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O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Monday, December 19, 2005

Uma besta ignorante

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Se eu fosse definir o autor com uma epígrafe diria "um ignorante que manipula excertos para chegar a um fim autoritário e de resultados pífios em desenvolvimento social. Malgrado, esta besta chamada Nyquist se acha um 'intelectual'... Deturpando toda uma história do que vem a ser a evolução democrática, ele faz um corte como se não houvesse corrupção fora da democracia."

Aí, meus caros, é que essa tal 'direita' se une, no extremo oposto, com sua antítese naturalmente complementar, a 'esquerda'.

a.h


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Democracia vs. propriedade


por Jeffrey Nyquist em 20 de dezembro de 2005
Resumo: Os políticos de hoje tendem a confundir liberdade com democracia, não percebendo que a liberdade é melhor preservada não pela democracia, mas por um sistema de pesos e contrapesos dentro do Estado.
© 2005 MidiaSemMascara.org

Em The Future of Freedom, Fareed Zakaria escreveu: "Vivemos na era da democracia". Em outras palavras, 119 países atualmente fazem uso de eleições populares para formar seus governos. Muitos crêem hoje que a democracia é a única ordem política defensável, a única ordem política moral. É difícil percebermos o quão peculiar esse ponto de vista é em relação à História como um todo. É específico de nosso tempo. Há aproximadamente 2.500 anos, Aristóteles rejeitou o governo do povo. Ele notara que o Estado é uma associação para proteger a propriedade. E também um pacto de proteção contra a injustiça. Mais do que isso, o propósito do Estado é permitir que seus membros preservem "a boa vida". Para assegurar "a boa vida", o povo necessita de um governo virtuoso (porque os filósofos antigos consideravam "o bem" como um propósito moral). Cidadãos livres são iguais em sua liberdade, mas não em virtude (que os antigos associavam com a riqueza). Salvo os casos de piratas e criminosos bem-sucedidos, aqueles que acumulavam riquezas o conseguiam em função de sua "bondade". Até mesmo as coisas que produzimos, a título de riqueza, são chamadas de "bens". Tal idéia fazia parte do pensamento antigo bem como dos Pais Fundadores da América. "Devemos lembrar", escreveu Aristóteles, "que [a maioria dos cidadãos] não são homens de riqueza, e não tem pretensões de serem virtuosos em nada. Deixá-los tomar parte nos altos cargos é assumir um risco: inevitavelmente, seus padrões injustos farão com que eles cometam injustiça, e sua falta de julgamento os levará ao erro". (Política, III xi) A História ensina que a democracia é a forma corrupta da autoridade, tendendo à degeneração. "Nunca houve uma democracia que não tenha cometido suicídio", notava John Adams (segundo presidente dos EUA). George Bernard Shaw explicava, "A democracia substitui a nomeação de alguns corruptos pela eleição de muitos incompetentes". Ou, como dizia H.L. Mencken, "A democracia é a arte de governar o circo a partir da jaula do macaco".

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Em termos de retórica, os políticos de hoje tendem a confundir liberdade com democracia, não percebendo que a liberdade é melhor preservada não pela democracia, mas por um sistema de pesos e contrapesos dentro do Estado. John Adams escreveu: "A geração e a corrupção de governos, que pode, em outras palavras, serem chamadas de progresso e o rumo das paixões humanas em sociedade, são assuntos que têm chamado a atenção de grandes escritores; não importa se os ensaios que nos deixaram foram copiados ou se são da lavra de suas próprias conjecturas e raciocínios, eles servem bem ao nosso propósito de mostrar a utilidade e a necessidade de diferentes ordens de homens, e de um equilíbrio de poderes e privilégios. Eles demonstram a corruptibilidade de cada tipo simples de governo, isto é, de poderes sem contrapesos, seja de um, de poucos ou de muitos." O governo de um é monárquico. O governo de poucos é oligárquico. O governo de muitos é democrático. Não misturados e não contrabalançados, essas três formas de Estado rendem-se à corrupção. Isso porque, conforme notou Lord Acton em sua famosa frase, "O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente".

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O presidente Bush propõe a democracia como a solução para o problema terrorista que emerge do Oriente Médio. Ele fala de promover a democracia no mundo muçulmano. Num discurso recente para a Academia Naval dos EUA, o presidente explicou: "Promover a causa da liberdade e da democracia no Oriente Médio começa por garantir o sucesso de um Iraque livre". Ele está bem confiante nesse plano, mas será que o presidente sabe que o sentido que os Pais Fundadores davam à liberdade foi corrompido pelo igualitarismo sem contrapesos e pela velha propensão à democracia pura e à remoção das medidas contra o desgoverno popular? É só imaginarmos o colapso econômico que se seguirá à delegação de poderes às massas. As demandas do povo, as eleições, o político com dedo em riste substituíram as velhas noções de virtude política e estadismo. Por que o presidente não fala sobre virtude como John Adams e George Washington falavam?

