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a.h

Tuesday, September 13, 2005

Katrina e ignorância latino-americana

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Estou enjoado

por João Luiz Mauad em 12 de setembro de 2005
Resumo: A cobertura da mídia brasileira sobre os acontecimentos envolvendo o furacão Katrina foi de uma ignorância nauseante.
© 2005 MidiaSemMascara.org

A grande imprensa tupiniquim tem dado um show de arrogância, incompetência, desinformação e falta de respeito na cobertura dos fatos que envolvem a passagem do Furacão Katrina pelo sul dos Estados Unidos e a conseqüente devastação de várias cidades, principalmente Nova Orleans. Quando leio determinados jornais e assisto determinados canais de TV, parece que vejo o sangue escorrendo pelo canto da boca dos redatores, muito mais preocupados em esculhambar o governo federal dos EUA (Bush à frente), a cultura daquele país e até mesmo o seu povo, do que realmente informar. Misture a já tradicional inveja da esquerda terceiro-mundista com aquele ranço ambientalista panfletário e teremos a receita para uma cobertura, no mínimo, indigesta (eu, pelo menos, sinto o estômago embrulhar toda manhã, quando abro os jornais). Com raríssimas exceções, a grande imprensa brasileira tem colocado a culpa pelo desastroso acontecimento não na natureza, mas na "imprevidência", na "inércia" e na "ganância" dos próprios norte americanos. Fundamentam a sua esdrúxula tese, dentre outros, nos seguintes fatos:

a) A cidade de Nova Orleans foi construída em local pouco recomendável, uma vez que fica entre um lago, um grande rio e o mar, além de situar-se abaixo do nível do mar;

b) As autoridades do país negligenciaram os inúmeros alertas dos institutos de meteorologia sobre o furacão;

c) Ao se recusarem a ratificar os termos do Protocolo de Kioto, os americanos teriam se colocado (e ao resto do mundo) à mercê das forças devastadores da natureza, já que há fundadas razões para acreditar que a força do Katrina está diretamente relacionada com o aquecimento global.

Acostumados a escrever todo tipo de abobrinhas para leitores cujo nível de informação é quase nenhum e, por isso mesmo, incapazes de qualquer questionamento mais profundo, os responsáveis pelas afirmativas acima passam por cima de fatos e dados históricos, bem como da mais rudimentar pesquisa científica. Em primeiro lugar, Nova Orleans não foi fundada por americanos, mas por franceses, no tempo em que o estado da Luisiana ainda não fazia parte da federação norte americana. Esquecem-se, também, que a fundação desta cidade, como de resto da imensa maioria das cidades, deu-se de forma espontânea, não foi resultado do planejamento de governos. Aliás, muito provavelmente a proximidade com o rio e o mar foi fator determinante para o nascimento da comuna naquele local. A alegada negligência das autoridades na promoção da evacuação das cidades é um argumento patético. Todos os jornais estamparam em suas páginas, nos dias imediatamente anteriores à tragédia, fotografias de estradas repletas de automóveis movendo-se num só sentido, além de incontáveis alertas para que as pessoas abandonassem as zonas de risco. Esquecem que num país onde impera a liberdade, as autoridades não podem obrigar os cidadãos a abandonar seus lares. Podem, no máximo, sugerir e alertar. Finalmente, a alegação de que a devastação do Katrina está associada ao famigerado aquecimento global, e, conseqüentemente, à recusa do presidente Bush em assinar essa verdadeira panacéia chamada Protocolo de Kioto, é das coisas mais estúpidas de que já tivemos notícia. Bastaria uma olhada rápida na página da internet do National Hurricane Center para verificar que não há qualquer fundamento nessa afirmação. Pelo contrário, o que se verifica é que, dos vinte furacões mais intensos de todos os tempos, somente dois foram na década de noventa e nenhum após o ano 2000. Mas não precisariam chegar a tão profunda e detalhada pesquisa, bastaria a esses projetos de jornalistas, travestidos de ambientalistas, consultarem a sua fonte preferida, o The New York Times, que publicou, dia desses, o seguinte: “Como os furacões se formam sobre as águas quentes do oceano, é fácil presumir que o crescimento do número de ocorrências se deve ao aquecimento global. Este, porém, não é o caso, dizem os cientistas. Ao contrário, a severidade das tormentas muda com os ciclos de temperatura das águas no Oceano Atlântico, que costumam durar décadas. O recente ataque violento do Katrina é completamente natural, segundo William M. Gray, professor de ciências atmosféricas na Universidade do Estado do Colorado.” Não foram poucas as notícias dando conta, ainda, de que a demora na chegada do auxílio federal seria conseqüência do racismo contra os negros e pobres da região, ou que a onda de saques verificada em várias cidades seria resultado da cultura individualista. Sobre essas asneiras, peço vênia ao estimado leitor para não comentar, pois não conseguiria segurar o vômito antes de chegar ao final. Em tempo: andam dizendo por aí que Nova Orleans é a cidade norte americana que mais se parece com o Brasil. Finalmente vejo uma notícia verdadeira. Trata-se de uma cidade pobre, que fica no estado mais pobre dos EUA. Segundo consta, a corrupção por lá é endêmica (teria a cultura latina algo a ver com isso?); os governos (tanto do Estado, quanto da cidade) são, já faz algum tempo, de esquerda (democratas) e, last but not least, o povo daquela bela cidade é considerado o mais leniente do país.
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O autor é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.

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