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a.h

Monday, August 25, 2008

A maré poderá ser negra


Para Dmitri Medvedev, o Ocidente precisa da Rússia, mas a Rússia não precisa do Ocidente. Se o presidente russo desdenha da ameaça de rompimento com a cooperação militar com a Otan, o premiê Vladimir Putin afirma que a Rússia não tem interesse na OMC. Como se não bastasse o apoio de Moscou a independência das regiões separatistas da Geórgia, o vizinho Azerbaidjão enviou 200.000 barris de óleo cru ao Irã. Não se trata, contudo, de uma operação econômica ordinária, o país é a porta de entrada para o petróleo do Cáspio, cujo oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan serve de rota alternativa a infra-estrutura meridional da Rússia. Uma explosão no oleoduto forçou o envio de petróleo ao Irã, comprometendo a intenção americana de isolar Teerã. Se o conflito começou por causa do Kosovo e chegou ao Cáucaso, agora ele se estende claramente ao Golfo Pérsico.

Como a Otan pouco pode fazer contra a Rússia no Cáucaso, os russos estão crescendo em suas operações regionais nesta queda de braço. Mas, em que pese sua até então bem sucedida estratégia, a Rússia não é invencível, especialmente no Mar Negro, uma imensa área critica a seu sistema defensivo. Se a Otan não tem como avançar muito em terra, no mar ela pode ameaçar os russos forçando sua pausa. A logística ocidental, tal qual a “ajuda humanitária” russa na Geórgia inclui nove navios de guerra. E não se trata de forças exclusivamente americanas, há navios espanhóis, turcos, poloneses, búlgaros e romenos para legitimar este jogo. A simples presença ascendente dos americanos nesta massa líquida exigiria dos russos uma pronta resposta. Muitíssimo mais importante do que a Geórgia, há a ligação direta com outra ex-república soviética, a Ucrânia. Realmente, não parece um bom negócio ganhar uma Geórgia para perder uma Ucrânia... Suas férteis planícies são o solo perfeito para um desembarque a partir deste “amortecedor” que é o Mar Negro. Isto seria a última coisa que os russos desejariam. O bem sucedido avanço russo num primeiro estágio poderá se configurar numa flagrante derrota mais a longo prazo. E a presença da nau capitânia Moskva é o pretexto perfeito para os EUA aumentarem e ameaçarem a implantação logística de domínio caucasiano. Tudo que o Kremlin não quer é um verdadeiro “mar negro” em seu desprotegido baixo ventre.

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