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a.h

Tuesday, September 23, 2008

EUA e Rússia: a nova militância

Militância na Nova Ordem*


Durante a Guerra Fria, a justificativa soviética para o apoio a forças revolucionárias era condizente com a teoria marxista de que a classe operária necessitava expandir-se para além fronteiras. Fossem em movimentos no México, Porto Rico ou Filipinas – ao que os EUA apoiavam anti-marxistas em Angola ou Nicarágua -, os soviéticos chegaram a influenciar os movimentos anti-guerra como o caso do Vietnã.

Além de Cuba e Alemanha Oriental, também havia campos de treinamento de guerrilha e terrorismo urbano para os insurgentes no Iêmen do Sul, Vale do Beka no Líbano, Iraque, Síria e Líbia. Mas, o maior motivador disto não era a ideologia. Esta era apenas tolerada em troca de armamento e treinamento russo.

Qual a ligação de membros do Exército Vermelho Japonês treinando em frente popular para libertação de acampamentos palestinos no Líbano? Ou de membros do IRA ensinando alemães-orientais? Italianos ministrando explosivos em acampamentos líbios ou sul-iemenitas?

Os cubanos eram muito ativos na África, América do Sul e Caribe, mas o que mais lhes interessavam não era a “teoria da revolução permanente” ou outras bobagens correlatas e sim, o dinheiro russo comprando açúcar subsidiado ou este açúcar enviado ao Vietnã via Comecon. Em contrapartida, mão-de-obra mercenária vietcong foi enviada a América Latina. Muitos ataques (dos 70 aos 90) foram feitos contra alvos americanos e seus aliados latino-americanos, graças às granadas e foguetes abandonados no Vietnã capturados e devidamente aproveitados pelos vietcongs.

O que vocês esperavam que os EUA fizessem? Ficassem de braços cruzados?


Ambiente atual

Retornando a 2008, já não temos uma república soviética com seus estados-vassalos na periferia amorfa. Tecnicamente, a Federação Russa é uma democracia constitucional com um sistema econômico semi-capitalista. Só o fato de ter se libertado de suas amarras marxistas já é um grande feito, mas os imperativos geopolíticos que conduziram ao embate na corrida armamentista entre EUA e URSS ainda permanecem. Isto é óbvio para quem procura entender a lógica de funcionamento dos estados. O que não se pode dizer daqueles que, toscamente, ainda crêem que ideologias movem as ações de estado.

Em sua estratégia, os contatos da Rússia com velhos radicais – al-Bana de Ahmed Jibril e de Sabri – estão inoperantes e outros, dos anos 70 e 80, como Carlos o Chacal e outros do Exército Vermelho Japonês ao grupo grego Novembro 17. Outros se encontram na “ala geriátrica”. Não resta, portanto, outra alternativa se não assediar os novos movimentos terceiro-mundistas. E desses há aos borbotões...

O colapso da insânia soviética foi um duro baque para o financiamento da militância terrorista que ficou a ver navios. Suas alternativas passaram ao rapto, narcotráfico e extorsão pura e simples. Nada de mais para quem já vivia no mundo do crime... Grupos guerrilheiros/terroristas na Colômbia (FARC), Filipinas (NPA) se adaptaram muito bem a esta “nova ordem”. E fizeram de um meio para atingir seus fins em um fim em si mesmo.

Nicarágua, Venezuela e Bolívia são alguns estados que substituíram o antigo papel destinado a Cuba para a Rússia colocar suas patas na região. Há movimentos nesse sentido também no México... Na América do Norte, simpatizantes no Canadá (quebecois) e a esquerda americana (Nancy Pelosi, Noam Chomsky etc.) passam as mãos na cabeça desses meliantes.

No Oriente Médio, o alvo de recente atividade russa é o Líbano e a Turquia. Nesta, a KGB tinha grande envolvimento durante a Guerra Fria sustentando o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Engana-se quem vê, toscamente, nisto uma luta pela “revolução proletária”, se trata de uma histórica rivalidade geopolítica entre estados. E a comunidade esquerdista turca agradece pelo apoio/exploração russa.

As penínsulas são lugares, histórica e espacialmente, frágeis. Provavelmente, os incentivos russos irão se dirigir para a Grécia e Itália. Na Ásia, as operações de contra-insurgência americanas contra o NPA indicam uma possível participação russa.

A retórica nacionalista do período Putin na Rússia abrangeu o apoio aos movimentos ‘bolivarianista’ na Venezuela, Bolívia e Equador. Bulgária e Sérvia também têm seus movimentos ultranacionalistas bem organizados que namoram a política externa russa, inclusive com a existência de partidos políticos.

Nesta “Nova Ordem”, a mudança ideológica russa tornou o país mais pragmático não indagando sobre a matriz ideológica do alvo, desde que seja anti-ocidental. O atual Kremlin tem se mostrado mais eficaz neste sentido do que fora a KGB. Não há mais o “divisor de águas marxista” para concessão de apoio externo.

Por exemplo, a Ku Klux Klan é bem conhecida e admirada por muitos nacionalistas russos. Uma verdadeira epidemia. Contatos europeus com grupos neonazistas ajudam a sedimentar skinheads russos. Claro que não se tratam de itens da política oficial (nem poderiam, explicitamente), mas dão idéia da cultura geral que se gesta no país. Esta rede transnacional abarca elementos de extrema-direita nos EUA, Ucrânia, países bálticos e Alemanha.

As possibilidades de capitalização russas são imensas ao pensarmos que, além do relacionamento com as Farc, existe a possibilidade de diálogo com elementos mais radicais do narcotráfico, como os violentos cartéis mexicanos. Por isto mesmo Álvaro Uribe é uma peça-chave para os EUA combaterem este dano. Political shortsightedness é o mínimo que se pode dizer de quem vê uma “luta proletária” ou ideológica neste front.

Na passagem entre a Venezuela/Colômbia e México, não podemos nos esquecer de grupos completamente mercenários como Los Kaibiles na América Central. Com sua bolsa para ataques específicos, estas “máquinas de matar” dariam aos intermediários da máfia russa e ao Kremlin uma grande vantagem comparativa nesta “economia de açougue para covardes”. O esquema de redes pode ser muito mais lucrativo (pois, tem custos bem mais baixos) do que ações diretas entre estados ou financiamento de guerrilha convencional.

Nova estrutura de esconderijos, assessores militares em exercício, ligações potenciais entre a periferia capitalista e a Rússia, acampamentos de treino da militância são alguns itens que o serviço de inteligência americano deverá focalizar. Urge ir além do paradigma de combate ao ‘jihadismo’ nos sete anos que passaram. Há muito mais por vir:




* Adaptado de Militant Possibilities on the New-Old Front. By Fred Burton and Scott Stewart, www.stratfor.com.

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