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a.h

Wednesday, January 02, 2008

Os limites de Chávez


Debates
Dorothy Kronick, Caracas y Miami


O domingo de referendo constitucional da Venezuela chegou exatamente três meses depois que Yorvin Rodríguez, de 16 anos, foi assassinado a tiros. Enquanto os últimos votantes faziam fila frente à urna localizada no Colegio Parroquial Monseñor Arturo Celestino, em La Vega – comunidade pobre ao sudoeste de Caracas –, a mãe de Yorvin, Zulaima, esperava sentada na igreja para ouvir o nome de seu filho em uma longa lista de mortos que eram lembrados nessa mesma tarde.
Zulaima é uma entre os 3 milhões de venezuelanos que votaram por Hugo Chávez nas eleições de dezembro de 2006, mas que não votaram na reforma constitucional (Chávez recebeu 7,3 milhões de votos no ano passado, enquanto a reforma registrou apenas 4,3 milhões de votos a favor). “Participei e apoiei Chávez no passado”, conta Zulaima. “Mas agora não consegui sair de casa para votar. Simplesmente, estava triste demais. E, quando se está triste, é difícil sair.
”Muitos do vizinhos de Zulaima em La Vega tomaram a mesma decisão: ainda que mais 40 mil acudiram a votar por Chávez na eleição presidencial (65% dos vizinhos que compareceram às urnas), somente 23 mil) votaram pela reforma constitucional (48%).
O declínio no apoio à Chávez nesse bairro reflete uma das duas grandes lições deixadas pelo referendo. Em primeiro lugar, quea insegurança, a inflação e a escassez de alimentos fizeram minguar o apoio popular no qual residia grande parte da fortaleza do presidente bolivariano. Trata-se de um fator inédito nos nove anos que este leva à frente do país e que acontece apesar da receita recorde conquistada pela petroleira estatal Pdvsa, destinada em grande parte ao investimento social. A segunda grande lição é que o apoio das Forças Armadas Nacionais (FAN) a sua revolução tampouco é incondicional. Dois fatores que relativizam seus sonhos de governar até 2050 e que, de quebra, pressionarão a uma mudança de estilo em 2008, que vêm com novas eleições no país.
“O descontentamento com a insegurança e a alta nos preços dos alimentos tiveram um papel muito importante nesse resultado”, diz Francisco Rodríguez, analista político venezuelano e professor da Universidade de Wesleyan, nos EUA. De fato, as pesquisas mostram que a maioria dos venezuelanos acham que sua situação pessoal é pior que há um ano. A edição de dezembro do estudo trimestral Consultores21, uma empresa de pesquisa de mercado com base em Caracas, mostra que a aprovação a Hugo Chávez caiu 45%. É a primeira vez desde 2004 que fica abaixo dos 50%. Além disso, sobe o percentual dos entrevistados que acham que a situação do país piora e daqueles que mencionam a insegurança ou a inflação como o principal problema. “Como o governo não entende bem o que está causando esses problemas, isso poderá se intensificar no ano que vem”, diz Rodríguez. “E prejudicará ainda mais o apoio a Chávez.”
O resultado de referendo golpeia Chávez no momento em que os efeitos nocivos de suas políticas econômicas se intensificam. Apesar do grande controle de preços exercido pelo governo, 2007 fechará com uma inflação com alta de cerca de 17%. O desabastecimento de produtos básicos afeta os principais sistemas de distribuição do país, inclusive a Mercal, rede de armazéns populares do governo. E o câmbio oficial (a 2.150 bolívares por dólar) está cada vez mais longe do negociado no mercado negro “a 5.600 bolívares).
Apesar de serem poucas as estatísticas que permitam medi-la corretamente, a sensação é de que a violência urbana tem crescido apesar das políticas de controle do crime. Uma realidade que ficou refletida no último relatório de Desenvolvimento Humano realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O país caiu do posto 61 em 2001 (com cifras de 1999) para 74 em 2007 (com cifras de 2005).
“La Vega está mais perigosa”, disse Zulaima. “Não que seja culpa de Chávez, mas o governo poderia nos proteger mais, não? Aqui não há polícia.” Outra moradora da Vega, Ana Caraballo, sempre votou por Chávez até esta eleição, em que disse não às reformas. “Tenho que ir até a Quinta Crespo para encontrar leite, e aí pago 35 mil bolívares por uma lata (US$ 16 no câmbio oficial)”, contava, no mesmo dia do referendo. “Os políticos sempre nos prometem que consertarão o esgoto e que enviarão a polícia, mas depois se esquecem de você. Pensei que Chávez seria diferente, mas agora não estou tão segura disso.”
O fator militar
Mas se Chávez agora não poderá dar o apoio popular como certo, tampouco poderá fazê-lo com as Forças Armadas. Fontes consultadas por AméricaEconomia, que pediram não revelar sua identidade, afirmaram que foram autoridades militares que recomendaram a Chávez respeitar o resultado.
O presidente desmentiu. “O dia que um general me pressione, por mais amigo que seja, o substituo de imediato”, disse à TV estatal pouco depois do referendo. O único encontro que Chávez afirma ter tido antes de divulgar os resultados foi com seus filhos e netos. “Chávez é de se impressionar”, diz o ministro de Defesa, Gustavo Rangel.
Não obstante, as dúvidas persistem sobre o que aconteceu nessas nove horas entre o fechamento das urnas e o discurso de derrota. “É pouco provável que um presidente latino-americano em atividade e tentado a condutas antidemocráticas aceite uma derrota por 1,4% de diferença sem pedir nova contagem”, diz o analista mexicano Jorge Castañeda, em uma coluna. Já Francisco Rodríguez aponta que foi estranho que, com a divulgação do resultado em 88% dos locais de votação, se tenha anunciado uma tendência “irreversível”, com uma margem de apenas 200 mil entre os quase 10 milhões de eleitores, dado que as últimas contagens são feitas manualmente em lugares onde os pobres estão sobre-representados.
Quem conhece os militares defendem o papel que as Forças Armadas podem ter exercido. “Não sei o que passou exatamente, mas certamente o componente militar pode ter sido um fator que facilitou chega a uma solução civilizada”, diz o especialista militar José Machillanda Pinto, da Universidade Simón Bolívar. “O que posso confirmar com certeza é que há um grande grupo de oficiais profissionais dentro do exérdito que querem uma organização e uma instituição que se dediquem à função de defesa do estado; e nunca e de nenhuma forma a tarefas do governo e programas assistencialistas; ee muito menos a atos em favor de uma concepção política.” As evidências mais concretas estão no número de oficiais militares que se nega a seguir ordens, aos que renunciaram, e à resistência dos militares à proposta presidencial de mudar o nome da organização de Guardia Nacional a Guardia Territorial.
O papel da oposição
Não obstante, é pouco provável que a oposição venezuelana possa aproveitar a ocasião para se transformar numa alternativa. Seu questionável histórico democrático ganhou fama internacional graças ao falido golpe de abril de 2002, por seu erro ao desconhecer os resultados de um referendo revocatório em 2004 reconhecido mundialmente e por um míope boicote das eleições ao Congresso de 2005. “A oposição não existe como ente coletivo; é uma federação desorganizada de interesses diferentes, de visões encontradas, de lideranças pessoais que não se põem de acordo”, diz Moisés Naím, analista político venezuelano e diretor da revista Foreign Policy, em Washington.
Durante a campanha para o referendo, os partidos e líderes políticos de oposição mantiveram um baixo perfil. Não fica claro se isto se deveu a uma falta de financiamento (“os homens de negócios somos reacios a dar fundos a campanhas è oposição já que se teme uma retaliação”, diz um influente homem de negócios que preferiu não se identificar) ou uma decisão consciente de ceder o estrado principal aos líderes estudantis (que têm melhores índices de aprovação e credibilidade), em parte porque para o referendo nem sequer houve um comando central de campanha pelo Não que pudesse ser consultada. “A oposição não sabe como tomar vantagem do que se lhe está entregando em bandeja de prata”, declarou Robert Bottome, editor da newsletter Veneconomía, ants do referendo. “Não tem mensagem, não têm coesão.”
A cientista política Jennifer McCoy, da Universidade Estatal de Georgia, e autora de vários papers sobre a democracia venezuelana, acha que o referendo vai gerar mais câmbios no governo do que na oposição. “A principal mensagem desse domingo é que Chávez precisa reduzir a velocidade, deixar de focar tão intensamente na ideologia e prestar atenção em fornecer serviços”, diz. “Não está claro que a oposição seja capaz de fazê-lo em seu lugar.”

