Há, grosso modo, três áreas de segurança vital dos Estados: energética, militar e alimentar. Os EUA têm segurança militar e alimentar, mas não energética, que não por acaso foi um dos temas centrais da campanha de B. Obama. Já China e Índia têm segurança militar, mas não energética e alimentar. A UE tem somente a alimentar (e, ainda assim, à base de subsídios bilionários para o setor agrícola) e está buscando reduzir sua perigosa dependência energética de terceiros (a começar pelo gás russo) e reequacionar sua moldura de segurança herdada da Guerra Fria. O Brasil tem segurança energética (se considerarmos que a dependência do gás boliviano não afeta a segurança nacional) e alimentar, mas não militar. Enfim, a Rússia tem segurança energética e militar, mas não alimentar.
Daí podemos inferir o seguinte: para uma empresa estrangeira, uma estratégia de médio e longo prazo na Rússia, na área de alimentos, passa por investir em produção local, além claro de seguir exportando, pois dificilmente o Estado russo vai abrir mão da substituição de importações, no sentido de reduzir sua vulnerabilidade em termos de segurança alimentar. Isto vale para frangos, suínos e produtos alimentares em geral.
Uma segunda conclusão é que a UE vai ter muitas dificuldades em reduzir ou acabar com seus subsídios agrícolas, pois sua agricultura é amplamente não competitiva e, sem os subsídios, a UE corre o risco de virar importador líquido de alimentos e abrir mais esse flanco em matéria de segurança.
Por fim, no setor de defesa, onde o Brasil é vulnerável, não aplicamos raciocínio semelhante? Podem ver que toda compra militar brasileira, sobretudo se for de grande monta, tende a ser casada com transferência de tecnologia e investimento em produção local. E, embora não estejamos muito ativos nisso agora, a ideia de subsidiar a indústria de defesa no Brasil é ideologicamente aceita por quase todo o espectro político.
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