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a.h

Sunday, February 19, 2006

Álcool combustível: efeitos ambientais e retórica ambientalista

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Analisem o texto de uma ambientalista típica. Para ela não existe o que pode ser, no curto e médio prazo, economicamente viável mesmo que não ideal.

a.h

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A hipocrisia de um combustível sustentável
Paula Lopes de Araújo (*)



Recentemente, muitos têm aclamado o incentivo ao etanol, mais precisamente, ao álcool oriundo da cana-de-açúcar, como uma alternativa de fonte energética limpa. Grande erro.
O álcool é sim um combustível renovável, sendo uma alternativa ao escasso petróleo, combustível fóssil com quantidades limitadas, além disso, o petróleo contém impurezas, como o enxofre, sendo mais poluente. Mas a produção do álcool gera uma série de poluições e depende de tantas mazelas sociais que seria hipocrisia considerá-la como uma fonte energética sustentável. Em muitas cidades onde há o cultivo de cana-de-açúcar, ainda é adotada a queimada antes do corte.
[Sim, a prática ainda é adotada por uma razão simples: viabiliza economicamente o trabalho tornando-o mais ágil, bem como torna mais fácil cortar a cana ressequida. Imagine-se um bóia-fria cortando a 'cana verde' para ver o que é difícil...]
Para cortar, é empregada mão de obra temporária, pessoas sujeitas a salário baixíssimo, desprovidas de equipamentos adequados para o trabalho perigoso. Além disso, a queimada traz uma série de conseqüências prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.
Muitos animais são mortos, a queimada pode atingir áreas naturais, e há grande lançamento de poluentes atmosféricos que atingem o sistema respiratório podendo ocasionar uma série de problemas pulmonares. Segundo pesquisadores da Faculdade de Medicina (FM) da USP, a queima da cana-de-açúcar na região de Araraquara (interior de São Paulo) provoca um aumento no número de internações por asma e hipertensão arterial na cidade. "A concentração de material particulado em suspensão durante o período da queima da cana é quase o dobro em relação ao período da não-queima", conta o médico Marcos Abdo Arbex, um dos autores do estudo. Segundo Arbex, a queima da cana, que acontece entre os meses de abril e novembro, provoca a emissão de uma espécie de fuligem, composta por 90% a 95% de partículas finas ou ultrafinas, que não são visíveis a olho nu. "Quando inaladas, essas partículas atingem os alvéolos pulmonares e a corrente sanguínea provocando uma resposta inflamatória com repercussão sobre o sistema respiratório e cardiovascular", explica o médico.
[Freqüentei Ribeirão Preto/SP por alguns anos. Ía constantemente a um campo de futebol ao lado de um canavial. As pessoas no bairro eram saudáveis. Inclusive, o bairro era de classe média e alta. Animais são raros dentro de um canavial, pois este não constitui um ecossistema natural.]
O estudo demonstrou que é maior o número de internações durante o período de queima da cana-de-açúcar. No caso da hipertensão, esse número é de 2,82 internações por dia, contra 1,92 na não-queima. Para os casos de asma são 1,43 e 0,95, respectivamente.
Entretanto, no estado de São Paulo tem-se uma postura bastante conivente. A Lei Estadual nº 11.241, de 19 de setembro de 2002 permite a queima gradativa em áreas não mecanizáveis até o ano de 2031, enquanto nas mecanizáveis vai até 2021; isso confrontando com a Lei Federal nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente), que lhe é hierarquicamente superior, a qual condena atividades poluidoras, como é o caso da queimada. Dessa forma é importante ponderarmos bem o que ouvimos por aí, pois a realidade pode ser bem diferente.
* É graduanda em Gestão Ambiental pela ESALQ/USP.
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