Entretanto, o triunfo, aidna que por uma estreita margem, oferece à oposição uma oportunidade de se reunir novamente. Teodoro Petkoff, veterano estratega político e editor do tablóide de oposição Tal Cual, concorda. “Há apenas um ano emergiu uma nova força, a força de Un Nuevo Tiempo e Manuel Rosales”, afirma. “E tem potencial para responder a problemas sérios.”
Inclusive o crítico Bottome reconheceu essa possibilidade. “O discurso de Rosales depois da votação não foi mau. Ao melhor, e na melhor das hipóteses, a oposição será capaz de se unir para as eleições governamentais e de prefeitos de 2008.” Petkoff émais otimista: “Não há processos rápidos”, diz. “As coisas estão ficando pior por aqui”, diz. “A fé que tinha em Chávez agora é para Deus.”
Na missa de Zulaima, na tarde do referendo, o padre leu uma passagem da Oração dos Fiéis: “Pelos governantes. Pelos responsáveis pela justiça e a paz; para que não defraudem a esperança do povo, roguemos ao Senhor”.

http://www.americaeconomia.com/PLT_WRITE-PAGE~SessionId~~Language~4~Modality~0~Section~1~Content~33330~NamePage~AmecoNegocios~DateView~~Style~15543.htm

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Ou seja, quem segura o homem, mantendo a honra nacional são os militares, como não poderia deixar de ser... E, tal como aqui, a oposição está mais perdida que cusco em dia de procissão.

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