A chamada Nova Ordem Mundial parece ter sido um pequeno sonho numa noite de verão, para não dizer que caiu no mais completo esquecimento entre aqueles que têm algum poder para fazer algo acontecer em termo globais. Após a derrocada dos regimes comunistas, uma aparente e inusitada união entre esquerdas heterodoxas e elites econômicas saudou a entrada da "Nova Ordem" como uma aurora de possibilidades. Mas, hoje em dia, as velhas e permanentes regras de disputa entre os estados retornam, na verdade, como se nunca tivessem realmente saído de cena.
Se as disputas internacionais entre as superpotências pareciam relegadas a um passado, aparentemente, distante, novas contendas envolvendo países como a Coréia do Norte, Iraque, Irã, Somália, os Bálcãs, entremeados por atentados terroristas trazem à tona rivais mais fracos, mas mais difíceis de se estabelecer um equilíbrio de forças que venha gerar alguma “estabilidade”. Mesmo porque suas "forças" residem num aspecto caótico e não suscetível de jogos diplomáticos nas bases usuais de então.
Guerras civis, muitas vezes de aspectos religiosos ou tribais, coroadas por bruscas mudanças do mercado financeiro internacional e tendências demográficas e migratórias criaram um cenário tão aleatório quanto de difícil previsão... E controle. O sistema de alianças que se espraiava do norte da Noruega ao Japão, especialmente desenhado para a Guerra Fria e implementado por décadas não se fazia mais suficiente para contemplar a nova erupção de conflitos e demandas que se disseminava pelo globo.
Para completar a estruturação desta Nova Ordem, um conjunto de agências multilaterais também foi desenvolvido. O FMI para o cuidado com o sistema financeiro internacional, o Banco Mundial para o apoio aos países pobres, o GATT para acordos e padronização do comercio internacional etc. A idéia subjacente residia na re-configuração das agências já existentes com a incorporação da Rússia numa nova arquitetura mundial. Um ambiente empresarial estável serviria não só para um Canadá ou União Européia, mas também para regimes políticos ditatoriais, como a China que não abandonaram, de todo, o comunismo. A Administração Bush tentava incorporar a própria ONU, que se encontrava em “banho Maria” nas suas relações com os EUA.
Enquanto a garantia da estabilidade econômica mundial ia sendo construída via reuniões do FMI e do G-7, a aceitação deste esquema mundial facilitaria a um país como os EUA adotar sua postura mundial “policialesca”, incluindo aí o duro trato com “estados-pária”, como Iraque e Sérvia.
Foi aí que a fantasia desabou com as crises da Ásia (1997) e da Rússia (1998). A fraqueza institucional destes blocos, bem como a tradicional corrupção, especialmente, no caso russo fizeram com que o castelo de cartas, simplesmente, desabasse. Pode-se dizer que isto não seria fácil de prever, haja vista a montanha de dinheiro captada pela Rússia. Sim, pode ser... Mas, também é uma flagrante ingenuidade confundir dinheiro com capital. Querer que a elite política russa aprendesse como fazer negócios é uma coisa, querer que eles não tratem o dinheiro e outros recursos como “apropriação” indébita após décadas de máfia comunista no poder ou séculos de tradição czarista é outra.
2 comments:
Valeu pelo interesse. Adoro essa análise. Mas também, adoro um monte delas!
Teremos outras, André. O Execout é uma mina de informações.
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