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O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Monday, November 28, 2005

França, Oriente Médio e Democracia

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O texto do Janer mostra a real situação dos imigrantes e seus descendentes na França de hoje. Excelente, como sempre.
Já o texto a seguir de Nyquist parte da possibilidade da democracia no Oriente Médio falir, para descartar a estratégia de democratizar aqueles países. O que propõe? Não diz, mas sugere, implicitamente, um estado autoritário. Isto significa combater o mal com o próprio mal, o que, claro, desaprovo.
Nyquist não ajuda, não propõe nada em prol do fortalecimento da democracia que é, a única alternativa. Se ela corre risco, tem que se investir mais em suas bases econômicas. Seu texto descarta a possibilidade de concretização da paz no Oriente Médio. Como analista deste caso ele se revela, no mínimo, um desastre.
a.h
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por Janer Cristaldo em 28 de novembro de 2005
Resumo: Daqui a dez anos, Paris será uma cidade mais violenta que o Rio de Janeiro.
© 2005 MidiaSemMascara.org

Aqui em Paris, neste final de novembro, estamos em ritmo de tango argentino: Silencio en la noche, ya todo está en calma, el músculo duerme, la ambición descansa. As depredações do início do mês já são passado e a cidade se entrega às suas orgias cotidianas de consumo, gastronomia, pornografia e luxos outros de país desenvolvido. Os brasileiros, informados por uma imprensa politicamente correta, não sabem muito bem o que aconteceu por aqui. Leiamos, por exemplo, esta pérola de desinformação, da Folha de São Paulo, do dia 11 passado. A matéria é assinada por um certo Fábio Victor, certamente jovem e que nada entende de Paris.
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ONGs e governo têm instado mães e irmãs a convencerem os jovens franceses a não tomarem parte dos distúrbios
Francesas apaziguam ânimo incendiário
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Segundo o enviado a Paris, são os jovens franceses que tomaram parte nos distúrbios. E suas mães e irmãs, naturalmente francesas, tentam convencê-los a não participar das depredações, que já custaram mais de oito mil carros destruídos e dezenas de escolas e prédios públicos. O desinformador continua:
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Enquanto alguns homens franceses têm gastado as noites queimando carros e outros tentando apagar os incêndios, as mulheres se mobilizam para ajudar a dar um fim definitivo à onda de violência que há duas semanas atinge o país - e ontem apresentou queda pelo terceiro dia seguido.
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O correspondente deixava bem claro, em seu texto mentiroso, que são “alguns homens franceses” que queimam carros. Verdade que alguns jornais – e mesmo a própria Folha – noticiaram em outra páginas que se trata de uma rebelião provocada por imigrantes e filhos de imigrantes árabes e africanos, a maior parte deles com cidadania francesa. Ou seja, as depredações nunca foram exatamente provocadas por “alguns homens franceses”, como diz desastradamente o correspondente, mas por árabes e negros que, em sua maioria, conquistaram a cidadania francesa. É diferente. Esta também foi a tônica dos noticiários televisivos. Para o espectador analfabeto – que se nutre de televisão e que constitui a maioria dos brasileiros – o que se vê é uma reprise de 68, a revolução que não houve, o movimento que em nada mudou o país, mas que pareceu existir graças às ficções criadas pela mídia. Pas de sang, trop de sperme. Ou seja, revolução sem sangue, mas com excesso de esperma.
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A depredação das cidades francesas era crônica há muito tempo anunciada. O ódio dos imigrantes árabes e africanos ao país que generosamente os recebe vem de longe. Em março de 1979, quando correspondente em Paris, escrevi crônica intitulada “Islã ameaça franceses”. Já se podia ver no ovo os contornos da serpente. Na época, um imigrante podia trazer suas quatro esposas e seus 15 ou 16 ou mais filhos, tudo isto em nome do sagrado respeito à “cultura do outro” e da reintegração familiar. Se o Corão permitia a Mohamed quatro esposas, este sagrado direito concedido pelo profeta tinha de ser respeitado pela legislação francesa, que considerava a poligamia um crime, desde que praticada por franceses ou ocidentais. A poligamia é punida na França com penas de até um ano de prisão e multa de 45 mil euro. Exceto se o polígamo for africano.
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Claro que todo este clã tinha garantido o direito à escola, aos serviços de saúde, auxílios para moradia. Uma vez Mohamed desempregado, recebia durante vários anos um auxílio-desemprego, proporcional ao número de mulheres e filhos. M. Dupont, o francês médio, que mal conseguia sustentar cachorro e amante além da própria família, não podia ver isto com bons olhos. Esta situação perdurou até 1993, quando foi proibido por lei conceder vistos a mais de um cônjuge, o que não impediu que as esposas dos imigrantes polígamos continuassem entrando ilegalmente no país.
