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Fundamentalismo ecológico
Rio, 13/nov/05 – Morreu hoje o ambientalista Francisco Anselmo de Barros que ateou fogo ao próprio corpo no sábado, durante um protesto no centro de Campo Grande (MS) contra a construção de usinas de álcool que, supostamente, poderiam causar danos ambientais irreparáveis ao Pantanal. Segundo seus companheiros de militância, Barros planejou sua própria morte, como indicam as cartas deixadas por ele, como forma de impedir a aprovação de um projeto de lei na Assembléia Legislativa do Estado que permitiria a construção das usinas. [1]
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Dos parlamentares sul-mato-grossenses, espera-se que avaliem o projeto de lei com base no bom senso e nas boas práticas da proteção ambiental e não no gesto extremo de Barros; dos ambientalistas, espera-se que defendam seu ideário sem apelar para a martirização do companheiro lamentavelmente desaparecido.
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Caso contrário, pode-se resvalar para o surgimento de um perigoso fundamentalismo ecológico alheio à nossa cultura e tradição que, a bem da verdade, foi ensaiado pelo bispo franciscano dom Luiz Cappio em outubro passado com sua inaceitável greve de fome que seria levada às últimas conseqüências caso o governo federal não recuasse em executar o projeto de transposição do rio São Francisco. Recorde-se que, na ocasião, o gesto de dom Cappio foi acerbamente criticada pelo secretário-geral da CNBB, dom Odilo Scherer, que considerou a atitude eticamente inaceitável deixando implícito que, amanhã ou depois, poderiam surgir até mesmo “padres-bomba”: “Sinceramente, espero que essa moda não pegue”, disse ele. [2]
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A unir os dois casos, uma tentativa desesperada de cultuar e sacralizar a natureza – o Pantanal e o rio São Francisco, respectivamente -, como se a mãe-Terra, ou Gaia, fosse uma entidade viva com direitos próprios.
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O que a sociedade com um todo e, particularmente, os ambientalistas sinceros, não podem aceitar é uma escalada do fanatismo em direção à deificação da natureza que poderia conduzir a um fundamentalismo ecológico, impregnado de ateísmo messiânico, cujos desdobramentos são hoje imprevisíveis. [051113b]
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Notas
[1]"Morre ambientalista que ateou fogo ao corpo durante protesto no MS", O Globo, 13/11/05
[2]“Dom Cappio e a “Green Church””, Alerta Científico e Ambiental, 9/10/05
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