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E aí Marcos, o que foi que eu te disse?
Eh eh, o Janer não deixa barato, não. Vai irritar até extirparem ele do MSM... pior para o MSM.
Segura essa Olavo! Contradição pura!
a.h
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Franceses e “franceses”
por Janer Cristaldo em 19 de dezembro de 2005
Resumo: Os jornalistas ocidentais jogaram dentro das mesmas páginas movimentos que nada tinham em comum e criaram o mito de 68, e os leitores caíram como patinhos na armadilha midiática e até hoje não falta quem ache que houve uma Revolução de 68.
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Sexta-feira passada, escreveu Olavo de Carvalho neste jornal: “Cristaldo perdeu a forma justamente no momento em que decidiu dar um upgrade impossível na sua seleção de assuntos, passando dos temas terrestres aos celestes sem ter para isso nem mesmo asas de galinha. Ele lê a Bíblia ou Maimônides com uma incompreensão malévola que só se distingue da burrice completa porque esta é geralmente involuntária. Entre as várias interpretações possíveis, ele escolhe a mais imbecil e faz dela a essência das tradições religiosas milenares que deseja esculhambar, aparentemente sem notar que com isso esculhamba apenas a si próprio”.
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Curiosamente, na quarta-feira, no JB On Line, o mesmo Olavo criticava a proibição da circulação, pelo desembargador Souza Prudente, do livro Orixás, caboclos e guias, do bispo Edir Macedo, obra que chama de demônios as entidades cultuadas na umbanda e no candomblé. Defendendo a liberdade de expressão, escrevia Olavo: “O que ele (o desembargador) está dizendo é que o simples ato de falar contra uma religião atenta contra o direito fundamental de segui-la. Mas é óbvio que a liberdade de seguir qualquer religião implica, essencial e incontornavelmente, o direito de não gostar das outras e de falar contra elas. E a liberdade de ser ateu ou agnóstico implica o direito de falar contra todas de uma vez. Suprimir esse direito é suprimir aquela liberdade. Suprimi-lo em nome dela, como o faz o dr. Souza Prudente, é a apoteose do nonsense. É o ridículo politicamente correto transmutado em imposição judicial”.
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Um tanto brusca, esta mudança de humor de quarta para sexta-feira. Quando se trata de proibir um livro que baixa a lenha nas religiões de origem africana, Olavo empunha com vigor a defesa da livre expressão. Quando se faz uma leve crítica a prestigiosas religiões de brancos ocidentais, anátema seja.
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Não entendi. Deixa pra lá. Vamos a assuntos mais importantes. Uma leitora, Thaís Ciamariconi, me pergunta: “Você poderia me dizer em que difere legalmente um cidadão nascido francês e outro que adquire a cidadania? Porque até onde eu sei como "brasileira analfabeta" os dois possuem os mesmos direitos e a revolução de 68 não foi mera criação da mídia...”
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Posso dizer sim, Thaís. Pra começar, sempre defendi a idéia de que a de revolução de 68 foi criação da mídia. Ao falar-se, em Paris, da tal de revolução, ajunta-se: pas de sang, trop de sperme. Revoluções são movimentos que modificam as estruturas sociais de um país. Fora a extinção da Sorbonne, não vi modificação alguma entre a França pré-68 e a França pós-68. A paralisação de Paris não ocorreu em função dos jovens, mas porque o PC francês – que naqueles dias ainda apitava - decidiu aderir ao movimento e decretou greve de transportes. Como naquele ano se produziram convulsões também na China e na antiga Tchecoslováquia, os jornalistas ocidentais jogaram dentro das mesmas páginas movimentos que nada tinham em comum e criaram o mito de 68. Os leitores caíram como patinhos na armadilha midiática e até hoje não falta quem ache que houve uma Revolução de 68.
