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a.h

Friday, April 17, 2009

Entrevista com Francis Fukuyama



Gosto do Fukuyama. Aqui vão algumas considerações sobre sua entrevista a Veja:



"Só vou considerar que há alternativa viável à democracia liberal se, no prazo de uma geração, o regime autoritário da China conseguir mesmo levar o país a igualar o nível de desenvolvimento dos Estados Unidos e da Europa. Acredito, porém, que esse objetivo não seja alcançável pelo atual modelo chinês."


Pois então, não sei se sou excessivamente otimista ou se abuso do economicismo teleológico com sinal trocado (ao marxismo), mas acredito na evolução do sistema chinês. Inclusive, como também ocorreu na Coréia do Sul e Japão. Embora, nestes casos tenha havido guerras com ocupação e imposição constitucional posterior... É que não consigo pensar que haja desenvolvimento econômico, o fortalecimento de uma classe economicamente dominante (para abusar do cacoete herdado do marxismo) sem que haja sua correspondente ascensão política. É como se falarmos em alguém cada vez mais rico e calado perenemente pelo medo de se expor. Classes ricas tendem a ter influência política também e isto me soa óbvio.


"As ideias que exportamos desde os tempos do presidente Ronald Reagan (1981-1989) deverão ser modificadas, pois foram justamente elas que nos impeliram para a crise atual."


Eu não tenho certeza disso, genericamente como está colocado. De que forma? Ele se refere às privatizações ou a transferência de capitais? Mesmo assim, para mim, a importância de Reagan está no enfrentamento do poderio soviético. Ele forçou a máquina até ferver. Acho que se Reagan teve méritos está igualmente no fato de que no plano de mercado defendeu a livre iniciativa, mas na política externa manteve o estado de segurança do bloco ocidental sem baixar a crista.


"O pior dessa história toda é que, na esteira da crise, estamos assistindo a um aumento do nacionalismo econômico. Não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. Seu desdobramento mais nefasto é o protecionismo. Esse movimento é um grande perigo. Sabemos das consequências do protecionismo. Não funcionou nos anos 1930 e não funcionará novamente."


Acho que aqui Fukuyama se mantém politicamente correto. O que não está sendo dito com todas as letras é o temor do protecionismo americano, a única grande ameaça com Obama. Os países periféricos estão cagados de medo de ver seu principal cliente adotar aquilo que suas elites universitárias sempre apregoaram.


"Os chineses estão usando a crise econômica global de maneira estratégica, promovendo investimentos em várias partes do mundo. Eles estão aumentando seu peso político. Também pressionam por mudanças nas instituições multilaterais para que o papel deles seja mais relevante. Acho que os chineses sairão da crise com mais poder de barganha do que tinham antes."


Perfeito. Também acho.


"Eles vivem a ilusão de que essas mudanças produzirão justiça social, mas elas são propostas por líderes populistas cujo único objetivo é aumentar o poder do Executivo. Justificam isso com programas sociais de redistribuição de renda que retiram direitos da elite e os repassam aos excluídos. É uma tendência perigosa. Se for para fazer redistribuição, que se faça com o consenso de toda a sociedade. Se não houver um consenso na sociedade para que essas mudanças ocorram, haverá uma polarização cada vez maior entre direita e esquerda."


Interessante, quando todos dizem que este grupo está se fortalecendo, ele vê um enfraquecimento no seu horizonte.


"Porque o Brasil é mais estável. É um estado federativo, com experiência na descentralização do poder. Além disso, o consenso a respeito da importância da participação política é muito maior na sociedade brasileira do que na maioria dos outros países da região."


Bem pensado, ele não é mais um que se deslumbra com a estabilidade do governo Lula, mas vê nossa estabilidade institucional que, por outro lado, tem na "república dos governadores" sua chave federativa. Isto é, a barganha é necessária para governar em Brasília. Como diz:


"O problema no Brasil é o Legislativo. As regras eleitorais dificultam a formação de maiorias no Congresso, o que força os presidentes a criar coalizões com diferentes partidos. Um presidente brasileiro jamais tem uma maioria no Congresso, como o presidente Obama tem nos Estados Unidos. Além disso, os partidos brasileiros não têm disciplina. Isso é terrível. Os partidos não podem forçar seus membros a seguir a orientação do líder, o que obriga o presidente a fazer acordos paralelos. Esse modelo favorece a corrupção e dificulta a aprovação de leis."


"Outro grande problema é que os professores são muito mal preparados. Para piorar, os pais dos alunos não estão dispostos a cobrar a melhoria do ensino nem são preparados para isso."


Sem comentários, apenas assino em baixo. No geral, gostei da entrevista.


Dá o que pensar, inclusive sua crítica ao governo Bush.



1 comment:

Efraim G. Ferraz said...

"Outro grande problema é que os professores são muito mal preparados. Para piorar, os pais dos alunos não estão dispostos a cobrar a melhoria do ensino nem são preparados para isso."

Perfeito.

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