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Wednesday, November 16, 2005

França: considerações etológicas

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A violência em Paris: considerações "sociais"

por Norma Braga em 15 de novembro de 2005
Resumo: Talvez a truculência dos recentes acontecimentos na França abra finalmente os olhos europeus para as conseqüências de uma abertura sem critérios e sem a devida valorização do que é seu.
© 2005 MidiaSemMascara.org

Mesmo após algum distanciamento quanto aos conflitos em Paris, as abundantes análises que pretendem dar conta das motivações dos jovens insurgentes dos subúrbios ainda seguem rigorosamente a agenda socialista, chamando a atenção sobretudo para a insatisfação socioeconômica. Embora o dado social realmente não deva ser desprezado, se nos despojarmos da redução marxista e atentarmos para os fatos com mais amplitude, torna-se muito clara a infeliz confluência entre essa insatisfação e o separatismo religioso que está na base da cultura religiosa muçulmana. Este último aspecto, ignorado dos discursos dos analistas, constitui-se justamente no que potencializa e até "legitima", aos olhos dos revoltosos, o ressentimento social, verificando-se determinante para a natureza e sobretudo a extrema violência dos conflitos, como veremos.

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De um lado está a política assistencialista francesa: ao chegarem na França, em vez de uma real abertura e de condições de crescimento em pé de igualdade com os cidadãos locais, os imigrantes são recebidos com a mesma condescendência de alguém que leva um bichinho de estimação para casa, trata, alimenta, mas deixa confinado a um espaço específico. Não que sejam espaços medíocres: o brasileiro médio ficaria admirado com os bairros da banlieue, que lembram a Barra da Tijuca, com prédios altos e espaços arborizados em volta. Além da educação, do seguro-saúde e do seguro-desemprego, o governo providencia playgrounds, quadras de futebol e uma variedade de programas assistencialistas para manter os "bichinhos" sempre entretidos. Assim, segundo os funcionários que trabalham nesses programas, os jovens habitantes dos subúrbios sempre têm o que fazer; no entanto, desprezam e sabotam cada uma dessas atividades, porque são "do governo". Diante do tamanho da rejeição, os analistas sociais estão tão perdidos que chegam a culpar o formato desses espaços, considerando-os "opressivos" e tentando bolar formas de mudar a arquitetura dos subúrbios. Só que, ainda segundo a metáfora, por mais que seu espaço em casa seja bonitinho, arrumadinho, com comida e água, todo bicho de estimação quer, antes de tudo, participar. Nenhum cachorro ou gato é feliz se não tem acesso aos lugares e às pessoas da casa quando quer, se não for tratado como membro da família. Não deveria ser novidade que um ser humano se sentisse ainda pior que um animal ao entender que é visto como cidadão de segunda classe, separado da sociedade até fisicamente, que dirá econômica ou culturalmente. Nesse ponto, muitos analistas concentrados nos aspectos socioeconômicos até têm razão - mas isso não justifica os imigrantes como "vítimas", apenas chama a atenção para a burrice da política "social" do governo francês. Por outro lado - e foi esse aspecto que enfatizei em meu artigo anterior, pois está ausente das análises, em geral servis ao pensamento politicamente correto - , a cultura de origem desses imigrantes é essencialmente separatista, por causa, sim, da religião. Ainda que não façam suas orações diárias a Allah voltados para Meca, esses jovens continuam a aprender dos pais que ir à praia de maiô é pecado, que andar sem a burka é pecado, que fazer isso ou aquilo é pecado - dados de uma cultura que pouco mudou em séculos. Ora, muito cedo percebem que estão em uma verdadeira ilha cercados de pecadores por todos os lados e que, pior, são os pecadores que detêm o privilégio do status quo e da auto-suficiência. Cria-se assim um dilema: os jovens criados sob esses princípios querem o mesmo status quo e a mesma auto-suficiência da condição de cidadãos, mas não sob os pressupostos da cultura que aprenderam a desprezar duplamente: pela infidelidade religiosa e pelo tratamento condescendente que receberam. Não admira que explodam em violência sem um objetivo claro, sem uma reivindicação concreta, pois, perdidos como estão, sequer sabem o que desejar, o que exigir dessa sociedade que odeiam. Como resultado, um misto de ressentimento marxista e ódio religioso dá o tom aos conflitos. Os franceses teriam muito a aprender dos americanos, mas duas lições seriam suficientes:

1) Uma verdadeira política de igualdade, com o abandono do assistencialismo e a adoção de medidas gerais para que o descendente de imigrantes seja realmente tratado como um cidadão francês - incluindo-se a submissão às mesmas leis que regem a sociedade como um todo. Não há como negar que os Estados Unidos ainda são "a terra das oportunidades", e não existe racismo ou discriminação que impeça o imigrante obstinado e laborioso de ter sucesso, como para qualquer outro cidadão americano.

2) O reconhecimento de que o multiculturalismo como base para as ações governamentais não passa de uma tática suicida, que, sob o pretexto de "acolher" e "respeitar" as diferenças culturais no próprio seio da sociedade, acaba permitindo rasgões no tecido de uma civilização construída sobre princípios de liberdade e democracia, arriscando as maiores conquistas do Ocidente. Na Holanda - onde há quinze anos a língua árabe surge ao lado do holandês em cartazes nas ruas, o que dá a dimensão da presença muçulmana no país - , além da morte ritual do cineasta Van Gogh, sabidamente têm ocorrido, em famílias de imigrantes, assassinatos para vingar a honra e operações de retirada do clitóris, sem que nada seja feito para impedir ou punir tais crimes. Isso é impensável em uma sociedade ocidental, mas está acontecendo devido à lavagem cerebral do multiculturalismo, que relativiza até a legalidade, e à covardia, pois a mentalidade muçulmana se impõe pela força - o que muitos ainda relutam em admitir. Especialistas têm advertido para a incompatibilidade entre o Islã e a democracia, mas em vão. Talvez a truculência dos recentes acontecimentos abra finalmente os olhos europeus para as conseqüências de uma abertura sem critérios e sem a devida valorização do que é seu.

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Leia também A violência em Paris e a correção política

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