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a.h

Tuesday, October 25, 2005

EUA no Paraguai: ameaça não é militar, visa integração sul-americana

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A presença de Rumsfeld em Assunção, poucas semanas após a chegada dos primeiros grupos de fuzileiros navais estadunidenses que participarão de uma série de exercícios conjuntos com militares paraguaios, atiçou ainda mais as especulações sobre as intenções de Washington, já insufladas pela decisão do governo paraguaio de conceder imunidade diplomática aos militares estadunidenses durante a sua estada no país. Em especial, multiplicaram-se os rumores sobre a suposta transformação do aeroporto de Mariscal Estigarribia, a 550 km da capital paraguaia, em uma base militar permanente dos EUA. A preocupação com a “base” estadunidense se alastrou rapidamente por toda a região, juntamente com as suspeitas de que com ela os EUA pretenderiam controlar importantes recursos naturais da região, como o gás natural da Bolívia e o Aqüífero Guarani, além de vigiar a Tríplice Fronteira Argentina-Brasil-Paraguai, sobre a qual certos funcionários de Washington insistem em lançar suspeitas de abrigar terroristas islâmicos. Conseqüentemente, o assunto foi objeto de várias reportagens na imprensa da Argentina, Bolívia, Brasil e Chile.
Em um editorial na edição da quarta-feira 14, o jornal ABC Color disparou contra os críticos externos e internos do acordo militar: “A ninguém ocorreu pensar que o Paraguai é um país soberano e que, portanto, pode estabelecer relações militares com quem quiser. Até poderia, se fosse conveniente aos seus interesses, autorizar a instalação de bases militares de terceiros países, embora não seja o caso... Tampouco, nenhum dos que aqui expressaram o seu alarme disse alguma coisa sobre a verdadeira ameaça que pende sobre nossa soberania, uma ameaça real, concreta, atual e comprovada todos os dias com os fatos. Nos referimos à exercida pelo Brasil sobre o Paraguai, desde há décadas, com efeitos irreparáveis sobre a nossa economia... É necessário pisar na terra e avaliar onde estão os verdadeiros interesses nacionais e qual é o ‘imperialismo’ que já está nos espoliado.
Na verdade, a ameaça real representada por Washington está longe de ser militar, mas a possibilidade real de cravar uma estaca no coração da integração regional. Em termos estritamente militares, uma base avançada em território paraguaio não representaria a propalada ameaça aos países vizinhos. Trata-se, assim, de uma questão geopolítica e econômica. O fato é que a insatisfação paraguaia que ensejou a investida de Washington se baseia na realidade incontestável de que a integração regional está deixando muito a desejar. Neste particular, a responsabilidade maior cabe ao Brasil, cujas classes dirigentes se obstinam em aferrar-se ao rentismo e à ilusão “globalista” da onisciência e onipotência dos mercados financeiros. O resultado é que, como este Alerta tem enfatizado ad nauseam, os avanços da política de integração regional são incompatíveis com a política econômica comandada com mão de ferro pelo Ministério da Fazenda e o Banco Central, concentradora de renda, antiprodução e desintegradora. Essa incompatibilidade está na raiz dos desencontros com a Argentina, com a falta de apoio de Brasília à reestruturação da dívida pública capitaneada pelo ministro da Economia Roberto Lavagna, da crescente insatisfação dos bolivianos com as atividades da Petrobrás em seu país e com o igualmente ascendente descontentamento paraguaio. Assim, sem uma efetiva uma mudança de rumo na política econômica brasileira, a já travada integração regional verá as suas possibilidades grandemente reduzidas.
No caso do Paraguai, salta aos olhos que o país precisa receber dos sócios maiores do Mercosul um tratamento semelhante ao proporcionado pela União Européia aos países ibéricos e à Grécia, com investimentos de qualidade que lhe proporcionem uma efetiva modernização econômica, baseada em um processo seletivo de industrialização. Além disto, é necessário que os governos brasileiro e argentino proporcionem uma solução urgente para o problema das bilionárias dívidas decorrentes da construção e operação das usinas hidrelétricas binacionais de Itaipu e Yaciretá, cujo serviço tem estrangulado de forma brutal a capacidade financeira do governo paraguaio e que constitui uma das principais causas da insatisfação local com os vizinhos maiores. Com a devida determinação política nas três capitais, uma alternativa “hamiltoniana” poderia ser articulada para transformar parte dessa dívida em títulos de longo prazo, os quais, por sua vez, poderiam ser usados como capital inicial de uma entidade trinacional especificamente criada para fomentar o desenvolvimento paraguaio, com investimentos em projetos de infra-estrutura, industriais, capacitação de mão-de-obra e outros – algo como um “BNDES guarani”. Quiçá, outras entidades poderiam associar-se à iniciativa, como a Corporação Andina de Fomento (CAF), o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) (embora este último esteja atualmente controlado por um tecnocrata colombiano estreitamente alinhado com Washington).

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