Acordos de paz apenas acomodaram tensões que nem por isto deixaram de existir e, se reproduzir "na surdina".
Si vis pacem, para bellum
Em termos gerais, Fukuyama está certo, o ocidente venceu. Quando vemos os atentados terroristas islâmicos ou a retórica de protesto de Putin ou os urros de Chávez, como se fosse um animal ferido, não vemos nada além de alguém que já perdeu para a globalização, para o capitalismo. Claro que não é exatamente o caso russo se pensarmos em seu potencial bélico, mas sim se pensarmos que Putin, Chávez ou mesmo Ahmadinejad não passam de hipócritas ao criticarem a globalização, pois dependem fundamentalmente do comércio externo. Como uma Venezuela poderia canalizar 60% de seus hidrocarbonetos se não fosse pela via globalizante em direção ao seu propalado (da boca para fora) inimigo, os EUA. Como Chávez sobreviveria sem o consumidor americano?
Discordo, no entanto, da visão que isto signifique um endosso a uma espécie de darwinismo social onde “o melhor irá vencer”. Em nossas sociedades não funciona assim, em parte porque as condições liberais clássicas não vigem mais, em parte porque isto não passa de um modelo, um tipo-ideal weberiano. O que quero dizer é que, mesmo em sociedades altamente competitivas, ocorre uma integração (e não, eliminação) do mais fraco. O exemplo da filantropia nos países ricos, em especial nos EUA, é perfeito. Em um reality show (excelente) como American Idol para vermos como em uma única noite são capazes de arrecadar USD 22.000.000,00 para assistência social a enfermos de aids, malária, tuberculose na África ou aos seus pobres nas Smoky Mountains (Apalaches). Isto não é o capitalismo, mas faz parte, historicamente, do desenvolvimento de sociedades capitalistas. Adam Smith que o diga… "The inhabitant of the breast, the man within, the great judge and arbiter of our conduct."
Por isto acho um erro de foco ao nos concentrarmos na economia capitalista, deixando de avaliar a sociedade capitalista como um todo, cujas relações extrapolam o próprio sentido de ser capitalista. Analogamente, não analisamos geopolítica ao nos concentrarmos em Capitalismo vs. Socialismo esquecendo-nos de que a competição, jogo e queda de braço entre EUA e Rússia ainda persiste e, desde os tempos soviéticos, nunca deixou de existir na realidade.
Poder sempre falou mais alto que capital... Não é à toa que os liberais erram tanto quanto os marxistas na sua maneira de ver o mundo, neste quesito. As relações econômicas são fundamentais, mas não são determinantes. Aliás, Marx era um dos quem mais falava em “determinações”... A esfera do homem político sempre usou, com relativa autonomia, opções que não se limitam ao que forças produtivas (em linguagem marxiana) ou tecnologia (em linguagem de gente) nos oferecem.
[Faço uma pequena defesa de Fukuyama neste post. Não de sua obra mais famosa, mas de seu percurso intelectual. Sua outra obra A Grande Ruptura, que tem um tanto de autocrítica analisa os aspectos culturais sobre os econômicos, na qual seus críticos (à direita ou à esquerda) se surpreenderiam.]
O que uma estratégia como a NEP nos revela? Mais do que uma concessão ao capitalismo, o que vemos aí é uma imanência do político sobre o econômico. Da seguinte forma:
1) Por que, assim como o capitalismo não tem uma história teleologicamente determinada em passos exatos passando por estágios fixos, o mesmo se verificou com o socialismo/comunismo;
Discordo, no entanto, da visão que isto signifique um endosso a uma espécie de darwinismo social onde “o melhor irá vencer”. Em nossas sociedades não funciona assim, em parte porque as condições liberais clássicas não vigem mais, em parte porque isto não passa de um modelo, um tipo-ideal weberiano. O que quero dizer é que, mesmo em sociedades altamente competitivas, ocorre uma integração (e não, eliminação) do mais fraco. O exemplo da filantropia nos países ricos, em especial nos EUA, é perfeito. Em um reality show (excelente) como American Idol para vermos como em uma única noite são capazes de arrecadar USD 22.000.000,00 para assistência social a enfermos de aids, malária, tuberculose na África ou aos seus pobres nas Smoky Mountains (Apalaches). Isto não é o capitalismo, mas faz parte, historicamente, do desenvolvimento de sociedades capitalistas. Adam Smith que o diga… "The inhabitant of the breast, the man within, the great judge and arbiter of our conduct."
