interceptor

Novas mensagens, análises etc. irão se concentrar a partir de agora em interceptor.
O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Monday, December 29, 2008

Mitologia sobre a defesa nacional



Em um interessante artigo, “Dez Mitos sobre a Defesa Nacional no Brasil”, o diplomata João Paulo Soares Alsina Jr. trata dos argumentos contrários a um legítimo plano de defesa nacional. O autor dividiu-os em 10. Tentei resumi-los e, claro, adicionar minha própria visão em trechos comentados, no que exime qualquer um, especialmente o autor do artigo, por eventuais erros ou opiniões de minha parte:


1) Nosso país não precisaria de forças armadas. Na verdade isto parte tanto de setores mais à esquerda, com heranças pacifistas que não viram suas utopias se concretizarem em décadas passadas, como de setores ultra-liberais que acreditam que a força dos mercados é a única capaz de sedimentar instituições duradouras. Não há muito que comentar neste quesito. Basta ver os acontecimentos mundiais que sucederam a Guerra Fria para se ter uma vaga noção da importância da defesa nacional e de que a paz tem que ser, constantemente, vigiada. A cidade com seu mercado, desde fins da Idade Média precisou dos muros e forças de prontidão para garantir a defesa de seus negócios, inclusive da possibilidade do livre-comércio, frágil e dependente dos que se arriscam pela paz civil.

2) Quando se diz que os recursos aplicados na reestruturação ou manutenção das forças armadas seriam “melhor empregados” em atividades ou fins sociais parte-se do pressuposto que a defesa nacional não contempla um objetivo ou bem social.
(i) Isto se relaciona a posição ‘apaziguadora’ do Itamaraty, especialmente, no século XX que vê na hegemonia brasileira na América Latina, um fator de desequilíbrio frente seus vizinhos mais pobres e instáveis. É como se declarasse um mea culpa por estes serem, nitidamente, mais fracos;
(ii) Também ocorrem sinais contraditórios dos próprios militares que temerosos da expansão do establishment militar teriam que se adaptar institucionalmente revendo sua política de cargos, salários e pensões.
(iii) Modificações organizacionais também desestruturam ou ameaçam a estabilidade do modelo vigente, como ocorre com a criação de um Ministério da Defesa, por exemplo.
(iv) Demandas civis contra os militares, como a necessidade de desenvolvimento científico-tecnológico ou uma reestruturação interna também não são bem vistas, justamente, por partirem de civis.

3) O incremento do poder militar brasileiro forçaria uma corrida armamentista desestabilizando a América Latina. Este mito é particularmente falacioso, pois parte da premissa de que existe, realmente, um equilíbrio do poder latino-americano quando, na verdade, a posição (hegemônica) brasileira subsiste devido a fraqueza de seus vizinhos. Desconsidera ainda, de modo ‘autista’, que não cabe o incremento da defesa nacional quando se trata de novos (ou já descobertos e explorados) recursos, como o caso do petróleo em nosso mar territorial. Também podemos considerar como necessária a defesa hemisférica que tem sido ausente por parte do Brasil, ou deficiente como no caso amazônico, entre outros.

4) As forças armadas brasileiras já têm investimento suficiente. A premissa que embasa este mito se baseia nos problemas internos como mais urgentes. Se observarmos os países que mais investem em suas forças veremos que também têm graves problemas internos, mas nem por isto se eximem de sua tarefa básica na defesa externa. Este derrotismo advém da mais ingênua percepção de como a política externa é traçada. Na verdade coloca os brasileiros na posição de “idiotas úteis” quando se trata de marcar posição em prol de seus interesses.

5) As forças armadas devem se dedicar a papéis de ordem cívico-social e assegurar o alistamento militar obrigatório. O problema com este mito é que ele desdenha da legalidade: a de que a função das forças armadas, garantida pela Constituição é a de assegurar a defesa externa brasileira e sua integridade territorial. Insistir que Exército, Marinha e Aeronáutica devem ter objetivos filantrópicos implica em admitir que a Lei está errada, que não passa de um papel rasurado sem valor e que não serve como estrutura edificadora para o país. De modo análogo, obrigar todo jovem a se alistar quando faz 18 anos parte de dois princípios:
(i) De que a imensa maioria dos jovens não tem vontade própria nem predileção pela carreira castrense e ainda, deve odiá-la.
(ii) De que as forças armadas prescindem de um jovem qualificado que vê na carreira um atrativo suficientemente interessante para seguir adiante, com vocação e empenho. Em outras palavras, o jovem que segue carreira militar é nivelado por baixo neste tipo de mito.

6) O orçamento militar do Brasil é baixo. Depende. Em termos absolutos, não, mas em termos relativos (a seu PIB), realmente, é baixo. Ocorre que enquanto os EUA gastam cerca de 40% do orçamento destinado aos militares com pagamento de pessoal, pensões e saúde, no Brasil, esta soma supera os 80%.

7) Seria mais útil que as forças armadas combatessem o crime organizado. Além das questões institucionais envolvendo a atuação do Exército no combate ao tráfico de entorpecentes, p.ex., como quem definiria estratégias e a hierarquia entre as forças armadas e as polícias estaduais há a falta de treinamento de soldados para atuação frente aos civis. Além disto, existe o risco, não desprezível de contaminação das forças militares pela corrupção que se não é mitigada pelas próprias polícias, não há garantia de que não seja pelo Exército. Se algo tem que ser feito, tem que ser por quem conhece o problema de perto e vive, diariamente, com ele. Outro dado importante é que seria uma questão de tempo para o crime organizado se adaptar, voltando às ruas tão logo a situação se normalizasse, impondo assim a necessidade de um permanente Estado de Sítio.

8) As forças armadas deveriam se voltar para projetos duradouros e de prazo incerto, como o desenvolvimento científico-tecnológico. Este mito parte do princípio de que as forças armadas não precisam de armas de dissuasão imediatas. Se o ciclo de desenvolvimento do enriquecimento de urânio não foi capaz de se concretizar após 30 anos de seu início, o que dizer de outros que ainda podem ser aventados? Tais projetos têm que ser paralelos à substituição de armamentos, mas não substitutos da importação de armamento convencional e estratégico.

9) Nossa política externa de um “país periférico” tem que ter a paz por objetivo e o uso das forças armadas deve garanti-la. Por mais dignas que sejam as ações militares em missões de paz, não bastam para ocupar as funções militares. E se almeja com isto garantir um assento no Conselho de Segurança da ONU está se descartando a importância da força dissuasiva que só compete às forças armadas. Há neste mito, um link bastante evidente com o outro mito de combate interno ao crime. Só que este tipo de função, quando corriqueira enfraquece a especialização militar na defesa do território e o objetivo de equilíbrio militar continental.

10) As questões militares não são urgentes nem prioritárias. Não são opositores anti-militaristas que propagam este mito, mas de alguns militares que rejeitam a criação de um Ministério da Defesa e não querem nenhum tipo de interferência civil em seu estamento. A própria concepção atual de “guerra em redes” demanda uma maior integração dos serviços de inteligência para operacionalização da defesa. Quando grupos como MST, MAB e braços externos como a Via Campesina e instituições como a ONU ameaçam a soberania nacional, se faz urgente uma ampla estratégia de dissuasão que combine a diplomacia e a força bruta.

Tuesday, December 23, 2008

Ao vencedor, as batatas



Sem abrir licitação, o Iraque deverá fechar contratos para a exploração de petróleo com quatro empresas internacionais, a americana Exxon Mobil, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total e a britânica BP.
O "New York Times", que traz a informação, nota que esses quatro gigantes do setor
energético eram os sócios originais da Iraq Petroleum Company, estatizada há 36 anos pela ditadura de Saddam Hussein.
Os contratos, que deverão ser anunciados no próximo dia 30, foram o resultado de cartas-convites do Ministério do Petróleo, cujos responsáveis as quatro empresas assessoram há dois anos, fornecendo gratuitamente treinamento técnico. Foi por essa razão que se dispensou o procedimento de concorrência pública.
Não está clara a motivação que levou o Iraque a excluir 42 outras companhias petrolíferas, entre elas as gigantes da China, índia e Rússia, empenhadas em tarefas semelhantes. O Iraque possui cerca de 80 campos petrolíferos e com eles obtém 89% de suas receitas.
Segundo a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em 1989, antes que passasse a vigorar o embargo comercial contra o regime de Saddam, o Iraque exportava 2,9 milhões de barris diários, mesmo volume que o Irã e atrás, dentro do cartel, apenas da Arábia Saudita. No ano passado, o país informou estar produzindo 2 milhões de barris ao dia, pretendendo voltar ao patamar de 2,9 milhões em 2010. Há dois anos, últimos dados divulgados, a receita iraquiana foi de US$ 28,8 bilhões.

Aumento da produção
Informantes iraquianos citados pelo "New York Times" dizem que as quatro empresas contratadas permitirão a produção, ao dia, de ao menos 500 mil barris suplementares.
Os contratos com as quatro grandes empresas não esperaram pela aprovação da Lei do Petróleo, hoje emperrada no Parlamento iraquiano. As divergências estão em torno da definição de critérios para distribuir a renda do petróleo pelos governos
regionais.
Os xiitas, ao sul, e os curdos, ao norte, têm a maioria significativa das reservas, deixando desprotegidos os sunitas, que formavam a elite civil e militar do regime deposto pelos Estados Unidos em 2003. As quatro companhias obterão os chamados "no-bid contracts", ou contratos sem licitação, que os governos em geral assinam com empresas que são as únicas capacitadas a fornecer certo tipo de produto ou serviços. Não é o caso das quatro petrolíferas favorecidas.
Elas não terão a concessão a longo prazo para a exploração das reservas. Serão contratadas por dois anos como prestadoras de serviço. A renda do óleo extraído será do governo. Mas os quatro grupos, pelos investimentos a serem feitos, estarão em condições privilegiadas no momento em que a Lei do Petróleo, quando aprovada, fixar as normas de concorrência.
Comentando a informação, o blogueiro Daniel Altman, especialista em globalização, notou a falta de critérios para que fossem escolhidas essas empresas. Mas ele também diz que, mesmo por um período relativamente curto, o equipamento a ser investido precisará de proteção. Foi por não consegui-la que a Shell abandonou um campo de 200 mil barris ao dia que explorava na Nigéria.