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De acordo com o presidente Bush, "Ao fortalecermos a democracia iraquiana, ganharemos um parceiro para a causa da paz e da moderação no mundo muçulmano, e um aliado na luta mundial contra os terroristas. Promover o ideal da democracia e do governo autônomo é a missão que criou nossa nação – e que agora clama a uma nova geração de americanos. Enfrentaremos o desafio de nosso tempo. Responderemos ao chamado da história confiantes – porque sabemos que a liberdade é o destino de todo homem, mulher e criança desta terra". Mas, presidente, a democracia não é um bem absoluto. Ela depende da natureza dos povos que se autodirigirão. Ela depende de suas crenças, sua cultura e seus hábitos. Os homens frequentemente julgam as coisas como estão no momento e não naquilo em que estão se transformando. A maioria dos americanos não consegue ver a crescente degeneração em seu próprio país, e lhes falta imaginação para ver o quanto a democracia pode amplificar as tendências mais perigosas do Islã. Usamos palavras grandiosas como "democracia" e "liberdade" como se soubéssemos do que estamos falando. Mas palavras como "democracia" e "liberdade" foram mal-entendidas por essa mesma geração que não entende de História e se informa lendo jornal.

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As eleições não foram criadas na Inglaterra e na América porque "o povo" foi tido como soberano. Em 1896, William Lecky escreveu: "A característica política mais marcante da última metade do século XIX foi, inquestionavelmente, o deslocamento do centro de poder dos governos livres, e as conseqüentes mudanças nas teorias que outrora prevaleciam a respeito dos princípios nos quais os governos representativos se baseavam". Foi "uma revolução profunda e de longo alcance", Lecky observou, consumada "sem nenhuma violência ou mudança na estrutura externa do governo".

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No século XVIII, o voto não era tido como um "direito natural", escreveu Lecky, "mas um direito concedido pelos legisladores com base na conveniência, ou... no benefício do Estado". Votar era, inicialmente, uma prerrogativa de proprietários de terras. "Era... um princípio fundamental do velho sistema representativo que o poder político devesse estar nas mãos dos proprietários de terras", explicou. Nos tempos dos Pais Fundadores, o governo representativo não era (conforme Lincoln mais tarde sugeriu) "do povo, pelo povo, para o povo...". Era "da propriedade, pela propriedade, para a propriedade". Durante o século XIX, foi mera conseqüência lógica o fato de aqueles que queriam derrubar o poder se voltassem contra a propriedade. Flertando com o socialismo e o comunismo, o ataque mais subversivo contra a propriedade pode ser encontrado na demanda pelo sufrágio universal. Não que as massas imediatamente votassem para "expropriar os expropriadores" e redistribuir renda. A trajetória descendente para a ruína envolveu inúmeras gradações, milhares de pequenos acordos levados a cabo por cortes e conselhos municipais, tudo em direção à assembléia legislativa.

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A administração Bush elegeu o termo "democracia" como o centro de sua batalha ideológica na guerra contra o Islã radical. É como se estivéssemos repetindo as palavras de Lincoln em Gettysburg, só que dessa vez a guerra não é civil mas mundial. Lincoln lembrou que a América era a terra natal da liberdade, um país "dedicado à proposição de que todos os homens foram criados iguais". Ele falou de "um renascimento da liberdade" assim como de um "governo do povo, pelo povo, para o povo...". Trata-se de uma retórica comovente, facilmente adaptável a outros conflitos. E parece que a campanha da América contra o terror adaptou a retórica de Lincoln (transmutando-a da guerra civil para uma guerra religiosa desconhecida). O espectro de Lincoln continua rondando, suas palavras remoldadas, suas idéias redirecionadas de maneira a não compreender os próprios termos que emprega.

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© 2005 Jeffrey R. Nyquist
Publicado por Financialsense.com
Tradução: MSM.

Jeffrey Nyquist é formado em sociologia política na Universidade da Califórnia e é expert em geopolítica. Escreve artigos semanais para o Financial Sense (
http://www.financialsense.com/), é autor de The Origins of The Fourth World War e mantém um website: http://www.jrnyquist.com/

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