Por isto acho um erro de foco ao nos concentrarmos na economia capitalista, deixando de avaliar a sociedade capitalista como um todo, cujas relações extrapolam o próprio sentido de ser capitalista. Analogamente, não analisamos geopolítica ao nos concentrarmos em Capitalismo vs. Socialismo esquecendo-nos de que a competição, jogo e queda de braço entre EUA e Rússia ainda persiste e, desde os tempos soviéticos, nunca deixou de existir na realidade.
Poder sempre falou mais alto que capital... Não é à toa que os liberais erram tanto quanto os marxistas na sua maneira de ver o mundo, neste quesito. As relações econômicas são fundamentais, mas não são determinantes. Aliás, Marx era um dos quem mais falava em “determinações”... A esfera do homem político sempre usou, com relativa autonomia, opções que não se limitam ao que forças produtivas (em linguagem marxiana) ou tecnologia (em linguagem de gente) nos oferecem.
[Faço uma pequena defesa de Fukuyama neste post. Não de sua obra mais famosa, mas de seu percurso intelectual. Sua outra obra A Grande Ruptura, que tem um tanto de autocrítica analisa os aspectos culturais sobre os econômicos, na qual seus críticos (à direita ou à esquerda) se surpreenderiam.]
O que uma estratégia como a NEP nos revela? Mais do que uma concessão ao capitalismo, o que vemos aí é uma imanência do político sobre o econômico. Da seguinte forma:
1) Por que, assim como o capitalismo não tem uma história teleologicamente determinada em passos exatos passando por estágios fixos, o mesmo se verificou com o socialismo/comunismo;
2) Se houve, em certo sentido (econômico) uma “concessão”, esta afastou a sociedade soviética da democracia. Foi uma usurpação que favoreceu uma determinada casta, no longo prazo, isto é, a política sobre os fatores econômicos.
O ex-professor de Lênin e posterior opositor político, Karl Kautsky acreditava na inexorabilidade do comunismo. Tanto que acreditava, piamente, na teoria marxiana de que ele, o comunismo se imporia. Errou (ainda bem). E Lênin, mais pragmático, apostou na condução deste processo por um partido de quadros.
A social-democracia que se impôs não foi uma coisa nem outra, não foi um capitalismo nem um socialismo, embora não descartasse o capitalismo como modo de funcionamento em suas bases porque este, ao contrário do socialismo, funciona.
No entanto, os arranjos políticos posteriores apontaram para outra coisa porque o político molda o econômico e, não o contrário.
Discordo de que os “avanços capitalistas em uma Rússia e China [seriam] (...) adaptações controladas para fortalecer [a] luta de classes”. Claro que os Nepmen foram surrupiados, escravizados e, em muitos casos mesmo, mortos, mas o que se seguiu foi muito mais do que isto. Para insistirmos no critério de “luta”, o que sobreveio ao final foi outra: a do partido contra a sociedade. Neste sentido, é que se assentou a NEP.
Só um adendo, Rodrigo, o Kosovo não envolve qualquer disputa entre sérvios e croatas, mas entre sérvios (minoritários na região) com uma maioria de muçulmanos de origem albanesa. E o comunismo, ou seja, o regime ditatorial na região acirrou, sobremaneira, os históricos problemas étnicos ao privilegiar a etnia sérvia. Em parte porque tais muçulmanos eram imigrados ou descendentes dos imigrados de uma república vizinha, também comunista, mas muito mais pobre, a Albânia; e, por outro lado, porque governos sucessores de matizes fascistas, como o do criminoso de guerra Slobodan Milosevic adotaram uma política claramente racista ao criar um apartheid econômico que aprovou o desemprego de muçulmanos kosovares para garantia de emprego aos sérvios.