Iraque distribui sem concorrência licença de petróleo
Data: 20/06/2008 - Fonte: Folha de SP


Qual deveria ser o procedimento de contratação de empresa petrolífera se não havia lei para licitação? Ou havia tal lei?

Se as companhias formavam um consórcio, cuja estatização (roubo) ocorreu no governo de Saddam, não é justo (do ponto de vista de quem ganhou a guerra) que recebam uma forma de ressarcimento ou indenização por danos sofridos pelo governo que caiu?

China, Índia e Rússia apoiaram a guerra ao Iraque? Se não, não têm do que chiar. A guerra tem custos. Assim como qualquer negócio, a guerra tem custos necessários se alguém acha que pode lucrar com ela. Só o que falta é abrir as portas para quem, justo, criticou a coalizão que fez tudo sozinha. Só o que falta é legitimar “caronas” como chineses, indianos e russos.

Se a matéria pretendeu criticar o embargo, comete um rotundo equívoco. O embargo (governo Clinton) foi adotado como medida paliativa para pressionar o governo de Saddam ao invés de uma ação mais enérgica. Tem que se decidir, ou a guerra ou o embargo e este não estava sendo eficaz devido ao programa da ONU – Óleo por Comida – que permitia o contrabando pela fronteira jordaniana.

Se os governos regionais estão divergindo, ao ponto de emperrar a aprovação da lei, as empresas têm que fazer algo mesmo: do contrário, a economia iraquiana padece.

Sim, os curdos e os xiitas detêm maiores reservas, mas, a reportagem erra, pois os sunitas também têm (embora menos) e não é pouco:



Veja vários campos “em produção” (azuis) no centro do país, a área sunita.

Isto, no entanto, é muitíssimo mais justo que a situação pretérita, na qual os lucros apenas iam para os sunitas, etnia de Saddam. Curdos e xiitas eram freqüentes alvos de limpeza étnica.

Como as companhias citadas sem capacidade de prestar certos serviços ou produtos (não citados, apenas aventados... imaginariamente na reportagem) estariam em condições vantajosas com a promulgação de uma lei de concorrência se a própria matéria diz que as empresas citadas não se enquadram dentro da situação de prestadoras capacitadas? Se uma futura lei for aprovada, como executarão os serviços (não descritos)? Algo não fecha e a matéria não explica, apenas acusa.

Como uma reportagem tão fraca da Falha de São Paulo com opinião de um “blogueiro (sic) especialista em globalização” pode ter coerência em acusar privilégios corporativos de empresas incapazes de garantir a segurança (caso da Shell), enquanto que esta mesma segurança é feita diretamente pelo Exército dos EUA?!

Os documentos do Deptº de Defesa dos EUA[1] descrevem as operações, inclusive os dispositivos de segurança, que já estão garantidos.



[1] Em http://www.mnf-iraq.com/images/CGs_Messages/strategic_framework_agreement.pdf , Seção I: Princípios de Cooperação; Seção V: Cooperação Econômica e Energética; Seção VI: Cooperação Ambiental e de Saúde; dentre outros.
Em
http://www.mnf-iraq.com/images/CGs_Messages/security_agreement.pdf , Artigo 5: Propriedade Comum; Artigo 6: Acordos sobre Instalações e Áreas; Artigo 8: Proteção Ambiental; Artigo 12: Jurisdição; Artigo 15: Importação e Exportação; Artigo 16: Taxas; Artigo 17: Licenças ou Autorizações; Artigo 20: Moeda e Câmbio; Artigo 30: Período de Efetividade do Acordo; dentre outros.

Monday, December 22, 2008

Planejamento Urbano


O Estatuto da Cidade – Lei 10.257/2001 – saudado como apanágio urbanístico brasileiro da ‘esquerda’ e demonizado pela ‘direita’ vem de uma tradição de planejamento local e aberto, isto é, baseado na comunidade, vilarejo, cidade e com participação social através de referendos ou grupos de trabalho de composição mista (governos, empresários e associações civis). Quanto aos socialistas que enxergam no planejamento urbano, uma forma de inocular sua agenda estatista e totalizante, eu não me bato, pois seu modelo já se mostrou falido frente à dinâmica e caos produzidos na grande cidade. Mas, justamente por esta visão é que os liberais (econômicos) mantêm preconceitos contra o ato de planejar, especialmente, nas necessitadas urbes. Seria bom, no entanto, lembrar o pragmatismo que marcou o desenvolvimento urbano dos países desenvolvidos como algo que beneficiou as próprias sociedades abertas.[1]

Ao enfatizarmos qualquer proposta ou norma sem partir das condições iniciais, isto é, seu diagnóstico é que produzimos o maior erro. O mais comum e corriqueiro nestas discussões que apenas tangenciam o tema em si – planejamento urbano – é a imposição de um modelo de planejamento (ou negação de qualquer modelo) a partir de premissas puramente ideológicas e não técnicas porque a técnica é vista como ‘viciada’, isto é, como subserviente a um dado modelo político.

A discussão séria simplesmente trava sob a retórica de que “nada é neutro”.

O ponto polêmico com relação à idéia de planejamento se dá porque este envolve um grupo de especialistas, logo, de um domínio tecnocrático, de de uma primazia da minoria sobre a maioria, não sujeita ao escrutínio democrático de avaliação após um processo eleitoral.

Neste ponto, geralmente, o debate se acirra entre as diversas tendências políticas, normalmente dentro do espectro da ‘esquerda’. Pois, a “direita-liberal-econômica” não se afeiçoa à idéia de uma centralização da decisão econômica a ditar-lhe regras de usufruto de sua propriedade privada.

Portanto, não é fácil imaginar o planejamento urbano como uma política pública, algo tão importante quanto uma política de saúde ou educacional. Para que isto se tornasse efetivo seria necessária, a maior disponibilidade de informação sobre modelos de desenvolvimento urbano ao cidadão comum. Especialmente, se considerarmos que o planejamento atual tem na “participação social”, uma premissa. Contudo, isto se torna particularmente difícil quando a discussão escorrega dentro de um ringue de premissas ideológicas.

A diversidade de situações já deveria, por si só, ser suficiente para abortar sectarismos. O planejamento urbano para a realidade local de um país imenso, continental como o Brasil teria que ser bem mais que girar a roleta de opções com bulevares franceses, cidades-jardim britânicas, planos urbanísticos alemães ou o sistema de parques e cidades americano.

O que parece assustar muitos liberais (econômicos) é o populismo que o conjunto de instrumentos jurídicos da legislação urbanística propicia aos governantes oportunistas e suas câmaras de vereadores. E mesmo que tenhamos melhores quadros, com gente melhor qualificada, a chance de se perverterem com tamanha disponibilidade de concentração de poder é tanta que afasta quem mais precisaria do planejamento para regular e mitigar externalidades negativas do crescimento econômico na realidade urbana.

Neste sentido, o mote do “pai do planejamento urbano”, Patrick Geddes, Place, Work, Folk!, ao não levar em conta ou destacar a propriedade (privada) ou fazer qualquer menção ao espírito individual afasta ao invés de atrair, possíveis interessados de cunho liberal. Seu lema lembra, claramente, um apelo nacional-socialista ou algo do tipo... Porém, se nos aprofundarmos na obra de Geddes e entendermos o que ele, realmente, quis dizer, veremos que não apresenta tais traços totalitários, ‘sorelianos’, como os que podemos encontrar com maior freqüência nos “primos-irmãos” dos liberais (econômicos), os conservadores.

Com o fim da Idade Média e a constituição dos estados-nacionais, o modelo fundiário europeu-ocidental pautado na pequena propriedade tornou-se tão bem sucedido que parecia ser uma “obra da natureza”. Ao analisarmos o perfil econômico de um vale europeu com as terras aradas e um vilarejo central, a composição econômica de agricultores, artesãos e comerciantes parecia ser o “embrião natural” do que viria a ser uma pequena cidade e sua hinterlândia. No entanto, não temos nada de ‘natural’ aí... Se observarmos outros vales, bem mais a leste, precisamente na Índia notaremos que a cultura irrigada de arroz não pode prescindir de canalizações hidráulicas feitas por seu governo. O que, em determinado caso, pode ser totalmente obra de ações individuais somadas, noutro é conseqüência de uma obra coletiva induzida por um órgão governamental ou instituição formal. Podemos ter, portanto, fenômenos similares, cujas gêneses são totalmente distintas.

E o que os distingue a primeira vista os vales europeus dos indianos? A densidade demográfica. Se isto, por si só, não determina o desenvolvimento, ao menos impõe uma condição... Severa. Simplesmente, não dá para falar em propriedade privada e ausência do estado em condições de escassez de recursos naturais, no caso, a água.
(...)

[1] O início formal da teorização acerca do planejamento urbano vem com Patrick Geddes antes da I Guerra Mundial e com a primeira lei britânica sobre planejamento em 1909-10.

Elástico Térmico



Como afirmar o aquecimento térmico se em um país tão estreito como o Chile temos aumento no interior e estabilização no litoral?

