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O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Friday, December 02, 2005

França se ferra 2

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Reflexões sobre a revolução na França

por Daniel Pipes em 02 de dezembro de 2005
Resumo: A França precisará que algo maior e mais terrível aconteça para despertar da sonolência.
© 2005 MidiaSemMascara.org

Os tumultos que jovens muçulmanos desencadearam na França em 27 de outubro aos gritos de “Allahu Akbar” podem significar uma virada na história da Europa.

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O que teve início em Clichy-sous-Bois, nos arredores de Paris, em sua décima primeira noite tinha se espalhado por trezentas cidades e vilas francesas, assim como pela Bélgica e Alemanha. A violência, que já recebeu nomes sugestivos — intifada, jihad, guerrilha, insurreição, rebelião e guerra civil —, dá margem a várias reflexões.

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Final de uma era. O tempo da inocência cultural e da ingenuidade política, em que os franceses podiam cometer erros sem enxergar ou sofrer suas conseqüências, está chegando ao fim. Como já acontece em outros países europeus (em particular na Dinamarca e na Espanha), uma série de problemas, todos relacionados à presença muçulmana, ocupa agora o primeiro lugar na agenda política francesa, e ali deverá permanecer pelas próximas décadas.

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Esses problemas incluem o recuo da fé cristã e o resultante colapso demográfico; um assistencialismo estatal do tipo berço-ao-túmulo, que atrai imigrantes ao mesmo tempo que mina a viabilidade econômica a longo prazo; uma alienação dos costumes históricos em favor de novos estilos de vida e de um multiculturalismo pouco inventivo; uma incapacidade para controlar fronteiras ou assimilar imigrantes; um nível de criminalidade que torna as cidades européias muito mais violentas que as americanas, e o crescimento do Islamismo e de sua forma radical.

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Precedentes. A insurreição francesa não foi de modo nenhum a primeira tentativa de insurgência muçulmana semi-organizada na Europa — foi precedida, um pouco antes, por tumultos em Birmingham, Inglaterra, e acompanhada por uma outra em Århus, Dinamarca. A própria França experimentou a violência muçulmana em 1979. O que diferencia o fenômeno atual dos anteriores é a sua duração, magnitude, planejamento e ferocidade.

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Ocultação na mídia. A imprensa francesa fala em “violência urbana” e descreve os rebelados como vítimas do sistema. A grande mídia nega que os distúrbios tenham ligação com o Islã e ignora a penetração da ideologia islamista, marcada por uma disposição brutalmente antifrancesa mais uma indisfarçável ambição de dominar o país e substituir-lhe a civilização pela islâmica.

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Uma outra forma de jihad. Muçulmanos do noroeste da França empregaram, no decorrer do ano passado, três formas diferentes de jihad: no Reino Unido, a versão violenta, de matar ao acaso os usuários de transporte público em Londres; na Holanda, a de alvo predeterminado, que seleciona, ameaça e, em alguns casos, ataca personalidades do mundo político e cultural; e agora na França, a de violência mais difusa, menos mortal, mas nem por isso menos significativa do ponto de vista político. Se um desses ou algum outro método se comprovará mais eficaz não está claro ainda, porém a variante britânica é, sem dúvida, contraproducente, e as estratégias holandesa e francesa serão possivelmente retomadas.

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Sarkozy vs. Villepin. Dois líderes políticos e prováveis candidatos à presidência da França em 2007, Nicolas Sarkozy e Dominique de Villepin, reagiram aos tumultos de maneiras distintas, o primeiro adotando uma linha dura (proclamou “tolerância zero” à violência urbana) e o segundo, uma linha conciliadora (prometeu um “plano de ação” para melhorar as condições de vida nas cidades).

[Então, "eu sou Sarkozy desde criancinha..."]

