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a.h

Thursday, December 27, 2007

Não importa a latitude - 2


Tomemos como exemplo nossa vizinha Argentina e o próximo Chile. O país platino é conhecido por suas vastas planícies de solos férteis e encontra-se localizado predominante em latitudes médias. O que, aliás, também ocorre com o vizinho andino, exceto por um território montanhoso na sua maioria e pequenas extensões de terra agricultável. Qual poderia ser, no entanto, a vantagem histórica do Chile sobre a Argentina? Em termos físicos, praticamente nenhuma, mas...

"O Ministro das Finanças nos apresenta, portanto, o balanço estritamente técnico da tentativa chilena de retorno à economia de mercado. É verdade que o Chile obteve alguns resultados dignos de interesse, que podem ser resumidos em uma única estatística: em 1973, por ocasião da queda de Allende, o país dependia, em 90%, de suas exportações de cobre; hoje, o cobre não representa mais do que 45% das vendas externas, graças a uma diversificação notável das pequenas e médias empresas na agricultura e na indústria. Essa reversão dos componentes do comércio exterior é essencial, porque demonstra que é possível superar o handicap fundamental da maior parte das nações do Terceiro Mundo: a dependência externa baseada na monoprodução de matéria-prima com cotação imprevisível.

"Bucchi observa que o Chile não fez mais do que aplicar uma das receitas da teoria liberal: deixar livre o jogo das vantagens comparativas. O país, portanto, voltou radicalmente as costas ao protecionismo recomendado pela CEPAL, reduziu todos os direitos de alfândega a 10%, suprimiu todas as quotas, desvalorizou a moeda e liberou, no mercado interno, todos os preços e salários. Essa terapêutica redundou numa reclassificação profunda das atividades. As indústrias que só prosperavam ao abrigo da concorrência estrangeira foram varridas, enquanto outras emergiram e prosperaram, tirando proveito do custo da mão-de-obra ou dos preços acessíveis dos recursos naturais. Foi dessa forma que as exportações de frutas, madeira e mecânica leve substituíram progressivamente o cobre. Durante esse período, os empregos e os salários tiveram sobressaltos consideráveis, causados em parte por essa política, mas, muito mais ainda pela crise mundial. No total, Bucchi e a maioria dos economistas chilenos consideram que seu país atravessou melhor esses anos que os outros países da América Latina: particularmente, o número de empregos aumentou no Chile, enquanto diminuiu na Bolívia ou na Argentina. O crescimento do Chile se revigorou, enquanto nos países vizinhos foi quase sempre nulo ou negativo."
Guy Sorman, A Nova Riqueza das Nações. Rio de Janeiro: IL: Nórdica, 1987, pp. 24-25. Grifos meus.


Bem... Eu acho que nasci para ser um jogador de rugby, mas não treinei e hoje só jogo pingue-pongue. O ‘determinismo’ não contempla todas as situações, ele depende de opções. “Possibilidades”, como diria Vidal de la Blache, geógrafo francês e grande missivista de Ratzel.

As Ilhas Cayman também “nasceram para balneário” como Cuba, mas optaram por uma especialização do Terciário que é o financeiro. As possibilidades existem, assim como a possibilidade de um decrépito ditador latino-americano fazer da ilha de Cuba seu quintal.

Voltando à “Down Under”, como é carinhosamente chamada a Austrália, a cidade setentrional de Cairns, na província de Queensland fica na latitude próxima da baiana Ilhéus. Se o grau de insolação decorrente desta localização dissesse algo, teríamos grandes similaridades. Mas, como se pode imaginar, isto não ocorre. Os pólos de desenvolvimento mais ao sul, Sydney e Melbourne poderiam ser tão inflados e deslocados em relação a sua periferia quanto São Paulo ou Rio de Janeiro, mas também não é o que se vê.

Ocorre que a federação australiana, diferentemente do caso brasileiro, é uma verdadeira federação. Até mesmo, normas como horário de verão não são decisões federais, e sim dadas pelas suas províncias. Isto é um pequeno exemplo de como uma cidade ou sua província não se sujeita aos mandos centrais postergando seu desenvolvimento. Desenvolvimento este que é, no limite, fruto de decisões políticas.

Se a teoria do desenvolvimento determinada pela localização aqui se fizesse valer, a ilha da Tasmânia na mesma Austrália lograria maior riqueza, coisa que definitivamente não ocorre. Nem alhures, como a localização tropical de Hong Kong que já chegou a deter 1/3 do PIB chinês é um problema.

Na atual conjuntura mundial da globalização, pouco importa ser ‘separado’ de uma região desenvolvida se o comércio for mantido. Basta ver o que era a Espanha antes e depois de se integrar a União Européia. Analogamente, se o Quebec se separasse do Canadá não perderia muito, exceto se juntamente a secessão também adotasse uma política protecionista aos moldes terceiro-mundistas.

A pior região do globo em termos de desenvolvimento social é a África Subsaariana, localizada predominantemente em Zona Intertropical, mas a maior população pobre do globo encontra-se em Zona Temperada Setentrional, como é o caso da multidão de países asiáticos. A própria Índia tem a maioria populacional localizada em latitudes medias. Mais uma vez, a teoria do subdesenvolvimento devido a localização em baixas latitudes é desmentida.

Desertos também podem ser considerados, mas nem eles não mais se constituem em grandes bloqueios ao desenvolvimento, como pode se observar no caso da “ilha de excelência” que é Israel envolta por um “mar de desesperança árabe”.

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