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29/06/2006
EXCLUSIVO: Invento brasileiro transforma pneus usados em mourões de cercas e dormentes de ferrovias
Mônica Pinto / AmbienteBrasil
Um problema ambiental da maior relevância – o descarte de pneus usados – pode estar com seus dias contados. E o que é melhor, gerando renda para comunidades e poupando milhares de árvores a cada ano.
O ex-empresário Reynaldo Teixeira do Amaral Júnior, hoje silvicultor no município de Bragança Paulista, observava em sua propriedade que os pneus de tratores e caminhões tornavam-se um transtorno assim que retirados dos veículos. Muito curioso – como se auto-define -, ele começou a aproveitar as carcaças para fazer tubulações pelas quais se escoavam as águas da chuva. “Tem quase vinte anos que eu venho batalhando nisso”, diz Reynaldo. Há seis, ele chegou enfim ao sucesso, patenteando técnicas simples, capazes de transformar pneus inservíveis em mourões de cercas, em dormentes de ferrovias e em cruzetas para fios de alta tensão.“Não existe no mundo coisa semelhante à que criei”, diz o inventor, que se diverte com sua assumida falta de modéstia, sobretudo agora, na expectativa de ter, até outubro, suas patentes estendidas a todos os países da Organização Mundial do Comércio - OMC.
O orgulho é justificável. O invento de Reynaldo foi levado por ele à Universidade de Campinas há cerca de um ano. “Professores da Faculdade de Engenharia Agrícola, Engenharia Civil, Engenharia Mecânica e Centro de Tecnologia da Unicamp opinaram sobre o projeto, confirmando sua característica simples e inovadora”, atesta o gestor de Projetos Danuzio Gil Bernardino da Silva.
A instituição foi solicitada a elaborar um estudo de viabilidade para o produto Mourão de Pneus, bem como desenvolver um equipamento para sua produção em escala comercial.
O gestor Danuzio é um entusiasta da idéia. “É um produto que não gera nenhum resíduo. Não necessita moagem, trituração, queima, adição de compostos químicos, ou gastos significativos de energia”, diz ele, classificando a solução como “ecologicamente simples e tecnicamente eficiente”. Por essa razão, o Ibama já deu seu aval à iniciativa do projeto.
Mais vantagens
Um segundo aspecto a se destacar é a substituição dos mourões de madeira, que só traz vantagens ao consumidor. “O ponto de incandescência de um mourão de pneu é muito superior ao de madeira, demorando mais tempo a se inflamar em caso de incêndio”, explica Danuzio, antecipando que a Unicamp busca hoje alternativas para tornar o risco de "pegar fogo" do mourão menor ainda.“O que se corta de árvore para fazer cerca é de cair para trás”, diz o inventor Reynaldo. “O Brasil usa dois bilhões de mourões por ano”, contabiliza.
Igualmente estarrecedores são os números fornecidos por ele em relação aos dormentes de ferrovias, que consumiriam 800 mil árvores de madeira de lei a cada ano.
Afora poupar tais recursos, o projeto tem ainda o mérito de atuar como potencial gerador de renda em meio a comunidades carentes, já que o equipamento está sendo pensado com o menor uso possível de componentes eletrônicos, tornando-o simples, eficiente e barato.
“É um produto que tira o pneu inservível da natureza, tem uma durabilidade fantástica em sua nova utilização, dá um uso inteligente para um produto considerado lixo, diminui consideravelmente a necessidade de uso de madeira para essa finalidade, ou seja, age de forma transversal em vários aspectos ecológicos ao mesmo tempo”, enumera o gestor de Projetos Danuzio.
Parcerias importantes
Como seria previsível, a tecnologia já despertou o interesse das empresas produtoras de pneus, sejam novos ou remoldados, obrigadas a cumprir a Resolução do Conama nº 258/99 (veja link para o resumo no final da matéria), que obriga os fabricantes e importadores de pneumáticos a coletar e destruir, de forma ambientalmente adequada, os pneus inservíveis existentes no território nacional, na proporção em que cada um participa do mercado brasileiro.
O que se faz hoje nem de longe se enquadra como destruição “de forma ambientalmente adequada”. O destino de milhares de pneus recolhidos está, quase sempre, nas indústrias cimenteiras, onde eles acabam incinerados. “Não é, nem nunca será, uma destinação ecologicamente adequada, tendo em vista que não há filtros que garantam níveis seguros de filtragem de poluentes tóxicos e cancerígenos gerados na queima desses pneus”, pondera Danuzio. “Inúmeros paises do mundo já criaram legislações específicas contra a queima que, no final das contas, atende a um interesse de poucos”, completa.
A Associação Nacional das Indústrias de Pneus – Anip – e a BSColway, líder de mercado em remoldagem de pneus do Brasil, já se manifestaram favoráveis à iniciativa da Unicamp e do inventor Reynaldo do Amaral Júnior.
Com matéria-prima e mercado garantidos, a viabilidade econômica dos produtos feitos de pneus inservíveis mostra-se promissora. No momento, a Unicamp está prospectando investidores. “Principalmente uma empresa da área de metal/mecânica, metalúrgica ou de equipamentos de reciclagem para desenvolver conosco o equipamento que vai permitir a produção em escala e com um padrão de qualidade adequado ao mercado”, informa Danuzio Gil.
Foto dos mourões de pneus cedida pela Assessoria de Comunicação da Unicamp.
Legislação associada:
É determinado que as empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos ficam obrigadas a coletar e dar destinação final, ambientalmente adequada, aos pneus inservíveis existentes no território nacional – CONAMA
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