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a.h

Tuesday, June 28, 2005

Guerra ao Iraque

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Há várias formas de se rejeitar uma idéia sobre política externa, no caso: pelos dados, pela metodologia empregada, mas a que não deve ser levada nem um pouco em consideração é a que se baseia na rejeição pura e simples de qualquer argumento, por que sempre há um plano maligno para nos dominar. Essa é a dos radicais que se acham superiores e tudo o que fazem é mentir, inclusive para si próprios.
Aqui temos um desses textos excelentes que escapou da maior atenção do público antes da 2a Guerra do Golfo.
Bem, o que se pode esperar de um público que deu mais atenção às fracas ironias de Michael Moore do que às aulas de matemática e o conhecimento geológico?
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"Os EUA desfecharão a ação contra o Iraque por suas necessidades de segurança nacional."
EUA não visam ao petróleo do Iraque

Por John Tatom

Um dos grandes fossos ideológicos que parecem resistir a qualquer análise racional é a visão segundo a qual a determinação americana de derrubar Saddam Hussein vem do desejo de assumir controle do petróleo iraquiano. Essa é a visão predominante em grande parte da Europa e compartilhada em outras regiões do mundo, especialmente no Oriente Médio. Até mesmo o sábio Nelson Mandela acredita nisso. Essa visão não é, porém, dominante, ou mesmo muito discutida, nos EUA. A despeito do cisma, a não plausibilidade dessa percepção justifica pelo menos mais um esforço para dissipar o mito.
As reservas petrolíferas iraquianas são muito grandes. Estimadas em 112,5 bilhões de barris, elas estão menores apenas do que os 261,7 bilhões de barris da Arábia Saudita. Ao preço corrente de US$ 25 por barril (acima do preço de longo prazo do petróleo e bem acima até mesmo do preço atual do petróleo bruto iraquiano), essas reservas parecem, para alguns analistas, valer cerca de US$ 3,4 trilhões - indubitavelmente um ativo atraente.
Essa valoração contradiz o fato de que o Iraque tem uma das mais baixas relações entre produção anual e reservas no mundo. Para o Iraque, esse indicador é de apenas cerca de 0,8%, o mais baixo entre os 14 maiores países produtores de petróleo com exceção do Kuait, país que opera com o mesmo percentual. Esse nível de produção relativamente baixo não depende de uma escolha gerencial ou política que possa ser modificada. Assim como no Kuait, isso acontece por causa da geologia dos campos petrolíferos e da tecnologia disponível. A produção anual ao final de 2002 era de apenas cerca de 2,6 milhões de barris/dia. Com base em US$ 25 o barril, a receita anual produzida fica em torno de US$ 23 bilhões por ano.


Uma das lições do conflito Iraque-Kuait em 1990 é que é geralmente mais barato comprar petróleo do que tentar tomá-lo de outro país


Assumindo um custo de capital em torno de 10%, a receita atual do petróleo do Iraque valeria aproximadamente US$ 230 bilhões para os EUA. Um custo de produção ou substituição do petróleo iraquiano apenas da ordem de US$ 10 por barril reduziria o valor de mercado das reservas iraquianas para cerca de US$ 140 bilhões. As estimativas mais altas para o custo de uma guerra contra o regime de Saddam Hussein apontam para o mesmo montante.
Além disso, o custo estimado da guerra ignora as enormes somas necessárias para reconstruir o Iraque. Também não inclui o serviço da dívida do país, estimado como sendo tão grande quanto o valor das reservas petrolíferas. E também não leva em conta o fato de que a subdesenvolvida economia iraquiana continuará precária durante muitos anos. Em suma, provavelmente não haverá um bônus petrolífero à disposição do vencedor em uma conquista militar.
Alguns analistas acreditam que a produção petrolífera iraquiana pode ser aumentada substancialmente.
Não há dúvida de que a capacidade produtiva iraquiana poderia se beneficiar de um acesso facilitado aos mercados e a investimentos de capital. Mas desde 1970 o país produziu mais de 3 milhões de barris por dia apenas uma vez. Foi em 1979, num esforço para financiar a aventura de Saddam Hussein no Irã, quando a produção atingiu 3,5 milhões de barris/dia. Com alguma expansão de capacidade e investimentos na infraestrutura existente, é possível que o Iraque tenha condições de restabelecer a produção de 3 milhões de barris por dia. Um aumento de 20% ou mesmo 40% não seria suficiente para transformar uma guerra visando tomar o petróleo do Iraque num empreendimento viável do ponto vista econômico.
A atual receita petrolífera gera cerca de US$ 1.200 por pessoa por ano no Iraque. Isso equivale a 50% a 75% das recentes estimativas da renda iraquiana per capita. De uma perspectiva iraquiana, esse é um valor elevado. Mas levando em conta que a renda anual por cidadão americano está em torno de US$ 100, o ganho seria trivial para o americano médio. Apoderar-se de uma grande parcela da receita líquida reduziria substancialmente a já baixa renda per capita iraquiana. Esse não é um cenário plausível, quando tanto o objetivo do esforço militar como a expectativa mundial seria de construir um Iraque mais próspero e livre. Embora se possa facilmente imaginar alguma redistribuição produtiva dessa receita petrolífera, é difícil imaginar como qualquer parte dela, mesmo com um aumento substancial, poderia ser apropriada por uma ou mais nações conquistadoras.
Agora consideremos o valor das reservas petrolíferas (em vez da receita anual por elas gerada). Se o valor das reservas é estimado em US$ 140 bilhões, isso se traduz em apenas US$ 6 mil por iraquiano. Esse valor é muito menor do que os US$ 122.500 por pessoa calculados valorando cada barril de reservas a US$ 25. Embora US$ 6 mil seja a renda de um iraquiano médio durante alguns anos, o valor per capita para o americano médio seria de apenas aproximadamente US$ 500. Isso é menos do que a restituição do imposto de renda de 2001 criada por Bush e talvez menos do que o preço da guerra.
Uma das importantes lições do conflito Iraque-Kuait em 1990 é que é geralmente mais barato comprar petróleo do que tentar tomá-lo de outro país. Isso é tão verdadeiro hoje para os EUA quanto foi para o Iraque.
Os EUA têm justificativas muito melhores do que petróleo para lançar um renovado ataque militar contra o Iraque. Os termos do cessar-fogo original no Iraque não foram cumpridos. O custo da tentativa de contenção do Iraque tem se elevado ao longo do tempo. E o que é mais importante, a contenção revelou-se impossível, em face da facilidade com que o regime de Saddam Hussein tem driblado as inspeções de armas e a obrigação de descartar suas armas de destruição em massa.
São muitos os que na Europa acreditam que a postura dos EUA é moldada por um insaciável apetite por petróleo. Talvez isso reflita a dificuldade desses europeus de compreender que os americanos desfecharão a ação contra o Iraque em conformidade com suas necessidades de segurança nacional e depois de ponderar os custos e benefícios militares. Qualquer que seja a razão, eles estão errados. Os americanos produzirão ou comprarão seu petróleo como qualquer outro povo, independente do que acontecer no Iraque.

John Tatom é professor de economia na Universidade DePaul, em Chicago, e foi diretor de pesquisa de países do UBS em Zurique.

Valor Econômico. Sexta-feira, 14 de fevereiro de 2003 - Ano 4 - Nº 699 - 1º Caderno

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