Segundo Patrício Aceituno, meteorologista da Universidade do Chile, a “fase temperada” do clima mundial vai acabar. Como o ano de 2008 foi considerado o 10º mais quente desde o século XIX e agora estamos em fase de resfriamento pelo terceiro ano consecutivo, o pesquisador considera que entraremos num ciclo de aumento da temperatura marcada por avanços e retrocessos.

Indícios neste sentido estariam sendo observados com altas temperaturas na Europa e um inverno pouco rigoroso na Escandinávia. Na América do Sul também estaríamos assistindo a um avanço térmico consistente com médias, três graus maiores em grande parte da Argentina, Uruguai, Paraguai, sudeste boliviano e sul brasileiro.

Porém, no mesmo período, a Escandinávia sofreu com frio extremo e se, desde os anos 80, uma tendência de aumento de 0,5 a 0,7 graus foi registrada no interior chileno, o mesmo não se observou em sua zona costeira.

Saturday, December 20, 2008

O que significa a vitória?




Áreas jihadistas no Afeganistão e fronteira paquistanesa.
Se o sentido de ‘sucesso’ puder ser relativizado, então a "derrota americana" em suas recentes operações no Afeganistão e no Iraque não são o que parecem. Depois do ataque ao Afeganistão, a Aliança do Norte retomou áreas que estavam sob domínio talebã, embora se diga que esta esteja “ganhando terreno” agora. E a idéia que temos de ‘domínio’ não se aplica ao Afeganistão. Mesmo quando os Talebãs não tinham sido derrubados, sua perpetuação dependia de acordos com líderes tribais. Por exemplo: o esporte nacional (pólo com um crânio inimigo) não fora abolido, apesar da determinação da política moral talebã. Se insistissem nisto, as tribos se revoltariam. Trata-se de um “domínio relativo”, ceder para ganhar.

Agora, me diga: se relativizamos para entender o que ocorre com estes grupos e situações, por que nos soa estranho fazer o mesmo com os ‘imperialistas’? Por que vitórias parciais e avanços de terreno não são compreendidos como ‘sucesso’ no cômputo final?

Não será por que:

1) Superestimamos o poder imperial?
2) Ou lhe cobramos maior eficácia? (Porque ainda o superestimamos...)
3) Ou porque não toleramos a idéia de que, ao final das contas, ganhem mais uma vez?

O que temos no fundo é uma análise assimétrica para quem julgamos. Para uma Talebã somos misericordiosos no cálculo de suas investidas. Qualquer ação, por mais pífia ou performática que seja rende exageros na conclusão; já para os EUA, mesmo que dominem a maior parte do Afeganistão (construindo rotas de abastecimento, instalando acampamentos, impondo lideranças aliadas, influenciando em governos vizinhos como o do Paquistão etc.), tudo parece ‘pouco’ por que não é tudo!

Podemos dizer que “os EUA perderam” por que seu investimento de alto custo não tem trazido os benefícios esperados? Mas, alguém aqui sabe exatamente quais são estes? Já fizeram uma análise apurada e equilibrada destes?

Quanto ao Iraque, eu acho que a realidade já mostra que:

1) Ganharam a guerra;
2) Instalaram uma cúpula de aliados;
3) Estabeleceram vínculos econômicos (empresas de extração) no norte curdo;
4) Diminuíram substancialmente o número de insurgências e ataques das hostes inimigas;
5) Baixaram a virulência do apoio iraniano aos xiitas do sul (em parte devido a este benfazeja crise que reduziu a demanda por petróleo) etc. Tanto que Ahmadinejad voltou à mesa de negociações e não se posicionou favoravelmente a invasão russa na Geórgia (que pode ser um problema bem maior a Teerã).

Há maneiras e maneiras de avaliarmos “quem ganhou”. Agora, se nos basearmos em que uma crítica (e oposicionista) mídia diz, a administração Bush saiu derrotada.

Num certo sentido, a claque de Bush perdeu mesmo: nas eleições presidenciais americanas. Mas, é só uma questão de tempo para vermos que Barack Hussein Obama também ‘perderá’ ao rasgar sua retórica pacifista e responder a crises como a que foi deflagrada em Mumbai, dentre outras.

Perde a ingenuidade e vence a realidade. Neocons e críticos da guerra perderão para dar lugar ao eterno retorno do interesse de estado.

Wednesday, November 19, 2008

Avanço das negociações entre EUA e Irã beneficia Israel



Amos Yadlin, major-general israelense disse que não considera um diálogo entre EUA e Irã como negativo porque “diálogo não é apaziguamento”. Como o Irã está bastante fragilizado com a crise internacional, as sanções podem inclusive recrudescer. Não só se percebe uma mudança na postura israelense sobre o tema, como também o avanço nas negociações e intensificação das conversações da administração Bush com o governo iraniano. E a mudança pode ser duradoura se o aceno de Barack Obama se mantiver neste sentido. Do outro lado interessa aos iranianos que as negociações avancem. Não há nada de proveitoso em se tornar outro “estado-pária”, tal como o Iraque no passado recente ou a Coréia do Norte na atualidade. E, por mais paradoxal que possa parecer, não interessa aos israelenses, um conjunto árabe fortalecido. Para evitar isto, o contrapeso iraniano se faz necessário.

Outro sintoma da guinada iraniana é quanto o apoio a Rússia, inicialmente favorável a guerra na Geórgia, mudou pelo temor de que Moscou procurasse ampliar sua influência vendendo armas a Síria. Se isto ainda não significa uma posição eqüidistante entre Moscou e Washington, ao menos representa uma postura bem mais pragmática e centrada em objetivos que traduzem a necessidade de estabilidade regional.

Piratas

Seqüestro de petroleiro marca escalada pirata na costa da África

O seqüestro do superpetroleiro saudita Sirius Star no último fim de semana é o ápice da escalada de ataques piratas na costa leste africana, considerada uma das rotas mais perigosas para navegação no mundo. Atualmente, os piratas mantém dezenas de navios seqüestrados, com mais de 200 tripulantes reféns.

Como estão bem armados, com metralhadoras, granadas e lançadores de foguetes, as forças estrangeiras na área evitam o confronto direto, enquanto os proprietários negociam o pagamento de resgates. O caos na Somália, onde forças islâmicas combatem o governo apoiado pelo Ocidente, permitiu o desenvolvimento da pirataria na região. No último dia 10, a União Européia aprovou a primeira operação naval de sua história para lutar contra os piratas em plena atividade na Somália e no golfo de Áden, onde aconteceram 63 dos 199 ataques de piratas registrados no mundo entre janeiro e setembro de 2008. Em 25 de setembro passado, piratas seqüestraram na costa da Somália o cargueiro ucraniano Faina, carregado com 33 tanques e diversos armamentos a bordo. O navio e a tripulação permanecem em poder dos seqüestradores, que exigem US$ 20 milhões para liberá-los.

http://www.videversus.com.br/index.asp?SECAO=80&SUBSECAO=0&EDITORIA=10912

...
Quanto querem apostar que os EUA serão chamados ou será insinuado que devem colocar ordem na região para depois os criticarem por um "injustificado intervencionismo"?

Prevenção de riscos

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana (SEDRU) do Governo de Minas Gerais iniciou o mapeamento das áreas de risco em alguns municípios da RM de Belo Horizonte, uma vez que estão contratados os Planos de Redução de Riscos dos municípios de Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Vespasiano, e em licitação, para os municípios de Caeté, Raposos, Rio Acima e Ibirité. Trata-se uma ação inédita, já que os recursos são oriundos do próprio tesouro estadual.
...
Parece-me que quanto mais descentralizados estes planos mais eficazes se tornariam, assim como a efetiva ação pública em geral.

Tuesday, November 18, 2008

Líbia



GENIA SAVILOV/AFP/Getty Images
Libyan leader Moammar Gadhafi







Equilíbrio e transição na Líbia[i]


GWB parece satisfeito com as intenções de Muammar Kadhafi de compensar vítimas do terrorismo. Por trás disto, a aproximação com um fornecedor de petróleo. Condi está para encontrar o filho do general líbio esta semana. A U.E. também traça uma nova política para aproximação com o líder líbio, antes um desafeto e claro protagonista do terrorismo internacional. Na verdade, também temos a velha competição com Moscou, que recentemente adotou uma política favorável a Trípoli. E a velha raposa líbia, inteligentemente tenta se posicionar entre os dois maximizando suas vantagens. Sua posição frente aos conflitos internacionais tem lhe proporcionado benefícios de uns cinco anos para cá, quando deixou o status de país pária na comunidade internacional. Isto representa uma senhora vantagem frente ao alinhamento pró-soviético da guerra fria, no qual recebia apoio a sua hegemonia na África setentrional.

De 1969 para cá, a Líbia amargou um isolamento que tende a desaparecer gradativamente de acordo com a importância de suas exportações de óleo. Mas, apesar da necessidade de reformas dificilmente, o clã de Kadhafi mudará algo de substancial no plano interno. Sua pequena população, cerca de 6 milhões, neste caso é uma vantagem para manter sua hegemonia e o status quo. Setores econômicos e sociais – educação, saúde e transportes – desmoronaram com seu peculiar socialismo de forma que a Líbia não está numa posição confortável e também precisa, urgentemente, negociar. Seu livrinho verde falhou. Mais um item para colecionadores que se transformou num tipo de papel higiênico pouco funcional... Seus problemas estão no atendimento à população, pois sua oposição é fraca e sediada no estrangeiro. Mesmo tendo líbios a serviço da Al-Qaeda no Iraque, a Líbia é um país onde os jihadistas não conseguiram proliferar sob o tacão do ditador. Os focos de agitação política são localizados, particularmente na fronteira com o Egito, Sudão e Chade. Nitidamente, com influências externas a sudeste onde indivíduos do grupo étnico tabu se insurgiram atacando instalações da polícia.