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Os imigrantes têm mordomias jamais sonhadas em suas miseráveis villayas. Mas permanecem encerrados em seu sufocante universo islâmico. Não renunciam à poligamia, em um país em que poligamia é crime. Continuam a cortar o clitóris de suas filhas e preservam seu hímen intacto para algum primo, lá nas Árabias, ao qual fora prometida ao nascer. Estas meninas convivem na escola com as coleguinhas francesas, para as quais virgindade é um desconforto a ser o quanto antes jogado ao lixo, e que jamais admitiriam que seus pais lhes escolhesse e impusessem um marido. O conflito entre as famílias árabes e a escola francesa estava maduro para explodir. Quando eclode e acaba na Justiça, os pais muitas vezes perdem o pátrio poder e a menina é enviada para alguma instituição assistencial. Fica flanando em um limbo indefinido, longe das raízes paternas e sem estar integrada na sociedade francesa. O mesmo diga-se dos jovens árabes, para os quais integração significa ter acesso a bons empregos e carros de luxo, mas jamais assumir o respeito às mulheres que é norma no Ocidente.
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Depois de centenas de prédios públicos, escolas, delegacias de polícia, centros assistenciais queimados e depredados, depois de mais de dez mil carros incendiados, depois de um prejuízo calculado por baixo em 200 milhões de euros, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, cuja política linha-dura com a delinqüência juvenil é apontada como uma das causas dos conflitos, anunciou os processos de expulsão... de dez estrangeiros implicados na onda de distúrbios da França. Haja política linha-dura! Dependendo dos humores da Justiça, dez vândalos serão expulsos do país. Sarkozy está em campanha para a Presidência da República e não quer bancar o politicamente incorreto.
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Ya todo está en calma, dizia eu. Mas é aquela calma que antecede as tempestades, aquela imobilidade sinistra do olho dos furacões. Os imigrantes já perceberam que podem destruir mais de dez mil carros ao custo da eventual deportação de dez dentre eles. É óbvio que os conflitos se espalharão pela Europa, totalmente contaminada pela intransigência islâmica. Expulsos da península ibérica há cinco séculos, os árabes voltaram com força, escorados na mauvaise conscience européia e na política hipócrita dos tais de Direitos Humanos. Voltaram com força e para ficar.
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Em West Yorkshire, no Reino Unido, livros contendo histórias de porcos foram eliminados das bibliotecas, porque muçulmanos não gostam de porcos. Nesta altura, os Três Porquinhos de Disney constituem anátema. Bottons com a cruz vermelha da bandeira britânica estão sendo desaconselhados, porque a cruz vermelha lembra as Cruzadas e fere a sensibilidade dos cortadores de clitóris. Em certas cidades italianas, os prefeitos já aceitam fotos de muçulmanas com véus nos documentos de identidade. Na Austrália, a polícia é instruída para não levar a sério casos de violência doméstica em lares muçulmanos, já que se trata de “traços culturais”.
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Neste sabado, 56 associações de negros se reuniram em Paris para tirar uma casquinha dos predios incendiados e dos dez mil carros queimados. Dizendo-se representantes dos cinco milhoes de negros que vivem na Franca, querem retomar a memória da escravidão francesa. Para onde aponta este movimento da afrodescendentada? Para as cotas raciais e para a indenização pelos dias de escravidão.
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Tá tudo dominado. Daqui a dez anos, Paris será uma cidade mais violenta que o Rio de Janeiro. No Rio ainda não tivemos atentados como os de Madri e Londres. Quando o exército muçulmano de homens-bomba optar por um terrorismo de resultados, terror será o cotidiano dos europeus. Não vai demorar muito. Venha logo antes que a Europa que amamos acabe.
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O autor é escritor e jornalista.
cristaldo.blogspot - janercr@terra.com.br
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por Jeffrey Nyquist em 28 de novembro de 2005
Resumo: O curso da democracia árabe parece bem previsível – ainda mais previsível do que os fiascos democráticos anteriores.