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Já que falamos em 68, temos aqui um bom parâmetro para dizer o que legalmente difere um cidadão nascido francês e outro que adquire a cidadania. Em 68, movimento de franceses de souche, não houve dez mil carros queimados nem 200 prédios públicos ou instituições assistenciais depredados. Em 2005, revolta dos franceses naturalizados, o quebra-quebra provocou prejuízos de centenas de milhões de euro. Para melhor explicitar a questão, chamemos de franceses os franceses nascidos franceses e de “franceses”, assim com aspas, os naturalizados. Ora, um francês aceita as leis do Estado em que nasceu. Aos “franceses”, se forem muçulmanos, a lei do Estado que os acolhe nada lhes diz. Só aceitam a sharia, a vontade de Alá. Se esta contraria as regras de um Estado democrático, tanto pior para o Estado democrático. Se para o francês poligamia é crime, para o “francês” poligamia é um direito. Se o francês considera a mulher um ser igual e com seus mesmos direitos, o “francês” a considera um ser um pouco abaixo do rabo do camelo. Se a um francês repugna a idéia de prometer a filha a quem quer seja – pois afinal ela é um ser com vontade própria – para um “francês” é perfeitamente normal prometê-la desde o berço a um tio ou primo. Nenhuma francesa jamais aceitaria um casamento planejado pelos pais. Para uma “francesa”, isso faz parte da vida.
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Nenhum francês se explodiria em nome de qualquer bandeira. Segundo o jornal espanhol El País, os serviços antiterroristas identificaram 22 “franceses” jihadistas que foram combater contra os Estados Unidos no Iraque, a maioria procedente da área de Paris e Lyon. Dois deles estão em mãos do Exército americano e se desconhece o paradeiro de outros 13. A França teme que estes “franceses”, já treinados e envoltos em uma aura de heroísmo, voltem para explodir-se na França. Nas últimas operações contra o islamismo radical, a polícia francesa prendeu mais 14 “franceses" dispostos a empreender o caminho do martírio.
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Na quinta-feira passada, em Etampes, ao sul de Paris, um aluno do centro de formação profissional Louis Blériot, esfaqueou e feriu gravemente hoje sua professora de artes plásticas. É o que li na sexta-feira, no Terra. A professora de 28 anos foi agredida no interior da sala de aula. O estudante entrou e, depois de dizer que estava muito chateado, esfaqueou a professora três vezes na barriga e fugiu. O Terra não deu indício nenhum do nome do aluno ou de sua nacionalidade. Fui pesquisar na Internet. Percorri os principais jornais franceses. Nem um pio sobre a identidade do aluno. Só falavam em jeune homme.
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Claro que se trata de “francês”, pensei com meus botões. Se não for árabe, deve ser negro. E aqui vai outra diferença entre o cidadão nascido francês e o que adquiriu cidadania. Se fosse francês de berço, seu nome estaria nos jornais. Como evidentemente é filho de árabe ou africano, seu nome é pudicamente oculto pela imprensa. A libertária França se rende ao politicamente correto. No sábado, consegui pescar um tímido indício no Le Monde: le jeune homme de nationalité française. Isto é: não era exatamente um francês, mas um jovem de nacionalidade francesa. Só no fim da noite de ontem, domingo – quatro dias após o crime – o conservador Le Figaro ousou dar o nome e mostrar a foto do apunhalador. Tratava-se de um negro, Dolores Wansale, de apelido Kevani. Mesmo assim, o Figaro nada diz sobre a origem do jeune homme. Pelo pouco que entendo de nomes, deve ser originário de Uganda.
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Estas são as diferenças, Thaís, entre ser francês ou ser “francês”. Estas diferenças, obviamente, vão se manifestar no plano legal. Francês não apunhala professoras. E se apunhalasse teria seu nome divulgado aos quatro ventos. “Francês” apunhala e tem seu nome protegido pelo silêncio covarde dos jornais. Como o politicamente correto há muito invadiu a imprensa brasileira, não vi um pio sobre o assunto nos principais jornais do país.
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O autor é escritor e jornalista.
cristaldo.blogspot - janercr@terra.com.br
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