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Thursday, May 04, 2006

O Petróleo é nosso. E a ilusão também

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por João Luiz Mauad em 05 de maio de 2006
Resumo: Todos os indicadores, contábeis e financeiros, demonstram, cabal e insofismavelmente, que a Petrobras sempre esteve anos luz atrás da concorrência e o seu desempenho ao longo dos anos é pífio quando confrontado com o das petrolíferas privadas mundo afora.
© 2006 MidiaSemMascara.org

Como já era previsto, um novo turbilhão propagandista da Petrobrás infestou a mídia. Misturando uma boa dose da velha xenofobia nacionalista com a indefectível idolatria estatista, esse marketing agressivo visa a criar uma atmosfera de ufanismo em volta da famigerada auto-suficiência na produção de petróleo, além de prestar, é claro, contribuição dissimulada à campanha de reeleição do Grande Líder Prestidigitador dessa nação de ingênuos chamada Brasil.


Pândegas e solenidades diversas foram programadas. As mais importantes, obviamente, serão comandadas pelo Sumo Ilusionista Lula da Silva, com direito a púlpito, mãos sujas (literalmente) e todos aqueles rapapés característicos. O engraçado é que, nessas horas, ninguém se lembra que a única contribuição do indigitado cavalheiro para a façanha em tela tenha sido o resultado medíocre da atividade econômica durante o seu governo, fato que determinou o cruzamento das curvas de produção e demanda (de petróleo) mais cedo que o previsto.


Páginas inteiras de jornais e revistas têm sido cobertas com as cores da bandeira brasileira, realçando a risonha figura do simpático operário “BR”. “Pop-Up’s” pululam nas telas de nossos computadores a cada nova página aberta na Internet. Na televisão e no rádio não há um só intervalo comercial que não seja tomado pelas imagens fulgurantes das plataformas marítimas ou pela voz marcante e grave do locutor, anunciando o “feito extraordinário” desse “colosso” estatal, “orgulho da nossa gente”.


Malgrado todo esse estardalhaço – quase uma lavagem cerebral -, cada vez que vejo, leio ou escuto essas manifestações de triunfo, fico a perguntar, do alto da minha ranzinzice: “que vantagem Maria leva” nisso tudo? Que benefícios para a patuléia se escondem por trás de tão “extraordinário feito”? Qual o preço pago pela sociedade para que ele fosse possível? O que há, afinal, para comemorar?


Na busca de respostas a essas perguntas, a primeira coisa que me vem à mente é tentar estabelecer uma correlação entre auto-suficiência em petróleo e prosperidade. Faço então uma lista dos grandes produtores e exportadores: Arábia Saudita (77), Irã (99), Iraque (n/r), Rússia (62), Venezuela (75), México (53), Kuait (44). Logo de cara, sobrevém a primeira decepção. Ora, se produzir “ouro negro” é essa coisa tão maravilhosa, por que todos os países acima listados detêm índices de desenvolvimento - tanto econômicos quanto humanos (ranking de 2003 entre parênteses) - tão medíocres? Até mesmo Kuait, México e Rússia, os três mais destacados dessa turminha, parecem estar muito longe dos primeiros da classe. Começo a achar que “tem carne debaixo desse angu”.


Resolvo mudar o enfoque da pesquisa. Quem são os maiores PIB’s do planeta? Eua, Japão, Alemanha e China. Outra desilusão. Todos eles são grandes importadores e estão muito longe de tornarem-se auto-suficientes. Como isso é possível? Como podem prosperar enquanto reféns do petróleo estrangeiro? Qual será a mágica? Será que a megera M. Thatcher tinha razão? Será que o velho discurso do “produto estratégico” não passa de puro diversionismo, voltado exclusivamente para a obtenção e manutenção de privilégios?


Faço então a lista dos países com os maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH): Noruega, Islândia, Austrália, Luxemburgo, Canadá, Suécia, Suíça, Irlanda, Bélgica, EUA, Japão, Países Baixos, Finlândia, Dinamarca, Reino Unido. Alvíssaras! O primeiro do ranking é auto-suficiente e exportador. Mas felicidade de pobre dura pouco. Exceto a própria Noruega e o Reino Unido, parece que todos os demais são bastante dependentes do petróleo importado, o que me faz deduzir que a abundância do “ouro negro” não deve ser o fator determinante para o elevado IDH norueguês.