© 2005 MidiaSemMascara.org
Há aqueles que acreditam que a liberdade econômica leve ao desenvolvimento e à prosperidade. Há aqueles que acreditam que a prosperidade leve ao aumento de liberdade política e ao sistema de um homem, um voto (isto é, à democracia representativa). Liberdade econômica e liberdade política são ideais ocidentais. Com o fomento do livre comércio, alguns teóricos imaginaram ser possível concretizar a irmandade entre os homens por meio da "globalização". Por essa teoria, o livre movimento de bens e pessoas irá gradualmente negar as diferenças históricas, culturais e religiosas. As tentativas americanas de promover a democracia no Oriente Médio são parcialmente baseadas em crenças e teorias desse tipo. Não obstante a raça e a religião, supõe-se que o homem comum prefira a paz à guerra, a liberdade ao absolutismo e a prosperidade à miséria. Se as necessidades do homem comum devem ser respeitadas pelas autoridades políticas, então essas autoridades devem prestar contas na urna.
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No dia 12 de novembro, sábado, a
Cúpula do Oriente Médio de Desenvolvimento e Democracia, patrocinada pelos EUA, terminou "em rancor". Uma tentativa de formular uma "declaração de princípios" falhou quando o Egito "insistiu no discurso que daria aos governos árabes maior controle" sobre caridade e "organizações de bem". Para encorajar o desenvolvimento econômico e a democracia, um fundo de US$ 100 milhões foi estabelecido (ao qual os EUA contribuíram com US$ 50 milhões). De acordo com a Secretária de Estado Condoleezza Rice, "para a democracia atingir resultados duradouros e sustentáveis, ela deve ser cultivada por uma economia vibrante e uma classe média ascendente".
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Há dois problemas em estimular a democracia no Oriente Médio. 1. O uso de verba governamental para estimular o crescimento econômico em países subdesenvolvidos é quase sembre contraproducente. Negócios financiados por instituições políticas não são, necessariamente, baseados na busca pelo lucro. Aquilo que é fundado por contribuições mostra-se continuamente dependente de mais contribuições. Cadeias de dependência são forjadas assim. 2. Além disso, se a democracia for estabelecida num dado Estado árabe, os eleitores com o tempo elegerão fundamentalistas muçulmanos ou nacional-socialistas beligerantes (que prometem varrer Israel do mapa).
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O curso da democracia árabe parece bem previsível – ainda mais previsível do que os fiascos democráticos anteriores. Sabemos que a democracia da República de Weimar levou ao hitlerismo. A democracia na Venezuela leva à ascenção do comunismo sob a bandeira populista/esquerdista de Hugo Chávez. A democracia na África do Sul leva a um constante deslindamento econômico. A democracia na antiga União Soviética (se realmente for de verdade) leva ao regime KGB/máfia de Vladimir Putin. A democracia nem sempre é a resposta, embora ajamos como se fosse. Talvez, como Alexis de Tocqueville sugeriu, com o tempo a democracia será bem-sucedida em todos os países; mas não imediatamente, e não sem drásticas mudanças ao longo de décadas. Temos de nos perguntar se a economia global agüentará os choques que se seguirão à série de revoluções democráticas em torno dos campos de petróleo que fornecem ao mundo sua energia vital.
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Os conservadores americanos, que agora tendem a apoiar o Partido Republicano (e, em menor medida, o presidente Bush), traçam sua linhagem intelectual até Edmund Burke e John Adams – pensadores que desconfiavam da democracia. Ironicamente, a política externa do presidente Bush é radical e jeffersoniana. Não parece haver traços de Burke e Adams nele, pois ele almeja promover revoluções democráticas, começando pelo Iraque. Não é algo que Burke ou Adams concordariam. Além do mais, os Estados e monarquias de partido único não são confiáveis para levar a cabo tal programa. Mas se pressões econômicas e diplomáticas renderem frutos, um processo similar ao da Revolução Francesa poderá se desenvolver. Se o processo acontecer como manda o figurino, as democracias emergentes parecerão bem sucedidas. Depois de um tempo, paixões humanas reprimidas emergirão. Demagogos socialistas e muçulmanos ascenderão ao poder. O Islã não é uma religião democrática fundada por aqueles que valorizam os direitos individuais. Conforme Max Weber explicou certa vez, a religião de Maomé é "fundamentalmente política em sua orientação. Um mercador, primeiro ele foi um líder de ordens burguesas pietistas em Meca, até que percebeu de maneira cada vez mais clara que a base externa ideal para sua atividade missionária seria fornecida pela organização dos interesses dos clãs guerreiros na aquisição de despojos". Como sociólogo e dissector de religiões mundiais, Weber notou: "A empreitada do profeta está mais para um líder popular (demogogos) ou para um marketeiro político...". Conforme John Adams repetidamente alertara, perverter a democracia é o objetivo de todo demagogo. Se o Islã é a demagogia política em embalagem religiosa, então qualquer tentativa de democratizar o mundo muçulmano terminará por perverter a democracia.
