Há muitos movimentos separatistas no Iraque, mas a questão central no país vincula-se ao petróleo, como não poderia deixar de ser. Os curdos, ao norte, estão se preparando para desenvolver a extração de modo independente a Bagdá. O ministro do petróleo iraquiano afirmou ser inconstitucional a estratégia do Governo Regional Curdo (KRG) que já assinou acordos com companhias canadenses e americanas. Mas, o investimento destas dará autonomia e capacidade de resistir à pressão de Bagdá. Apesar da retórica de Washington em prol de um Iraque federado e unido, enquanto a questão envolvendo a partilha do petróleo não estiver resolvida, o país não disporá de força nem capacidade de unificação real.
Graças à aliança entre curdos e governo americano desde os anos 90, a relação entre os dois tem sido favorável. Se os EUA quisessem mesmo, eles poderiam boicotar o plano autonomista do governo regional quanto à exploração petrolífera. Talvez não queiram...
A posição curda parece ir contra os interesses sunitas, mas não porque estes controlem o petróleo iraquiano. Na verdade, a administração da produção no Iraque sequer é centralizada por eles. O maior complicador, no entanto, não se encontra em Bagdá, mas mais ao sul. São os xiitas que tendem a querer o controle sobre os campos de hidrocarbonetos meridionais. Se os curdos atingirem seu intento, se abrirá um precedente perigoso ao poder central iraquiano (em região sunita), pois os xiitas, provavelmente, também irão querer sua independência administrativa e “autonomia federativa” aí não passa de um pobre eufemismo: é a base histórica para um separatismo de fato.
Pode se tentar argumentar que a autonomia federativa é o melhor caminho... Sempre é, mas ao adotar este modelo antes de uma partilha regional do petróleo, o custo político regional pode ser muito maior do que se pretende como benefício. Dividindo o Iraque em três secções, o norte sob controle curdo, o centro com os sunitas e o sul com o tacão xiita temos mais “externalidades” que poderia compensar a empreitada. A Turquia incorpora parte do que se convencionou chamar “Curdistão” e, não há compensação alguma em agradar curdos se indispondo com uma velha aliada da OTAN. Com o mundo muçulmano em sua cola, os EUA não vão querer criar outro foco de antiamericanismo naquele país de suma importância estratégica e seus mais de 70 milhões de habitantes; os sunitas perderiam muito com a dispersão e autonomia das regiões petrolíferas ao sul e ao norte. Neste rearranjo geopolítico, Bagdá sairá perdedora, deixando de lucrar com o projeto autonomista; os xiitas tendem a se aproximar do vizinho Irã, também xiita. E, o que é mais grave, fazendo fronteira com os sauditas, que são os principais fornecedores de petróleo aos EUA. Este cenário de um Iraque dividido, com uma federação capenga beneficiaria mais ao Irã do que o domínio sobre um Iraque unido. A aliança com uma região simpática, o sul xiita, lhe imporia menos sacrifícios (e gastos) do que um domínio ou ocupação mais extensa. E, com o bônus, de conseguir uma “estrada” de livre acesso a possíveis e futuras incursões à Península Arábica.
O melhor para a política americana é não se meter em acrobacias diplomáticas para formatar uma outra arquitetura política regional. Quanto ao petróleo, o melhor também é deixar que os negócios sigam seu curso natural dando o tom para futuras estratégias, sem dirigismo nem obstrução por Washington.
(Baseado em The Kurdish Oil Reality, http://www.stratfor.com/ )
Graças à aliança entre curdos e governo americano desde os anos 90, a relação entre os dois tem sido favorável. Se os EUA quisessem mesmo, eles poderiam boicotar o plano autonomista do governo regional quanto à exploração petrolífera. Talvez não queiram...
A posição curda parece ir contra os interesses sunitas, mas não porque estes controlem o petróleo iraquiano. Na verdade, a administração da produção no Iraque sequer é centralizada por eles. O maior complicador, no entanto, não se encontra em Bagdá, mas mais ao sul. São os xiitas que tendem a querer o controle sobre os campos de hidrocarbonetos meridionais. Se os curdos atingirem seu intento, se abrirá um precedente perigoso ao poder central iraquiano (em região sunita), pois os xiitas, provavelmente, também irão querer sua independência administrativa e “autonomia federativa” aí não passa de um pobre eufemismo: é a base histórica para um separatismo de fato.
Pode se tentar argumentar que a autonomia federativa é o melhor caminho... Sempre é, mas ao adotar este modelo antes de uma partilha regional do petróleo, o custo político regional pode ser muito maior do que se pretende como benefício. Dividindo o Iraque em três secções, o norte sob controle curdo, o centro com os sunitas e o sul com o tacão xiita temos mais “externalidades” que poderia compensar a empreitada. A Turquia incorpora parte do que se convencionou chamar “Curdistão” e, não há compensação alguma em agradar curdos se indispondo com uma velha aliada da OTAN. Com o mundo muçulmano em sua cola, os EUA não vão querer criar outro foco de antiamericanismo naquele país de suma importância estratégica e seus mais de 70 milhões de habitantes; os sunitas perderiam muito com a dispersão e autonomia das regiões petrolíferas ao sul e ao norte. Neste rearranjo geopolítico, Bagdá sairá perdedora, deixando de lucrar com o projeto autonomista; os xiitas tendem a se aproximar do vizinho Irã, também xiita. E, o que é mais grave, fazendo fronteira com os sauditas, que são os principais fornecedores de petróleo aos EUA. Este cenário de um Iraque dividido, com uma federação capenga beneficiaria mais ao Irã do que o domínio sobre um Iraque unido. A aliança com uma região simpática, o sul xiita, lhe imporia menos sacrifícios (e gastos) do que um domínio ou ocupação mais extensa. E, com o bônus, de conseguir uma “estrada” de livre acesso a possíveis e futuras incursões à Península Arábica.
O melhor para a política americana é não se meter em acrobacias diplomáticas para formatar uma outra arquitetura política regional. Quanto ao petróleo, o melhor também é deixar que os negócios sigam seu curso natural dando o tom para futuras estratégias, sem dirigismo nem obstrução por Washington.
(Baseado em The Kurdish Oil Reality, http://www.stratfor.com/ )
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