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Sexta-feira 23 de junho, 2006
Responsabilidade social:
Febre do álcool ataca a América Latina
O setor de etanol do Brasil está experimentando um “boom” sem precedentes, e registrou investimentos recordes do setor privado. Além do consumo interno do álcool extraído da cana-de-açúcar, vem aumentando a demanda de países como Estados Unidos, Suécia e Japão. E o resto da América Latina e Caribe procuram seguir o modelo brasileiro de produção de etanol, por causa dos altos preços do petróleo no mercado internacional.
Durante um discurso realizado no Rio de Janeiro este mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a Organização de Países Exploradores de Petróleo (OPEC) em breve teria que admitir o Brasil em suas filas, porque o País planeja ser o “principal exportador” de bio-combustível.
O etanol brasileiro já corresponde a um terço da produção mundial, mas isto não coloca o Brasil em uma posição de país que possa atender à demanda global de etanol. O país sul-americano também é o maior dependente mundial de etanol, com 20% de sua frota de veículos com motores a álcool. No mundo, esse combustível vegetal é usado como aditivo à gasolina, numa proporção média de 2,6%.
O etanol tem várias vantagens: é mais limpo e renovável, ajudando a reduzir a emissão de carbono ao mesmo tempo em que conserva as reservas de combustíveis fósseis. É barato quando produzido numa usina administrada de maneira eficiente, com um custo de menos de um dólar por galão. É versatilidade – pode substituir a gasolina inteiramente em carros com motores bi-combustível, ou ser misturado à gasolina em menores proporções em motores convencionais. O álcool também tem altos níveis de octanagem e, no ano que vem, na famosa corrida das 500 Milhas de Indianápolis, os carros correrão com etanol em seus tanques.
O Brasil estima investir, até 2010, cerca US$ 10 bilhões no aprimoramento da produção de etanol à base de cana-de-açúcar, ampliando a capacidade com 90 novas usinas. No mesmo período, a indústria brasileira planeja duplicar a exportação de etanol, para 5 bilhões de litros por ano.
A Petrobras pretende investir US$ 225 milhões na construção de um duto de etanol que ligará o Estado de Goiás a São Paulo, em 2008. No início de junho, o Banco Japonês de Cooperação Internacional (JBIC, na sigla em inglês) disse que investirá US$ 570 milhões em projetos de “agro-energia” desenvolvidos por fundações brasileiras, incluindo o plano da Petrobras de alavancar a exportação de etanol. A gigante norte americana Cargill comprou sua primeira usina de etanol no Brasil em junho, e a expectativa é de que gastará US$ 44 milhões para dobrar sua produção até 2008. A Royal Dutch/Shell, que normalmente exporta petróleo do Brasil, começou a exportar etanol em junho, e embarcará, ainda este ano, cerca de 150 milhões de litros de álcool brasileiro para os Estados Unidos, disse um porta-voz da companhia. Segundo a Unica, as exportações do Brasil provavelmente alcançarão este ano os 2,4 bilhões de litros, sendo que 800 milhões de litros tem como destino os EUA.
América Latina
Os programas brasileiros são cada dia mais populares em toda a região. A produção de etanol da Colômbia teve início em 2005, com investimentos de US$ 100 milhões. O país sul-americano pretende misturar o etanol à gasolina para evitar o esgotamento de suas reservas de petróleo.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou em 2005 que seu país investirá nos próximos cinco anos cerca de US$ 900 milhões em usinas para a produção de etanol, e usará o bio-combustível na substituição dos aditivos da gasolina. Chávez planeja aumentar sua produção para 25 mil barris por dia, até 2010.
O Peru já mistura o etanol à sua gasolina, e também tem planos de produzir 25 mil barris de etanol por dia. Suas pretensões são abastecer seu mercado e o mercado da Califórnia. O Equador também já considera seu próprio plano para o etanol.
Na América Central, que importou mais de US$ 5 bilhões em óleo e combustível no ano passado, uma crescente indústria de etanol poderia reduzir os altos custos da região com energia e impulsionar as exportações. Arnaldo Vieira de Carvalho, um diretor de investimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que ajuda governos da América Central a desenvolver um estudo de viabilidade de um projeto regional de etanol, diz que a região parece ter potencial para uma importante expansão no setor alcooleiro. O BID ainda não financia projetos de etanol na região, mas está pronto para fazê-lo conforme os estudos avançarem.
Um estudo publicado em 2005 pela Comissão Econômica para América Latina (Cepal) prevê que, mesmo sem investimentos significativos, a América Central pode produzir etanol suficiente para adicionar 10% de álcool à sua gasolina. Segundo o relatório, o programa não necessitaria de subsídios do governo, e um análise de preço mostra que teria economizado US$ 187 milhões para a região em 2003.
Guatemala, Costa Rica e El Salvador já têm algumas fábrica de processamento de etanol, e Carvalho disse que esses países também avaliam a possibilidade de misturar 10% de etanol em sua gasolina, a partir de 2007. Na República Dominicana, a belga Alcogroup disse recentemente que construirá uma usina de etanol e os agricultores dominicanos estão negociando com outros investidores.
A região tem a vantagem de estar próxima do mercado norte-americano e também a de seu etanol não estar sujeito à tarifa de US$ 0,54 por galão que limita o Brasil na exportação de seu produto para os Estados Unidos. Assim, uma empresa brasileira está estudando investir no desenvolvimento de etanol na Jamaica enquanto o governo brasileiro pretende ajudar a Guatemala e o Haiti a dar a partida no etanol.
Paralelamente, o governo cubano entrou em contato com algumas empresas privadas para pedir apoio na construção da infra-estrutura necessária para sua produção, enquanto o México está apostando na cana-de-açúcar e no milho, com a construção de novas usinas.
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