Por trás disto está o apoio do Chade que, recentemente, reprimiu uma revolta insuflada pela própria Líbia – e ainda tem gente que acredita que os problemas africanos decorrem unicamente da escravidão européia... Mas, não há de ser nada. O conflito está longe das zonas onde o judiciário se faz mais presente, o litoral. Nesta remota área, a repressão e “guerra suja” típica das ditaduras fará o restante do serviço. A preocupação está na dificuldade da introdução de reformas que, não ocorrendo, poderá aumentar e multiplicar os focos de tensão pelo território. O negócio é antever e se adiantar passando a perna nos jihadistas e fundamentalistas islâmicos. Como disse Kaplan em seu magistral Os Confins da Terra sobre os movimentos fundamentalistas no Egito, o problema não são os pobres, mas os “menos pobres”, i.e., grupos intelectualizados alijados das estruturas de poder, como prova os cerca de 25% de graduados e desempregados do país.

O foco das negociações também deverá se dar na “velha guarda” do regime, temerosa de perder seus privilégios, com as reformas necessárias. Particularmente com uma melhor distribuição dos lucros do petróleo. Deverá se implementar um delicado equilíbrio com a elite econômica, a segurança, as tribos e os movimentos revolucionários. E no plano externo, o jogo com a Rússia, os EUA e a U.E. No entanto, nenhum desses grandes atores logrará um bom resultado se Trípoli não conter e resolver seus problemas internos.





[i] Adaptado de “Libya: Eyeing a Transition of Power” em www.stratfor.com.

Monday, November 17, 2008

"Tudo que é líquido desmancha no ar..."


Parece-me uma frase mais adequada aos dias de hoje:
Petróleo fecha em queda e perdas chegam a 62% desde
recorde
O preço do petróleo cru recuou 3,7% nesta segunda-feira, até US$ 55,00 por barril, seu menor nível em 22 meses, entre expectativas de uma redução da demanda pela matéria-prima e após ser divulgado que o Japão entrou em recessão.
Os contratos futuros do petróleo cru com vencimento em dezembro fecharam em baixa de US$ 2,09 na Nymex (Bolsa Mercantil de Nova York), até US$ 54,95 por barril (159 litros). O petróleo do Texas já está US$ 92,32 mais barato (62,68%) que em 11 de julho, quando alcançou um preço recorde de US$ 147,27 por barril. O preço dos contratos de gasolina para entrega em dezembro caiu US$ 0,04 o galão (3,78 litros), até US$ 1,17, enquanto o do combustível para calefação diminuiu US$ 0,04, até US$ 1,79 por galão. Por outro lado, o gás natural para entrega em dezembro terminou o pregão a US$ 6,53 por mil pés cúbicos, US$ 0,22 mais caro que no fechamento de sexta-feira. O petróleo cru fechou pelo segundo dia consecutivo em baixa depois que a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) reduziu, pela sexta vez seguida, sua previsão sobre o crescimento da demanda mundial de petróleo em 2008 e 2009 devido ao efeito da crise financeira e econômica e o situou em 0,33% e 0,57%, respectivamente.
http://www.videversus.com.br/index.asp?SECAO=98&SUBSECAO=0&EDITORIA=10906

Hu Jintao 10 vs. Barack Obama 0

HOY
Política
Costa Rica y China inician negociaciones para TLCEl presidente asiático visitará Centroamérica para suscribir 11 acuerdos políticos, económicos y deportivos con ese país, e iniciar las conversaciones para la firma de un TLC.
VS.

Voted NO on implementing CAFTA for Central America free-trade.

Approves the Dominican Republic-Central America-United States-Free Trade Agreement entered into on August 5, 2005, with the governments of Costa Rica, the Dominican Republic, El Salvador, Guatemala, Honduras, and Nicaragua (CAFTA-DR), and the statement of administrative action proposed to implement the Agreement. Voting YES would: Progressively eliminate customs duties on all originating goods traded among the participating nations Preserve US duties on imports of sugar goods over a certain quota

Remove duties on textile and apparel goods traded among participating nations Prohibit export subsidies for agricultural goods traded among participating nations Provide for cooperation among participating nations on customs laws and import licensing proceduresRecommend that each participating nation uphold the Fundamental Principles and Rights at WorkUrge each participating nation to obey various international agreements regarding intellectual property rightsReference: Central America Free Trade Agreement Implementation Act; Bill HR 3045 ; vote number 2005-209 on Jul 28, 2005

http://www.ontheissues.org/2008/Barack_Obama_Free_Trade.htm

Os céticos e o aquecimento

http://www.sciam.com/article.cfm?id=even-skeptics-admin-global-warming-is-real-video

Thursday, November 13, 2008

Instituições africanas






Aos que asseguram que as mazelas africanas decorrem do colonialismo europeu alegando o “peso das instituições” caberia a pergunta: quais instituições, cara-pálida? A da escravidão, praticada muito antes dos europeus aportarem por lá?

Isto soa como aquele batido argumento de que o subdesenvolvimento brasileiro é conseqüência da colonização portuguesa. Ora! Séculos se passara e os portugueses já estão ‘noutra’... E mesmo o Brasil, que teve uma colonização muito mais duradoura que as colônias portuguesas na África já pôde auferir os frutos de um desenvolvimento ancorado por uma economia muito mais diversificada que todo aquele continente. Logo se vê que o argumento do “legado colonialista”, em grande medida, não passa de um sofisma barato.

Os estigmas da divisão, do ódio e da auto-exclusão não são legados europeus, mas produtos endógenos da própria cultura política gerada pelos africanos. Tal é o caso de um país, dentre tantos outros, a Costa do Marfim.

Atualmente, aquele país é um mosaico de 61 tribos de povos imigrados de países vizinhos (Burkina Faso, Mali, Gana, Guiné-Bissau etc.) que viviam, se não em harmonia, pelo menos com certo grau de tolerância. Soma-se a eles, cerca de ¼ do contingente total provenientes de outras regiões africanas. Como a maioria corresponde a região saheliana – a mais pobre do mundo – não é de estranhar que continuem migrando para um país pobre, mas relativamente melhor do que as regiões vizinhas. Consequentemente, um dos motivadores dos conflitos etno-tribais está na situação do ‘estrangeiro’, sem perspectivas de obter a nacionalidade marfiniana e, portanto, sem direitos de qualquer espécie.

Não é a toa que a Costa do Marfim atraia tanta gente... Até pouco tempo atrás, era uma referência aos povos vizinhos com sua estabilidade econômica, política e social. Grande parte disto se deve atribuir ao carismático ex-presidente da república Félix Houphouet Boigny, tido como o “velho sábio” quem soube integrar todas as tribos nacionais.

Se o retorno ao tribalismo vigente tivesse alguma correspondência com a Europa, particularmente a dominação francesa que se encerrou em 1960, ele viria logo após a emancipação política do país. E não a partir de 1993, com o falecimento do estimado líder. A crise econômica também veio a partir daí, quanto mais se distanciava do período colonial. E o legado tribalista, com conflitos entre autóctones e alógenos: pescadores do sul com criadores de gado ao norte, cacaueiros a oeste, comerciantes no centro e gangues na capital.

Na tentativa de estabilizar o país, em 1999 foi dado um golpe militar que trouxe um general reformado ao poder. Este logo organizou eleições e entregou o poder aos civis. Quando se pensou que teríamos a estabilização política, em 2002, um grupo de 800 rebeldes tomou a cidade de Bouaké e, desde então temos uma guerra civil.

Um dos presidentes que sucederam ao “velho sábio”, Henri Konan Bedié introduziu o neologismo de ‘marfinidade’, ou seja, apelou para o nacionalismo que destituiu o mérito e lugar do mosaico de tribos. O tênue equilíbrio dos diversos povos foi ameaçado e, como se não bastasse, a assembléia legislativa aprovou o novo código eleitoral (após um plebiscito condicionado) onde se assegurava que para um cidadão ser candidato à presidência tinha que ser filho de pai e mãe marfinianos. Ou seja, a base dos atuais conflitos no país foi criado pelos próprios africanos com seu nacionalismo anacrônico.

Candidatos como Alassane Dramane Outtara, filho de pai ‘marfiniano’, mas de mãe burkinabé foram excluídos de qualquer tentativa de serem eleitos. Consequentemente, os protestos tomaram corpo. Como se não bastasse, o argumento religioso tomou corpo, pelo fato de que Alassane fosse muçulmano. Hoje é acusado de autoria de tentar um golpe de estado, com apoio de tribos do norte e do centro do país, assim como dos governos de países limítrofes e outros mais ao norte, como a Líbia e outros, mais distantes, como a Arábia Saudita. Se for verdade, outro elemento entra no jogo geopolítico, um “imperialismo árabe” na região com seu conflito secular contra os karfirs (infiéis).

Hoje, a Costa do Marfim está dividida em duas porções nitidamente polarizadas. O sul e o centro-leste (cristãos) com um governo legitimamente eleito, e o norte e o centro-oeste (islâmico) com a população rebelde. Se for justo alegar a pretérita influência européia na religião, não se pode deixar de lado o avanço muçulmano com apoio externo recente e atuante. A Europa, ao contrário dos que a acusam injustamente, até tenta colaborar para o cessar-fogo, como o acordo assinado em Paris para aplacar a guerra entre as diversas regiões e suas populações. No entanto, os militantes do partido dos rebeldes e os militares fiéis ao partido governista não o acataram. A paz acabaria por lesá-los de alguma forma diminuindo seu poder. Detalhe: o acordo determinava que os ministérios da defesa e do interior seriam atribuídos aos rebeldes.

