
“Houve empresas que foram privatizadas numa situação delicada sob ponto de vista de viabilidade económico-financeira, razão pela qual umas funcionaram pouco tempo e outras nem sequer chegaram a abrir as portas”, disse, acrescentando que tudo isso aconteceu numa altura em que o sector financeiro não ajudava em termos de provisão de crédito.
“O desejável seria que o Estado tivesse conseguido orientar as pessoas nas várias iniciativas que iam tomando. Cada um foi fazendo a sua maneira e crescemos e conseguimos elevar a produção global”