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a.h

Wednesday, May 23, 2007

A gandaia da hipótese



James Lovelock, o autor da chamada "Hipótese Gaia", como é conhecida a teoria que trata a Terra como uma espécie de "organismo vivo" capaz não só de reagir, como também de reagir de modo violento buscando a auto-preservação assevera os efeitos nefastos do aquecimento global.

"A Vingança de Gaia" parte do pressuposto de que a humanidade já pode ter danificado de forma irreversível o sistema intrincado que faz do planeta um lugar acolhedor para as formas de vida. É verdade que pouca gente está mais qualificado do que Lovelock para fazer esse diagnóstico de "médico planetário". Ele é um dos pioneiros nos estudos que tentam enxergar a Terra como um sistema único, interligado de forma complexa e auto-reguladora.

O excerto acima, à guisa de explicação, me é contraditório. Pois, como podemos "ter danificado de forma irreversível" o planeta, se o mesmo constitui "um sistema único, interligado de forma complexa e auto-reguladora"? Se for "auto-regulador" não pode ficar impassível à própria destruição. A "destruição", tomando-se a hipótese como verdadeira, seria para diversas espécies, incluindo a nossa, mas não para o sistema enquanto um todo.

O temor de Lovelock é que a humanidade tenha causado à Mãe Terra uma febre tão incômoda, ao lançar na atmosfera os gases da queima de combustíveis fósseis, que ela se veja forçada a saltar para um novo estado de equilíbrio, bem mais quente que o atual.

Prosseguindo... Se o exposto for verdadeiro, o que dizer da própria adaptação, segundo a hipótese, de uma maior pluviosidade e nebulosidade devido às maiores taxas de evapotranspiração das florestas e evaporação oceânica? O "novo estado de equilíbrio" não faria as temperaturas caírem, novamente?

(...) do ponto de vista científico, parece difícil discordar da projeção da Terra quente como um lugar mais pobre de vida.

Não se trata de uma justificativa ao aquecimento, mas o argumento acima não me parece sustentável. A tomar o aquecimento como real, uma das conseqüências aventadas seria, justamente, a expansão da biomassa, i.e., principalmente as florestas.

Lovelock também acerta em cheio ao dar um tranco na complacência que parece ter tomado conta da civilização ocidental. Ele deixa claro quão vã é a idéia de que será possível vencer o desafio do aquecimento global sem alterar um milímetro dos atuais padrões de vida e consumo, dirigindo a mesma quantidade absurda de carros ou usando a mesma quantidade obscena de terras para cultivo e criação intensivos, enquanto as florestas tropicais, essenciais para o sistema climático, vão sendo derrubadas.

Nesta passagem da matéria encontrada em http://www.ambientebrasil.com.br/ fica patente o tom demonizador e culpabilizador da "civilização ocidental". Ora, depois dos EUA, o país que mais cresce em índices econômicos é a China. Em termos percentuais é, simplesmente, o que mais cresce. Por que tributar a poluição que emite gases do "efeito estufa" somente à "civilização ocidental"?

Seguem dois parágrafos sensatos:

Mas Lovelock também tem suas bordoadas preparadas para o movimento ambientalista, cujo medo paranóico da energia nuclear e dos "produtos químicos" pode, na verdade, ter agravado a crise do clima. A tecnologia nuclear, como mostra o cientista de forma persuasiva, é essencialmente segura e causa dano quase nulo ao sistema climático. Usar a energia do vento, das marés e do Sol pode até ser o futuro, mas não podemos nos dar ao luxo de esperar que essas tecnologias amadureçam para agir, alerta ele.

A nota de urgência na voz de Lovelock é justificada. Mas o livro perde sua estatura moral normalmente alta quando o autor deixa de lado o rigor científico e mostra como muito provável a iminência de um desastre climático repentino e irreversível. Por enquanto, podemos dizer sem medo de errar que a mudança será perturbadora, empobrecedora e altamente desagradável - mas não catastrófica. Ao carregar nas tintas e usar o medo como arma de conscientização, Lovelock corre o risco de atrair um efeito colateral dos mais indesejáveis: tirar do público a sensibilidade diante de um problema muito real quando os desastres não vierem. É uma corda bamba na qual todos nós teremos de aprender a caminhar.

Sim, o catastrofismo ambientalista e seu sensacionalismo são parte integrante da retórica ambientalista atual que lança sombras sobre o debate científico verdadeiro. Assim, como a negação a priori de qualquer alternativa como é a própria energia nuclear.

1 comment:

Cris Penha said...

Olá Anselmo!!!

Texto maravilhoso!!

Gaia há de se vingar dos seus exploradores!!!

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