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A Transformação da Nova Zelândia
Rodrigo Constantino
Conheça o articulista
Existe vasta experiência empírica para corroborar com a lógica e eficácia das teorias liberais, e tenho dedicado alguns artigos ao tema. Os casos de sucesso de Hong Kong e Cingapura já refutam de cara vários dogmas esquerdistas. Mas como ideologias costumam cegar para os fatos, alguns discípulos de Marx ainda conseguem ignorar a estrondosa evidência do sucesso liberal, apelando para escusas como o tamanho desses lugares. Ora, mesmo que outros países pequenos, como Haiti ou Cuba, sejam completamente miseráveis justamente pelo forte afastamento da receita liberal, isso não parece ser suficiente para derrubar esse “argumento” desesperado de quem foge da verdade como o diabo foge da cruz. Portanto, decidi escrever algo sobre o caso da enorme transformação da Nova Zelândia, após uma série de reformas liberais. Tratando-se do mesmo país, outras variáveis ficam isoladas, como o tamanho da nação, sua cultura etc. Podemos, assim, verificar em detalhes as mudanças ocorridas como conseqüência do maior grau de liberdade econômica adotado.
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As reformas que alteraram o rumo da Nova Zelândia começaram em 1984, paradoxalmente por um governo tido como de centro-esquerda. Como a cor do gato é menos importante do que o fato dele comer ou não o rato, veremos que as medidas tomadas pelo Partido Trabalhista tiveram forte cunho liberal, e por isso foram eficientes na captura do rato. Ocorreram privatizações, a intervenção estatal na economia foi bem reduzida, o welfare na indústria e agricultura foi cortado e ocorreu uma mudança de foco do imposto de renda para consumo. O governo chegou a propor, sem sucesso, um imposto flat de 21%. A economia experimentou um expressivo crescimento, de cerca de 4% ao ano por um longo período. Foi o maior crescimento de emprego entre todos os países da OECD.
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Creio ser relevante voltarmos um pouco no tempo. A Nova Zelândia era um dos países mais ricos em termos per capita no começo do século XX. Foi após o governo populista e corporativista de Robert Muldoon que o país viu abrupto declínio de riqueza relativa. Políticas protecionistas e interventoras fizeram com que a Nova Zelândia fosse perdendo rapidamente posições no ranking para países mais liberais. Medidas claramente socialistas, como controle de preços e salários e elevado gasto público para comprar o apoio dos sindicatos, plantaram as sementes do fracasso. Em apenas 10 anos, a partir de 1974, a dívida externa subiu de 11% do PIB para 95%! A inflação estava em dois dígitos. Foi neste contexto que se deu a mudança de trajetória, rumo ao maior liberalismo econômico, que salvou o país.
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Creio ser relevante voltarmos um pouco no tempo. A Nova Zelândia era um dos países mais ricos em termos per capita no começo do século XX. Foi após o governo populista e corporativista de Robert Muldoon que o país viu abrupto declínio de riqueza relativa. Políticas protecionistas e interventoras fizeram com que a Nova Zelândia fosse perdendo rapidamente posições no ranking para países mais liberais. Medidas claramente socialistas, como controle de preços e salários e elevado gasto público para comprar o apoio dos sindicatos, plantaram as sementes do fracasso. Em apenas 10 anos, a partir de 1974, a dívida externa subiu de 11% do PIB para 95%! A inflação estava em dois dígitos. Foi neste contexto que se deu a mudança de trajetória, rumo ao maior liberalismo econômico, que salvou o país.
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Os reformadores foram influenciados por pensadores como Mancur Olson, Ronald Coase e James Buchanan. Os subsídios governamentais para indústria e agricultura caíram de 16% dos gastos públicos para apenas 4%. Desde a drástica redução nos subsídios agrícolas, o setor aumentou sua parcela no PIB, e o ganho de produtividade foi espetacular durante anos, acima de 6% ao ano por quase uma década! A reforma fiscal transformou a Nova Zelândia num dos países com a estrutura mais linear de impostos, e a maior taxa de imposto de renda caiu pela metade, de 66% para 33%. O mercado de trabalho foi liberalizado, e o desemprego caiu bastante. Atualmente, está em torno de 4%. O banco central teve autonomia operacional com mandato explícito para a estabilidade de preços, e a inflação foi controlada. O Ato de Responsabilidade Fiscal passou a exigir que o governo publicasse objetivos de longo prazo para indicadores-chave como gasto público, arrecadação fiscal e endividamento estatal. A Nova Zelândia experimentou oito anos consecutivos de superávit fiscal, uma verdadeira ruptura das décadas de déficit.
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Atualmente, a Nova Zelândia ocupa a quinta posição no ranking de liberdade econômica do Heritage Foundation. A participação da agricultura ainda é relevante na produção nacional, e o setor emprega cerca de 10% da mão-de-obra total. Os subsídios agrícolas, entretanto, são os menores entre os países desenvolvidos. A economia é uma das mais desregulamentadas da OECD, e aproximadamente 95% das importações são duty-free. O ambiente econômico é transparente e competitivo, com reduzida burocracia. Como resultado disso tudo, a renda per capita cresceu vários anos seguidos, ultrapassando a marca dos US$20 mil.
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A Nova Zelândia está longe de ser um paraíso liberal. O governo ainda gasta muito, e intervém mais que o necessário na economia. Faltam reformas ainda mais liberalizantes para que o país alcance um patamar de liberdade e riqueza como o de Hong Kong e Cingapura. Entretanto, analisar a experiência da Nova Zelândia é um exercício bem interessante, por mostrar os grandes avanços frutos da maior aproximação da receita liberal, curiosamente iniciada por um partido de esquerda. Atualmente, as conquistas econômicas, resultado do bom senso e respeito às leis de mercado, tornaram-se “vacas sagradas”, e o debate político acaba focado em outros temas, como ocorre na Inglaterra desde Thatcher. Melhor para os 4 milhões de habitantes da Nova Zelândia, que agradecem essa boa transformação.
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02/12/2005
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