Só um completo tolo pode atribuir uma “relação institucional” ao drama africano esquecendo-se (talvez por conveniência) que a principal se dá com a estrutura tribal da maioria dos países do continente. A guerra tribal e flagrantemente genocida em Ruanda e Burundi a partir de 1994 atesta isto. Cabe lembrar as palavras do “velho sábio” na Costa do Marfim que, nos anos 80 com o advento da democracia, vaticinava “cada tribo deve fundar o seu partido político”. Ou seja, a democracia rejeitada pelos próprios governos e movimentos subseqüentes seria a única solução possível. Acaso as instituições européias, como é a própria democracia, fossem acatadas não teríamos o absurdo que se assomou naquelas plagas a partir dos anos 90.

As tribos são o problema, mas podem ser administradas compondo um tipo de solução. Antes dos golpes em 1999 e em 2002, mais de 40 partidos foram inscritos no país, como resultado da proposta anterior de estabilização e desenvolvimento institucional (sim, instituições, para desagrado de mentes fatalistas não só mudam como podem ser criadas). A aliança entre os membros de uma mesma tribo ou entre tribos vizinhas consiste numa estratégia de sobrevivência das mesmas. É normal que se tratem por ‘irmãos’ ou ‘irmãs’ entre si, mesmo sem ter relações de parentesco, tamanha é sua ligação. O problema é o que mesmo conceito não foi estendido aos residentes de outras tribos fora da composição governamental e, muito menos, com os imigrantes e seus descendentes.

Monday, November 10, 2008

Agropecuária



Produção alimentícia/população por continente (%)

África: 6,7 - 12,6

América do Norte: 13,8 - 8,0

América do Sul: 6,5 - 5,6

Ásia: 44,3 - 60,4

Europa: 27,5 - 12,9

Oceania: 1,2 - 0,5

Deficitária
Superavitária

...

Percentual populacional que trabalha na agricultura

Quanto menor o índice de trabalhadores agrícolas, tendencialmente maior será o desenvolvimento econômico-social.
Aqui estão apenas exemplos extremos.


Menos de 10%: Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Venezuela, Canadá, EUA, Japão, Israel, Jordânia, E.A.U., Armênia, Bósnia, Iugoslávia, Macedônia, R.U., Espanha, França, Islândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Países Baixos, Luxemburgo, Bélgica, Alemanha, França, Itália, Suíça, Áustria, Hungria, República Tcheca.
Mais de 75%: Papua Nova-Guiné, Laos, Nepal, Mali, Níger, Burkina Faso, Guiné, Guiné-Bissau, Gâmbia, Chade, República Centro-Africana, Etiópia, Quênia, Tanzânia, Ruanda, Burundi, Uganda, Malawi, Moçambique, Madagascar.
Não obtive dados da participação do setor primário no PIB de cada país, mas eles, normalmente, acompanham o índice da população empregada por setor, i.e., mais gente num setor específico, maior produção equivalente e valor gerado. Logo, quando menor o índice de produção relativa na agropecuária, maior na indústria e nos serviços. A maior urbanização corresponde, genericamente, a uma sociedade mais rica e afluente. Portanto, não há vantagem nenhuma em deter um maior percentual do PIB agropecuário porque isto significa pobreza na economia urbana.
...

Comércio de produtos agrícolas

Apenas alguns exemplos...

Exportações 50% maiores que as importações: Brasil, Argentina, Chile...
Exportações 10% maiores que as importações: Austrália, Canadá, EUA...
Equilibradas: Espanha, Polônia, Suriname...
Importações 10% maiores que as exportações: México, Venezuela, Paquistão...
Importações 50% maiores que as exportações: Rússia, Irã, Arábia Saudita (a maior parte do mundo islâmico)...



Fonte: Philip’s. Modern School Atlas. 92nd edition.

Uma boa desculpa...


Tiranete Hugo Chávez manda fechar aeroporto e ameaça governador de prisão
Por ordem do presidente da Venezuela, o tiranete caribenho Hugo Chávez, as Forças Armadas ocuparam nesta segunda-feira um aeroporto no nordeste do país. Chávez justificou a medida dizendo que a petrolífera estatal PDVSA teve acesso negado ao aeroporto pelo governador regional de Sucre, Ramón Martínez. O presidente acusou Martínez de pretender desrespeitar o resultado da eleição regional de 23 de novembro e ameaçou-o, durante um comício de candidatos do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), em Sucre.
"Vai terminar na prisão este asqueroso, traidor, mafioso!", gritou Chávez em seu discurso. José Ramón Regnault, prefeito de Carúpano, onde se encontra o aeroporto, no Estado de Sucre, disse aos jornalistas que a ordem presidencial foi executada sem incidentes por soldados da Guarda Nacional. "Deploramos que em uma democracia se imponha desta forma", disse o prefeito, acrescentando que qualquer transferência do aeroporto "deve passar por um processo administrativo prévio". Chávez também acusou Ramón Martínez de pretender não entregar o cargo se perdê-lo nas próximas eleições. Martínez rejeitou a ameaça e negou que pretenda desrespeitar o resultado eleitoral porque, segundo ele, as pesquisas asseguram que a candidatura opositora a Chávez tem no Estado "uma vantagem incontornável" de mais de 15%. Hugo Chávez está armando um golpe militar, em face das projeções das eleições, que devem mostrar o tamanho do descontentamento popular no país com o seu governo.
Uma vez que...
Pesquisa aponta derrota de chavistas em oito Estados nas eleições
Os candidatos partidários do presidente da Venezuela, o tiranete caribenho Hugo Chávez, perderão nas eleições regionais de 23 de novembro em pelo menos oito Estados, segundo uma pesquisa feita pela empresa Interlace divulgada nesta segunda-feira. A pesquisa foi feita em 15 dos 22 Estados do país em que se elegerá um governador, disse hoje o diretor da firma, Oscar Schemel.
Nos Estados de Bolívar, Carabobo, Guárico, Nueva Esparta, Sucre, Táchira, Yaracuy e Zulia "é clara" a preferência eleitoral por opositores a Chávez, disse Schemel em declarações à televisão privada "Globovisión". Segundo ele, nos Estados de Aragua, Falcon, Mérida, Miranda, Lara e Vargas acontece o mesmo com os chavistas, que nas eleições de 2004 ganharam em 20 de 22 Estados, na maioria das 328 prefeituras e 233 legislaturas provinciais, assim como na prefeitura de Caracas.
http://www.videversus.com.br/index.asp?SECAO=80&SUBSECAO=0&EDITORIA=10703

África - instituições

Cimeira sobre Zimbabué sem resultados

A Cimeira de emergência da SADC sobre o Zimbabué, que teve lugar a noite passada em Joanesburgo, apelou aos partidos rivais que formem um governo de unidade nacional sem demoras e que concordem em partilhar o controlo sobre a polícia (...)

...
Vocês já viram isso? Um grupo de países está discutindo o controle da polícia em outro. E o que impressiona é que tal só será possível com a aceitação dos dois principais partidos. Ou seja, seu poder vai muito além da mera representação popular. Mas, pelo menos ele assumem o problema, ao contrário de nós...

Bjorn Lomborg - The Facts about the Environment (part 5)

Bjorn Lomborg - The Facts about the Environment (part 4)

Bjorn Lomborg - The Facts about the Environment (part 3)

Bjorn Lomborg - The Facts about the Environment (part 2)

Bjorn Lomborg - The Facts about the Environment

Alguém ainda duvida que se trata de uma ditadura?

Tiranete caribenho Chávez ameaça usar tanques se oposição vencer eleições regionais

O presidente da Venezuela, o tiranete caribenho Hugo Chávez, afirmou no sábado que pode acabar lançando mão dos tanques se a oposição vencer nas eleições regionais de 23 de novembro no estado de Carabobo (norte), nas quais, segundo ele, está em jogo seu próprio futuro. "Se permitirem que a oligarquia volte ao governo de Carabobo, vou acabar mandando os tanques da brigada blindada para defender o governo revolucionário e para defender o povo”, afirmou Chávez ao lado do candidato oficial do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) em um comício nesse estado.
Em 25 de outubro Chávez já havia dito que consideraria preparar um "plano militar" contra o líder opositor e atual governador do estado de Zulia (noroeste), Manuel Rosales, se este e seus partidários ganhassem o governo e as prefeituras da eleição de 23 de novembro. "Trata-se do futuro da pátria. Em 23 de novembro está em jogo o futuro da revolução, o futuro do socialismo, o futuro da Venezuela, o futuro do governo revolucionário, e também o futuro de Hugo Chávez. Está em jogo tudo isso", afirmou ele. Atualmente, Caracas e 17 estados do país são governados pelo oficialismo. Em outros quatro há dissidentes do chavismo e dois estão em mãos da oposição.

Wednesday, November 05, 2008

Na real




Veremos se Barack Obama tem tanta astúcia quanto retórica. 52% foi sua margem de vitória. Estreita... Com uma oposição em seu encalço terá que solidificar sua base e, na melhor das hipóteses, ampliá-la. Se cair no mesmo erro da dupla Bush/Cheney que governou com uma das metades em 2001 pode não ter o sucesso que se espera dele. Mal ganhou por mais que Bush em 2004. Há muitos que esperam ser nomeados para a Casa Branca, para as agências federais e se não forem contentados podem se tornar amargos opositores.

