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O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Thursday, February 22, 2007

Como espalhar fogo no pasto: a paranóia como senso histórico

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Quem mais poderia espumar preconceitos e sofismas tão mal acabados como o paranóide-mor Jeffrey Nyquist, um dos gurus do http://www.midiasemmascara.com.br/? Em seu Falta de senso histórico, o sociólogo da costa oeste, cujo cérebro já deve ter torrado com o abrasador Sol da Califórnia, destila uma montoeira de sandices jogadas quase que aleatoriamente com informações históricas anacronicamente desconectadas.
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A descrição do avanço das hordas alemãs que cruzaram o Reno no inverno de 406-7, trazendo violência, estupros, desordem, pilhagem e tornando pessoas “livres” reféns inicia o artigo, como já se antevisse o fim da civilização. Nossa civilização equiparada ao Império Romano. Nossa? Não, quando Nyquist fala em “civilização”, bem entendido que se refere aos Estados Unidos da América e, quando muito, a um ou outro país europeu. O resto não é resto, é uma maioria ameaçadora, “bem armada”, bem articulada e disposta a tudo para destruir sua civilização.
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Assim, traçando analogias entre os bárbaros da antiguidade e imigração mundial atual, cita o avanço vândalo através da África por volta de 420:
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"Em seu furor bárbaro, eles até tomavam crianças dos peitos de suas mães e lançavam os bebês inocentes no chão. Seguravam outros pelos pés, de cabeça para baixo, e os cortavam em dois..."
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Tais feitos servem para contrapor a barbárie à civilização judaico-cristã. Mas, se tais fatos horripilantes servem para se contrapor à lei e à ordem instituídas, não pode servir para acusar esta mesma civilização que igualmente endossou prática similar alguns séculos mais tarde alhures. Conforme a dica de uma testemunha ocular:
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“Os espanhóis, com seus cavalos, suas espadas e lanças começaram a praticar crueldades estranhas; entravam nas vilas, burgos e aldeias, não poupando nem as crianças e os homens velhos, nem as mulheres grávidas e parturientes e lhes abriam o ventre e as faziam em pedaços como se estivessem golpeando cordeiros fechados em seu redil. Faziam apostas sobre quem, de um só golpe de espada, fenderia e abriria um homem pela metade, ou quem, mais habilmente e mais destramente, de um só golpe lhe cortaria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria melhor as entranhas de um homem de um só golpe. Arrancavam os filhos dos seios da mãe e lhes esfregavam a cabeça contra os rochedos enquanto que outros os lançavam à água dos córregos rindo e caçoando, e quando estavam na água gritavam: move-te, corpo de tal?! Outros, mais furiosos, passavam mães e filhos a fio de espada.”
(LAS CASAS, Frei Bartolomé de. O Paraíso Destruído: a sangrenta história da conquista da América. Porto Alegre: L&PM, 2001, p. 33-35.)
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Mas, isto seria apenas um detalhe inconveniente no curso de nossa civilização... Que por “civilização” se entende mais pros que contras, não discordo. O problema é que não há o menor senso auto-crítico no raciocínio de Nyquist. Eu poderia apostar que, dada sua falta de relativização histórica, que o autor poderia justificar tais atrocidades em nome de um “bem comum” a ser hipoteticamente alcançado por todos. E, vale a pergunta, os fins justificam os meios? Se não para o comunismo ou o nazismo, por que valeriam para o conservadorismo judaico-cristão?
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O esquema recorrente a este tipo de artigo é de que a civilização e o “motor econômico do mundo” ameaçaram ser estancados por uma “estúpida crença na doutrina da igualdade universal”. Nyquist coloca no mesmo saco invasões bárbaras aos fluxos imigratórios hodiernos. Tudo não passa de uma ação coletiva querendo destruir os fundamentos de uma civilização que já teria atingido, tão ao gosto biológico, seu clímax. Esquece o sociólogo que muitos destes braços foram convidados pelos governos centrais a suprir uma demanda reprimida por trabalho. Enfim, pior do que igualar pessoas em busca de empregos a bandidos, ele os iguala aos bárbaros. Se o crime existe em qualquer sociedade, não necessariamente qualquer sociedade sucumbiu ou sucumbirá à barbárie. A paranóia de Nyquist é de, claramente, demonizar os imigrantes tratando-os como uma chaga, uma verdadeira peste.
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“[P]or quanto tempo ela continuará pacífica?”
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É sua pergunta sobre a organização internacional entre os diversos países e seus fluxos de trabalhadores. Como se o destino final, fatalistamente traçado, fosse uma hecatombe de sentidos que abalará toda a moral ocidental.
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Seu mal disfarçado preconceito e senso discriminatório, torna-se explícito onde diz:
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“[U]m dos historiadores mais respeitados dos Estados Unidos", que fez uma brincadeira com um candidato à presidência "perguntando-lhe quais foram os cinco anos mais perigosos da história americana". O candidato ficou confuso com a pergunta. Os anos mais críticos foram certamente os da fundação da República, a Guerra da Independência, ou a Guerra Civil, ou talvez a Segunda Guerra Mundial. ‘Não’, disse o historiador, ‘são os próximos cinco anos’".
