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Thursday, June 16, 2005

Desinformação ambiental

Artigo razoável, mas com final sofrível: por que 'oriental'? Isto não passa de mistificação sobre um hemisfério ou região que, supostamente, segue uma filosofia. 

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O Expressionista - 8 de maio de 2005
Christian Rocha

Recentemente vi na TV uma entrevista com o ambientalista e ex-deputado Fábio Feldmann num programa conduzido pelo Secretário Estadual de Educação e showman, Gabriel Chalita. O tema não poderia ser outro senão a importância da preservação do meio ambiente e as políticas e ações que podem ajudar neste sentido. A platéia era composta de adolescentes, o que, somado à presença de duas pessoas que gostam de ensinar, deu um ar de sala de aula ao estúdio.
É evidente que uma entrevista desse tipo, protagonizada por pessoas desse tipo, não teve o objetivo de educar verdadeiramente, mas apenas de repetir os mantras ambientalistas repetidos desde que o assunto ganhou importância, nos anos 80. Foram mencionados o Protocolo de Kyoto (e o boicote norte-americano a ele), a Eco'92, o desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica (Fábio Feldmann foi um dos fundadores da S.O.S. Mata Atlântica), a poluição nas cidades e diversas estatísticas e previsões catastróficas sobre as modificações climáticas.
Foi muito difícil, depois de ver a entrevista, dormir tranqüilo com o fato de se ter água encanada e móveis de madeira em casa. Pois, dizia o entrevistado, a Amazônia é devastada à proporção de "um Sergipe por ano" e a água é um recurso cada vez mais escasso. Tive vontade de me filiar ao Greenpeace na mesma hora, mas felizmente a entrevista foi transmitida já tarde da noite.
Dia seguinte, refeito do surto catastrófico da entrevista, pus a cabeça no lugar e refleti sobre aquilo que havia visto, comparando a entrevista com leituras como "Verdadeiro versus falso", de Alan Neil Ditchfield. Neste longo ensaio a respeito das teorias catastrófico-ambientalistas, Ditchfield desenvolve duas idéias importantes: 1) no que diz respeito ao clima e ao meio ambiente, há muito mais suposições do que certezas, não obstante os avanços progressivos da ciência; 2) interessa a muitas pessoas disseminar suposições como se fossem certezas, sob o pretexto de prevenir danos maiores ao meio ambiente.
A primeira idéia ficou evidente na entrevista. As perguntas e as respostas -- em que foi comum o tom pessoal -- não fizeram questão de esconder a ausência de precisão científica numa área que normalmente não dá espaço a suposições e ao bucolismo. Não estavam ali dois cientistas especializados no assunto, mas um educador e um ambientalista. A segunda idéia evidencia-se, neste caso específico, pela necessidade de entrevistador e entrevistado manterem seu status de atração da noite num programa de TV.
O educador tem como especialidade a transmissão de informações. Não é sua prioridade, embora seja um dever ético, certificar-se da veracidade daquilo que transmite. O ambientalista é um especialista em educação, política e planejamento ambientais. Os especialistas em meio ambiente são o ecologista, o biólogo, o engenheiro ambiental, o engenheiro agrônomo etc. Não que não seja possível um ambientalista ter conhecimentos sólidos de ecologia e meio ambiente, mas sua forma de atuar será dividida entre o meio ambiente e a burocracia de entidades e políticas ambientais.
Acontece que são essas pessoas que promovem a educação ambiental. São essas pessoas responsáveis por filtrar a informação originalmente cientifica e transformá-la em aulas e políticas públicas. Essa transformação nem sempre é isenta; ela tenderá a privilegiar grupos, entidades e pessoas ligadas ao agente transformador -- o educador ou ambientalista. E é aí que os problemas começam.
Imagine um ambientalista que se depara com pesquisas e números que contrariam suas teses iniciais. Ele será capaz de admitir seu erro? Ou ocultará as pesquisas e números em benefício de suas teses e de seu trabalho? Quantas pessoas são honestas a ponto de admitir seus próprios erros?
Nem todos, contudo, chegam ao ponto de pesquisar as variáveis que determinarão a validade de suas teses. Seus autores as dão como certas e válidas com a desculpa de serem teses 'simpáticas', 'da paz' ou 'do bem'. Esses sujeitos não se dão o trabalho de pesquisar, elaboram suas teses com base em notícias de jornal ou em pesquisas inconclusas e as vendem como verdade universal.
As pessoas que pesquisam, descobrem erros em suas teses e ocultam seus erros, são desonestas com outras pessoas. As pessoas que não chegam a pesquisar, admitindo desde cedo a validade de suas teses, são desonestas com elas mesmas.
Quando falamos em educação ambiental, encontramos esses dois tipos de pessoas -- os que se enganam e os que enganam os outros -- espalhando as idéias mais estapafúrdias, sugerindo atitudes ecologicamente corretas em nome de suposições travestidas de verdade universal.
Educação ambiental deveria ser algo bem diferente. Educar numa área em que as suposições são abundantes, as pesquisas numerosas e as certezas raras, significa ensinar a pensar, a observar a realidade e instrumentalizar as pessoas para buscar a verdade. Deve-se, nestas condições, resistir à tentação de ensinar a verdade. Em outras palavras, deve-se ensinar, não desinformar.
Não que todo lema ambientalista seja descartável. A vida nas grandes cidades comprova algumas teses já bem antigas. São evidentes, por exemplo, as diferenças entre viver numa grande cidade e viver numa floresta; por menos conhecimento que se tenha sobre o assunto, o empirismo dos pulmões elimina qualquer dúvida. O mesmo vale para a quantidade e a qualidade da água, assuntos cujas certezas surgem dos atos simples de abrir uma torneira e sentir o cheiro do ar.
Educadores ambientais deveriam ensinar as pessoas a retornar à velha fórmula empirismo+racionalismo, em vez de empurrar-lhes verdades capengas goela abaixo. Através do empirismo, o indivíduo observa a natureza e colhe informações puras -- os sentidos são suficientemente apurados para isso. Através do racionalismo o indivíduo processa as informações e, com base na lógica e na justiça, as transforma em conhecimento. Este é o ambientalismo de Thoreau, simples, aristotélico, profundo e oriental.

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