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Contra o Estado. O levante começou oito dias depois de Sarkozy anunciar uma nova política de “guerra sem perdão” à violência urbana e dois dias após ele chamar os jovens agressores de “ralé”. Muitos desordeiros se imaginam envolvidos em uma luta contra o Estado e por isso concentram os ataques no que o simboliza. Em uma reportagem previsível, o filho de um imigrante marroquino, Mohamed, de vinte anos, afirma que “‘Sarko’ declarou guerra (...), então, é guerra o que ele vai ter”. Os representantes dos jovens exigiram que a polícia francesa saísse dos “territórios ocupados”; Sarkozy, por sua vez, atribuiu aos “fundamentalistas” parte da responsabilidade pelos distúrbios.

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Os franceses podem reagir de três modos. Eles podem sentir-se culpados e tentar apaziguar os ânimos com prerrogativas e o “plano de investimentos maciços” que alguns reclamam. Ou podem suspirar de alívio ao final da confusão e, como fizeram depois de outras crises, voltar aos seus afazeres. Ou ainda podem perceber os acontecimentos como a salva de abertura de uma revolução e tomar as medidas necessárias para reverter o desinteresse e a complacência das últimas décadas.

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Minha expectativa é de uma mistura das duas primeiras reações e que a posição conciliadora de Villepin prevaleça, apesar de Sarkozy ter subido nas pesquisas. A França precisará que algo maior e mais terrível aconteça para despertar da sonolência. O prognóstico a longo prazo, contudo, é inescapável: na definição de Theodore Dalrymple, “o doce sonho da compatibilidade cultural universal deu lugar ao pesadelo do conflito permanente”.

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Publicado pelo New York Sun. Também disponível em danielpipes.org

O título do artigo é uma referência ao texto http://www.constitution.org/eb/rev_fran.htm - “Reflections on the Revolution in France”, por Edmund Burke.

Tradução: Márcia Leal.

Daniel Pipes é um dos maiores especialistas em Oriente Médio, Islã e terrorismo islamista da atualidade. Historiador (Harvard), arabista, ex-professor (universidades de Chicago e Harvard; U.S. Naval War College), Pipes mantém seu próprio
site e dirige o Middle East Forum, que concebeu junto com Al Wood e Amy Shargel — enquanto conversavam à mesa da cozinha de sua casa, na Filadélfia — e que hoje, dez anos mais tarde, tem escritórios em Boston, Cleveland e Nova York. Depois do MEF, vieram o Middle East Quartely, o Middle East Intelligence Bulletin e o Campus Watch, dos quais ele participa ativamente. Juntos, esses websites recebem mais de 300 mil visitantes por mês. Por fazer a distinção sistemática entre muçulmanos não-islamistas e extremistas islâmicos, Daniel Pipes tem sido alvo de ataques contundentes. A polêmica gerada por sua nomeação, em 2003, para o Institute of Peace pelo presidente George Bush apenas confirmou o quanto as idéias de Pipes incomodam as organizações islamistas e outros interessados em misturar muçulmanos e terrorismo. Daniel Pipes é autor de 12 livros, entre eles, Militant Islam Reaches America, Conspiracy, The Hidden Hand e Miniatures, coletânea lançada em 2003.


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Nepal e França: duas reações opostas frente ao terrorismo

