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a.h

Monday, August 04, 2008

Sardenberg está errado



Em primeiro lugar, me apetecem os artigos de Carlos Sardenberg, bem como sua aposta no livre-comércio como propulsor do desenvolvimento. Nada a objetar neste quesito e outros como sua crítica aos subsídios.[1]

Minha crítica ao seu artigo Qual é o nosso lado?, focaliza no pressuposto sobre fenômenos não econômicos, mas políticos, notadamente o terrorismo global. Diz o comentarista econômico que:

“A Rodada Doha foi lançada em novembro de 2001, na capital do Catar, apenas dois meses depois do ataque terrorista que havia derrubado as torres de Nova York. A reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio estava marcada antes do atentado - mas parecia que nem ia se iniciar. Não havia clima para negociações cujo objetivo seria facilitar o comércio internacional e, pois, a globalização.”

“O ataque acabou influenciando na outra direção. Tornou-se amplamente aceita a tese segundo a qual quanto mais crescimento, emprego e renda houvesse nos países emergentes e pobres, menor seria o espaço para o terrorismo. E ainda: quanto mais integrados os países estivessem no comércio global, também menor seria a tentação terrorista, vista como uma
espécie de desespero diante da exclusão.”

“(...) o terrorismo quase se dissipou, não era a ameaça global que parecia ser
(grifos meus).

É comum vermos liberais criticarem marxistas devido aos seus argumentos econômicos ou pseudo-econômicos, mas minha crítica a ambos se refere ao seu reducionismo econômico. Como entender o terrorismo como um mero reflexo de desigualdades econômicas? É como se os países que mantêm as melhores taxas de resolução no combate ao crime se bastassem com políticas meramente preventivas, como se psicopatas assassinos somente precisassem de “instruções sobre civilidade”.[2]

Robert Kaplan em Warrior Politics, analisa isto de modo realista, como é sua marca. Se o século XX foi marcado por regimes totalitários como o nazista, fascista e comunista, o mesmo não se dá no século atual. Porém, os mesmos movimentos populistas que tiveram a luta de classes como combustível estão a todo vapor na era da globalização. Eles não são conseqüência desta, mas se baseiam na mesma, em sites conclamando seus apoiadores a mais atos terroristas; com operações de compras de armas; instruções de fabricação de artefatos bélicos etc.

No início dos anos 90, na Índia, nacionalistas hindus atacam mesquitas,[3] na China dos movimentos separatistas tibetano e uigur, nos ataques às igrejas na Indonésia, nos ataques de assalto na Malásia por terroristas filipinos, nas bombas covardes que dilaceram turistas australianos em Bali, nos repetidos mísseis de fundamentalistas islâmicos contra Israel, ataques curdos na Turquia etc, várias forças emergentes calcadas no nacionalismo xenófobo dão as caras no mundo dos microprocessadores, dos investimentos globais e da informação em “tempo real”.

Crer que a informação trazida pela liberalização comercial seja por si só suficiente para “ilustrar” mentes doentias é o mesmo que manter a fé na recuperação de um Champinha lendo Dostoievski. As tensões advindas do choque cultural são menos guiadas por um fosso imaginário entre classes do que padrões culturais que se avizinham nas próprias urbes. Enquanto que a humanidade se transforma cada vez mais em uma sociedade urbana, a desestruturação das sociedades rurais-tradicionais traz como subproduto massas descontentes, que são o combustível de movimentos messiânicos e oportunistas.

[1] Passagem deveras interessante é a observação sobre os principais responsáveis pela lei agrícola do Congresso americano que assegura US$ 48 bilhões para os subsídios agrícolas como obra dos Democratas que detém maioria na casa. O presidente Bush, acertadamente, vetou a lei propondo limitar os subsídios para os agricultores que auferem até US$ 200 mil anuais. Um de seus maiores entusiastas é Barack Obama e John McCain um opositor.

[2] A Desigualdade Não é Causa e a Reintegração Não é Opção - I e A desigualdade não é causa e a reintegração não é opção - final.

[3] Recentemente, o terrorismo islâmico reage no país: Governo indiano pede calma, após série de atentados.

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