Reproduzo aqui, um excelente post de mais outro blog que promete ser bom: http://o-lidador.blogspot.com/
Dei-me ao trabalho de ler o muito elogiado livro “Uma Verdade Inconveniente” (Al Gore), e o que ali encontrei foi uma pregação que mistura pseudo-ciência, ideologia auto-flagelante e empenhada exortação moralista à “mudança de mentalidades”.
Dando por adquirido algo que está longe de o estar (que a mudança climática é sobretudo de origem antrópica), em termos puramente técnicos, o que Al Gore verte para o livro são as recomendações de um trabalho de Socolow e Pacala (S&P).
Mas nem todas. Falta lá uma.
A energia nuclear!
S&P preconizam a ênfase na energia nuclear, apontando o exemplo da França, o país industrializado com menores índices de emissão de GEE, em virtude da forte aposta na energia nuclear.
Porquê, então esta conveniente omissão de Gore?A razão há que procurá-la na ditadura do politicamente correcto e na formatação ideológica. Os ecologistas sentem uma pulsão emocional contra a energia nuclear, porque de um modo geral desconfiam da tecnologia e odeiam a civilização industrial que dela depende e que, na sua opinião, aliena o homem da natureza.
No fundo o problema é mais filosófico e psicológico que climático.
Em termos psicológicos, é evidente o esquema edipiano da Mãe Natureza, vítima do Pai (civilização industrial/ocidental), contra o qual se vira o filho protector (as pessoas esclarecidas, como Gore). No limite o filho aspira a matar o Pai, ficando então livre para amar a Natureza e viver feliz.
Gore está impregnado até à medula deste tipo de pensamento, e o seu livro está repleto de profecias apocalípticas em linguagem forte e passional, como um pregador de uma qualquer religião ou seita.
Na tentativa de ganhar uma credibilidade cientifica que o seu currículo académico não sustenta, e para que ninguém ouse dizer que o rei vai nu, Gore derrama-se em abundantes referências a autoridades do pensamento, citando completamente a despropósito o Principio de Heisemberg, embrulhado com Descartes, Platão, Aristóteles, Bacon, Arendt, etc, num êxtase de fetichismo pseudo-científico.Como todos os utópicos em missão, Gore acha que o problema que ele descreve é o mais importante do mundo e que as pessoas têm de ser educadas para que vejam o perigo da maneira que ele o vê, e se juntem à batalha, não se esquecendo de sugerir que quem discorde da sua visão só pode ser gente de má-fé, ou ignorante, apostada em continuar a agredir a Mãe Natureza.
A análise psicológica de vão de escada está também presente, quando Gore garante que a nossa civilização é disfuncional e sofre de uma séria desordem psicológica.
Ignoro se Gore terá consciência disso, mas o seu pensamento está perigosamente perto do pessimismo tecnológico de Heidegger (The Question Concerning Technology, 1953), e há no livro inúmeros trechos que são praticamente decalcados das ideias de Heiddeger.Gore partilha até o pessimismo político do filósofo alemão que achava que não havia solução política e que aliás a democracia ao modelo americano era até a pior das tentativas de solução.
Gore não chega, como Heidegger, a gabar a “intrínseca grandeza e honestidade” da solução “nacional-socialista”, mas avança despreocupado pelo mesmo campo, reivindicando um novo paradigma civilizacional pela reformulação da organização política em torno do problema da mudança climática e da educação do pensamento dos homens.
Uma ideia próxima das teses da “deep ecology”, que apostam na criação de estruturas mundiais não eleitas, compostas por “especialistas” da ecologia, uma espécie de aiatolas ecológicos, que se atribuem a si próprios o privilégio de interpretar directamente as Verdades Reveladas da Mãe-Terra, sumo-sacerdotes do saber ecológico, aptos a orientar espiritualmente a acção dos governos eleitos.
Trata-se de fascismo, mais precisamente ecofascismo porque autonomeado supremo cuidador da terra e da ecologia.
Tal como Heiddeger, Gore é pessimista mas utópico. Vê um problema e uma oportunidade.
A oportunidade de nos salvarmos submetendo-nos à autoridade da sua visão de modo que as nossas consciências possam ser mudadas.
A “solução” de Gore, exige homens novos, como todas as ideologias utópicas. E novos governantes filósofos à medida da receita de Platão. Gore deve aliás achar-se particularmente apto a esse papel, ele que já foi governante, agora é filósofo e.....
Mas será mesmo necessário usar o idealismo platónico e o dualismo cartesiano para abordar o problema da mudança climática?
A coisa é assim tão complexa que exija uma “mudança de mentalidades”, um “homem novo” e uma nova forma de organização política e social?
Onde é que já ouvimos este tipo de receitas?
E será realista a exigência de congelamento imediato das emissões de GEE?
Gore sabe que não, pelo que ao dar voz a tal exigência, está pura e simplesmente a transferir a questão da mudança climática do mundo real da tecnologia, da economia e da política (a arte do possível) para a estratosfera moral, a partir da qual é fácil condenar de forma absoluta. E essa é a razão pela qual omitiu deliberadamente a proposta nuclear de S&P
Garante assim o seu olimpismo e não conspurca o idealismo moralista de oponente da civilização tecnológica. No fundo, como filósofo ecofascista que aspira a orientar a humanidade no caminho do bem, não pode conceber soluções meramente tecnológicas, lá onde acha que só a mudança de mentalidades é a solução pura e ética.
Face a esta pregação de Gore, tão bovinamente ecoada por uma comunicação social deslumbrada e ignorante, imporra regressar à origem e recordar que todo este movimento começou na célebre Conferência do Rio, onde o lobi ecofascista assestou baterias sobre o modelo de desenvolvimento da civilização ocidental, levando a que centenas de cientistas entre os quais mais de 60 Prémios Nobel, se tenham demarcado (Apelo de Heidelberg) das recomendações, denunciando o seu carácter ideológico e anti-científico.
2 comments:
Adorei o post. Vim do ambientalismo cético do orkut. Ri bastante da comparação com o Édipo. Posso me enquadrar nela. Acho Gore um chato. Mas é errado dizer que não oferece solução política. Só o que ele faz é oferecer solução política.
Obrigado pela transcrição.
Sinto-me honrado.
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