por Daniel Pipes
Mídia Sem Máscara
29 de Setembro de 2004

Original em inglês:
[Nepal and France:] Two Opposite Responses to Terrorism


Dois dramas do terrorismo no Iraque começaram no mesmo dia, 19 de agosto de 2004, quando jihadistas capturaram, separadamente, 12 trabalhadores nepaleses e dois repórteres franceses. Embora os seus destinos possam ter um final diferente — os primeiros foram assassinados e os últimos permanecem vivos no cativeiro —, impressiona como os respectivos compatriotas das vítimas sentiram impotência semelhante e como reagiram de maneiras distintas.
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No caso nepalês, um grupo de cozinheiros, faxineiros, auxiliares de lavanderia e outros trabalhadores acabara de entrar no Iraque pela fronteira da Jordânia, quando foi seqüestrado pelo Ansar al-Sunna, um violento grupo islamista. Em 31 de agosto, um website islamista exibiu as execuções dos trabalhadores em um
vídeo de quatro minutos.
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Os nepaleneses reagiram às atrocidades extravasando sua ira e atacando a minoria muçulmana no Nepal. Centenas de jovens enfurecidos cercaram e arremessaram pedras contra uma mesquita de Katmandu em 31 de agosto. A violência intensificou-se no dia seguinte, com cinco mil manifestantes tomando as ruas aos gritos de "queremos vingança", "punição para os muçulmanos" e "abaixo o Islã". Alguns atacaram a mesquita e forçaram a entrada, pilhando e incendiando o local. Centenas de exemplares do Alcorão foram atirados à rua e alguns foram queimados.
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Os amotinados na capital nepalesa ainda saquearam outro alvos identificados como muçulmanos, inclusive embaixadas e agências de companhias aéreas de países com maioria muçulmana. Uma emissora de televisão de propriedade de um muçulmano e residências de famílias muçulmanas foram igualmente atacadas. A turba saqueou até as agências que recrutam nepaleses para a prestação de serviços no Oriente Médio.
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A violência chegou ao fim quando blindados e caminhões do exército impuseram um toque de recolher, deixando dois manifestantes mortos e 50 feridos, além de 33 policiais, e danos materiais estimados em vinte milhões de dólares.
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Assim, uma população frustrada, enraivecida e impotente passou além das autoridades e arremeteu contra os inocentes mais próximos.
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A resposta francesa não poderia ter sido mais inversa. As ameaças de executar os dois repórteres foram recebidas com um esforço concentrado do governo para salvar suas vidas, não pelo ataque aos muçulmanos franceses, mas pelo cultivo de sua amizade. Paris pressionou sem descanso os islamistas do país a condenarem o seqüestro, na esperança de que suas vozes convencessem os terroristas a libertarem os dois homens.
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Nesse meio-tempo, organizações islâmicas tomaram conta da política externa do país com eficiência, emitindo comunicados e agindo como se representassem a população francesa. Bertrand Badie, do Institut d'Études Politiques de Paris, reclama que os muçulmanos franceses viraram "uma espécie de substitutos para o Ministério das Relações Exteriores da França".
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Também no âmbito internacional, Paris pediu recibo por ter apoiado os árabes contra Israel e Saddam Hussein contra a coalizão liderada pelos Estados Unidos. Diplomatas franceses buscaram abertamente o apoio de grupos terroristas como Hamas e Jihad Islâmica Palestina.
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Esses esforços foram o ponto culminante de trinta anos de apaziguamento francês e, na análise intransigente de Norbert Lipszyc, "constituíram uma grande vitória para islamistas e terroristas". Lipszyc entende que a França age como um dhimmi (cristão ou judeu que aceita a soberania muçulmana em troca de tolerância e proteção). "A França confirmou em público sua condição de dhimmi, sua disposição em se submeter aos senhores do Islã. Em troca, estes declararam que a França, dhimmi que é, merece proteção contra atos terroristas."
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Se os reféns forem libertados, as políticas doméstica e externa de apaziguamento estarão justificadas aparentemente. Mas a que preço! Como Tony Parkinson escreve no jornal Age, de Melbourne, "democracia alguma deveria sujeitar-se a tais extremos para salvar a vida de pessoas inocentes". E essa sujeição tem profundas implicações.
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A historiadora Bat Ye'or, a primeira pessoa a compreender o processo de transformação da Europa em dhimmi, observa que a mudança fundamental teve início durante a guerra árabe-israelense de 1973, quando o continente europeu começou a entrar "na esfera de influência árabe-islâmica, quebrando assim a tradição de aliança transatlântica".
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Bat Ye'or ressalta o fato de a colaboração euro-árabe ser quase onipresente agora; abrange "a política, a economia, a religião e também o intercâmbio de tecnologias, de educação, de universidades, de rádio, televisão, imprensa, editoras e escritores sindicalizados". Ela prevê que a mudança terminará em "Eurábia", uma Europa à mercê da Arábia.
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De volta aos recentes acontecimentos: a execrável violência nepalesa revelou um instinto de autopreservação — ataquem-me e eu revido. Em contraposição, a sofisticada reação francesa foi de passividade — ataquem-me e eu suplicarei que parem de atacar. Se a História serve de lição, os nepaleses, reagindo da maneira como fizeram, tornaram menos provável a repetição das atrocidades. Já no caso francês, é mais provável que tais atrocidades voltem a ocorrer.
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Tradução: Márcia Leal
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Rescaldo dos incêndios de Paris

