interceptor

Novas mensagens, análises etc. irão se concentrar a partir de agora em interceptor.
O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Friday, November 16, 2007

Caos no Cáucaso

Se Vladimir Putin visita o Irã, o que deveria dizer? Que não se importa com um possível ataque americano ao Irã? Que é aliado de Washington? Ou que sua posição, na verdade, consiste em tirar proveito da situação de beligerância entre Teerã e Washington? Claro está que em relações internacionais ou não se diz a verdade ou se ouve verdades. Mas, em hipótese nenhuma se mostram todas as cartas.

Realmente, as lideranças islâmicas até podem ter se originado no fundamentalismo com Khomeini, mas a manutenção de sua ordem é dada por interesses de estado. O petróleo pesa mais do que a abstração de Alá. No entanto, acreditar que o atual serviço de informação russo, como herdeiro da antiga KGB “orienta” ou “dirige” de longe o que quer que Khamenei ou Ahmadinejad diga, significa tomar o Irã por mero satélite russo. E não é. Pensar assim equivaleria a adotarmos um “raciocínio paramétrico” e não estratégico, no qual apenas um dos agentes envolvidos pensa e manipula os outros dados do tabuleiro.

Se Moscou fosse assim tão influente sobre o que os muçulmanos fazem ou deixam de fazer, por que a guerra da Chechenia foi um dos maiores problemas que o governo de Boris Yeltsin enfrentou e legou ao seu sucessor? Se fosse assim, o ministro de estado georgiano, David Bakradze, não acusaria os russos de infiltrarem-se na região separatista da Abkhazia procurando sua desestabilização. Ele acusa os russos de estarem trazendo “grande quantidade” de material e pessoal militar para a região. Incluindo na lista 200 chechenos, chamados de “pacificadores” por Moscou.

Entre os mal entendidos entre Moscou e Tbilisi, nada menos que um míssil russo “caiu por engano” em um campo da Geórgia expulsando diversos diplomatas. Como se não bastasse, os russos são acusados de seqüestrar soldados da Geórgia em novembro passado. Ora, os chechenos tem um histórico de violência e situações conflitivas que pouco poderiam contribuir a qualquer pacificação na região. Um dos conhecidos episódios refere-se ao conflito entre 1990 e 1992 na região de Nagorno-Karabakh onde os chechenos apoiaram a região secessionista da Abkhazia contra os cristãos armênios. O episódio mostrou a incompetência do governo georgiano e o sucesso maquiavélico russo.

A primeira vista, parece ter uma aliança Moscou-Islã caucasiano. Mas, isto é ingenuidade. O que Moscou fez foi aplicar os princípios de sua realpolitik à região, apoiando chechenos contra chechenos o que lhe garantiu vitória sobre a guerrilha. As autoridades russas vangloriam-se de ter 15.000 deles como seus aliados. Quando um governo cita um número destes é porque, provavelmente, tem mais... Suas táticas incluem câmaras de tortura subterrâneas onde famílias inteiras são alocadas.

Faz sentido, portanto, pensar que há militância chechena pró-Moscou sendo levada para regiões vizinhas, como é o caso da Abkhazia. No entanto, o tiro pode sair pela culatra. A concentração de chechenos em uma dada área pode ter efeitos contraproducentes que, num prazo não muito longo, atentem contra os próprios interesses russos. Dissipados podem ser aliados, aglutinados podem adquirir força. Este princípio deveria ser adotado em favelas brasileiras ao combate ao narcotráfico: realocar moradores dispersando-os, evitando assim novos focos de domínio extralegal.

Geograficamente falando, a Abkhazia é muito próxima e parecida com a Chechenia. Isto pode alimentar intentos unionistas muçulmanos e separatistas contra a Geórgia que, mais tarde se voltariam contra a própria Moscou. Ainda mais se levarmos em consideração que os escrúpulos chechenos tem se mostrado piores que o vigor das tropas russas.

No comments:

Post a Comment