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O futuro da estabilidade mundial, particularmente de seu EUA, está no fechamento das fronteiras nacionais... É uma das mais enfáticas vozes anti-Globalização que já ouvi. Com “liberais-conservadores” desta estirpe, quem precisa de comunistas? Quando digo e afirmo que os conservadores têm os mesmos mecanismos intelectuais dos comunistas, ambos totalitários, não brinco.
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As “inovações podem ser perigosas”, por suposto que sim. E, por isto mesmo, o que resta de pragmatismo e bom senso ao presidente Bush, dada sua malfadada operação no Iraque se trata de um arremedo de solução para a inovação do conceito de “guerra preventiva”. Mas, não para Nyquist – o totalitário enrrustido -, mas a “inovação” democrática é que é perigosa:
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“A nova maioria democrata no Congresso tem seu próprio conjunto de inovações assustadoras (como uma legislação para compensar o aquecimento global, que pode ser devastadora para a economia americana). Há inovações que não queremos ver, como a dos mulás iranianos com suas bombas atômicas. Há inovações que gostaríamos de ver, como a eliminação da velhice através da ciência genética. As conseqüências de todas elas porém, são difíceis de prever. Uma inovação leva à outra e inovações geralmente conduzem à barbárie. Os nazistas surgiram da inovação, assim como os comunistas da Rússia soviética e da China. O Ocidente não quer que os iranianos controlem armamentos nucleares mas a inovação do bombardeamento preventivo da infra-estrutura nuclear de um país, expõe a força que age preventivamente a conseqüências imprevisíveis. O Presidente Truman rejeitaria um ataque preventivo ao programa nuclear de Stálin. Diz-se que o Presidente Nixon defendeu o programa nuclear de Mao contra a proposta de um ataque preventivo dos soviéticos.”
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O que a “inovação” em sedimentar eleições como prática comum em um país que vive ditaduras há décadas pode ser comparada (e igualada) ao nazismo e o comunismo? E, para tanto, toda sorte de conspirações sobrepõe-se a estratégia da Guerra Fria. Quando este furtivo analista diz “diz-se” não faz mais que adotar um recurso conveniente para deixar na indefinição de sua autoria. Quem poderia ser o autor de uma ação especificada? Descompromissadamente assim, espalha-se a mentira, como se o efeito fosse, de fato conhecido por todos por que não se prova um sujeito, um autor que poderia ser investigado e cuja acusação desmentida.
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Nyquist ainda tem o vício de um estrategista de jogo de tabuleiro em tarde chuvosa ao superestimar o poder de fogo dos EUA ao propor a destruição, literalmente, de todo arsenal nuclear de outro país. Nada de ONU se temos marines...
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A pílula anticoncepcional é tão devastadora quanto a bomba atômica? O autor sugere algo, mas não explica. Fica o dito pelo não dito e tem gente que engole este tipo de bazofia como “análise”:
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“Nós não nos inspiramos mais em modelos históricos porque ‘a bomba’ e ‘a pílula’ (ou seja, o controle da natalidade) tornaram os modelos anteriores obsoletos. (...) A bomba atômica é uma arma terrível mas uma espada é também uma arma de destruição em massa, já que uma simples espada pode cortar 10 mil gargantas.”
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A espada mata sim. Mas, tanto quanto bombas atômicas? Ridícula a comparação. O que sugere o autor? Que se invada quaisquer países que a utilizem com a mesma ênfase dos que detêm armas de destruição em massa, já que estas não foram encontradas?
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E quando Bush mudou a tônica da operação para a democratização virou por isto mesmo um “esquedista”. Ou o autor é que um ao defender a imposição de qualquer padrão de política externa pela simples força? O que o cérebro de batata cozida do Nyquist não percebe é que, mesmo detendo superioridade militar, este não é o caminho óbvio em se tratando de auferir benefícios políticos e que, se a política é a perpetuação da guerra por outros meios, isto não significa que não haja diferença entre ambas.
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“As políticas da administração Bush falharam porque elas têm a mesma perspectiva esquerdista de sua oposição democrática. O presidente Bush, a despeito do ‘rótulo de conservador’ é, na realidade, em seu modo de ver o mundo, um esquerdista. Sua missão no Iraque, iniciada como uma caça preventiva por armas de destruição em massa, mudou para a de democratização. Isso significa que a grande estratégia dos Estados Unidos dobrou a esquina da utopia e promete não dar em lugar nenhum. A causa da prevenção saiu desacreditada e agora a da democracia enfrenta o mesmo destino.”
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E, para fechar com chave de ouro, levar a democratização desacredita a propria democracia. Ué? Coisa de doido! Mas, a busca pela democracia não se constituía em um erro? Nyquist nem sabe por que escreve.

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A política endossada por Nyquist bem poderia ser caracterizada como a seguinte, quando expressa características claramente xenófobas:

A posição atual do governo americanos com relação aos brasileiros é um claro indício de como a paranóia pseudo-sociológica de Nyquist está anos-luz distante de uma preocupação de estado:

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