Se lá por março ou abril retirar as tropas do Iraque, mesmo que parcialmente, abrirá os portões do Inferno, ou seja, para o Irã pintar e bordar no Iraque. E alguns dos que mais protestarão serão os aliados sauditas temerosos do olhar de Teerã sobre seus campos petrolíferos. Não só estes, como outros aliados, particularmente, os turcos e os jordanianos exercerão pressão sobre o presidente americano para evitar a retirada. E, claro, os israelenses. Esta será a primeira prova de fogo para o presidente. Será sábio trair sua retórica flower-power.

Como “construir alianças” se trair desta maneira seus tradicionais aliados? E será deveras difícil driblar a oposição interna se resolver se aventurar numa estratégia totalmente nova. Os europeus comemoram porque acham que os EUA os atenderá a partir de agora. Como convencer os europeus a atuar no Afeganistão? Consultará os europeus e a Otan na nova estratégia? Muitos testes deste tipo terão curso e eu estou curioso para ver como se sairá. Ansioso para falar a verdade e para ver mais um mito do presidente apaziguador cair por água abaixo. Bullshit! Alguns países europeus até poderão fornecer algum sustento as operações no Afeganistão, embora eles não tenham a força requerida e o grosso, como sempre, ficará com os americanos mesmo. Mas, se ele apenas fingiu que é um ‘dialogador’, então, tudo bem. E como a crise financeira, provavelmente, terá um impacto maior na Europa (com bancos menos preparados) do que nos EUA, os europeus já estão se resguardando, no que será difícil enviarem apoio militar a tais áreas conflagradas. A última coisa que querem os europeus agora é aumentar seus gastos, especialmente, em pontos que não lhes dizem respeito diretamente. A solução do diálogo proposto por Obama encontrará uma Europa relutante e dividida. Nada mais difícil e entorpecente para quem quer dividir responsabilidades se fazendo passar por ‘democrático’ em questões geopolíticas. Obviamente, isto levará a um conflito de interesses com os europeus no ano que vem e terá que tomar uma decisão. Será o início do desencanto, para meu regozijo. Como sair em busca duradoura dos Talebãs com aliados tão fracos e sensíveis à opinião pública anti-guerra? Temos ainda a questão do Paquistão, que Obama já cometeu algumas gafes homéricas dizendo que invadiria o país, caso soubesse do paradeiro de Osama bin Laden por lá. Invadir um aliado? Este moço não chega aos pés do Lula na arte da gafe, mas parece se empenhar.

Pode optar em continuar se arrastando no Afeganistão do jeito que vai ou refugar, preferindo o fogo pesado da direita americana. De qualquer forma, uma longa guerra. É só escolher a menos destrutiva. Outra opção, bem menos ortodoxa, é procurar um acordo com o Talebã. Se bem sucedido, realmente, terá inovado não sem atrair ódio e dura oposição no flanco interno. Se resolver levar com a barriga, atrasando a retirada, de qualquer forma, ganhará uma nova frente oposicionista: daqueles que depositaram suas esperanças na sua retórica ilusionista. Seus 52% de apoio se deteriorarão em velocidade alarmante.

Não nos esqueçamos do Urso Russo. Na manhã seguinte após a eleição de Obama, o presidente Dmitri Medvedev anunciou a instalação de mísseis no enclave europeu de Kaliningrado em resposta à operação americana do sistema de defesa de mísseis balísticos na Polônia. Após a intervenção russa em agosto na Geórgia, Obama nunca se declarou claramente contrário à Rússia. A grande questão será ainda o posicionamento da Ucrânia, no que os russos não perderão tempo para desenvolver sua esfera de influência. Militar, diga-se de passagem. Antes que o presidente americano possa se envolver com seus problemas internos, já terá que responder a altura. Se permanecer no nhém-nhém-nhém de buscar alianças com os europeus poderá quebrar a cara bonito.

Torço para que caia na real. Na Realpolitik.

Thursday, October 30, 2008

Escassez de recursos





A água na Austrália

"Embora a infertilidade e a salinidade dos solos na Austrália fossem invisíveis aos primeiros agricultores e ainda hoje não sejam bem conhecidas pelo público leigo não australiano, os problemas de água são óbvios e familiares, e 'deserto' é a primeira associação que as pessoas de outras partes do mundo fazem para se referirem ao meio ambiente australiano. Esta reputação é justificável: uma fração desproporcionalmente grande da área da Austrália tem pouca chuva ou é um completo deserto onde a agricultura seria impossível sem irrigação. A maior parte da área da Austrália permanece imprestável para qualquer tipo de atividade agrícola ou pastoril. Contudo, nas áreas onde a produção de alimentos é possível, o padrão habitual é que a pluviosidade é mais intensa junto ao litoral, de modo que, à medida que se caminha terra adentro, primeiro se encontram terras de cultivo e metade do gado da Austrália mantido a altas taxas de lotação; mais para dentro, criação de ovelhas; ainda mais para dentro, criação de gado (a outra metade do gado da austrália, mantido a muito baixas taxas de lotação), porque é mais econômico criar bovinos do que ovinos em áreas com menos chuva; e finalmente, ainda mais pra dentro, o deserto, onde não há qualquer tipo de produção de alimento."

"Em muitas áreas da Austrália os primeiros agricultores e pecuaristas tiveram o azar de chegar durante uma série de anos úmidos. Portanto, se enganaram quanto ao clima australiano, e começaram a plantar e criar ovelhas na esperança de que essas condições favoráveis fossem a norma."

"Assim como mencionei no capítulo 1 a respeito de Montana, a mudança climática mundial está produzindo tanto vencedores como perdedores e a Austrália vai perder mais que Montana."

Jared Diamond. Colapso.

Montana é um estado dos EUA. Ele começa o livro mostrando como esse estado era fértil e possuía uma imensa floresta e que entrou em colapso.

Quanto ao futuro da Austrália ele não é muito otimista. O meio-ambiente australiano está se deteriorando.

- Um de meus missivistas

Meu caro,

Se a Austrália é um desses 'perdedores', então que se dirá do resto do mundo?

The concept of Water Stress


- Source: WaterGAP 2.0 - December 1999 - http://www.worldwatercouncil.org/index.php?id=25

Montana no ranking nacional

2º estado em número de 'ranchos' (fazendas);

8º em gado bovino;

6º na produção de carne bovina;

6º no gado ovino;

5º na reprodução de ovelhas;

5º na produção de lã;

5º na produção de mel;

3º no trigo;

8º no trigo de inverno;

3º no trigo de primavera;

3º na cevada;

7º na alfafa;

2º na linhaça;

3º na canola.

*Para outros dados: http://www.nass.usda.gov/Statistics_by_State/Montana/Publications/economic/mtrank.htm

Para entendermos a relevância destes dados temos que compará-los dentro da produção americana com o resto do mundo:

- 11% da produção mundial de trigo;

- 36,4% de milho;

- 7,1% de batata;

- 47,1% de soja;

- 15,2% de leite;

- 8,9% de manteiga;

- 21,7% de carne bovina;

- 9,7% de carne suína;

- 9,6% de açúcar de beterraba;

- e, at last but not least, 5% do pescado mundial.

PHILIP’S. Modern School Atlas. London: George Philip Limited, 1998, 92nd Edition.

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Anselmo

O homem é Professor de Fisiologia da Escola de Medicina da UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), Membro da Academia Americana de Artes e Ciências, da Academia Nacional de Ciências e Sociedade Filosófica Americana, recebeu bolsa de setudos da Fundação MasArthur e o Prêmio Burr, da National Geographic Socity, publicou mais de 200 artigos nas revistas Discover, National History, Nature e Geo. E ganhou o Prêmio Pulitzer pelo seu mais conhecido livro, Armas, Germes e Aço.

Não leve a mal, mas acho improcedente esse argumento de dizer que Diamond não é um pesquizador sério.

...

Sim, eu o continuo achando um bom escritor, mas um mau pesquisador.

Tuesday, October 28, 2008

Eixos viários e meio ambiente


A navegação no São Francisco não favoreceria apenas a economia. Mas, também a integração intra-nordestina. Um dos setores economicamente mais produtivos da região é o agronegócio. O barateamento do custo da infra-estrutura precisa beneficiar os produtores locais e, sobretudo, os consumidores que serão eternamente gratos.


E como estou longe de ser um ecologista xiita, não vejo problema que haja impacto ambiental contornável. O que entendo por isto é quando a natureza se recupera, i.e., mantendo sua biodiversidade para depois começar a aumentar populacionalmente novamente. É totalmente diferente construir no ecossistema da Caatinga do que acabar com ela. É totalmente diferente construir no rio e diminuir sua vazão em alguns metros cúbicos por segundo que acabar integralmente com o rio mudando seu curso.

Assim como a urgência em construir hidrovias, temos as ferrovias como outra necessidade. Um argumento recorrente é que estas levariam a perda de empregos no setor rodoviário de carga. Ferrovias podem não gerar tantos empregos como caminhões na sua condução, mas sem dúvida que estimulam o comércio regional ao ponto de gerar n-vezes mais empregos indiretos. E, ademais, os caminhões ainda são funcionais em distâncias menores e declives acentuados. Na verdade na verdade o bom mesmo não é uma modalidade de transporte, mas a inter-modalidade que combina diferentes tipos. P.ex.: ferrovia de Recife até Belém; hidrovia até os confins da Amazônia Ocidental e sopé andino; caminhão a partir daí até Quito.


Bem, não sou contra construir rodovias, mas realmente tenho que dar razão às críticas sobre a miopia do governo. Caso tivéssemos uma hidrovia ligando a Bacia do Prata (de Buenos Aires em diante) até Manaus passando pelo Pantanal teríamos um dos maiores desenvolvimentos que o Brasil e a América do Sul poderiam conhecer. Seria fantástico!