Sem desprezar Fukuyama ou Huntington, me afino mais com a visão de Golitsyn, na medida em que:
1) “Processos naturais” não existem. Em que pese à superioridade (inquestionável) do capitalismo em matéria econômica, ele só se faz bem sucedido (socialmente falando) quando a democracia anda junto. E nem todos os países têm nela um leme confiável. A China que o diga...
O ex-professor de Lênin e posterior opositor político, Karl Kautsky acreditava na inexorabilidade do comunismo. Tanto que acreditava, piamente, na teoria marxiana de que ele, o comunismo se imporia. Errou (ainda bem). E Lênin, mais pragmático, apostou na condução deste processo por um partido de quadros.
A social-democracia que se impôs não foi uma coisa nem outra, não foi um capitalismo nem um socialismo, embora não descartasse o capitalismo como modo de funcionamento em suas bases porque este, ao contrário do socialismo, funciona.
No entanto, os arranjos políticos posteriores apontaram para outra coisa porque o político molda o econômico e, não o contrário.
Discordo de que os “avanços capitalistas em uma Rússia e China [seriam] (...) adaptações controladas para fortalecer [a] luta de classes”. Claro que os Nepmen foram surrupiados, escravizados e, em muitos casos mesmo, mortos, mas o que se seguiu foi muito mais do que isto. Para insistirmos no critério de “luta”, o que sobreveio ao final foi outra: a do partido contra a sociedade. Neste sentido, é que se assentou a NEP.
Só um adendo, Rodrigo, o Kosovo não envolve qualquer disputa entre sérvios e croatas, mas entre sérvios (minoritários na região) com uma maioria de muçulmanos de origem albanesa. E o comunismo, ou seja, o regime ditatorial na região acirrou, sobremaneira, os históricos problemas étnicos ao privilegiar a etnia sérvia. Em parte porque tais muçulmanos eram imigrados ou descendentes dos imigrados de uma república vizinha, também comunista, mas muito mais pobre, a Albânia; e, por outro lado, porque governos sucessores de matizes fascistas, como o do criminoso de guerra Slobodan Milosevic adotaram uma política claramente racista ao criar um apartheid econômico que aprovou o desemprego de muçulmanos kosovares para garantia de emprego aos sérvios.
Sem desprezar Fukuyama ou Huntington, me afino mais com a visão de Golitsyn, na medida em que:
1) “Processos naturais” não existem. Em que pese à superioridade (inquestionável) do capitalismo em matéria econômica, ele só se faz bem sucedido (socialmente falando) quando a democracia anda junto. E nem todos os países têm nela um leme confiável. A China que o diga...
2) O “Choque de Civilizações” já ocorreu e o que vemos com esta “jihad pós-moderna” não passa do estrebuchar de um corpo moribundo islâmico lamentando (com urros) por uma disputa perdida. Fria e calculisticamente falando, o terrorismo vai ser cada vez mais incorporado como um “custo” de operação às sociedades.
Prefiro me pautar por quem entende do riscado e viu o monstro... De dentro.
Com exceção da colocação de social-democratas junto aos outros grupos fascistas, eu concordaria integralmente com o último parágrafo. Aliás, a civilização, não só ocidental, mas mundial tem que entender a urgência de se armar para uma guerra... Que seria a continuação da política por outros meios, como diria um tal Clausewitz.
Prefiro me pautar por quem entende do riscado e viu o monstro... De dentro.
Com exceção da colocação de social-democratas junto aos outros grupos fascistas, eu concordaria integralmente com o último parágrafo. Aliás, a civilização, não só ocidental, mas mundial tem que entender a urgência de se armar para uma guerra... Que seria a continuação da política por outros meios, como diria um tal Clausewitz.
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