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Quem sabe, se poderia começar pelo "Estado de Direito" como caminho para reforma política no Oriente Médio? Mas se a lei for muçulmana, e não a lei pós-iluminista britânica ou americana? A política de promoção da democracia no Oriente Médio não estimula a discussão dessas e outras dificuldades. De fato, tal discussão não pode ocorrer porque qualquer coisa que se assemelhe a críticas contra o Islã destruiria a estratégia política da administração Bush. Além disso, a política americana espera superar o Islã radical por meio da democracia.
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O liberal ocidental, enquanto político, não mais estuda suas próprias tradições políticas. Influenciado por sutis doutrinas igualitárias e racionalistas, ele dispensou a realidade em favor de sistemas utópicos irresponsáveis. Embora conscientemente negue qualquer crença num "Estado ideal", ele inconscientemente age como se soubesse qual é o Estado ideal (para todos os povos em todo o tempo). No coração da ideologia democrática ocidental pulsa o erro fundamental do auto-conhecimento. Tais erros são sempre perigosos. No caso, a estabilidade politica do Oriente Médio está em jogo. Se a pressão pela democracia desestabilizar todo a região (como o Iraque hoje está desestabilizado), o tiro pode sair pela culatra e desestabilizar os Estados Unidos. A dependência ocidental do petróleo do Oriente Médio, sob tais circunstâncias, pode ser fatal às instituições democráticas. Não apenas a liberdade política está em jogo, mas a liberdade econômica também corre risco na medida em que políticos socialistas preparam-se para explorar o inevitável colapso da estratégia política do governo, em detrimento do capitalismo e dos direitos de propriedade. Um círculo vicioso de contrações econômicas certamente ocorrerá.
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Agora, olhe o contexto maior. A civilização deu à luz a armas de destruição em massa. Se guerras continuarem a ser travadas, se conflitos políticos continuarem a ser inflamados, o uso em massa de armas nucleares e biológicas será inevitável. Qualquer um consegue enxergar a veracidade desta proposição e eis que lutamos contra esse negro destino. Estamos desesperados em nossa busca por soluções. A dura lição da Segunda Guerra Mundial ensinou a Europa a buscar a "unidade na diversidade", a desconfiar de armas de guerra. Adotando os princípios liberais da democracia e do livre comércio, a Europa e a América tentam obter a "paz real". Mas paz real é uma coisa utópica. Os políticos liberais precisam perceber que a lei das conseqüências indesejadas se aplica de maneira horripilante a todas as aventuras utópicas. Depois da Primeira Guerra Mundial – "a guerra para acabar com todas as guerras" – veio a mais terrível de todas as guerras. Assim como a "guerra contra o crime" resulta num aumento nos índices de criminalidade, a "guerra contra a pobreza" resulta no aumento da pobreza. Pela mesma lógica, a "guerra contra o terror" encoraja o terrorismo. Isso acontece porque sua estratégia básica é o desespero utópico.
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Aqueles que desejam evitar a Terceira Guerra Mundial buscam a "irmandade entre os homens". Mas tal política apenas exacerbará a guerra do "todos contra todos". O capitalismo e a democracia são vistos como ferramentas para se alcançar tal irmandade. Políticas são traçadas, retóricas são forjadas e exércitos são dispensados. Mas o projeto não pode acabar bem porque a concepção por trás dele não respeita as diferenças reais que separam uma cultura da outra, uma religião da outra.
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De acordo com Aristóteles, "Aristófanes dizia que os amantes anseiam por crescer um dentro do outro e se tornarem um ao invés de dois. Em tal situação, um ou outro devem perecer, senão ambos". A tentativa dos povos e nações de crescer um dentro do outro não pode terminar de maneira diferente. Aquilo que é único e forte e vibrante numa nação ou povo, pode ser destruído pelo processo de total homogeneização. O que nos torna especial e individual é unicamente nosso, e não deve ser rendido numa vã tentativa de nos tornarmos nulidades difusas. O globalismo não apenas pede que a Arábia se mescle com a Europa, mas que os europeus se dissolvam em árabes. "Em tal situação, um ou outro devem perecer, senão ambos".
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Afinal, qual civilização está mais comprometida com o suicídio cultural?
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© 2005
Jeffrey R. Nyquist
Publicado por Financialsense.com
Tradução: MSM.

Jeffrey Nyquist é formado em sociologia política na Universidade da Califórnia e é expert em geopolítica. Escreve artigos semanais para o Financial Sense (
http://www.financialsense.com/), é autor de The Origins of The Fourth World War e mantém um website: http://www.jrnyquist.com/
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