por Percival Puggina em 02 de dezembro de 2005
Resumo: A esquerda se agitou com a baderna em Paris. Milhares de carros burgueses foram incendiados. Supermercados invadidos e saqueados. Prédios públicos devorados pelo fogo. Nem a destruição das Torres Gêmeas tem o sabor de um bom levante em Paris!
© 2005 MidiaSemMascara.org

Na última semana de agosto de 1944, o general De Gaulle convencera os Aliados a retomarem Paris. A decisão não fora fácil. O controle de uma metrópole de tais proporções demandaria enormes problemas logísticos e poderia retardar a marcha na direção de Berlim, de sorte que Churchill e Eisenhower julgavam preferível deixar essa dificuldade nas mãos dos alemães por mais alguns dias. Mas a manutenção da Cidade Luz também era problema para Hitler que, por isso, determinara ao general Von Choltitz que incendiasse a cidade caso fosse invadida pelas tropas adversárias. Felizmente, De Gaulle foi convincente e Hitler não. Os aliados tomaram a cidade e o general alemão optou por descumprir a ordem e render-se. A pergunta disparada por Hitler ao saber dos fatos – "Paris brûle-t-il?" – ressoa ainda hoje como sinal de demência. "Paris arde em chamas?"

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Pois é. A esquerda se agitou no começo deste mês [de novembro]. Os dedos de seus intelectuais correram pelos teclados com volúpia e intensidade há muito tempo perdidas. Retomou-se a insurreição dos miseráveis. Milhares de carros burgueses foram incendiados. Supermercados invadidos e saqueados. Prédios públicos devorados pelo fogo. Paris ficou em chamas e não podia haver notícia mais alvissareira para os "pacifistas" brasileiros do plebiscito de outubro.

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Se tudo tivesse acontecido em Bolonha, na Itália, a repercussão seria outra. Afinal, a cidade foi controlada pelos comunistas durante 54 anos e o ativismo ainda está muito presente. Em Paris tudo fica diferente. Ganha simbolismo. Paris é a glória! Lá, um dia, em 1789, donas de casa e padeiros saíram às ruas para cortar a jugular da monarquia. E se jamais chegaram perto do poder nem mudaram a história da humanidade, ao menos armaram uma confusão medonha e suscitaram algumas páginas de contagiante conteúdo revolucionário. Foi lá, enfim, que direita e esquerda lançaram-se, reciprocamente, os primeiros desaforos.

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Paris entrou em chamas, a baderna tomou conta e houve muita gente aplaudindo, torcendo, festejando. Nem a destruição das Torres Gêmeas tem o sabor de Queda da Bastilha igual ao de um bom levante em Paris. Faltam razões da razão humana, mas sobram explicações nas ideologias desumanas. Elas servem para produzir canonizações em Esteio ou em Paris. Tanto faz, desde que sirvam à causa por palavras ou obras.

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Quando François Mitterrand abriu a França à imigração de suas antigas colônias como um gesto de acolhida, desencadeou o fluxo migratório com cujas conseqüências a nação francesa hoje se defronta. Uma coisa eram os imigrantes alemães e italianos que vinham fazer a América no século XIX. Outra eram os africanos chegando na Paris feita e bem feita no século XX. Eles imigraram porque a vida, lá onde estavam originalmente, era uma grande droga. E resolveram viver numa cidade onde morar mais ou menos bem é coisa para milionários. Não podia dar certo para eles, mas deu muito certo para quem gosta de ver Paris em chamas.

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O autor é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.

puggina.org .
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