Acho que não será por aí que eu vou compreender o porquê de tanta rejubilação. Mudo o foco. Penso nos preços que pagamos pelo combustível que consumimos. Mais uma decepção. Historicamente, o preço da gasolina brasileira é praticamente o dobro da norte americana, ainda que eles importem mais da metade do petróleo que consomem. Bem, provavelmente agora, que nos tornamos auto-suficientes, essa relação vai mudar, especulo. Ledo engano! Leio entrevista do senhor Gabrielli, presidente do “Colosso Verde e Amarelo”, onde o mesmo diz, com todas as letras, que os preços internos devem acompanhar os do mercado internacional, já que a empresa precisa se manter competitiva, etc., etc. Acho até que faz sentido, mais ainda se houvesse realmente competição aqui no nosso mercado. Mas esse é um outro papo. Sigo adiante.


Sou teimoso. Deve haver algo para comemorar. Não é possível que se faça tanto barulho por nada. Ah! Todos falam da dádiva que é termos uma empresa pública (supostamente de todos os brasileiros) no comando de uma atividade tão complexa e estratégica quanto a produção e refino de petróleo. Afinal, dizem, não fosse a eficiência e abnegação dos dirigentes e empregados da Petrobrás, talvez jamais tivéssemos alcançado este estágio. Tivéssemos deixado as coisas nas mãos dos gananciosos empresários da iniciativa privada, das multinacionais, e nunca chegaríamos à tão almejada auto-suficiência. Pode ser, por que não?


Vã esperança. Todos os indicadores, contábeis e financeiros, demonstram, cabal e insofismavelmente, que a “gloriosa” sempre esteve anos luz atrás da concorrência. Visto sob quaisquer ângulos, o seu desempenho ao longo dos anos é pífio quando confrontado com o das petrolíferas privadas mundo afora (malgrado alguns números “enormes”, se comparados com o restante da tísica economia brasileira, possam ser extraídos de seus balanços).


Mesmo operando com uma margem bruta muito acima do razoável para os padrões internacionais - resultado de um monopólio perverso para o consumidor - a produtividade dos seus fatores de produção, especialmente da mão de obra, é desalentadora. Durante a maior parte de sua vida, o retorno do principal acionista (o Tesouro Nacional) sobre o patrimônio foi insignificante, ficando, muitas vezes, abaixo até do rendimento da poupança. (É verdade que, de meados da década passada para cá, quando ocorreu uma ligeira abertura do mercado, alguns índices de desempenho melhoraram significativamente).


Mas será que ninguém lucrou com tudo isso? Afinal, foram mais de cinqüenta anos de investimentos maciços – muitas vezes desviados da saúde, da educação e da infra-estrutura, diga-se de passagem e a bem da verdade. Sim. Sem dúvida, alguns ganharam. E muito. Em primeiro lugar, lucraram os políticos, de hoje e de ontem, que fizeram da estatal um verdadeiro balcão de negócios espúrios e clientelismos vários – quase sempre contrários ao interesse dos acionistas e dos consumidores.


Ganharam também os empregados da dita cuja que, além dos salários (será que ainda são 15 por ano?) acima do mercado, mais os benefícios extras (as famosas conquistas), ainda contam com polpudas participações nos lucros e outras benesses estatutárias. Sem falar das aposentadorias, garantidas por um fundo de pensões cujas contribuições foram, durante muito tempo, bancadas quase que exclusivamente pela empresa, em proporções que superavam de 4 a 5 vezes os dividendos recebidos pelo Tesouro. Não é outra a razão por que Roberto Campos, falando da “Petrossauro” cunhou a famosa frase: “O Brasil descobriu uma nova forma de capitalismo. É o ‘capitalismo de transferência’. Uma forma de capitalismo selvagem em que o Tesouro e seus contribuintes são explorados por uma nova classe - a burguesia do Estado”.


É, pensando bem, não há muito o que comemorar. Ao contrário, o mais provável, de acordo com a lógica e a observação dos fatos, é que já teríamos alcançado essa tal auto-suficiência há muito tempo - e a um custo bem menor - caso tivéssemos deixado a tarefa nas mãos mais eficientes da iniciativa privada, nacional e estrangeira, sob um regime de livre concorrência. No entanto, no país do carnaval festejamos até desgraças e cantamos loas aos nossos algozes. Que venham então os rega-bofes; os iludidos pagarão a conta de bom grado.


Sobre o assunto leia também Petrobras x Bancos



http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4832

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