Monday, October 27, 2008

Geografia do voto

http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowEspeciais!destaque.action?destaque.idEspeciais=811

Diagnóstico e cenários regionais da crise econômica




Agora toda atenção se volta para a crise econômica que será, possivelmente superada graças a uma reordenação dos investimentos nos EUA, a partir de fontes distintas. Na Ásia e Europa talvez não seja fácil sair imune da crise ou, ao menos, tão bem estruturado. Se a crise acabar antes do final do ano nos EUA pode ser que ainda perdure 2009 inteiro para os europeus. Por outro lado, os EUA lutam para manter a estabilidade do Iraque, beneficiados pela inabilidade iraniana de produzir o caos no país vizinho. A questão se volta para a costura de acordos entre curdos, sunitas e xiitas, mais que tudo. Como se isto já não fosse suficiente para conseguir uma bela dor de cabeça neste fim de mandato de G.W.B., a invasão russa na Geórgia traz elementos a mais de preocupação quando se sabe que o próximo alvo do Kremlin é a principal dissidente do bloco ex-soviético, Ucrânia.

A crise parece ter seu “lado bom” ao colocar o Iraque em segundo plano e a criação de governos regionais étnicos tem seguido em frente com um declínio do movimento de sabotagem político-militar iraniana por uma série de razões. Mas, as preocupações geopolíticas não dissipam, apenas se deslocam. E se deixam o cenário de tempestade de areia iraquiana se movem para uma blizzard ártico-siberiana galopando pelas estepes: direto do Kremlin para o Cáucaso. Quando um país se torna mal sucedido em tratar seus problemas econômicos, a mudança de foco para temas militares se torna solução recorrente e a Rússia não está bem preparada para os efeitos da crise econômica. Com reservas monetárias em torno de 700 bilhões de dólares apenas e projetos políticos para América Latina, Oriente Médio e África ainda dará muita dor de cabeça a Washington. Será uma prova de fogo para o próximo presidente, seja McCain com uma aposta no recrudescimento da velha Guerra Fria com uma Otan agressiva, seja Obama quando veremos a morte de um mito do ‘novo’ que “tudo pode ser diferente” ceder lugar para os velhos interesses de estado.

Apesar da crise de liquidez americana, a economia permanece forte. A intervenção estatal (que me perdoem os liberais) livrará no curto prazo os EUA de uma recessão. No seu sistema financeiro, até agora, apenas 13 bancos fecharam as portas. Já, o contágio europeu parece mais duro e as exportações asiáticas sofrem. Em primeiro lugar, por que o sistema bancário europeu não é tão saudável quanto o americano. Bancos austríacos, italianos e suecos ficaram muito dependentes da Europa Central, especialmente do sistema alemão em grau muito superior às práticas do subprime americano. O mesmo se pode dizer do sistema irlandês ou espanhol com seus subprimes. A Ásia, por sua vez, tem liquidez e está injetando direto nos EUA, auxiliando o Fed no combate à crise. Também não vemos problemas similares no mesmo grau na China ou Japão.

Se os EUA encaram uma recessão de curta duração e os europeus uma mais duradoura, o problema na Ásia é indireto, refere-se ao emprego afetado pela queda nas exportações. Deveriam se preocupar mais com a eleição de Barack Obama que vaticina um declarado protecionismo econômico... A solução asiática frente uma queda na demanda internacional não poderá fugir do subsídio a suas empresas para manter suas operações em atividade.

Sunday, October 26, 2008

Relações entre estados

Territoriais
O movimento de bens e pessoas entre os países define como sua fronteira é constituída. Um exemplo é a fronteira entre Finlândia e URSS durante a Guerra Fria, que passou por forte regulação. Ou a formação de "estados-tampão" como o Uruguai entre Argentina e Brasil; Finlândia entre Otan e o Pacto de Varsóvia; Suíça etc.
Econômicas
Acordos comerciais internacionais podem ser importantes na medida em que recursos encontrados em alguns países sejam suficientes para o desenvolvimento de alianças internacionais. Exemplos não faltam: desde os depósitos de manganês no Transcáucaso sob poder soviético; manganês no Amapá e assédio americano; petróleo saudita e invasão do Iraque (objetivando reduzir a crescente influência waabita) etc.
Políticas
A influência política pode variar da mais direta, como a relação entre o império e suas colônias, áreas sob ocupação até as indiretas, como várias formas de influência ou barganha econômica. O domínio francês na Ásia e África (assim como o americano na Australásia) diferem, mas representam um continuum ao atual grau de influência francesa nas ex-colônias através de benefícios, subsídios, acordos e privilégios. Claro que isto não deixa de ocorrer sem uma "via de mão-dupla" com uma forte influência nas lideranças políticas locais e sua própria formação.
Estratégicas
Acordos de segurança não influenciam apenas os países signatários, mas a região circunvizinha, bem como outras mais distantes fisicamente. A unificação de vários principados alemães em 1871 encorajou a formação de várias alianças européias temerosas do crescimento de seu estado. Analogamente, a expansão da Otan no leste europeu parece estar levando a uma movimentação (e ascensão) do poder russo e novas negociações com a Europa Ocidental, particularmente, a França.
...
Adaptado de An Introduction to Political Geography: Space, Place and Politics
Por Martin Jones, Rhys Jones, Michael Woods, Mike Woods
Publicado por Routledge, 2004.

Wednesday, October 22, 2008

Sinceramente, eu pensei que o índice era bem maior

Ipea diz que 5,4 milhões de brasileiros gastam mais de 30% de sua renda com aluguel

O número de moradores em áreas urbanas que comprometem mais de 30% de sua renda mensal com o pagamento de aluguel alcança 5,4 milhões, o que equivale a 3,4% da população dessas áreas. O dado foi extraído da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007 e divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o órgão, o percentual da população urbana que sofre com o ônus do aluguel teve um ligeiro aumento em relação aos valores observados em 2006, que era de 3,2%. Segundo o instituto, isso mostra que "a moradia ficou relativamente menos acessível financeiramente para a população no último ano, acompanhando uma tendência crescente desde 1992".
De acordo com os dados, Brasília ficou no topo das dez principais regiões metropolitanas brasileiras que mais sofrem com o problema do sobrepeso de aluguel. Nada menos que 6,9% dos moradores da capital federal comprometem mais de 30% de sua renda mensal com o aluguel. A taxa supera os níveis de São Paulo (4,9%) e do Rio de Janeiro (4,5%). Na análise regional, a população que mais sofre com o ônus excessivo com o aluguel está concentrada na Região Sudeste (3,1 milhões), a mais povoada do País.
...
Se são menos de 4% que gastam 30% do orçamento familiar com aluguel, isto sugere que o índice de moradias irregulares seja grande. Duvido que a maioria porte casa própria com o devido registro de imóvel.
Uma das questões que marca nosso subdesenvolvimento - e a dificuldade de formar capitais ativos - é a falta de regularização fundiária, da qual se insere a casa própria.

Entrevista com o Meteorologista Luiz Carlos Molion

Conversas Cruzadas: Molion e a Histeria do Aquecimento Globa

Tuesday, October 21, 2008

Desconstruindo novos dogmas

http://www.climatepolice.com/GlobalTemp.pdf

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http://www.sepp.org/publications/NIPCC-Feb%2020.pdf




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Dois arquivos imprescindíveis para quem, realmente, se interessa pelo tema.

A crise e sua ironia




A ironia da crise econômica*

Como a China e os exportadores de petróleo têm salvo a economia americana.

Apesar da crise, os mercados e a economia continuam funcionando. Números catastróficos não foram divulgados pelas agências de risco à economias emergentes. Tampouco, nenhuma crise de liquidez se formou, na qual a demanda por dinheiro não é suprida. As ações do FED, p.ex., não se identificam por taxas de interesse de curto prazo. Para falar que houve ou não impacto de suas ações, só no longo prazo.

