Se preparem, com este calor extemporâneo, logo, logo teremos tempestades, vendavais e, como subproduto, aparecerão os profetas do apocalipse chamando a atenção para mais uma “prova” do aquecimento global com mais bobagens lançadas ao vento como a última palavra em ciência. Mas, como se obtém “provas” neste âmbito?
A EXXON pode financiar uma pesquisa sobre mudanças climáticas? Ela teria “isenção”, ou melhor, o pesquisador pago por ela teria tal traço sobre-humano em sua personalidade? Não, mas isto não impede que a pesquisa tenha papel relevante e objetividade... Uma grande empresa petrolífera, realmente, é parte interessada em justificar sua atividade como não agressora do meio ambiente e, por extensão, não influente em qualquer mudança climática, atualmente mal vista. Mas, uma pergunta, o principal agenciador de pesquisas e divulgações sobre o alardeado aquecimento global, a ONU, através do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) tem tal isenção? A bem da verdade, quem mais recebe recursos para “provar sua verdade”?[1]
Vejamos por que não. A ECO-92 foi um prosseguimento da Conferência de Estocolmo de 1972, na qual o Relatório Meadows – que levou a publicação de um famoso e exagerado livro Os Limites do Crescimento – enfatizara a questão ambiental pela óptica de que os recursos naturais estavam se esgotando. Ou seja, o meio ambiente passou a fazer parte da agenda internacional, justamente através de uma preocupação eminentemente econômica. E daí, alguém poderia dizer, o que isto tem a ver com a “necessária” isenção? E eu replicaria com outra pergunta, que leitura a ONU faria disto? A mesma organização internacional que criou organismos como a Cepal, cuja teoria desenvolvimentista foi seu principal esteio teórico-metodológico não poderia deixar de assegurar que para se desenvolver, faz-se necessário economizar os ditos recursos. Agora eu pergunto, o que seria melhor, que a economia do principal recurso econômico (na década de 70 e agora no século XXI igualmente), que o petróleo fosse economizado ou que sua escassez seria bem vinda, pois já teria forçado a uma mudança da matriz energética anteriormente? Em outras palavras, tal suposta isenção só nos levou a empurrar com a barriga um problema que já era latente.
E não se enganem, muitos dos que falam em “ecologia” e fazem desta retórica seu ganha-pão são, na verdade, arautos tributaristas que, tal como foi a Cepal, têm no meio ambiente e na Mamãe Gaia um pretexto para sua sanha estatista. Sua prioridade não reside no avanço tecnológico, mas sim no alcance das garras estatais via aumento da tributação.
Agora, pensemos um pouco, Al Gore foi vice de Bill Clinton, um membro dos Democratas americanos que, tradicionalmente, têm uma visão mais próxima do Welfare State europeu, isto é, uma visão em que o estado deve atuar mais, propositivamente, dirigindo a economia. E, para tanto, ele tem que, obrigatoriamente arrecadar em maior grau. Nesta linhagem política, a “solução” passa pelas multas, sanções e impostos para daí, quem sabe, obter fundos para a resolução de impactos ambientais. Uma observação: não sou contra as multas, caso haja desrespeito com alguma lei em vigor, mas sou, obviamente, contra altas cargas tributárias permanentes que mais se assemelham a uma guerra preventiva em que nada ficou provado contra um agente econômico acusado de agressão ao meio ambiente.
Outra pergunta, não haveria aí, uma forte compulsão para incentivar pesquisas de cientistas que são a priori simpáticos à idéia do aquecimento global por ação antrópica, sem que a controvérsia tenha deixado de existir? Ninguém tem dúvidas sobre o mesmo, dir-se-ia... Outro engano. Há sim, muitas dúvidas...[2]
“Não há fatos, apenas interpretações” disse um tal Nietzsche, mas, por que não algumas observações? A premissa pós-moderna herdade do filósofo alemão serve como passaporte para que muitos releguem a busca da verdade, que desdenhem da mesma em nome de uma “vontade de poder”. Tudo não passa de um jogo, mas se dinheiro por dinheiro, recurso por recurso, ambas fontes (Petrolíferas vs. Governos) nenhuma têm isenção, então prefiro “faço ciência para saber quanto posso suportar” do não menos ilustre Weber. Seja lá qual for a fonte, o debate científico existe e deve continuar com base em regras de inquirição propriamente científicas, aquelas que procuram, sistematicamente, refutar as hipóteses mais bem aceitas. Maioria não é critério para verdade em ciência.
Se X recebe recursos de quem polui, isto não impede Y de questionar a pesquisa de X, óbvio. Não tão óbvio, mas igualmente legítimo, no entanto, é que X também pode questionar a pesquisa de Y, sem necessariamente focalizar os laços políticos de X (que também existem). O que deveria estar em foco é a pesquisa, não um laço, uma amizade ou uma “concha psicológica”.[3] Recebeste financiamento de algum grupo econômico? Ou de um governo interessado em abocanhar mais do esforço de meu trabalho? Não tem problema, me passe aí teu paper que quero ver se porta erros de procedimento internos a busca objetiva de alguma explicação.
A questão do vínculo econômico não seria, portanto, objeto do debate físico-químico sobre o suposto aquecimento global antrópico, mas sim de outro debate científico, o da sociologia da ciência. Ninguém é neutro, mas isto não serve de desculpas para a falta de coerência metodológica. Dizer que todos são parte interessada não exime ninguém de aceitar as regras do “jogo de pesquisa”, estas sim, isentas.
[1] "The 12 biggest environmental pressure groups in the United States enjoy combined annual revenues of $1.9 billion, according to the latest Internal Revenue Service figures. Only 725 of the United States' 20 million companies can boast such magnificent cash flow."
[2] Cf.: Cientistas criticam relatório do IPCC, dentre muitos outros sites, links e bibliografia a serem discutidos no momento oportuno.
[3] Um psicólogo obcecado por casos de maus tratos na infância não pode ter sua pesquisa, previamente, invalidada só por que sofreu abuso sexual na infância, mas sim por que a mesma pesquisa, eventualmente, não tenha cumprido passos necessários na obtenção, objetiva, de seus resultados. Isto é, o que se critica em um debate coerente é a metodologia adotada e não os motivos (subjetivos) que levaram alguém a se interessar por seu objeto de análise.
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