___ Cândido Prunes*
O ex-ditador chileno recém falecido, Augusto Pinochet, cometeu um único erro. Tivesse ele no decorrer de seu longo mandato promovido a estatização do Chile, hoje não estaria sendo discretamente velado em Santiago. Como se sabe, Pinochet é acusado de ter sido direta ou indiretamente conivente com a tortura, a perseguição política e o assassinato de opositores. Mas tudo isso seria perdoável se ele tivesse mantido a previdência social quebrada nas mãos do governo; se ele tivesse inchado a máquina pública e distribuído cargos a mãos-cheias para os políticos; se ele tivesse feito campanhas publicitárias cínicas, tipo “o cobre é nosso”; ou se tivesse elogiado (ou visitado) ditadores socialistas, como Fidel, Mao, Pol-Pot e tantos outros que vicejaram em seu tempo. Mesmo cometendo rigorosamente todos os crimes de que vinha sendo acusado, tivesse seu governo um cunho estatizante, hoje as autoridades chilenas estariam correndo para emprestar o nome do falecido ditador a ruas, praças, hospitais, colégios e até mesmo alguma importante fundação.
Fenômeno contrário se deu no Brasil. O Sr. Getúlio Vargas foi uma espécie de Augusto Pinochet não-militar. Governou o País com o Congresso fechado. Perseguiu implacavelmente a oposição. Foi conivente com a tortura. Censurou jornais (em alguns casos foi muito além: simplesmente os destruiu fisicamente). Proibiu a publicação de livros. Assassinou os inimigos do regime. Impôs o exílio para intelectuais, militares e políticos que não concordavam com os rumos do governo. Acobertou crimes de familiares. Foi simpatizante dos piores regimes totalitários (a Alemanha, de Hitler e a Itália, de Mussolini). Tolerou a corrupção, que chegou até às ante-salas do poder. Todos os crimes e vícios que são apontados contra o famigerado General Pinochet, foram cometidos em maior ou menor escala por Getúlio Vargas e/ou seus asseclas.
A diferença entre o tratamento benigno que hoje se dispensa no Brasil ao ditador tupiniquim e no Chile ao ditador andino reside na agenda econômica. Graças à estatização, ao engessamento das relações trabalhistas, à regulamentação da economia, ao “aparelhamento” da administração pública, enfim, tudo aquilo que hoje atrasa o Brasil, não há cidade que não tenha uma avenida com o nome “Getúlio Vargas”. Para não falar nos milhares de bustos e placas da famosa “carta testamento”. Já no Chile, ainda que nos últimos anos experimente uma onda sem precedentes de progresso econômico graças às reformas do período Pinochet, dificilmente o atual governo dará o nome do ex-ditador a uma mísera ruela, ou mesmo a um beco.
Essa constatação não se faz para justificar violação aos direitos humanos. Muito menos assassinato ou perseguição a opositores políticos. Ao contrário, ela é feita para demonstrar o tratamento cínico que os socialistas dispensam a seus ditadores. Por exemplo, se alguém interromper a lua-de-mel do arquiteto Oscar Niemeyer e lhe perguntar sua opinião sobre Pinochet, ele só terá críticas. Entretanto, para Vargas, ele será capaz de elogios, seguindo seu contemporâneo e correligionário Luiz Carlos Prestes, que mesmo preso e torturado pelo Estado Novo, em nome de interesses políticos terminou aliado do ditador.
Nem se argumente que a escala de assassinatos, torturas e corrupção no Chile de Pinochet foi muito maior do que no Brasil da Era Vargas (ou no do regime militar de 1964). Se for para fazer comparações, a Cuba de Fidel, a China de Mao e as demais ditaduras socialistas do século XXI apresentaram um rol de atrocidades incomparavelmente maior que o do Chile. Os crimes cometidos no varejo pelas ditaduras consideradas de direita não servem para absolver os crimes praticados no atacado pelas ditaduras de esquerda.
Aqueles que justamente criticam o governo do General Pinochet pela violência e a corrupção deveriam aproveitar a ocasião e dispensar o mesmo tratamento aos tiranos locais que, ainda por cima, cercearam as liberdades econômicas causando um quarto de século de estagnação.
* Vice-Presidente do Instituto Liberal
http://www.institutoliberal.org.br/
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