Muitas pessoas, no entanto, avaliam que estamos vendo somente “a ponta do iceberg”, “o início de uma reação em cadeia” e que “a economia iniciará um processo recessivo”. Acontece que os mercados agem com base na antecipação de eventos futuros e não no passado. Historicamente, os mercados declinam seis meses antes da recessão iniciar. Entretanto, uma crise de liquidez não reflete o longo prazo das taxas de investimento e, a recessão percebida não tem correspondido a um declínio significativo nos mercados globais.
Os preços do barril de petróleo salvaram os investimentos na década de 70, assim como boa parte foi transferida para os países em desenvolvimento incentivando a exportação de commodities. Como conseqüência, o custo de implantação de plantas industriais nos EUA aumentou em dois dígitos, o que favoreceu a expansão capitalista mundial.
Então, para onde vamos?
Parte desta resposta se refere aos últimos cinco anos, dos quais a China tem recebido montanhas de dinheiro. O país tem mais dinheiro do que seu mercado é capaz de metabolizar. As massivas reservas de dólares chinesas impelem os chineses a investir fora do país em mercados financeiros. Dado que os EUA são o principal consumidor chinês e a única economia mundial capaz de absorver tais reservas - não só por sua magnitude, mas também pela sua estabilidade -, podemos prever um novo fluxo de investimentos e financiamentos do mercado financeiro americano. Este é um dos fatores que mantém as taxas de investimento baratas e o mercado funcionando. Tampouco, se trata de nenhuma novidade: o fluxo de dinheiro asiático ao mercado americano remonta ao início dos anos 80.
Outra parte da resposta se refere na auto-estabilização dos preços do petróleo, cuja ascensão deveria devastar os mercados americanos em primeira instância. Os preços atuais sugerem que a estabilidade da demanda criaria excedente para ser absorvida somente em seus países exportadores. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, produziram muito dinheiro, particularmente em 2007, que foi investido em mercados estrangeiros.
E não importa de onde o dinheiro vêm. Dinheiro, óleo são fungíveis, o que significa que se todos os petrodólares que foram para a Europa migrassem para os EUA como investimentos, os europeus, provavelmente, se beneficiariam. Os produtores de petróleo do Golfo Pérsico e os chineses têm algo em comum - eles estão ligados ao dólar. Se o dólar baixa, investir em outros países se torna mais caro. Assim, é perceptível dois grandes movimentos de investimentos para os EUA, um da China e outro da indústria energética. As reservas de dólar chinesas derivam das vendas para os EUA e sua moeda, o yuan está atrelado ao dólar. A indústria energética, também inserida na zona do dólar, precisa encontrar um porto-seguro para seu dinheiro - e o maior, com maior liquidez de mercado do mundo ainda são os EUA.
Não somente a China e o Golfo Pérsico são carreados para a moeda americana, produtores de energia como a Rússia, Nigéria e Venezuela utilizam, sem problemas, seus dólares internamente. Mesmo que pague mais pelo petróleo, a dependência chinesa ao dólar lhe confere estabilidade. Complementarmente, a Península Arábica vende petróleo em dólares e contratos feitos em euros são, particularmente, difíceis de converter. Contratos feitos em outras moedas enfrentam um desafio e os árabes não poderão controlar outras moedas e cessar com contratos apertando um interruptor.
Esta situação sugere uma explicação para a resiliência dos mercados americanos. Toda vez que notícias da situação do subprime soam horrendas e os mercados americanos ameaçam quebrar, o contrário ocorre. De fato, os mercados americanos levantaram-se e estão se reagrupando. De onde vem o dinheiro?
No momento, da zona do dólar, do imenso caixa chinês e da Península Arábica. Este influxo acontece anonimamente através de ações ordinárias no mercado, embora ocasionalmente pareçam grandes, são simples operações que permanecem abertas. Nas últimas semanas, por exemplo, Dubai investiu USD 7 bilhões no Citigroup, ajudando a arrumar o balanço da companhia e, não por acaso, deixando claro que os dólares acumulados no Golfo Pérsico serão usados para estabilizar os mercados americanos.
Não se trata de caridade. Dubai e o resto da Península Arábica, assim como a China, têm que desovar suas gigantescas reservas de dólares e a última coisa que querem fazer é vender dólares em quantidade suficiente para baixar mais seu valor. Tampouco lhes interessa uma crise financeira nos mercados americanos. Ambos os chineses e árabes teriam muito a perder com uma crise destas. Um incontável número de transações de mercado aberto, assim como investimentos públicos, são movidos para apoiar os mercados americanos, muito embora por suas próprias razões não-filantrópicas.
Os especuladores devem estar loucos de investir numa hora destas, dado os problemas financeiros. Mas, não estão. Eles mantêm suas operações, não importando quanto foram duramente atingidos. O dinheiro não está vindo de instituições financeiras e fundos de pensão que foram estripados em hipotecas, mas sim de algum outro lugar. Está vindo da terra do barril de petróleo a USD 90,00 e dos brinquedos baratos.
Muitos enxergam nesta crise (por que desejam assim enxergar...), os suspiros de uma potência mundial em decadência. Mas, enquanto investirem nos mercados americanos, não são eles que têm o poder e sim quem os atrai, ou seja, os Estados Unidos da América. Para chineses e árabes há poucas opções de investimentos para reciclar seus dólares fora dos EUA e mesmo outras moedas que não o dólar também estão ligadas a esta. Estas são as duas fontes que mantêm o funcionamento do sistema financeiro mundial - China e Península Arábica. Portanto, chineses e árabes podem sair e especular ou manterem-se seguras investindo no mercado americano.
Assim como qualquer commodity, o petróleo não é exceção para o inerente ciclo de alta e queda dos preços. Tão logo o preço do barril caia, somado ao montante de dinheiro árabe e chinês que flui para os EUA, o sistema internacional produzirá um retorno agregado na distribuição de capital. Dado o tamanho da economia americana e a dinâmica do dólar, grande parte deste capital voltará aos EUA. A situação é relativamente simples: os Estados Unidos podem ter sua crise financeira que forças globais surgem para estabilizá-lo.
Chineses e árabes não estão investindo nos mercados americanos porque gostam dos EUA. Eles estão presos dentro do mercado americano. Não obstante os boatos de alianças contra os EUA, a história tem suas ironias. Quem diria que os mercados americanos seriam salvos por “rivais geopolíticos”, como a China e o mundo árabe? Esta têm sido sua missão e, até agora, têm feito um bom trabalho.

* China and the Arabian Peninsula as Market Stabilizers, www.stratfor.com.

Thursday, October 16, 2008

O projeto de Mangabeira Unger


09/10/2008 15:37

Os planos ambiciosos do ministro para implantar no Brasil uma “cultura militar vanguardista”
Ricardo Amaral


ESTADO-MAIOR
Mangabeira quer unificar a doutrina do Exército, da Marinha e da Aeronáutica

Um ano inteiro de discussão e estudo, articulados pelo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, resulta num projeto que poucos civis se julgariam capacitados a levar adiante: a construção de uma Estratégia Nacional de Defesa. Seu objetivo, ambicioso, é dotar o Brasil de uma “cultura militar vanguardista”, a partir da reorganização, da reorientação e do reequipamento das Forças Armadas. Os instrumentos para isso vão além da óbvia aquisição de armas e equipamentos modernos e do domínio das tecnologias de combate e de vigilância do território. No topo da hierarquia, o plano prevê a integração real do comando das forças de terra, mar e ar, algo que nunca existiu no país. Na base, Mangabeira propõe a formação de um militar de novo tipo, “um guerreiro capacitado a atuar como guerrilheiro quando necessário”.
Na tradição histórica, houve momentos em que as Forças Armadas decidiam o que seria melhor para o país. Mangabeira diz que é a primeira vez que o país discute o que é melhor para as Forças Armadas. Seu trabalho deve seguir para deliberação do Conselho Nacional de Defesa, foro que inclui os presidentes da Câmara e do Senado, em reunião prevista para 20 de outubro.
A primeira proposta é reorganizar o topo da hierarquia militar, com a criação do Estado-Maior Conjunto da Defesa. “Não pode haver três doutrinas diferentes, uma do Exército, outra da Marinha e outra da Aeronáutica”, diz Mangabeira. “A doutrina será definida no Estado-Maior Conjunto.” No Brasil, onde as três forças competem por recursos e prestígio, esse é um desafio histórico, que nem a criação do Ministério da Defesa, em 1999, superou. O plano redefine a atuação das três forças: “Elas têm de ter capacidade de atuar em rede”. Ele também estipula a unificação da compra de armamentos, para evitar superposições, desperdícios e incompatibilidades.
As novas Forças Armadas terão de garantir o monitoramento do território e desenvolver aptidões de mobilidade e presença. “O monitoramento do território hoje depende de tecnologias estrangeiras e até da compra de imagens de satélites produzidas por outros países. Isso tem de mudar”, afirma Mangabeira. Somem-se a isso os instrumentos tecnologicamente adequados para o deslocamento dos militares e uma “presença exemplar nas fronteiras terrestres e marítimas”. Embora não diga, ele está se referindo a bons jatos, helicópteros, navios e pelo menos um submarino com propulsão nuclear. “Os equipamentos não são a estratégia, eles são apenas os instrumentos para executá-la”, afirma.
Pelo novo plano, será necessário dominar os vetores estratégicos: nuclear, cibernético e espacial. “É necessário assegurar que estejam sob inteiro controle nacional”, diz. Para comprar novos equipamentos, o Brasil deverá reforçar a exigência de que a tecnologia seja transferida junto com o material. E alcançar, também, a condição de aperfeiçoar e atualizar cada equipamento. A Constituição e a adesão do Brasil ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear proíbem o uso de tecnologia nuclear para fins militares. Mas não o seu domínio. “A renúncia ao uso de armas nucleares só pode ser vista como decisão do país, não como fruto de impotência tecnológica”, afirma Mangabeira. Ele não diz, mas fica claro que o reequipamento das Forças Armadas inclui a capacitação para produzir e lançar bombas atômicas.
O novo modelo exigirá, segundo Mangabeira, a reestruturação da indústria bélica, num regime especial de relacionamento com seu maior cliente: o Estado. Os fabricantes de armas e munições devem ter estímulos fiscais e garantias, e isso deve exigir um novo capítulo na Lei de Licitações. Ao lado da indústria privada, ele pretende especializar a indústria bélica estatal naqueles projetos de alta tecnologia que não atraem investidores privados.
Para as tropas, Mangabeira persegue o modelo de um soldado com formação para integrar uma Brigada de Operações Especiais, um grupo qualificado, como aquele que está na vanguarda da missão de paz no Haiti. Ele é o militar qualificado e autônomo, capaz de atuar até como guerrilheiro, na definição de Mangabeira. “Atualmente, as forças estratégicas rápidas constituem apenas 10% do efetivo”, diz. Também será necessário redefinir o modelo de recrutamento, hoje voluntário, que praticamente atrai jovens pobres. Mangabeira prefere um modelo em que todos sejam obrigados a prestar serviço militar ou civil, e as Forças Armadas possam selecionar os mais aptos. A nova Estratégia terá um custo seguramente alto. “Mas é uma opção que temos de assumir: nada custa mais caro que a independência nacional”, diz Mangabeira.

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Ele está certo.