"A guerra educa os sentidos, concita a vontade para a ação, aperfeiçoa a constituição física."
- Emerson, Miscellanies: War.
Apesar das diferenças entre o Governo Regional Curdo (KRG) e o Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) é do interesse do primeiro manter o PKK contra os turcos preservando assim seus interesses no óleo regional, bem como os investimentos externos.
21 de outubro passado, rebeldes curdos mataram 17 soldados turcos. Com a promessa de um cessar-fogo no dia 22, o PKK conseguiu conter uma incursão turca, ao menos temporariamente. Se a Turquia esperava uma justificativa para a invasão, agora ela a tem. A Turquia tem enorme interesse em arrefecer os ânimos autonomistas do Curdistão, especialmente agora que influxos de investimentos externos têm criado a base para seu fortalecimento. Os planos de Ancara visam criar uma “zona tampão” que assegure a fronteira turca de possíveis entradas inimigas.
Para atingir seu intento, os turcos pretendem insuflar ainda mais o divisionismo interno curdo, especialmente entre dois partidos, a União Patriótica do Curdistão (PUK) de Talabani, que controla o Curdistão no sudeste iraquiano e o Partido Democrático do Curdistão (KDP) de Barzani, que controla o noroeste.
O núcleo da região curda compreende as montanhas entre a Turquia, Irã, Síria e Iraque defendendo sua etnia de uma ocupação e integração, mas que através dos séculos também ajudou a fomentar profundas rivalidades internas. Uma guerra civil envolvendo o PUK e o KDP já ocorreu em 1994. E o Partido Democrático (KDP) já apoiou o ataque turco contra o PKK em 1997, assim como a União Patriótica (PUK) recebeu alguma ajuda do Irã para lutar contra o KDP durante a Guerra Civil Curda.
Com um espírito de união desses, não é à toa que Ancara e Bagdá (nos tempos de Saddam Hussein) tenham tirado vantagens no afã de consolidar seus projetos hegemônicos ao norte e ao sul, respectivamente. Os líderes Talabani do PUK e Barzani do KDP mantiveram uma aliança conjuntural apenas por ocasião da invasão americana no Iraque para maximizarem seus benefícios. Foi a partir de então que companhias americanas e canadenses, principalmente, sentiram o terreno propício a suas incursões para o desgosto turco. E lembremos que a Turquia é uma tradicional aliada da OTAN...
No entanto, todo investimento externo é bem dividido entre o PUK e o KDP, o que revela uma frágil união entre Talabani e Barzani. Não há, portanto, um esteio econômico comum... Ancara sabe disto e não vacilará em explorar a diferença deles. Além disto, Kirkuk é uma cidade-pólo para o Curdistão, da qual tanto um quanto outro a disputam como legítimos líderes. Por trás disto tudo, a Turquia se concentra em quebrar a unidade que o Governo Regional (KRG) almeja. Ao final das contas ou a Turquia invade o Curdistão impondo um regime de força ou explora alianças regionais com Talabani, visto como mais pragmático contra Barzani, um típico guerrilheiro tribal. Com 74 anos de idade, este talvez seja o coringa que resta na manga de Talabani...
Baseado em Iraq: New Strategies. May 17, 2004 23 59 GMT. By George Friedman – www.stratfor.com
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