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a.h

Friday, June 23, 2006

Cultura e Natureza ou Cultura vs. Natureza?

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BBC, 23 de setembro, 2002 - Publicado às 13h36 GMT
O campo na cidade

No domingo, Londres quase que se torna um filme de Glauber Rocha: "A cidade vai virar campo e o campo vai virar cidade". Na verdade, foram mais de 400 mil pessoas, de todas as partes rurais da Grã-Bretanha, inundando as ruas do centro, numa das maiores passeatas vistas por Londres desde os tempos da sra. Thatcher. Os manifestantes não tinham o objetivo único de protestar contra qualquer medida tomada contra a tradicional caça à raposa, embora este tema tenha praticamente seqüestrado a passeata. As comunidades rurais vieram à cidade para mostrar algo básico: elas existem e nem só a cavalo e de casaco vermelho, cercado de cachorrinhos correndo atrás de uma raposa, vive o campesinato. E essa simples palavra – campesinato – empresta um cunho altamente social ao evento. Não, não eram caipiras descalços fumando cigarro de palha e dizendo, ao menor pretexto, "Eta, mundo véio sem portêra!" O campo britânico, na verdade, sempre foi, até há bem pouco – um século, digamos – o coração secreto, e não tão secreto assim, do país. Cidade era onde se trabalhava, se administrava o império e se ganhava dinheiro. Campo era onde se vivia. Peguem a moda – masculina, é claro – britânica: o cordurói, o Harris Tweed, as botinhas Wellington… Peguem aquela fantasia que cismaram que Sherlock Holmes usava o tempo todo: o deer stalker. É uniforme para se caçar veado e gazela. Ou simplesmente adotar, quando no campo. Não ocorreria a uma pessoa de bom senso usá-la na cidade, em Baker Street.

O protesto foi muito além da raposinha. Eu gostei de ver os camponeses. Abastados, remediados e pobretões. Cada um com seu problema. As rendas que caem. A praga da febre aftosa. O problema habitacional. Os transportes precários, a escassez de ônibus. Os pubs, correios e postos de gasolinas que fecham. A lojinha da esquina, cada vez mais rara.

Sou urbano até a medula. Muito verde me dá náuseas. Mas sei que esta ilha nasceu e depende do campo. Eu posso não ir a ele, mas gosto de vê-lo em fotos e programas de TV ou, como agora, no centro de Londres.

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E aí pessoal, a caça à raposa deve ou não ser preservada? Embora tenha ocorrido tal protesto, parece-me que ela já foi proibida...

Sei que quando vemos os tais gentleman britânicos bradando pelo seu direito de... matar(sic), não nos sensibilizamos da mesma forma que quando uma ou outra tribo ou população nativa deste vasto Tiers Mondé o faz, mas, se pararmos para pensar: por que o direito de manter uma tradição cultural não é extensivo a eles? Só por que são... ricos?

O caso é que se nós, em plena sociedade urbano-industrial ou pós-industrial nos arvorarmos de ter os mesmos direitos de tais populações, a natureza intacta vai pro beleléu, mesmo! Imagine, 180.000.000 de brasileiros exigindo seu direito de se comportar tal e qual os autóctones e arcaicos índios, praticando a queimada?!

Não dá... mais!

Por outro lado (e sempre há de montão), li de certa feita que, o controle biológico de coelhos, em parques urbanos franceses, era feito por caçadores (devido à sua super-população). Sim, a caça é uma atividade tradicional e ligada, justamente, às nossas práticas de sobrevivência e ADAPTAÇÃO ao meio natural. Mas, me parece hoje, necessário estabelecer o ONDE, COMO, QUANDO e QUANTO. Isto é, não é mais possível se praticar com a mesma licenciosidade de outrora. Não é possível, hoje em dia, se permitir a caça à baleia nos mesmos moldes de que faziam os nórdicos europeus ou nipônicos no Pacífico. Mesmo por que, hoje, ela não se prestaria ao atendimento local e pautado nos ciclos de permanência dos cétaceos nas costas.

Pensemos...

a.h


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